log/CeSIUM - 12.ª Edição

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/log/ Editorial /express/ O log/CeSIUM representa toda a equipa do CeSIUM e não só. Representa o trabalho e dedicação de toda uma comunidade que não se cinge apenas ao conhecimento científico da sua área de estudo. Esta revista, que nasceu com o intuito de permitir a partilha de experiências, gostos e saberes, renasce por mais um ano com novas ideias e, principalmente, numa nova realidade. No meio de uma das maiores pandemias globais dos últimos tempos, a 12.ª edição da revista surge como um escape através da partilha das mais diversas temáticas. Num ano de muitas reviravoltas e adaptações, esta não perde a sua essência e continua a seguir o caminho da cultura, da partilha e da discussão, tentando aliar a tecnologia à palavra escrita. Jéssica Lemos

Equipa log/ Diretora Jéssica Lemos

Diretoras Adjuntas Beatriz Rocha Márcia Teixeira

Capa e Contracapa Maria Pires

Colaboradores Bárbara Cardoso Beatriz Afonso Carlos Gomes Catarina Machado Filipe Felício Francisco Costa Francisco Lira Gonçalo Rodrigues João Correia João Teixeira João Vilaça Joel Gama José Peixoto Miguel Brandão Nelson Estevão Sérgio Costa

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25 Anos de CeSIUM

/persona/ 6 Roberto Machado

/atividades/ 14 HeartBits 2019 16 Dezembro Solidário 18 ENEI 2020 em Números 20 Torneios: Promover a Relação entre os Estudantes

/curso/ 22 24 26

Alojamento, Falta de Camas na U.Minho Estágio de Verão: Summer Camp Subvisual A Aventura do Ensino à Distância

/pensamentos/ 30 Sorrir com o Olhar e Abraçar com o Coração 32 A Evolução do Teletrabalho 34 O Mundo Tecnológico em Tempos de Pandemia 36 Déjà vu 38 Que Aborrecidos Somos Nós

/cultura/ 40 A Importância da Cultura 42 Filme: “Joker“ 44 Livro: “Deep Work”

/lifestyle/ 46 Receita: Tarte de Pastel de Nata Vegan 47 A Mudança 49 Desporto na Vida Académica

A revista /log/cesium é um projecto voluntário sem fins lucrativos. Todos os artigos são das responsabilidade dos autores, não podendo a revista ou o centro de estudantes ser responsável por alguma imprecisão ou erro. Para qualquer dúvida ou esclarecimento poderá sempre contactarnos através do email cesium@di.uminho.pt ou através do 253 604 448.

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/express/ 25 Anos de CeSIUM Escrito por Francisco Lira arjot12 @gmail.com

Os 25 anos do CeSIUM, que em circunstâncias normais seriam celebrados a 31 de maio de 2020, foram, este ano, celebrados apenas através de uma videochamada com alguns dos membros mais ativos do CeSIUM, atualmente. Esta data estava planeada para ser o início de uma nova dinâmica para ligar aqueles que, de alguma maneira, tanto no passado como no presente, colaboraram com o CeSIUM e deixaram, nesta que é a nossa casa, a sua marca. Este ano, o CeSIUM teve o seu aniversário celebrado da maneira mais pacata e menos presencial de sempre. Este que costuma ser um momento que junta a atual direção, os colaboradores mais ativos e os ex-CeSIUM (ou “velhinhos”, como, carinhosamente, os gostamos de chamar) à volta de uma mesa para um jantar de partilha entre todos. A nossa principal ideia é convidar os “velhinhos” para um jantar onde os possamos conhecer, recolher os seus testemunhos, conhecer melhor o passado do CeSIUM e saber histórias sobre o que este era quando eles cá estavam. Neste momento, já conhecemos algumas das primeiras histórias do CeSIUM, mas não conseguimos, ainda, reunir os 7 fundadores do CeSIUM numa só sala. Estes começaram uma jornada na vida de todos nós, que, de alguma maneira, estamos ligados ao CeSIUM para sempre, tal como acredito que eles também estão e muitos ainda aí vêm que irão sentir o mesmo que nós. Mas, no fundo, é a isto que estes tempos de COVID-19 nos obrigam, este ano que foi, sem dúvida, o ano mais díspar do CeSIUM, com a organização do maior evento no qual estivemos envolvidos até hoje, o Encontro Nacional de Estudantes de Informática (ENEI), e a celebração mais calma do nosso aniversário nesta data que celebrou um quarto de século. Se for possível, e acredito que será, iremos aproveitar todas as ideias que já tivemos e torná-las realidade. Trazer os ex-presidentes do CeSIUM até nós, reconhecer o trabalho que eles fizeram ao longo de todos estes anos pelo CeSIUM, tentar que nos contem mais sobre o CeSIUM quando estavam deste lado e saber mais sobre como era a gestão do nosso núcleo nessa altura. Há muito que queremos saber sobre o nosso passado, e acreditamos que a experiência dos nossos “velhinhos” aliada à nossa vontade de fazer mais irá facilitar e melhorar o nosso trabalho no futuro!

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/persona/

Roberto Machado

Escrito por Sérgio Costa asergioalvesc @gmail.com

No passado mês de setembro, entrevistámos o antigo presidente do CeSIUM e atual CEO e Co-founder da Subvisual, Roberto Machado, que cordialmente aceitou responder às nossas questões. Roberto Machado formou-se em Engenharia Informática na Universidade do Minho e, desde o primeiro ano do seu percurso académico, assumiu inúmeras responsabilidades no centro de estudantes. Foi no final do percurso académico que, em conjunto com colegas, começou a desenvolver o próprio negócio que viria a ser a Subvisual. Enquanto núcleo de estudantes, procuramos divulgar diferentes perspetivas não só do curso e do núcleo, mas também da realidade empresarial e industrial a todos os nossos leitores. Neste sentido, convidámo-lo, enquanto figura de destaque no centro de estudantes e no contexto de empresas da área da informática em Braga, a divulgar as suas experiências e o seu percurso profissional. No teu LinkedIn podemos encontrar uma lista enorme de cargos (CEO, advisor, founder, etc.). A nossa primeira questão é: como se arranja tempo para isto tudo? Acima de tudo, tens de encontrar as pessoas certas e confiar nelas para estar a liderar os projetos para os quais não tens muito tempo ou muita presença. E, muitas vezes, podes acrescentar imenso valor pela tua experiência acumulada em certos projetos, onde depois acabas por precisar só de estar lá momentaneamente para acrescentar esse valor. Muitos dos projetos que estão no meu LinkedIn são coisas que, ou eu já comecei no passado e numa fase inicial estive muito presente e depois outras pessoas assumiram o meu lugar e começaram a executar uma grande parte das tarefas que tratava, ou então são projetos em que, desde o início, eu estive apenas momentaneamente. Alguns projetos são da Subvisual, ou seja, acaba por fazer parte do meu conjunto de tarefas acrescentar valor a essas empresas, como é o caso da Aurora, Finiam e da Onda, que são 3 empresas que fazem parte do universo da Subvisual. Depois, existe também alguma gestão do nosso tempo para sermos o mais eficientes possível. É algo que eu nos últimos anos sempre tentei otimizar ao máximo.

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/persona/ A gestão das minhas prioridades e aquilo em que eu tenho de me focar a cada semana, a cada dia, acaba por ser quase um super poder. Acho que das coisas mais desvalorizadas pelo ser humano é a capacidade que nós temos de fazer coisas e o nível de produtividade a que nós conseguimos chegar, se soubermos gerir bem as nossas prioridades e onde é que devemos gastar o nosso tempo. Focando agora no nosso tema principal, a informática, gostávamos de saber se antes de te teres focado na informática, tinhas interesse por outra área? É difícil de dizer. Que eu me recorde, não. Eu também não tenho muita memória de quando é que eu quis estar ligado à informática. Eu sempre tive uma vida muito ativa desde criança. Os meus pais tinham um café, ou seja, eu sempre tive ali muita atividade, nasci ali e basicamente sempre estive ali com muitas pessoas e muita interação, o que acaba por te moldar um bocadinho. Eu acho que uma criança com uma infância dita normal, acaba por ter tempo, passa um ano em que quer ser uma coisa e, depois, no ano a seguir, quer ser outra. Eu nunca tive muito isso. Lembro-me que quando era miúdo queria ser jogador profissional de snooker, mais até que futebol e outras coisas, sempre adorei snooker. Depois, algures no tempo, ofereceram-me um computador e sempre estive ligado a esta componente da informática e dirigi a minha vida para aí. Aliás, o meu 10.º ano já foi numa área de especialização de informática. Acabaste por ingressar no curso de Engenharia Informática na Universidade do Minho. Isto acaba por ser o caminho tradicional, mas, hoje em dia, na nossa área, nem toda a gente acaba por o seguir. Há quem faça formações e cursos online ou vá começando a fazer side projects sozinho e, com o tempo, acaba por arranjar trabalho. Aconselhavas a seguir o percurso tradicional, ou seja, entrar num curso universitário? Aos 17/18 anos a maior parte de nós ainda não tem um pensamento estruturado sobre aquilo que quer fazer na sua vida e a universidade, na sua génese, tem como principais papéis moldar-te como adulto e ajudar a construir a pessoa que queres ser, por isso acho que é muito importante. Os tempos que passas na universidade rodeado de pessoas que estão lá a fazer o mesmo que tu, a tentar entrar na vida adulta, ser ativos, melhorar as suas capacidades profissionais, a troca de experiências, a componente cultural, as festas, tudo isso te transforma e acaba por te lançar para o mundo real. Em termos de skills, eu acho que é obsoleto e vai ser cada vez mais, ou seja, em termos de aquilo que tu aprendes, especialmente em informática, e eu acho que se aplica a muitos outros ramos, está muito distante e obsoleto e, em alguns casos, até acaba por ser contraproducente, porque a forma como és ensinado está muito desfasada do mundo real e cria-te até alguns vícios que são desnecessários.

