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A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO ANTIJESUÍTICO NA AMAZÔNIA PORTUGUESA (1705-1759)
Esse objetivo foi perpassado por um emaranhado discursivo, no qual encontramos argumentos a favor e contra sua intensa campanha. Para melhor compreendermos essa empreitada, analisaremos os discursos e posicionamentos construídos naquele processo. Mas passaremos antes à defesa dos padres jesuítas aos ataques lançados por Paulo da Silva Nunes, pois acreditamos ser importante para o leitor primeiro conhecer os argumentos de Nunes e a relação que a Companhia de Jesus mantinha com o Reino português por meio de seu discurso.
3.1 A causa jesuítica e seus argumentos Quando avaliamos as respostas dadas pelo Conselho Ultramarino no ano de 1734 às duas petições dos povos do Maranhão – formado, sobretudo, pelos notáveis da colônia –, enviadas e assinadas por Paulo da Silva Nunes em 1728, ponderamos que a empreitada do procurador não foi bem sucedida em Lisboa. As petições esperaram seis anos para serem respondidas284, e, quando as respostas vieram, não foram as esperadas. De fato, os despachos dados pelos conselheiros Antônio Rodrigues da Costa, José de Carvalho Abreu, José Gomes de Azevedo, Manoel Fernandes Vargas e Alexandre Metelo de Souza e Menezes foram negativos aos pedidos, reclamações e sugestões feitos por Paulo da Silva Nunes. É importante ressaltarmos que suas solicitações estavam ligadas às questões da utilização do índio como escravo e do grande poderio político e econômico da Companhia de Jesus, questões a serem estudadas no capítulo seguinte. Acreditamos terem sido esses os motivos mais fortes para a campanha antijesuítica nuneana, porém, não os únicos. Vejamos bem, Paulo da Silva Nunes nasceu na metrópole e possuía uma boa preparação intelectual, como observamos na escrita dos requerimentos e representações, entre outros relatos apresentados na Corte. Manejava bem, como tudo indica, a língua latina, tinha formação em Teologia e em Direito, além de ter bons conhecimentos das relações históricas entre Portugal e 284 Em 1733, o Procurador escrevera reclamando da demora das respostas a suas Petições: “TRASLADO das duas propostas das Câmaras do Maranhão e Pará que foram apresentadas pelo procurador das mesmas Câmaras a P. da Silva Nunes a S.M, nas quais se achava demoradas no Conselho Ultramarino, há mais de cinco anos. Pedem agora a Sua M. que apresse a consulta sobre elas (s/d)”. In: MOARES, Alexandre José de Mello. Chorografia histórica, chronográphica, genealógica, nobiliária e política do Império do Brasil. Tom. 4, Rio de Janeiro: Tipografia Americana, 1858, p. 321.