JornalCana 332 (Novembro 2021)

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MERCADO

Novembro 2021

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O Brasil quer mais

do mundo, com 46,2 milhões de au− tomóveis em circulação. Isso nos co− locaria automaticamente como um grande emissor de CO2 no transpor− te, mas graças ao biocombustível con− seguimos reduzir o esse impacto. Des− de 2020, o Brasil substituiu 48% da gasolina automotiva utilizada nos veí− culos pelo etanol e 85% da frota do país já é de carros flex, abastecidos por álcool e gasolina.

Mercado de Carbono “Chegamos com alguns poten− ciais a materializar. O Brasil contribui com 3% dos gases de efeito global. As nossas grandes oportunidades de re− dução de emissão estão na contenção do desmatamento, depois uso da ter− ra, e terceiro transporte, com uso de biocombustíveis, com capacidade pa− ra nos transformar num grande for−

Marcelo Morandi

necedor para o mundo, sem contar o mercado de carbono, com o Reno− vaBio. Tudo que vem do processo da cana pode ser altamente benéfico, podendo gerar riquezas que variam de 70 a 100 bilhões de dólares com carbono. Mas a grande ameaça está em fazer tudo isso acontecer, pois fi− nanciar esse tipo de transformação requer grandes recursos”, aponta a administradora que atua no setor fi− nanceiro, integrante da equipe da Mauá Capital, Carolina da Costa. Segundo ela, para que se con− verta a mudança de manejo em algo que vire um ativo, tem que ter um projeto. “O RenovaBio é um pro− grama que enfrenta problemas com o fluxo de informação na cadeia de rendimento. O mundo só vai enten− der nosso carbono, quando nós comprovarmos que temos um con− trole sobre isso. Hoje ele ainda tem preços de mercado voluntário de carbono, não de mercado regulado”, afirma Carolina. Para o engenheiro agrônomo da Embrapa, Marcelo Morandi, em rela− ção ao biocombustível, o país esbarra na competição pelo uso da terra. “A Europa não tem condições de fazer isso no mesmo território. A gente tem, pois a nossa expansão em cana não afeta nossa produção de alimentos. Is− so já conseguimos mostrar, mas infe− lizmente, nos últimos anos essa ques− tão voltou por conta do desmatamen−

to. Porque o mercado de carbono tem outros componentes indiretos, mesmo que o setor não tenha ligação, como o desmatamento da Amazônia, por exemplo. Precisamos primeiro resol− ver essa ameaça como país”, ponde− rou. O engenheiro agrônomo e pro− fessor da Unicamp, Gonçalo Pereira, acredita que “ninguém vai ouvir o Brasil enquanto a Amazônia estiver queimando. Precisamos em primeiro lugar acabar com as queimadas. Em seguida temos que simplificar as coi− sas. Hoje, por exemplo, eu não consi− go comprar um CBIO. Aliás, muita gente nem sequer sabe que isso exis− te. Por exemplo, o bitcoin é uma moeda que qualquer um pode com− prar. Então precisamos fazer esse ne− gócio ir para o coração das pessoas e passar a comercializar isso de forma mais simples”, sugeriu. O CBIO só tem valor se tiver las− tro, ou seja, credibilidade, enfatiza Marcelo Morandi. “Não estou ven− dendo um produto físico e sim uma externalidade, um produto virtual. O CBIO não é do agro, não é da usina, é do etanol. Se essa cadeia não estiver organizada, ninguém ganha. Mas en− quanto todos estão olhando apenas para o preço do CBIO, estão deixan− do de perceber o ganho que ele está trazendo para a cadeia de produção, trazendo a questão ambiental para o centro das discussões”.

Em sua participação na COP 26, o ministro do Meio Ambiente, Joa− quim Leite, anunciou metas climá− ticas ambiciosas: redução de emissões de 50% até 2030 e neutralidade cli− mática até 2050; zerar o desmata− mento ilegal até 2028; e apoio à re− dução global de metano. “Nossa agricultura de baixo carbono já restaurou quase 28 mi− lhões de hectares de pastagens de− gradadas; temos 16 milhões de hec− tares de florestas nativas em recupe− ração; temos o maior programa operacional do mundo de biocom− bustíveis, nossas energias renováveis contribuem com 84% da nossa ma− triz elétrica, gerando o recorde de empregos em solar e eólica; e nosso programa de gestão de resíduos só− lidos já reduziu em 20% o número de lixões a céu aberto”, disse. Leite enfatizou que o Governo do Brasil quer mais. “Há menos de um mês, lançamos as bases do Programa Nacional de Crescimento Verde, para dar prioridade a iniciativas verdes, se− jam públicas ou privadas, voltadas à redução de emissões, conservação flo− restal e uso racional de recursos natu− rais, dessa maneira contribuindo para a geração de empregos verdes. O pro− grama já nasce com recursos de ban− cos federais da ordem de 50 bilhões de dólares”, comentou. O ministro afirmou ainda que, na conferência e, mesmo muito antes de estarem lá, tem sido feito um traba− lhado para que seja alcançado resulta− dos positivos na criação do mercado global de carbono. “É importante que os países de− senvolvidos reconheçam a emergên− cia financeira e mobilizem os recursos necessários para atingir os objetivos desejados nesta conferência. A meta dos 100 bilhões de dólares não foi cumprida, e este valor já não é mais suficiente para que o mundo construa uma nova economia verde com uma transição responsável”, analisou. O ministro Joaquim Leite enfati− zou também que todas as partes da conferência devem assumir suas res− ponsabilidades comuns, porém dife− renciadas na direção de uma econo− mia verde neutra em emissões.“O de− safio global a ser superado é reverter a lógica negativa da punição, da sanção e da proibição, para a lógica positiva do incentivo, da inovação, da priori− zação”, discursou. Na trilha do caminho da susten− tabilidade, o setor bioenergético vem se reinventando, se modernizando, in− vestindo em tecnologia e em práticas ambientais sustentáveis. A expectativa é prosseguir ampliando o alcance des− se trabalho.


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