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/persona/ Dito isto, eu acho que, se eu hoje tivesse de aconselhar alguém, aquilo que eu diria era: vai para a universidade, faz o básico que tens de fazer para conseguires terminar o teu curso e não ficares ali preso durante mais anos do que aqueles que são necessários, envolve-te em tudo o conseguires do ponto de vista de construção cultural, social, etc. E complementa isso com aprendizagem online, com cursos online, com tudo aquilo que tu conseguires e, se possível, vai já fazendo alguns trabalhos. Aqui, estou a falar especificamente de informática. Tenta envolver-te com as empresas que estão perto, porque quando saíres da universidade, vais sair mais maduro e com experiência, vais sair mais adaptado ao mundo real e a tua inserção no mercado de trabalho vai ser muito mais suave. Ao mesmo tempo, pode-te abrir mais horizontes para não entrares em algumas empresas que eu acho que são mais carreiristas e que não te ajudam tanto a entrar num caminho de progressão, porque eu acho que esse deve ser o principal objetivo quando sais da universidade: progredir rapidamente com a tua carreira para atingires os teus objetivos de vida pessoais, sejam eles quais forem. Quais foram as experiências na universidade que te ajudaram mais na tua vida profissional? Aquela que eu gosto de identificar sempre mais (e não é para vos bajular por me estarem a entrevistar) são os anos que eu passei no CeSIUM. Não só os anos como presidente, mas todo o tempo em que eu estive na universidade, desde o primeiro ano. Desde estar por lá e começar quase a limpar o chão, até trabalhar no departamento recreativo, ficar responsável pelo mesmo e, depois, ser presidente. Foram anos muito enriquecedores, porque me permitiram gerir pessoas, permitiram-me criar eventos que não existiam antes e com impacto pela universidade toda, permitiram-me estabelecer relações positivas com muitos professores que, ainda hoje, mantenho e que acabaram por me ajudar na fase inicial da empresa e acompanharam o meu percurso profissional. Portanto, foi uma experiência, em muitas vertentes, enriquecedora e que me moldou muito para a pessoa que eu sou hoje em dia, logo acho que essa experiência no centro de estudantes foi muito importante. Depois, noutras vertentes, tive experiências que eu acho que também me ajudaram. Eu cheguei a fazer duas bolsas de investigação que me deram algum contacto sobre o que era a responsabilidade de ter um trabalho a sério, de entregar coisas, de receber dinheiro na conta bancária pelo meu trabalho, o que acabou por ser muito interessante. 8


/persona/ A última já envolvia estar ligado a uma empresa real, a MultiCert, e isso foi também muito enriquecedor para mim e permitiu-me ver aquilo que eu não queria fazer. Acho que é algo que devemos procurar, aquilo que não queremos fazer, para nos focarmos apenas naquilo que queremos fazer e trabalhar mais nessa vertente. Para além de membro, foste o presidente durante 2 anos e deixaste um legado fundamental no CeSIUM. O que te motivou a entrar no CeSIUM e o que te fez dedicar tanto tempo a este centro de estudantes? Eu acho que a componente do envolvimento associativo vem de trás, ou seja, quando entrei na universidade, já tinha tido a experiência de fazer parte de uma associação cultural que existia na minha terra, onde também fazíamos coisas engraçadas, muito de aldeia: torneios de futebol, festas... Mas, para um miúdo que é desse meio, acaba por ajudar a crescer bastante e a ficar maduro mais rápido. Não sei bem dizer o que me levou a fazer parte do CeSIUM... Eventualmente, algumas pessoas na altura em que eu era caloiro e alguns dos meus praxantes que faziam parte do CeSIUM falaram-me disso e eu achei interessante. Acho que era uma coisa que, de certa forma, já iria procurar, se não fosse o CeSIUM, seria outra associação. O CeSIUM é dos centros de estudantes mais apelativos que existem na universidade por causa da camaradagem que existe, da troca de experiências, de ser muito aberto, ajudarem-se muito uns aos outros e já tinha um legado muito grande quando comecei. O CeSIUM já tinha um histórico muito grande, que, na altura, tinha passado por uma fase mais complicada e nós ajudámos a fazê-lo renascer das cinzas. Dava-nos gosto abrir um jornal antigo do CeSIUM que, às vezes, encontrávamos e ver todas as coisas que tinham sido feitas. E também nos motivou a procurar fazer o mesmo e melhor, foi a partir daí que começámos a fazer muitas coisas engraçadas. Mas, para responder diretamente, acho que seria inevitável eu procurar algo e o CeSIUM estava bem posicionado para ser esse algo a que eu gostaria de dedicar o meu tempo e aprender mais com os outros.

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/persona/ Qual foi a tua primeira experiência profissional e qual foi a maior aprendizagem? A minha primeira experiência profissional fui eu que a criei, ou seja, eu quando criei a empresa ainda estava na universidade. O primeiro ano da empresa nós ainda passámos numa sala dentro da universidade, portanto a minha primeira experiência profissional em que eu trabalhei a sério, tirando as bolsas de investigação, foi mesmo com a Subvisual, que na altura tinha outro nome. É um processo diferente, não sei se voltasse atrás se não teria trabalhado um ou dois anos numa empresa para ganhar um bocadinho mais de estrutura e não ter passado tanto tempo a encontrar-me e a tentar perceber aquilo que queria fazer. Mas a verdade é que também os tempos eram outros e não haviam assim tantas empresas em que me revisse para poder trabalhar 2/3 anos antes de procurar criar o próprio projeto ou até, se calhar, nem o criar, porque podia encontrar um sítio bom. Eu acho que uma das maiores motivações que nos levou a criar a empresa é que olhávamos à nossa volta e não víamos muitas empresas em que gostássemos de trabalhar, porque, ou eram empresas muito grandes com culturas muito corporate (as startups eram quase inexistentes na altura), ou tínhamos de sair para outra cidade ou para outro país e não era algo que quiséssemos fazer na altura, portanto acabou por ser, assim, um empreendedorismo de oportunidade para criarmos o nosso próprio negócio. Seguindo essa linha, optaste por criar uma startup em vez do percurso profissional mais comum (ingressar numa empresa). Quais foram as experiências que tiveste na universidade e no CeSIUM que mais te ajudaram neste percurso? Eu acho que a universidade dá um conjunto de contactos e pessoas que, quando estás a começar uma empresa, acaba por ser muito importante para ajudarem a solucionar problemas que vão surgir a toda a hora. O saber lidar com a pressão do desconhecido, saber planear, saber lidar com o falhar de planos é algo que constróis muito quando estás ativo em espaços como o CeSIUM e a associação académica (onde estive também), onde isso está sempre a acontecer. Tu planeias um evento para que corra tudo bem e, de repente, começa a chover e tens de mudar ou alguém falha à última da hora e tu aprendes a lidar com isso e, quando tu aprendes a lidar com isso, acaba por ser o dia a dia numa empresa. Quando essas coisas começam a surgir, o facto de já teres passado por situações semelhantes vai dar uma tranquilidade e uma clareza de pensamento que te ajuda a ultrapassar esses obstáculos. Portanto, acima de tudo, (e é por isso que eu já tentei reforçar isso numa das perguntas anteriores) se te conseguires colocar em posições desconfortáveis, em que estás a fazer mais coisas e a tentar crescer, vai ter um efeito catalisador e exponenciador para os teus primeiros anos profissionais e foi isso que aconteceu comigo e acho que é muito importante para toda a gente.

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/persona/ Todos os percursos têm os seus altos e baixos, mudavas alguma coisa no teu? É muito difícil responder a essa pergunta... Porque eu não sou muito de olhar para trás e de me arrepender ou estar a tentar perceber o que podia ter feito e onde eu podia ter feito diferente. Gosto de aprender com os erros e tentar não os repetir no futuro, mas that’s it! Mas, para não deixar de responder à pergunta, há uma altura da minha vida em que eu gostava de ter estado mais focado, quase no último ano da universidade e após a mesma, em que vinha com a adrenalina de estar envolvido em 5/6 coisas diferentes sempre em posição de liderança na universidade e queria fazer muita coisa. Sais com uma energia brutal e parece que consegues fazer tudo e és invencível. Na altura, acabei por me envolver em vários projetos e perder algum foco, portanto acho que aí gostava de ter tido a clarividência para, na altura, perceber que é muito importante focar em uma ou duas coisas que queres realmente acrescentar valor e ter a paciência para que hajam resultados desse foco. De resto, a minha vida tem corrido de feição, tenho estado sempre capaz de cumprir os meus objetivos e aquilo que queria fazer com a minha vida, tanto a nível pessoal como profissional, portanto não há muita coisa que queira mudar. É óbvio que neste processo de 8/9 anos de Subvisual e mais 5 anos de universidade aconteceram muitos momentos mais negativos e difíceis, mas isso faz parte da vida, não há muitas coisas que tu possas fazer para evitar totalmente esse tipo de situações. Há sempre coisas que fazias diferente, não vale é muito a pena nós estarmos a passar muito tempo a pensar, a vida é demasiado curta para estar a pensar no passado e no futuro e não vivermos o presente e é isso que é importante realçar.

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/persona/ Eu fui pai recentemente, isto é uma coisa muito nova para mim, estar a dar uma entrevista ao CeSIUM e já ser pai. Parece que, de repente, passou tudo muito rápido, mas posso dizer que, seis meses depois do meu filho ter nascido, o foco na vida é diferente. Há uma mudança que é difícil de explicar até se passar por lá, que é sempre que tenho stress no trabalho ou algo mais complexo para fazer tem um impacto muito menor na minha cabeça porque deixou de ser tão importante, há coisas mais importantes. Relativamente ao agora, tens alguma novidade ou conselho a partilhar com os leitores do log? O meu maior conselho que eu tenho para vos dar vai ser reforçar uma coisa que já disse há pouco. Procurem complementar a vossa educação com outras coisas. Aquilo que vocês aprendem num curso de informática é extremamente importante e acho que dá bases essenciais para serem uns bons profissionais como engenheiros informáticos, mas a maior parte de vocês vai acabar numa posição, daqui a uns meses ou uns anos, em que essas bases não vão ser assim tão relevantes. Portanto, embora estarem lá seja sempre relevante para aquilo que estão a fazer, não vai ser fundamental, por isso tentem complementar com outras coisas. Podem fazê-lo recorrendo a formações que o próprio CeSIUM faz, coisas online, mas, acima de tudo, procurem experiências em empresas e em ambientes profissionais que vos permitam fazê-lo de uma forma mais próxima do ambiente real.

