A construção do discurso antijesuítico na Amazônia

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A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO ANTIJESUÍTICO NA AMAZÔNIA PORTUGUESA (1705-1759)

as leis do reino, como “As causas formais e totais dos danos que se sentem e das injustiças que sofrem os índios414”. Em suma, o desembargador foi favorável à continuidade da administração das aldeias, tanto no espiritual quanto no temporal, pelos jesuítas. Porém, sugeria ao rei o aumento do valor das côngruas pagas aos missionários para sustentarem as igrejas das missões e também o afastamento dos mesmos de atividades comerciais mantidas, até então, para o seu sustento e o de seus índios. Dessa forma, evitar-se-iam conflitos e dúvidas a respeito de sua atuação catequética415. Segundo Dauril Alden, o Conselho Ultramarino não reagiu de maneira clara ao relatório do desembargador, pois, ao mesmo tempo em que manteve o poder temporal e espiritual dos missionários sobre as aldeias, votou contra o aumento do auxílio financeiro da Coroa às missões, seguindo o “Conselho dos funcionários do tesouro416”. Percebemos que o propósito de Silva Nunes em desgastar a imagem dos jesuítas e desestruturar o Regimento das Missões não teve sucesso. Como notamos nos pareceres do ex-governador e do desembargador, a Companhia de Jesus saiu ilesa e até exaltada como protetora dos índios, enquanto moradores e certos governadores foram tidos como responsáveis pelas misérias da região, pois não cumpriam a legislação indígena, principalmente o Regimento. Portanto, os pareceres recomendavam a execução à risca da lei e o castigo exemplar aos desobedientes. Infelizmente, não sabemos se os mesmos foram aplicados. Além disso, nota-se a debandada, provavelmente por razões oportunistas, dos aliados de Nunes do Grão-Pará e Maranhão, já que nenhum deles saiu em sua defesa. Ao contrário, deixaram que a culpa por todo aquele movimento recaísse somente sob seus ombros.

3.3 O procurador do Maranhão e sua rede de aliados Como sabemos, Silva Nunes não agiu sozinho em sua empreitada. Ao contrário, recorreu a uma rede de aliados para prover seu sustento no reino e 414 “CONSULTA sobre a mesma matéria da nº 5, resoluta por sua Mage um requerimento dos moradores do Maranhão, feita por um procurador Paulo da Silva Nunes. 31 de outubro de 1730”. AHU, cód. 485, vol. 1 (COLEÇÃO das Representações ..., 1686-1755), fl. 552.

415 “CARTA [...] para o rei [D. João V], em que se informa e dá seu parecer sobre o requerimento feito por Paulo da Silva Nunes”. (Avulsos do Pará), AHU, cx. 18, doc. 1643. 416 ALDEN. Aspectos econômicos da Expulsão dos jesuítas do Brasil, p. 48.


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Referências bibliográficas

30min
pages 310-330

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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pages 295-300

para a Amazônia

34min
pages 274-289

libelos antijesuíticos pombalinos

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pages 290-294

5.1.3 Maço 5 – sobre a liberdade de índios, o comércio e a relação com o bispo

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pages 267-273

5.1.2 Maço 4 – sobre os colégios, “conventos e conservatórios” dos jesuítas

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pages 256-266

5.1.1 Maço 3 – sobre as Liberdades, as Repartições e os Resgates

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pages 245-255

5.1 As Terribilidades Jesuíticas: uma análise de discurso

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DE POMBAL

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4.3 Denúncia do “despotismo jesuítico”

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pages 230-240

4.1 A preocupação com a “ruína do Estado”

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pages 195-218

4.2 A revisão do lugar dos índios e das “aldeias”

23min
pages 219-229

NUNES

3min
pages 193-194

3.3 O procurador do Maranhão e sua rede de aliados

33min
pages 176-192

3.2 As (re)ações dos órgãos locais e metropolitanos

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pages 165-175

3.1 A causa jesuítica e seus argumentos

58min
pages 138-164

2.3 As políticas pombalinas para a Amazônia

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pages 109-134

DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ

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pages 135-137

2.1 Pombalismo versus Jesuitismo

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pages 86-94

AMAZÔNIA

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page 85

2.2 A política colonial no início do reinado de D. José I

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1.3 As políticas coloniais no reinado de D. João V

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1.1 As ideias iluministas e o espaço Atlântico

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A Companhia de Jesus e o antijesuitismo

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pages 24-30

Contexto, metodologia e fontes

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PREFÁCIO

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INTRODUÇÃO

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SÉCULO XVIII

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Agradecimentos

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OS PROJETOS DO SECRETÁRIO DE ESTADO SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO PARA PORTUGAL E PARA

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O antijesuitismo nos séculos XIX e XX

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