DESTAQUE HIGHLIGHT
O MOLDE N126 | 07.2020
51
A COVID-19: FORTE CATALISADOR DE MUDANÇA NAS POLÍTICAS INDUSTRIAIS José Ferro Camacho* * Professor de Economia e Gestão no IADE – Universidade Europeia
1- Introdução As políticas de curto-prazo em curso destinam-se a preservar empresas, empregos e rendimentos, atuando do lado da procura e da oferta. Contudo, a Covid-19 tornou-se um poderoso catalisador de mudança de longo-prazo. Os elementos estruturantes desta mudança são prévios à pandemia e os planos para a sua implementação não nasceram de um dia para o outro e podem corresponder a uma “verdadeira mudança de paradigma”1. Ambos refletem impulsos poderosos nos domínios geoestratégico, político, económico e social, latentes ou em curso, que foram agora acelerados pela pandemia. Os volumes financeiros divulgados quer na Alemanha, quer ao nível da Comissão Europeia são fortes sinais exemplificadores dessa importância. 2- A China como oponente estratégico Impulsionada no início do século com a adesão às regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), a China exibiu um espetacular desenvolvimento através de uma industrialização orientada para
a exportação. Entramos agora numa nova fase. Os problemas criados pela forma como o país geriu a pandemia e a perceção de dependência médico-sanitária da China em bens, que embora de baixa ou média tecnologia, eram determinantes no combate de vida ou de morte à pandemia, veio criar um ambiente comunicacional e político propício à aceleração destas mudanças. A relação da União Europeia com a China evoluiu de 1) uma parceria estratégica para 2) a visão de um concorrente económico em busca de liderança tecnológica, de um rival sistémico que promove modelos alternativos de governança. Há um ano a UE devia “procurar vigorosamente condições mais equilibradas e recíprocas que governem as relações económicas” com a China. Atualmente, “deveríamos evitar a dependência excessiva em sectores estratégicos construindo stocks de materiais críticos. Também precisamos de reduzir e de diversificar as nossas cadeias de fornecedores”. Ou, nas palavras da ministra alemã Christine Lambrecht2 , “é imperativo proteger a estrutura económica do nosso país durante a crise e impedir a venda ou a dissolução de empresas