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/persona/ Depois, um último conselho que acho que é importante que toda a gente que está ligada a este mundo da informática comece a falar. Nós estamos a chegar a uma fase no nosso mundo em que muitas coisas estão a aparecer mais turbas e negras. Embora estejamos a viver na melhor fase de sempre da humanidade, há alguns desafios que temos pela frente que vão ser complexos. Os engenheiros informáticos e a malta do mundo digital, em geral, tem acesso a ferramentas que dão poder que, inevitavelmente, vai acabar por transformar o mundo, portanto tentem estar do lado certo da força. Isto é algo que falamos poucas vezes e temos de falar mais, porque, numa fase inicial, somos todos jovens e parece que somos todos imortais, mas, quando passam 5, 6 ou 10 anos em que estamos numa posição a fazer algum trabalho, já perdemos um bocado a noção se estamos a fazer bem ou mal ao mundo. Acho que, se falarmos disto desde o início, as pessoas vão tomar melhores escolhas. Quando forem trabalhar, vão tentar perguntar se o empregador tem os valores corretos ou não e eu acho que é uma pergunta que todos nós temos de começar a fazer, se estamos a contribuir para o bem ou se estamos a contribuir para o mal.

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HeartBits 2019 Escrito por Francisco Costa xicon73 @gmail.com

Certamente já te aconteceu ires ao Hospital e, durante todo o tempo em que lá estiveste, viste pequenas coisas que mudavas ou até concluíste que a ida podia ter sido evitada. Para tal, bastava que a triagem dos pacientes fosse feita antes da chegada ao hospital ou, então, muito mais eficiente. São inúmeras as alterações que se podia inserir no sistema, de forma a que este ficasse mais produtivo e que o serviço prestado fosse, efetivamente, de maior qualidade. A pensar nisso, em 2016, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) e o Centro de Estudantes de Engenharia Informática da Universidade do Minho (CeSIUM) uniram forças para criar uma hackathon, com o objetivo de incentivar os jovens, tanto da área da informática como de medicina, a desenvolver produtos informáticos capazes de dar uma resposta a estes vários problemas na área da Saúde. Se és novo por cá podes estar a perguntar-te “O que é uma hackathon? E o que é a HeartBits?”. São tudo boas questões que já te vou explicar. First things first. Uma hackathon é uma maratona de programação onde programadores, engenheiros, designers ou qualquer pessoa se juntam em equipas ou participam individualmente, para criar novas soluções de software ou hardware aplicados a temas específicos ou, simplesmente, orientados pela sua criatividade e originalidade. A HeartBits é uma hackathon onde as equipas são compostas por estudantes das áreas da saúde e da informática. Nesta, são desenvolvidos vários produtos tecnológicos que melhoram o sistema de saúde, a organização dos serviços, as vidas dos utentes e a qualidade de vida de todos. Decorre durante dois dias, sábado e domingo, e além de 24h a idealizar e programar o produto, tens, ainda, acesso a palestras e workshops que te permitem preparar o pitch da melhor forma e perceber algumas bases sobre criação de produto e de modelo de negócio. Tudo isto para te dar todas as condições para apresentares a melhor ideia da competição. E se a tua ideia for a melhor, a tua equipa terá, ainda, a oportunidade de a lançar para o mercado.

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/atividades/ /atividades/ No ano passado, em 2019, o Altice Forum Braga recebeu mais uma edição desta hackathon, nos dias 2 e 3 de novembro, que contou com 45 participantes, divididos em 9 equipas. Entre os vários projetos, destacaram-se um assistente pessoal para auxiliar doentes polimedicados, uma app para ajudar e acompanhar as grávidas e uma aplicação para controlo das tomas de medicamentos e entrega dos mesmos ao domicílio. Agora que sabes o que é e como serão as melhores 24h à base de RedBull e com poucas horas de sono, vamos ao que importa, ou seja, como é que consegues fazer parte deste grande evento. A 4.ª edição da HeartBits vai-se realizar já nos próximos dias 30 de outubro e 1 de novembro, por isso não percas esta oportunidade e junta a tua equipa!

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Dezembro Solidário Escrito por Gonçalo Rodrigues gonrodrigues1998 @hotmail.com

O CeSIUM, juntamente com vários núcleos de estudantes da Universidade do Minho, tem por norma organizar a iniciativa “Dezembro Solidário”, um projeto de cariz social com o objetivo de não só ajudar os que mais precisam, mas também promover o espírito natalício e de entreajuda entre todos os apoiantes desta causa. Este ano, e com o apoio da Tasquinha Bracarense, não foi exceção. Durante a atividade, é usual a colocação de árvores de natal tanto no Departamento de Informática, como no edifício principal do campus de Gualtar da Universidade do Minho com a adição de cabazes natalícios para os estudantes darem o seu contributo, sejam estes bens materiais ou alimentícios.

De modo a incentivar os estudantes a participar neste projeto, foram realizadas diversas atividades que tiveram como “jóia” de inscrição a doação de algum bem. As atividades foram bastante variadas, desde palestras alusivas à área de informática, até uma “Fusão Nuclear” que juntou vários núcleos de estudantes. Uma das grandes atividades deste ano foi a visita à ala juvenil de internamento do Hospital Público de Braga, onde levámos robôs de controlo remoto prontos a construir, de modo a editar os seus movimentos ao gosto de cada um, para animar a manhã destas crianças.

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/atividades/ /atividades/ Realizámos também, pela primeira vez, um Circuito Solidário, que consistiu em reunir equipas entre 5 a 7 membros para realizarem diversas atividades, como uma tabata, voleibol com bolas de fitness, prova cronometrada de ciclismo e até um jogo de futsal. Cada prova tinha uma pontuação e as equipas com melhor ranking receberam prémios!

Este ano, a iniciativa revelou-se mais um sucesso, uma vez que, através das várias atividades e parcerias realizadas pelo CeSIUM e pelos núcleos associados, foram angariadas centenas de quilos de bens que foram, posteriormente, doados à Cruz Vermelha de Braga. O CeSIUM agradece a todos os participantes e parceiros por permitirem que, por mais um ano consecutivo, tenhamos conseguido marcar a diferença na vida de quem mais precisa e garante que a iniciativa continuará no próximo ano, porque juntos somos mais fortes!

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ENEI 2020 em Números Escrito por Catarina Machado catarinamachado11 @gmail.com

“O melhor ENEI de sempre!” esta foi uma das frases mais proferidas durante os 4 dias de evento da edição de 2020 do Encontro Nacional de Estudantes de Informática e a promessa feita pela Comissão Organizadora. Mas o que, efetivamente, aconteceu nesta edição? Foi entre os dias 23 e 26 de fevereiro de 2020 que o ENEI se apoderou, pela primeira vez, da cidade de Braga, mais concretamente do Altice Forum Braga, uma extraordinária estrutura polivalente que incorpora o maior auditório da região Norte e a 2.ª maior sala de espetáculos de Portugal. A 14.ª edição albergou quase 600 participantes de diversas regiões do país, desde Viana do Castelo, passando por Coimbra, Évora, Faro e até pelos Açores. A equipa de organização, constituída por 34 elementos, teve 6 meses para a preparação do Encontro e contou com a ajuda de uma equipa de 50 voluntários durante os 4 dias de evento. Para além disso, contou com 12 embaixadores de todo o país para incentivarem a participação dos seus colegas de Universidade.

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/atividades/ /atividades/ No evento estiveram presentes 42 oradores de empresas de renome nacional e internacional, entre as quais a AWS - Amazon Web Services, GitLab, Eventbrite e Volkswagen Digital Solutions, em 26 talks, 7 workshops e 2 tertúlias e foram vários os temas abordados, destacandose a Inteligência Artificial, Machine Learning, IOT, Privacidade de Dados, DevOps, Cloud, Open Source, Remote Work e Gaming. A Zona de Networking do evento acolheu 27 empresas patrocinadoras e 6 parceiros. Adjacente a esta zona, encontrava-se a Zona de Lazer, onde os participantes tinham a oportunidade de se divertir com 3 diferentes atividades: Ping pong, Matraquilhos e FIFA. O ENEI contou com 5 atividades noturnas, onde se destacou a Mega Febrada, ao som de um DJ e de tunas, o Rally das Tascas e a realização de um Peddy Paper pela cidade de Braga. Na aplicação do evento foram distribuídos 10.518 badges - os crachás virtuais que os participantes colecionavam em cada atividade que participavam. As redes sociais do evento foram impulsionadas e na página do Facebook, em particular, o número de gostos aumentou para o dobro, passando de cerca de 5.000 para perto de 10.000. Os participantes foram presenteados com um total de 13 prémios, entre os quais uma Xbox One, uma Nintendo Switch, uma Xiaomi Scooter Mi 365 e uma Go Pro Hero 7, para além dos 5 diferentes itens do merchandising do evento: stickers, caneta, suporte para telemóvel, bloco e t-shirt do ENEI.

