Hierópolis: o sagrado, o profano e o urbano

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negra, escrava ou não. Desta forma, a relação dele com a geografia urbana, determina sua maneira de ser. Este exemplo nos possibilita compreender como os fotógrafos participavam da afirmação de tal segmento, agindo à sua maneira no processo de modificação política e social de uma nação em transformação.

A Cidade de São Paulo dos Últimos Anos da Escravidão O século XIX é marcadamente um período de grandes transformações para a sociedade brasileira, nos seus mais variados aspectos. A segunda metade do século XIX é, por sua vez, um período no qual o Brasil vive uma razoável situação de estabilidade econômica. É neste momento que alguns costumes europeus chegam mais facilmente ao país: do modo de vestir às atividades culturais. Neste instante, evidencia-se de forma mais clara o paradoxo típico da dramática convivência entre nós de uma minoria rica e letrada e uma ampla camada pobre e analfabeta. As maiores cidades brasileiras contam com uma elite que se faz uso das modas europeias, copiam valores estéticos e buscam se afirmar sob tais valores. Sendo o leque, a echarpe e o xale, componentes indispensáveis da vestimenta, sem os quais uma mulher “de nível” não se apresenta em público. Para os homens, a cartola, a bengala e as luvas têm igual importância na construção simbólica da posição social. A cidade de São Paulo é espaço privilegiado para estas transformações. Capital de uma província que, a cada dia, tem um papel mais destacado na vida política e econômica da nação, caracteriza-se ainda por ser ponto de passagem e parada de inúmeras pessoas que se deslocam da capital imperial para as províncias do Sul. Sua população cresce rapidamente, indo

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! MARCELO EDUARDO LEITE


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