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AGRÍCOLA
Setembro 2021
Relevância do silício na adubação da cana é destacada por pesquisas da APTA De proteção contra broca a melhor rendimento em açúcar, uso do silício tem apresentado ótimos resultados A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) vem testan− do os efeitos da suplementação com si− lício (Si) sobre fatores bióticos e abió− ticos que afetam a cana−de−açúcar. “O silício é um elemento que es− tá presente em todos os solos, sendo seu principal formador. No entanto, a maioria dos solos tropicais tem baixa quantidade de solúveis, ou seja, dis− poníveis para a planta”, comenta a pesquisadora da APTA Regional de Piracicaba Mônica Sartori de Camar− go. Ela usa como exemplo a areia da praia, que apresenta uma grande con− centração total de Si (na forma de sí− lica, SiO2), mas onde o elemento não está disponível para absorção pelas raízes das plantas. “Para estar disponí− vel, as partículas do solo devem ser mais finas, como ocorre nos de tex− tura argilosa”, afirma.
Mônica Sartori de Camargo
Em suas pesquisas, Mônica traba− lha com os solos arenosos, que passa− ram a ser muito utilizados no interior paulista para a cultura da cana, seu fo− co de estudo e emprega a escória de siderurgia moída como fonte desse elemento em seus experimentos. “A escória é tida como um passivo am− biental, vindo da fabricação de ferro e aço, e é rica em Si, Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg). Esse silicato pode ser usado como fonte de Si e como cor− retivo de acidez do solo, por conter calcário”, explica. “Testamos variedades do Instituto Agronômico (IAC−APTA) e, ao lon− go de 3 ciclos, queríamos estudar se ti− nha alguma relação entre absorver mais silício do solo e a capacidade da plan−
ta em ter menos broca da cana−de− açúcar (Diatraea saccharalis)”, pontua. De acordo com ela, uma vez absorvi− do pelas raízes, o silício sobe pela plan− ta através do xilema e se deposita nas folhas na forma de um polímero. “Ele forma uma dupla camada de sílica e cutícula na epiderme e os insetos pas− sam a ter mais dificuldade de entrar nesse tecido”, detalha. Ela verificou que algumas variedades possuíam teo− res mais altos de Si quando compara− das às demais, como a IAC91−1099, mas não encontrou relação direta en− tre teor de Si no solo e ataque de D. saccharalis. Embora o solo possuísse quantidade de Si adequada para a planta, ela poderia não ser suficiente para reduzir o dano da broca. A pesquisadora aplicou ainda o Si em dois tipos de solo com a finalida− de de tentar reduzir os impactos cau− sados pelo inseto. “Percebemos que houve uma redução na quantidade de ataque de broca nos dois ciclos, espe− cialmente para a variedade SP89− 1115, que era susceptível ao ataque de broca. Os resultados mostraram que foi sim vantajoso utilizar a adubação com Si. Foi algo muito importante de se observar em experimento de cam− po”, enfatiza. A pesquisadora avaliou ainda se o Si poderia contribuir também para a
tolerância da cana à ferrugem−mar− rom, doença causada pelo fungo Puccinia melanocephala. “Quando as variedades saem dos programas de melhoramento genético, a ferrugem marrom é uma das doenças avaliadas nos campos experimentais, mas o grande problema é que em plantio comercial há pressões ambientais e as plantas são expostas a várias cepas do fungo”, informa. Segundo narra, nos últimos anos a ferrugem tem afetado muito os plantios e, apesar de não matar a planta, reduz bastante a fo− tossíntese e pode prejudicar o cresci− mento em algumas situações. “Assim, foram avaliadas plantas de cana em vasos de 100 L com vários tipos de solos e conforme aumenta− va a concentração de Si no solo, di− minuía a incidência natural da ferru− gem−marrom”, afirmou. Como complementação ao tra− balho, a pesquisadora enviou amos− tras das folhas das plantas para a Unesp. Com a colaboração da estu− dante de doutorado da universidade Isabel Coutinho, foi possível identi− ficar em laboratório quais compos− tos químicos as plantas estavam pro− duzindo e quais possuíam a capaci− dade de combater o fungo causador da ferrugem. Se por um lado o silício se mos− trou promissor na redução dos im− pactos causados pelos fatores bióti− cos, faltava avaliar como ele poderia contribuir sobre os de origem física e química − os abióticos. Segundo a pesquisadora, nesse quesito o estres− se hídrico tem sido um problema tocante ultimamente, devido à di− minuição das chuvas. “Temos estu− dado variedades tolerantes e sensí− veis e fizemos experimentos para avaliar se o emprego do Si dava ou não efeito na fisiologia e produção da planta”, discorre. De acordo com Mônica, a equi− pe tem conseguido bons resultados. “Em vasos, depois de avaliar as plan− tas submetidas ao déficit hídrico aos 3 e aos 6 meses, voltamos a fornecer a água usual e a planta adubada com Si mostrou−se mais produtiva mes− mo após passar pelo estresse”, celebra. A hipótese é de que o Si esteja atuando como um aliado, estimulan− do a fotossíntese em momentos de menor disponibilidade de água. “A planta passa a estar mais bem prepa− rada para o estresse, podendo resultar até mesmo em maior produção de açúcar”, realça a pesquisadora.