Desta forma, os 3 principais objetivos do evento foram cumpridos: pedagogia, networking e entretenimento. O CeSIUM - Centro de Estudantes de Engenharia Informática da Universidade do Minho sonhou, e conseguiu, organizar o melhor ENEI de sempre! 2020.enei.pt 19


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Torneios: Promover a Relação entre os Estudantes Escrito por Carlos Gomes c.tcarlosantonio @gmail.com

Ao longo dos últimos anos, os torneios têm vindo a ser uma das grandes apostas do CeSIUM, quer no mundo dos jogos, quer no mundo do desporto. Esta ideia nasceu, uma vez que nos preocupamos com o bem-estar dos estudantes e estes têm a capacidade de proporcionar bons momentos de diversão e entretenimento e, ao mesmo tempo, ajudam a criar uma ligação e a melhorar também não só a relação entre os alunos de Engenharia Informática, bem como os restantes estudantes da academia. Este ano letivo, decidimos inovar, propondo novos torneios, para além dos já habituais ao longo dos anos anteriores, entre os quais se destacam os torneios de FIFA, de matrecos e, ainda, o torneio de futsal MIEI CUP. Uma das grandes novidades foi o torneio de Bubble Soccer, que foi realizado no Parque Desportivo da Rodovia, em conjunto com a Associação de Estudantes de Gestão (ADEGE), em que tivemos a felicidade de ter um dia de sol e várias pessoas a participarem e divertirem-se.

Mas a novidade principal deste ano vai para o torneio de CS:GO, em parceria com a Performetric. Este foi o primeiro torneio alguma vez a ser realizado, em que contámos com várias equipas a participar, apenas chegando à final os grupos CasaDosYoutubers e JABARDICE TOTAL, cujo jogo foi transmitido em direto no Twitch, com a vitória a ir para a CasaDosYoutubers, que ganharam um prémio no valor de 100€.

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/atividades/ /atividades/ Infelizmente, com a pandemia, vimos-nos obrigados a cancelar um torneio já planeado, o Gualtar Cup. Contudo, mesmo passando por uma fase de confinamento, procurámos reinventar-nos e tornou-se possível fazer pequenas alterações nas ideias originais e, desta forma, continuar a proporcionar momentos de pura diversão aos universitários. Assim sendo, no segundo semestre, o CeSIUM apostou em torneios online de League of Legends e Hearthstone. O torneio de League of Legends demonstrou ter mais sucesso, onde contámos com mais de 50 participantes, cujos prémios atribuídos foram um teclado mecânico para o grande vencedor e para o segundo classificado uns headphones.

Ao longo dos dois semestres foi notória a grande adesão dos alunos aos vários torneios e o feedback por parte destes também foi bastante positivo. Acreditamos que as várias competições organizadas são uma oportunidade que os estudantes devem aproveitar, dado que nestas podem sempre divertir-se, conhecer novas pessoas, ganhar prémios e, claro, aproveitar alguns finos!

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/curso/ Alojamento, Falta de Camas na U.Minho Escrito por João Vilaça

machadovilaca @gmail.com

Ano após ano, os alunos da Universidade do Minho têm assistido ao agravamento das condições de alojamento a que estão sujeitos, quer em termos de falta de camas disponíveis para todos os estudantes deslocados, cerca de 13 a 14 mil, que representam quase 75% da comunidade académica, quer em relação ao aumento sistemático dos preços dos quartos disponíveis para arrendar. Este é já um problema recorrente na academia minhota que todos os anos leva os alunos a reivindicarem por melhores condições junto da reitoria da universidade, das câmaras municipais de Braga e de Guimarães e junto do Governo. Em 2019, no início do período de matrículas, a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUMinho) lançou o movimento “Uma Pedra Por Mim”, apelando a medidas para “aumentar a oferta pública de alojamento” e “promover a cooperação entre os municípios e instituições de utilidade pública locais”, alertando que, “desde 1998, não foram criadas camas na rede pública dos Serviços de Acção Social da Universidade do Minho (SASUM), as chamadas residências universitárias, que oferecem 1300 camas, totalmente ocupadas”. Neste contexto, os estudantes minhotos defenderam a atualização do complemento de alojamento para o estudante bolseiro, fixado nos 174 euros, a criação de um fundo para a construção de residências universitárias públicas e, ainda, que “seja promovido o diálogo no sentido da cooperação entre os municípios e instituições de utilidade pública locais com o Governo para a disponibilização de camas”.

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/curso/ Em 2020, e devido à situação pandémica, a Direção Geral de Saúde (DGS) impôs a redução de mais de uma centena de camas nas residências universitárias dos SASUM, para garantir a segurança dos alunos, uma vez que a maioria dos quartos são duplos, reduzindo, assim, o número total de 1399 para 1250, aumentado ainda mais a pressão na oferta imobiliária privada.

Apesar de o reitor da U.Minho ter garantido que está a ser levado a cabo um “processo de articulação” com proprietários de alojamentos locais e hostels, a solução é provisória e o problema de fundo permanece. Neste momento, a solução tem passado por, em conjunto com a Câmara Municipal de Braga, incentivar os proprietários de alojamentos locais a disponibilizarem os imóveis, que não têm tido clientes devido à quebra do turismo causada pela pandemia, a estudantes universitários, a um preço mais baixo, mas que poderá ser uma alternativa satisfatória para o negócio. Também o presidente da AAUMinho, Rui Oliveira, mostra-se contente com esta última alternativa, defendendo, no entanto, que esta apenas resolve o problema a muito curto prazo e critica o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o governo, por ainda não terem sido iniciados os projetos que a universidade tem para a criação de mais alojamento para os alunos, nomeadamente a reabilitação do edifício da Escola Secundária D. Luís de Castro, em Braga, e da Escola de Santa Luzia, em Guimarães. Estes projetos há muito anunciados ainda não saíram do papel e é preciso que se concretizem por uma questão de “necessidade” e de encontrar respostas atempadas alertando que “o que falta mesmo é uma estratégia a longo prazo, que possibilite, de facto, a criação de mais respostas através de mais residências fixas”.

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/curso/ A Aventura do Ensino à Distância Escrito por João Teixeira joaopmtexeira @gmail.com

Um ano no MiEI é sempre um ano atribulado e cheio de emoções, mas, este ano, foi, sem dúvida, ainda mais especial. Para juntar à típica frustração da procura de bugs manhosos, apareceu a maior dor de cabeça de todas, a pandemia COVID-19, que fez o distanciamento e isolamento social passar de escolha a obrigação causando uma reviravolta em toda a realidade académica. Para além das óbvias alterações no ambiente social, uma das grandes mudanças foi ao nível do ensino. Numa questão de dias, todos nós tivemos de nos adaptar ao novo campus universitário, as nossas casas, e passar de uma sala de aulas para a nossa sala de estar. Quando a notícia de que o campus ia fechar chegou, veio uma sensação de alívio e o meu pensamento foi logo “porreiro, logo já não preciso de fazer a mala para ir embora”, achando eu que seria uma questão de dias e voltaria tudo ao normal. À medida que os dias passavam e o pânico se instalava um pouco por todo o lado, fuime apercebendo que estava errado, se calhar, aquilo estava para ficar. Aqueles primeiros dias do lockdown foram incrivelmente frustrantes graças ao pânico cada vez mais presente, às dúvidas de como seria o futuro e ao silêncio nada reconfortante de quem estava a tentar reerguer a universidade e a criar a realidade do que acabaria por ser todo o resto do ano letivo. Depois de semanas de especulações, informações contraditórias e cada vez mais dúvidas que respostas, lá começaram a aparecer informações certas e foi confirmado que a universidade ia manter-se fechada e que se ia passar para um regime de aulas à distância. Embora fosse uma mudança radical no estilo de vida que levava, a maior dúvida estava esclarecida e já dava para “relaxar” um pouco. Isto até começarem a aparecer novidades dos Professores sobre o novo funcionamento das UCs, métodos de avaliação e calendário foi uma questão de dias e estava tudo pronto para arrancar com o ensino de novo. E assim foi, lá recomeçaram as aulas. Houve uma grande diversidade de métodos adotados pelas equipas docentes das diferentes UCs para isto, uns com aulas por chat, formato de sessões de dúvidas, gravadas… O mais adotado acabou por ser um formato mais “tradicional” de aulas em direto, para emular um pouco o ambiente de sala de aula. Claro que nunca da mesma forma, a falta do calor humano teve um impacto enorme na dinâmica das aulas que, por muito que se tente, nunca seria possível ter com recurso aos avatares que apareciam nos nossos ecrãs. Com as aulas a funcionar a todo o gás, chegámos à crítica época de testes. Este foi um assunto que causou muita controvérsia. O medo da fraude por parte dos alunos causou um incómodo enorme às diversas equipas docentes e algumas tentaram tudo o que conseguiram para fazer com que a avaliação fosse presencial. 24


/curso/ Eventualmente, e sem outra alternativa, lá acabaram por adaptar os testes ao novo formato à distância. Embora houvessem testes que foram o mais próximo do que seriam caso fosse presencial, outros levaram as tentativas de combate à fraude longe demais, acabando por prejudicar até quem estava a querer fazer o teste de forma honesta, sujeitando-nos a enunciados gigantes e confusos e a um tempo para os resolver que nem para piscar os olhos dava. As gralhas inerentes a um novo formato e plataforma de testes também tiveram um grande impacto nesta experiência, mas nada que não houvesse vontade de ambas as partes de ser resolvido e, no final, acho que ninguém deve ter saído muito prejudicado por estas. É claro que a vida não se resume apenas a aulas e momentos de avaliação e a parte da convivência fora das aulas foi algo que também mudou drasticamente. Aqui, a experiência de cada um deve ter sido completamente diferente, mas, no meu caso, foi uma adaptação relativamente fácil, já que era raro o dia onde o meu grupo de amigos não se encontrava no Discord para conversar, acabando por recriar as típicas conversas de corredor antes das aulas e de testes e culminando em ter um dia normal fora de casa, mas de pijama vestido à frente do computador. Depois do final deste semestre atípico e tendo em conta a velocidade com que tudo isto aconteceu, faço um balanço positivo, mas é algo que espero não repetir. Embora tudo tenha corrido pelo melhor, o cansaço e o não mudar de ares é algo que tem um efeito psicológico muito forte e acabou por me deixar completamente enjoado de estar à frente de um computador, o qual desliguei no último exame e voltei a ligar agora para escrever este artigo. Para uma pessoa que não gosta de andar a pé, acredito que, neste próximo ano letivo, o voltar da caminhada matinal até à universidade vai ser algo que vai saber muito bem!

