O Molde n.º 126 - julho 2020

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O MOLDE N126 | 07.2020

DESTAQUE HIGHLIGHT

A NOVA ORGANIZAÇÃO DAS EMPRESAS Helena Silva* * Revista “O Molde”

O ‘novo normal’ vem acompanhado de novos desafios para as empresas. Têm de estar preparadas para serem espaços seguros que permitam aos trabalhadores executarem as suas tarefas sem pôr em causa a saúde. Aliás, esta é a prioridade das organizações: zelar para que os seus colaboradores não tenham a sua saúde em risco com a propagação do coronavírus. Por isso, as empresas foram seguindo as determinações legais da Direção Geral de Saúde. Máscaras, viseiras, higienização de mãos e espaços, e distanciamento são hoje a realidade de cada uma. A pandemia veio agudizar uma situação de redução de trabalho que, desde o segundo semestre do ano passado, muitas empresas de moldes já notavam, considera Fernando Vicente, da Somema. Recorda que “o sector automóvel estava estagnado desde o início de 2019”, explicando que, no primeiro semestre, a sua empresa não notou isso devido aos projetos que ainda tinha em execução. Contudo, começou a notar esse abrandamento “a partir do segundo semestre e a situação arrastou-se pelos dois primeiros meses deste ano”. Num momento em que se esperava que a atividade começasse a aumentar, o mundo foi atingido pela pandemia de Covid-19. “Caiu-nos em cima, de repente, e tivemos necessidade de criar medidas rapidamente”, conta, adiantando que “alguns clientes suspenderam encomendas e, ao mesmo tempo, desabou uma incerteza terrível sobre tudo”. Considera que a incerteza é, ainda, o que caracteriza a atualidade e não tem dúvidas de que, nos próximos tempos, “vamos continuar a viver com ela”. A pandemia obrigou a mudar, desde os negócios à organização do trabalho. “Alguns projetos tiveram de ser renegociados”, explica, sublinhando que “se no Fernando Vicente, Somema passado, em períodos de acalmia, tínhamos algumas certezas sobre quando haveria trabalho ou quando arrancariam as coisas, ou que mercados começavam a mexer ou ainda quando os consumidores quereriam voltar a comprar, hoje, devido à pandemia, a incerteza é maior e constante. E é também transversal ao mundo todo”. SEGURANÇA A Somema, conta, tem atualmente 80 colaboradores, dos quais 40 saíram da sua atividade regular para teletrabalho, acompanhamento dos filhos e layoff, no período da pandemia. Em junho, quando teve lugar esta entrevista, Fernando Vicente esperava que os negócios ganhassem novo fulgor a partir do final do mês, sob pena da situação do sector começar a agudizar-se.

Parte dos trabalhadores regressavam nessa altura para uma fábrica diferente, explicava. E havia a preocupação diária com a evolução da pandemia, temendo-se que, se a situação fugisse ao controlo, fosse necessário voltar atrás e pedir aos trabalhadores que voltassem para casa. Este regresso, contou, foi sendo preparado com muito cuidado. A empresa foi alterando procedimentos, em função das medidas que foram sendo criadas e publicadas pelas autoridades de saúde. “Logo desde o início, criámos um plano de contingência que fomos, depois, mantendo e introduzindo medidas”, conta. A permanência na empresa implica o uso obrigatório de máscaras ou viseiras e de luvas, em determinadas circunstâncias, relata. O distanciamento físico é também obrigatório, bem como o uso de gel desinfetante. Na eventualidade de surgir algum trabalhador com sintomas, este vai para casa de quarentena. Fernando Vicente conta que esta última medida foi tomada, no final de abril. “Alguns trabalhadores aparentavam sintomas e foram cumprir quarentena, por precaução. E, felizmente, não se confirmou a doença”, afirma. Ao contrário do que aconteceu noutras empresas, nem os horários e nem as equipas sofreram alterações. “Foram necessárias, apenas, algumas correções para manter o distanciamento de segurança”, sublinha. Dá como exemplo o refeitório, revelando que, para assegurar o distanciamento, está a funcionar com dois turnos. Conta também que os colaboradores estão a reagir bem a todas as mudanças necessárias. Até porque, considera, “a pandemia foi encarada como um assunto sério e grave”. EFEITO DEVASTADOR No que diz respeito à empresa, explica que estão a ser feitos “todos os esforços para manter os postos de trabalho”. “As receitas baixaram e não sabemos quando voltaremos a ter encomendas na quantidade que precisamos”, conta, frisando que “temos feito contactos com clientes e a maior parte estão parados”. Para fazer face a esta situação de estagnação, diz ser necessária “imaginação, para irmos tentando alternativas”. Contudo admite que “não é fácil”. “Temos de nos virar para outros mercados, outras zonas do mundo, outras áreas que não o automóvel”, enfatiza, lembrando que “estamos a viver uma fase crítica da economia. E é mundial”. Por isso, considera que esta é já “a prior crise que alguma vez vivemos”, afirmando que não esperava que tivesse “um efeito tão devastador, quer a nível da saúde das pessoas, quer a nível da economia”. E o futuro surge como um desejo: “espero que, até final de agosto, consigamos encontrar um ‘novo normal’, para que possamos viver mais tranquilos. E, sobretudo, para que consigamos trabalhar, ter encomendas e reativar a economia”.


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