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/curso/ Estágio de Verão: Summer Camp Subvisual Escrito por João Correia jpcorreia99 @gmail.com

Vivemos em tempos incertos. Não há forma de o negar. Hoje, tudo se adaptou, bem ou mal, à ânsia da nova realidade. As aulas já não são como as conhecíamos, as férias já não se vivem como as vivíamos e, talvez, até mesmo as pessoas já não sejam bem as com quem convivíamos. Com tantas novas incertezas, há, no entanto, uma dúvida antiga que permanece acima de todas as outras nos corações dos estudantes. Esta é a incerteza em relação ao seu futuro após o curso. Uma das poucas vantagens que a pandemia trouxe foi a certeza de que este era o verão certo para reduzir essa dúvida, não havendo para isso melhor oportunidade que um estágio de verão. A verdade é que qualquer um dos entraves que costumam ser apontados aos estágios, como reduzir o tempo gasto a sair com amigos, já estava a ser posto em prática devido à pandemia, o que tornou a opção de seguir um estágio extremamente atrativa. Tomada a decisão, é necessário tratar de um pormenor muito importante: o lugar onde o fazer. Numa altura em que muitas das respostas por parte das empresas se reduziam a “covid, estágio, não”, eis que surge a Subvisual. A Subvisual, para mim, assim como para bastantes alunos do curso, não é um nome estrangeiro. De facto, a proximidade com o curso e com o CeSIUM, em especial, é notória, o que me motivou a entrar em contacto com a empresa e rapidamente passar ao processo de entrevista. Apesar do enorme nervosismo associado às primeiras entrevistas de emprego, depressa me comecei a sentir mais à vontade com o processo, o que permitiu que, após duas entrevistas, tenha recebido a proposta de estágio que me fez embarcar, pela primeira vez, no mundo do desenvolvimento profissional, através do programa summer camp. “Sim, arranjei estágio, mas e agora? No que é que vou trabalhar durante as próximas 10 semanas?” foi o que mais me perguntei nos primeiros tempos após receber a notícia. Sabia que iria trabalhar em web development, mas isso ainda deixava tanto em aberto. Que tipo de produto web? Qual o propósito dele? E, principalmente, seria bom? Foi-me então apresentado o Bookclub da Subvisual, um encontro mensal em que os membros apresentam e discutem os livros que estiveram a ler. Havia, no entanto, um problema: quando o encontro acabava, o que acontecia a todas as sugestões? E se alguém quisesse rever os livros que foram sugeridos? E se alguém nem sequer teve oportunidade de ir, mas tinha, na mesma, interesse em ver os livros mencionados? 26


/curso/ Agora, com as edições online, alguém pode gravar o encontro, mas isso levanta outras questões... Quem é que ficaria a ouvir falar sobre livros durante duas horas sem se poder exprimir e partilhar as suas opiniões? Sim, outra possibilidade seria alguém postar a lista dos livros num chat, mas basta que surja uma discussão sobre um livro e o vento a leva. Claro, existem sites e mais mil e uma coisas tech, mas nunca nada encaixa na perfeição quando se trata de problemas tão específicos. Pois, na verdade, já eram usadas algumas ferramentas, mas nenhuma conseguia resolver completamente o problema... até chegarem os summer campers. Com o problema exposto, estava na altura de começar a desenhar e implementar a solução. Para isso contei com mais três pessoas para formarem equipa comigo: um designer, um product manager e um segundo developer. Mal se começou a planear a solução, rapidamente me apercebi da importância de todos estes papéis na criação de algo que terá um bom impacto: seja o designer, para dar forma aos sarrabiscos dos developers, sejam estes para dizerem ao designer que aquele banner rotativo com brilhantes 3000 e ligação a 7 redes sociais não vai dar, seja o product manager para impedir que cada lado ande à porrada com o outro.

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/curso/ Mas então como eram os dias de trabalho? Devido às circunstâncias do momento, este estágio não só foi a minha primeira introdução à programação profissional, como também ao trabalho remoto, um conceito já bastante comum no mundo da informática e que, mesmo assim, tem vindo a ser cada vez mais discutido e utilizado. Sendo que, para a maioria de nós, o computador tanto é um instrumento de trabalho como de lazer, fui obrigado a repensar a própria forma como trabalhava: necessitava de criar uma barreira entre os momentos de trabalho e os de descanso. Cada um tem os seus truques, alguns mais óbvios (e eficientes) que outros. No meu caso, o truque era rápido e barato: estabelecer uma rotina semelhante à que teria ao trabalhar no escritório, como trocar de roupa no momento em que começava o trabalho, o que me permitiu sempre uma mudança também de mentalidade.

Quando se está a desenvolver um produto, não há duas semanas iguais. Claro, há certas práticas que se mantêm de dia para dia, as pessoas, o horário e curtas reuniões diárias para atualizar a equipa e mentores do progresso, porém, cada semana tinha um propósito diferente: algumas eram gastas a discutir o que queríamos realmente implementar, outras sobre a forma como o queríamos implementar e, claro, algumas gastas a realmente implementar. Mas não só de trabalho se faz um estágio de verão. Foram várias as iniciativas organizadas pela Subvisual de forma a permitir aos membros se conhecerem não só de forma profissional, mas também no seu aspeto pessoal. Estas possibilitaram uma melhor adaptação de toda a equipa à empresa, assim como permitiram desenvolver um maior sentido de proximidade a todos que compunham o ecossistema empresarial.

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/curso/ Durante as 10 semanas em que trabalhei, foram muitas as lições que aprendi e gostaria de partilhar algumas das mais importantes: • Apenas me preocupar se sou capaz de fazer algo após já o ter feito. • Por vezes, trabalhar mais é trabalhar menos. Saber quando é altura de parar. • “Imposter Syndrome” é tão comum como a quantidade de pessoas que te vão dizer que não te devias estar a preocupar. A única forma de a superar é mentalizar que ninguém sabe a 100% o que está a fazer e que ainda estamos todos a aprender. Assim como com as pessoas, também a primeira impressão do mundo do trabalho é muito importante. Deste modo, não podia ter pedido uma melhor experiência. Uma experiência que, por muito cliché que o seja dizer, me permitiu não só crescer como profissional, mas também como pessoa. Um estágio é muito mais que uma linha num currículo, é todo um crescimento que me deixa agora muito motivado para aproveitar o que o futuro me trouxer.

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/pensamentos/ Sorrir com o Olhar e Abraçar com o Coração Escrito por Beatriz Afonso

anabeatrizcastroafonso @gmail.com

O ano de 2020 será sempre recordado como um ano de tragédia, o ano que apresentava potencial para ser igual a tantos outros e o mais perto que conseguiu ser ficou muito além do expectável. Pé ante pé, emergiu sobre o mundo uma nova realidade que veio desafiar o ser humano em mais aspetos do que aqueles que consigo mencionar. Ninguém estava preparado para carregar o pesar da angústia que o confinamento arrastou, estar longe de tudo aquilo que nos traz felicidade por mais perto que se pudesse efetivamente estar. O medo e a revolta são uma constante, afinal estamos perante uma luta contra o que não vemos, um combate injusto, subitamente cai um véu sobre nós e somos forçados a lutar pela nossa sobrevivência. Somos lançados para um campo de batalha, onde estamos à mercê não só das nossas próprias armas, mas também dos cuidados do próximo, somos todos um. A presente pandemia de COVID-19 instalou-se em vários setores, porém o tema deste conjunto de palavras que se seguirá será relacionado com a universidade, mais concretamente, a experiência universitária. Enquanto estudante universitária do terceiro ano, considero-me capaz de transparecer a minha perspetiva relativamente à experiência académica antes e depois do vírus. A notável demarcação temporal gerada pela COVID-19 tatuou um novo método de ensino que, pessoalmente, preferia que não perdurasse, talvez porque tive a sorte de sentir a importância da interação com docentes e colegas, bem como do envolvimento criado em contexto de sala de aula, por nós, amantes do saber.

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/pensamentos/ Para além do mencionado, na minha opinião, o primeiro ano na universidade é o mais importante, é o saco para onde são canalizadas todas as nossas expectativas, a independência, um reencontro diferente com o “eu” e as responsabilidades, é perceber os nossos limites e capacidades escondidas, é a descoberta, é o conhecer pessoas que vêm de realidades diferentes, é o fascínio de saber que começa uma nova etapa, é adrenalina, é intimidante e ao mesmo tempo entusiasmante. Infelizmente, agora tem-se de reinventar uma forma de não “perder” todas estas sensações incríveis, tudo aquilo que gerações equivalentes e passadas à minha teve o privilégio de absorver diretamente.

Entrámos numa embarcação batizada de “2020”, sem conhecer a foz mas imbuídos de coragem, quando de repente, somos arrastados de um porto seguro pela corrente e avisados de que a água se encontra contaminada, ondulação acima e abaixo, muita turbulência e gente borda fora, foram e são imensas as lágrimas derramadas que acariciam docemente a face dos que ficam e o reconhecimento de que não somos impermeáveis ainda é dos mais dolorosos…. Porém, apesar da corrente não estar a nosso favor demonstramos, mais uma vez, que a pequenez intitulada por muitos como a principal característica subjacente ao ser humano, nunca nos serviu verdadeiramente de rótulo, nunca nos limitou para as maiores conquistas ditas impossíveis, para nós, as adversidades nunca foram barreiras. Por fim, termino este artigo da forma que o comecei no título, resta-nos sorrir com o olhar, já que a máscara não permite mais e abraçar com o coração, um toque distinto, mas igualmente mágico e poderoso.

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/pensamentos/ A Evolução do Teletrabalho Escrito por Jéssica Lemos jessica.andreia96 @gmail.com

O teletrabalho tornou-se um conceito bastante familiar para muitos de nós de um momento para o outro. Mas sabias que este começou a ser implementado há centenas de anos? A verdade é que o trabalho ao longo dos anos passou por várias formas de reestruturação, devido à adaptação aos costumes e princípios de cada povo, mas também por influência de fatores políticos, sociais e económicos. Precisamos de retroceder a 1857, aos Estados Unidos, para perceber como surgiu, pela primeira vez, o trabalho remoto. Na realização de trabalhos com telégrafo não era necessário saber onde o operador se encontrava, desde que este tivesse acesso às infraestruturas necessárias, tornando-se, assim, possível trabalhar em qualquer horário. Contudo, o termo teletrabalho surgiu um pouco mais tarde, em 1970, quando o mundo passava pela crise do petróleo. Nesta crise, as despesas associadas ao deslocamento para o trabalho tornaram-se significativas e até mesmo insuportáveis para inúmeras empresas e, desta forma, o home office tornou-se uma alternativa viável para várias atividades. Com a Revolução Industrial e a Revolução das Telecomunicações, o surgimento e a evolução de equipamentos e sistemas de informação e comunicação, permitiu o alcance generalista a computadores e telemóveis com acesso à internet, contribuindo para um aumento considerável de trabalhadores em teletrabalho. Contudo, estes ainda eram uma minoria nos tempos decorrentes.

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/pensamentos/ Assim como na crise do petróleo, agora com a pandemia do novo coronavírus voltou-se a verificar um aumento do teletrabalho, mas mais intenso desta vez. O COVID-19 é agora apontado como um fator essencial na implementação do teletrabalho em Portugal. Este foi dos primeiros países da Europa, a par com a Itália, a introduzir o teletrabalho no seu código laboral, em 2003. Contudo, a cultura organizacional do nosso país, que se caracteriza por ser muito agarrada a modelos de trabalho mais tradicionais e onde o controlo do empregador sobre a execução de tarefas permanece muito enraizado, fez com que o recurso a este mecanismo nunca passasse de residual. A pandemia de COVID-19 veio mudar as regras do jogo, uma vez que as empresas viram-se obrigadas a confiar no teletrabalho como única solução para manter a atividade num cenário de confinamento obrigatório e no resto do combate a esta epidemia.

Começa-se agora a levantar a questão de que o mundo do trabalho nunca será o mesmo, existindo um grande investimento na tentativa de perceber e estudar os benefícios e desvantagens decorrentes desta adaptação, com o intuito de delinear a melhor estratégia de trabalho, tanto até ao aparecimento de uma vacina, como nos tempos seguintes.

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/pensamentos/ O Mundo Tecnológico em Tempos de Pandemia Escrito por Márcia Teixeira filipa.teixeira98 @gmail.com

Desde muito cedo que o Homem almejou a mais e mais alto, tentando sempre evoluir para fora da caixa onde nasceu e, querendo admitir ou não, tentando construir um futuro que envolva o menor esforço possível. Neste sentido, a tecnologia foi algo que, desde muito cedo, começou a evoluir e cresceu sem medida no sentido de se tornar numa mais valia indispensável, apresentandose, no século XXI, como o maior meio de comunicação e disseminação de informação existente. Em plena pandemia, o mundo tecnológico brilhou como sendo a maior mais valia para manter o contacto, a sanidade e, acima de tudo, o mundo a girar. Em prol destes objetivos, a família é a nossa âncora à realidade quando a convivência presencial não é uma possibilidade, seja porque estamos presos em casa com eles ou porque, na verdade, não são capazes de nos deixar em paz quando estamos longe (não é mães/pais?). Não me entendam mal, é bom ter alguém que puxe por nós para existir fora da bolha onde a pandemia nos obrigou a viver. No entanto, também sobressaíram os maiores defeitos associados. Ora, de um ponto de vista evolutivo, encontrar essas falhas foi um ponto positivo, mas não deixou de se sentir o quanto elas nos afetam. Na verdade, a tecnologia tem muito por onde evoluir ainda, mas as exigências crescem com a expansão das mesmas e nem sempre a evolução do homem consegue acompanhar isso. Com o início da pandemia, começou a existir uma discrepância maior entre a necessidade de novas tecnologias e a evolução tecnológica, criando pressão sobre as empresas responsáveis por trazer ao mercado estas ferramentas. Há também um ponto positivo nesta situação, que acabará por ser um aumento na procura de cabecinhas pensadoras com ideias frescas e vontade de as implementar.

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/pensamentos/ De uma forma geral, a pandemia trouxe um misto de emoções e sensações que tornam difícil atribuir-lhe um significado completamente positivo ou completamente negativo. É fácil apontar que uma pandemia nunca é uma boa notícia e com ela surgem muitas repercussões para as quais nenhum de nós estava preparado, principalmente perdas. Pensando, no entanto, em pontos positivos, surgiu a oportunidade de haver uma maior aproximação com a família, surgiu a oportunidade, para muitos de nós, da descoberta própria e não esqueçamos que surgiu também a oportunidade de fazer uma limpeza das cadeiras mais complicadas que iam ficando para trás na universidade. Esta época inesperada trouxe muita coisa, mas mais que tudo trouxe um abre olhos para muitos aspetos que estavam mal e que puderam ser corrigidos e muitas soluções tecnológicas que vieram para ficar. Agora, em segurança, voltamos lentamente às nossas rotinas e largamos um bocadinho mais as tecnologias.

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/pensamentos/ Déjà vu Escrito por Beatriz Rocha beatrizfr.rocha @yahoo.com

Espera, eu já estive aqui antes? Já estivemos neste mesmo sítio enquanto tu me dizias essas exatas palavras em algum momento do passado? Eu não vi este cão passar neste preciso corredor antes? Por vezes, conforme conhecemos um novo sítio ou praticamos uma nova atividade, experienciamos um sentimento estranho de que não é a primeira vez. A essa sensação chamamos déjà vu, uma frase de origem francesa que significa “já visto”. Mas o que é um déjà vu e será que a ciência pode explicar porque é que acontece?

Há quem pense que um déjà vu é um sinal de que nos estamos a relembrar de uma experiência de uma vida passada, o que pode ser bastante assustador. Normalmente associamos este fenómeno a algo misterioso e até mesmo paranormal, uma vez que se trata de um sentimento fugaz e inesperado. As mesmas questões que nos dão que pensar são as mesmas que tornam este acontecimento difícil de estudar. Ainda assim, existem vários cientistas que já recorreram a técnicas como hipnose e realidade virtual para conseguir chegar a algumas conclusões. Em 2006, um conjunto de cientistas tentou recriar um déjà vu em laboratório. Mas como é que isso é possível? No fundo, começaram por criar uma memória para pacientes sob hipnose. Essa memória tratava-se de algo simples, tal como jogar com uma determinada bola ou atar os cordões de uns sapatos específicos. De seguida, os pacientes eram incentivados a lembrar-se ou esquecer-se daquela memória, dependendo do grupo de estudo em que se encontravam, o que mais tarde poderia desencadear a sensação de déjà vu, quando lhes fosse dada aquela bola ou aqueles sapatos.

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/pensamentos/ Já outra equipa de cientistas tentou provocar este episódio usando realidade virtual. Neste estudo, os participantes afirmaram ter vivenciado um déjà vu enquanto se moviam no videojogo Sims, quando uma cena foi criada propositadamente para mapear espacialmente outra (neste caso, todos os arbustos de um jardim haviam sido substituídos por sacos de lixo para criar o mesmo layout). Estes ensaios levaram os cientistas a suspeitar que esta ocorrência se trata de um fenómeno de memória, ou seja, nós encontramos uma situação semelhante a uma lembrança real, mas não nos conseguimos recordar totalmente da mesma, o que faz com que o nosso cérebro reconheça as parecenças entre a nossa experiência atual e a do passado. Ficamos, então, com um sentimento de familiaridade que não conseguimos identificar. Independentemente de ser bom ou mau para nós, todos nos deveríamos sentir agradecidos por ser tão efémero. No Reino Unido, um grupo de cientistas tem vindo a estudar um jovem na casa dos 20 anos que sofre daquilo a que eles chamam “déjà vu crónico”. Este indivíduo sente que está a reviver a mesma ocasião várias vezes ao dia durante alguns minutos, comparando-se a estar preso no filme “Donnie Darko”. Yikes!

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/pensamentos/ Que Aborrecidos Somos Nós Escrito por Filipe Felício

filipe.felicio.1999 @gmail.com

Que Aborrecidos Somos Nós... Naturalmente, pois somos o pináculo, o apogeu da Razão e do Progresso, da Aritmética e da Lógica. Jovens do século XXI para os quais nenhuma verdade é desconhecida. Em poucas palavras: temos Razão! E, como tudo sabemos, consequentemente, estamos certos, não adianta levantar questões ou pontos de vista diferentes. Porquê? Para quê? Nós temos as respostas: a ciência e o raciocínio dizem-nos todas as vantagens da espécie Humana. Tão simples como 2 + 2 ser 4. E a sociedade onde vivemos é tão injusta, tão desigual, construída à base de ideias antigas, ultrapassadas e perversas, que só serviram para oprimir, esmagar, enganar e cegar os ignorantes e os coitados. Não há razão absolutamente nenhuma para que uns tenham mais riqueza que milhões juntos. Não há explicação (lógica) para que uns vivam cada vez melhor em detrimento de outros. Que uns sejam oprimidos com base na sua cor da pele, gênero ou condição social. Não aceitamos isto! Todo o nosso ressentimento é justificado. Prontamente, tudo isso estará para trás, cabe-nos a nós que somos educados e não vivemos sob o jugo da absurdidade da religião e da tradição, com o uso da Razão, do Progresso, da Lógica e da Aritmética, fazer um mundo justo e igual para todos, onde todos têm os mesmos direitos e estão protegidos. Protegidos das discriminações, das exclusões, das ofensas e dos “Ismos”! Ai os “Ismos”! Esta é a nossa batalha! Este é o nosso objetivo! O fim último para o qual não devemos olhar a meios, não interessa qual o sacrifício. Nada, repito, nada se sobrepõe a este esforço, pois, até ao nosso triunfo, quantos mais terão de sofrer? De serem humilhados? Oprimidos? Apenas nós queremos saber, apenas nós queremos mudar o mundo e, a verdade, é que não só está nas nossas mãos, como apenas nós, por possuirmos a Razão e o Progresso, a Aritmética e a Lógica, somos capazes de tal feito. Digo mais, é um crime ético não empregar o uso total da força e do poder para o alcançar. Somos nós os homens (mulheres e outros) extraordinários a quem é permitido ultrapassar as leis e não viver em obediência. Já pegaram nos vossos machados?

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/pensamentos/ Voltando aos “Ismos”, e Egoísmo? Certamente, nós não somos egoístas, correto? (Pausa) Perdoem-me… Nós estamos certos e os nossos motivos são puros! Não somos motivados por inveja, ódio ou ganância. Usamos a Razão, o Progresso, a Lógica e a Aritmética, logo não podemos estar errados (tal como 2+2 ser 4), novamente, perdoem-me se nos interroguei. Continuando, nós não somos Egoístas! Abdicamos de tudo em nome dos outros, do mundo, do que está correto. E, como estamos corretos, é absurdo termos de nos explicar, são tão evidentes as críticas que fazemos que até uma criança de 5 anos concordaria... É axiomático, é óbvio! É, gritantemente, óbvio. Olhem para nós... Que boas pessoas somos! Reclamamos e atacamos tudo o que é injusto e desigual. “Rezamos” em público porque somos virtuosos e temos intenções genuínas e generosas, realmente fazemos a diferença! Sabemos melhor o que é mais vantajoso para os outros do que, justamente, eles mesmos. Somos os seus protetores. Justos, Solidários e Altruístas! E adoramos diversidade, somos muito diferentes e tolerantes, não há dois de nós iguais, na roupa, na música, na sexualidade, no sexo, no género, na raça, na etnia,... ao sentido visual somos (ou acreditamos que somos) inconfundíveis, em tudo (tudo o que importa, claro) somos únicos e irreverentes. Progressivos! Pensamos e dizemos todos o mesmo, mas isso não só é inevitável, como também é desejável! É, mais uma vez, a consequência da Razão e do Progresso, da Aritmética e da Lógica e que isto sirva de prova irrefutável e inquestionável de como estamos corretos! Sim, temos nomes, caras, personalidades e até timbres de voz diferentes, mas tudo isso são luxos que não necessitamos! Aliás, abdicamos deles! Este texto nem devia ter autor! Como usamos a Razão, o Progresso, a Aritmética e a Lógica, chegamos todos às mesmas conclusões certas, não interessa quem fala, por isso, reforço, pode-se trocar o autor deste texto por qualquer outro de nós que o resultado final é o mesmo. Mentimos e veneramos as nossas próprias mentiras, parafraseando Dostoiévski em Crime e Castigo. É esforço desnecessário conversar com mais do que um de nós, porque, como chegamos à “verdade”, dizemos todos o mesmo… Que Aborrecidos Somos Nós.

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/cultura/ A Importância da Cultura Escrito por Bárbara Cardoso babycardoso98 @hotmail.com

Este ano tem sido, com toda a certeza, um ano muito diferente para todos nós. Os profissionais de várias áreas e setores sofreram a todos os níveis com a pandemia e grande parte teve até que parar a sua atividade. Assim, houve a necessidade de “reaprender” a viver, adaptando-nos aos meios disponíveis. Uma das áreas mais afetadas foi a cultura, que teve a necessidade de se reinventar para, assim, conseguir chegar até às pessoas durante a quarentena. Foram várias as iniciativas levadas a cabo com imenso sucesso, cujo objetivo foi entreter os cidadãos em suas casas. O humorista Bruno Nogueira, com o seu projeto “Como é que o bicho mexe?”, todas as noites fez lives no Instagram, que consistiam em conversas com várias personalidades famosas e o seu sucesso foi tal, que chegou a ter 170 000 pessoas a seguir o seu último episódio. Este último contou até com a participação especial do melhor jogador de futebol do mundo, Cristiano Ronaldo.

Foram também várias as iniciativas de festivais em formato online, já que não existiu a possibilidade de haver espetáculos ou concertos. Iniciativas essas que juntaram inúmeros profissionais da área, com o objetivo de fazer chegar a cultura à casa dos portugueses através do digital. Um dos festivais que chegou a milhares de casas foi o “Eu Fico Em Casa”, que uniu um conjunto de artistas nacionais que deram “concertos” a partir das suas próprias casas, através da sua conta de Instagram.

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/cultura/ Realizou-se também o festival de humor “Rir Em Casa”, que reuniu inúmeros humoristas que se prontificaram a fazer um espetáculo de 4 dias de humor ao domicílio, também através dos diretos da rede social Instagram. As aulas online de exercício físico foram também uma das principais iniciativas, visto que antes da COVID-19 não era algo muito vulgar. Com todos os professores que criaram projetos e incentivaram a população a fazer desporto, este tornou-se muito mais presente na vida das pessoas, o que é um ponto muito positivo.

Conseguimos ver também o crescimento notório do uso das redes sociais e de várias plataformas digitais. O aumento do uso destas como forma de entretenimento foi tão grande, que algumas, tais como o YouTube ou a Netflix, tiveram a necessidade de reduzir a qualidade de vídeo para diminuir a carga de internet e deixar a plataforma mais leve. Conseguimos perceber a importância da cultura nas nossas vidas, pela forma como foi urgente fazer com que esta chegasse até nós sem sairmos do nosso próprio lar, já que a pandemia assim nos obrigou.

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/cultura/ Filme: “Joker” Escrito por Nelson Estevão nelson @estevao.org

Joker é o filme de Todd Phillips que conta a história de Arthur Fleck, protagonizado por Joaquin Phoenix. Arthur trabalha numa agência que subcontrata palhaços, strippers e mágicos chamada “Haha’s”. Vive num velho apartamento danificado com a sua mãe muito doente. A vida dele não tem sido fácil, ganhando mal, sendo humilhado e espancado com frequência. O filme tem a extraordinária capacidade de nos colocar desconfortáveis durante o tempo todo. No entanto, não conseguimos tirar os olhos do ecrã.

Os fãs das bandas desenhadas da DC que estão à espera de um personagem a cair num caldeirão e a ficar branco, podem esquecer. Esse não é o filme que vão ver. O filme é uma versão demasiado realista da origem do Joker e, por isso, tão assustadora. Não é dito em que momento é que o filme se passa, apenas sabemos que é no passado. De certa forma, passa-se num universo paralelo ao que já vimos em todos os outros filmes da DC em que entra este personagem.

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/cultura/ O lugar em que o filme se passa é Gotham City. A cidade que o realizador tentou recriar foi New York City de 1981, eliminando apenas todos os elementos característicos da mesma. Um lugar arrasado, sujo e imundo. Todos os serviços públicos estiveram em greve em algum momento e os que não estiveram eram corruptos. A arquitetura e o fluxo do espaço acabam por se aproximar da cidade das bandas desenhadas, ilhas interligadas por pontes e caminhos de ferro.

Arthur sofre de uma doença mental que se vai agravando com todos os acontecimentos na sua vida, incluindo a perda do seu apoio social que lhe fornecia medicação. Joaquin Phoenix foi capaz de introduzir uma nova e muito própria gargalhada (muitas vezes, nas piores situações) no personagem Joker. A sua incontrolável gargalhada enche os seus olhos de dor e sofrimento enquanto outro ataque de risos o domina por completo. Tudo o que vemos é pela perspetiva de Arthur, que, no fundo, nos está a contar a sua própria história. Todos os desabafos de desespero que Arthur faz são completamente ignorados pelo sistema em que está envolvido. A pouco e pouco é-nos contada a sua transformação naquilo que é o icónico vilão. O filme não é totalmente fiel às bandas desenhadas, tal não seria possível e, por isso, é que vale tanto a pena ver. A origem do Joker é algo que foi pouco explorado, apesar de existirem pequenas tentativas. O próprio nome do personagem foi escolhido pelo Todd Phillips e esta é apenas uma alternativa para a história da origem do Joker, na qual o seu nome era Arthur. No fundo, este filme podia ter-se chamado Arthur Fleck, ou só Arthur.

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/cultura/ Livro: “Deep Work” Escrito por Miguel Brandão mickael.a.brandao @gmail.com

Deep Work é um livro de Cal Newport, autor best-seller e professor de Ciências da Computação na Georgetown University, EUA. O livro aborda o conceito de Deep Work, termo cunhado pelo autor. Nas suas palavras, Deep Work consiste em atividades profissionais realizadas num estado de concentração livre de distrações, que impulsione as capacidades cognitivas ao limite. São esforços que criam valor, aperfeiçoam capacidades e são difíceis de replicar. A obra é direcionada aos knowledge workers (trabalhadores do conhecimento). Um knowledge worker é qualquer trabalhador cujo trabalho envolve o desenvolvimento de novos produtos ou a resolução de problemas complexos, entre outros. Em essência, é qualquer trabalhador cujas tarefas envolvem pensamento ativo.

Segundo o autor, a qualidade do trabalho destes trabalhadores está a ser negativamente afetada devido à popularização de ferramentas de comunicação, como redes sociais, email e serviços de mensagens instantâneas. A atenção destes trabalhadores, ao invés de ser direcionada para a produção de trabalho valioso, está a ser desviada para o chamado shallow work: tarefas não cognitivamente exigentes feitas, muitas vezes, de uma forma distraída. São tarefas que não criam grande valor e são fáceis de replicar, como enviar e responder a emails e mensagens, organizar dados ou resolver notificações no GitHub.

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/cultura/ Cal Newport argumenta que, numa sociedade em que o trabalho cognitivo é cada vez mais necessário e os trabalhadores que o desempenham estão cada vez mais distraídos, a capacidade de trabalhar de uma forma concentrada é uma capacidade cada vez mais rara e valiosa, sendo que os que a dominam têm uma grande vantagem sobre os demais. Estes trabalhadores são capazes de, ao cortar e compartimentalizar as distrações, produzir melhor em menos tempo. Por sua vez, o trabalho produzido, por ser de qualidade e de valor, é mais gratificante para o trabalhador. Ao requerer concentração absoluta no trabalho a elaborar, seja a aprender ou a criar, o trabalhador fá-lo em menos tempo com a mesma ou melhor qualidade, pois deixa o seu pensamento fluir sem as interrupções das redes sociais ou do shallow work. Não é possível, neste pequeno artigo, fazer jus à obra de Cal Newport. É impossível, neste formato, conseguir transmitir todas as ideias e exemplos que ajudam a sedimentar a necessidade, a importância e o valor do deep work na era moderna, muito menos todas as soluções que o autor propõe para se atingir um estado de deep work. Contudo, não posso deixar de destacar uma das soluções que considero mais interessante, de forma resumida: para alcançar um estado de concentração profunda, em que o melhor trabalho é produzido, o autor propõe a alocação de tempo específico. Tal alocação deve ser consistente em termos de horário e esse espaço de tempo deve ser utilizado única e exclusivamente para o trabalho cognitivamente intensivo, devendo ser livre de qualquer tipo de distração, como telemóveis, redes sociais e emails. No entanto, as alocações devem ser curtas e espaçadas, de modo a não causar burnout. Resta-me recomendar a leitura do livro. Toda a gente tem um método de trabalho diferente, mas, no mínimo, tenho a certeza que a leitura desta obra fará qualquer pessoa repensar a sua forma de trabalhar.

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/lifestyle/ Receita: Tarte de Pastel de Nata Vegan Escrito por Beatriz Rocha beatrizfr.rocha @yahoo.com

Segundo Amália Rodrigues, numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa. Na minha opinião, é um bom pastel de nata crocante e dourado! Se há coisa que me faz recordar os meus tempos de infância é esta maravilha da gastronomia portuguesa. Todas as manhãs de sábado, os meus pais levavam-me a tomar o pequeno-almoço a um modesto café da minha terra natal. O meu pedido era sempre o mesmo: um pastel de nata bem tostadinho. Mas não ficava por ali. Era crucial vir uma pequena colher para que eu pudesse começar por comer o recheio e, só no fim, deliciar-me com a massa folhada que acabara de sair do forno. Agora restam as saudades desses tempos em que o cuidado com a linha ficava de lado. Por isso vos deixo uma alternativa bastante mais saudável e igualmente saborosa. Para esta receita vão precisar dos seguintes ingredientes: • 1 embalagem de massa folhada • 500 ml de leite de soja • 200 ml de natas de soja • 45 g de farinha maizena • 4 cascas de limão • 110 g de açúcar A preparação é muito simples. Comecem por forrar uma tarteira com a massa folhada (não esquecendo de fazer pequenos furos com um garfo para que esta não empole no quente) e reservem. De seguida, coloquem a farinha maizena (peneirada com um coador para que não se formem grumos), o açúcar, o leite de soja e as natas de soja num tacho e misturem até atingir uma textura homogénea. Adicionem as 4 cascas de limão e levem ao lume até engrossar, mexendo sempre muito bem para o creme não queimar. Quando o creme estiver no ponto, retirem do lume, removam as cascas de limão e deixem arrefecer por alguns minutos. Por fim, vertam o preparado anterior na tarteira e levem ao forno durante 30 minutos. Retirem do forno, deixem arrefecer e a tarte de pastel de nata vegan está pronta a servir!

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/lifestyle/ A Mudança Escrito por José Peixoto zmpeixoto13 @gmail.com

Estava sentado à mesa, durante um almoço de família e não havia falta de comida. Vários tipos de carne exibiam-se sobre as travessas. Quase não havia espaço para as panelas, pratos e pessoas que se sentavam em volta dela. Fazia, aproximadamente, 3 meses que tinha mudado a minha alimentação. Passei de uma dieta omnívora para uma à base de plantas. Acabei a comida que tinha no prato e olhei em volta enquanto o resto das pessoas comiam e socializavam. Naquele momento, foi como se o tempo abrandasse. Analisei aquela imagem durante uns segundos. Estava saudável como nunca estivera, tanto fisicamente como psicologicamente. O que via à minha frente, aquele consumo desnecessário de animais para o qual há 3 meses atrás eu contribuí, agora parecia não ter qualquer sentido. Senti algo que nunca tinha sentido, uma reafirmação na decisão que tinha tomado. Nunca me tinha acontecido algo do género. Senti-me tão leve que podia jurar que estava a ver aquela imagem em terceira pessoa. Talvez a falta de carne me estivesse a afetar. É difícil ter a certeza na decisão que tomamos para o nosso futuro, ao contrário de um videojogo onde temos um mapa ou recebemos uma notificação. Mas ali, naquele momento, tive uma confirmação de que tomei a decisão certa ao abandonar o consumo de animais e derivados... Mas vamos retroceder um pouco. Como é que esta ideia surgiu? Sempre quis melhorar a minha alimentação, comia pouco e pouca variedade. Na minha procura por uma melhor alimentação, deparei-me com a alimentação 100% vegetal. Até àquele momento, o pouco contacto que tinha com pessoas veganas acabava sempre comigo a fazer alguma piada com carne. O feitiço acabou por se virar contra o feiticeiro. Nunca tinha tentado perceber o outro lado até então, mas algo mudou com o pouco que li. Despertou-me interesse e pesquisei bastante sobre o assunto. Assisti a documentários, vídeos e li estudos realizados acerca dos prós e contras. Ao fim de alguns dias, não conseguia manter-me indiferente ao que tinha absorvido. Será que a alimentação e o modo de vida que me foi transmitido não era o mais correto? Que parte da minha cultura estava errada? A melhor forma que eu encontrei para responder a estas questões foi experimentar e passar pelo processo. Durante uma tarde em que me debruçava sobre mais um vídeo acerca deste modo de vida vegan, pausei o vídeo que assistia e saí de casa direto ao hipermercado mais próximo. Comprei legumes que repugnava, tofu e seitan que nunca tinha comido. Foi o último dia que consumi produtos animais.

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/lifestyle/ Em relação à moralidade e praticidade do veganismo, acho difícil haver discussão, pois os argumentos a favor são muito fortes. A única preocupação que eu tinha era em termos de saúde, pois há opiniões bastante divergentes nesse assunto. Nos primeiros dias, fazia constantemente um auto check-up para prever a possibilidade de desmaiar devido à falta de carne. Não aconteceu nos dias seguintes nem nas semanas a seguir. Passado meses, sentia um bem-estar como nunca tinha sentido. Comecei a comer mais variedade de alimentos e, consequentemente, a dar mais valor à minha saúde. Esforço-me para não ser um daqueles veganos que tenta impor o seu estilo de vida, mas, por vezes, torna-se complicado, pois, no final do dia, vivemos todos debaixo do mesmo teto. Para mim, resume-se a perceber a situação em que vivemos e fazer a mudança por nós próprios. Não deveríamos precisar que nos imponham regras para mudar o rumo em prol do futuro da sociedade. O que era uma realidade no passado não significa que seja o melhor no presente e a história mostrou isso várias vezes. Muda-te a ti próprio e o mundo muda contigo. “Na história da humanidade (e dos animais também) aqueles que aprenderam a colaborar e improvisar foram os que prevaleceram.” - Charles Robert Darwin

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/lifestyle/ Desporto na Vida Académica Escrito por Joel Gama

joelgama2015 @gmail.com

Embora as vantagens associadas à prática de desporto por pessoas de todas as idades sejam hoje perfeitamente evidentes, quão vantajoso é o desporto competitivo durante o percurso académico dos estudantes universitários? Tendo esta questão em mente e tendo a experiência de praticar taekwondo competitivo na Universidade do Minho por 3 anos, resolvi partilhar o resultado da análise das diferenças ao nível de concentração, rendimento académico e gestão do tempo, antes e depois de me iniciar nesta vertente. A prática de um desporto regular permite a criação de um momento ou espaço em que esquecemos tudo o resto. Dessa forma, quaisquer problemas ou preocupações que tenhamos ficam de lado por um momento, ajudando a libertar a pressão sentida. Este ponto está associado à melhoria da concentração. Por exemplo, antes de iniciar o desporto competitivo, era habitual passar imenso tempo a tentar resolver problemas nos trabalhos, sem conseguir obter qualquer resultado muito positivo. No entanto, depois de iniciar o desporto competitivo, aquele momento funcionava como uma forma de reiniciar o processo de pensamento e, dessa forma, desbloqueava as ideias e mudava a maneira de ver os desafios. Além disso, apesar de termos menos tempo por estar a ser investido no desporto, o rendimento académico aumenta, isto é, gastamos menos tempo parados com bloqueios de pensamento e tornamo-nos mais produtivos.

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/lifestyle/ Isto leva-nos ao último ponto, a gestão de tempo. Praticar um desporto a nível competitivo requer uma gestão enorme de tempo, pois com 3 a 4 treinos semanais, aulas e trabalhos fica bastante complicado fazer uma gestão eficiente do tempo. Contudo, apenas quando nos deparamos com esta situação, conseguimos ver que é, realmente, possível fazer essa coordenação de forma a manter tudo organizado e sem perder rumo a nenhum dos pontos. Por esta razão, tendo todos os trabalhos, exames, aulas, treinos e até estudo num horário calculado ao pormenor faz com que não se desperdice tempo e tenhamos uma rotina mais organizada e eficiente. Assim, o facto de a prática de desporto ser uma ajuda para o rendimento académico acaba por ser bastante cliché, mas não deixa de ser verdade que nos ajuda a manter a sanidade mental e a saúde física.

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