A construção do discurso antijesuítico na Amazônia

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OS ARGUMENTOS E PROPOSTAS DE PAULO DA SILVA NUNES

com os inimigos do bem público538 – referia-se possivelmente aos jesuítas –, na esperança de vencer mediante o amparo e a proteção do rei539. Os “remédios” de Paulo da Silva Nunes podem ser compreendidos como um plano de governo, que tinha por meta sanar os principais problemas e empecilhos para o crescimento da região. Silva Nunes não pretendia desobedecer ao rei, mas mostrou-se disposto a questionar as leis que considerava inadequadas à realidade local e prejudiciais aos colonos portugueses. Ele era consciente de que tinha obrigações políticas para com a Corte portuguesa por meio da obediência às leis. Porém, como trabalhamos no capítulo anterior, considerava as leis e ações de alguns agentes metropolitanos abusivas. Para “Demostrar publicamente a injustiça da lei e com o fim imediato de induzir o legislador a mudá-la”, organizou o motim, assim como sua campanha antijesuítica, como um ato de desobediência civil, “Com a pretensão de [que fossem] considerada[s] não apenas como lícita[s] mas como obrigatória[s] e [fossem] tolerada[s] pelas autoridades públicas diferentemente de quaisquer outras transgressões540”. Desse modo, entendemos as propostas de Paulo da Silva Nunes para “remediar” a situação do Maranhão e Grão-Pará, desobedecendo a leis e inculpando jesuítas e autoridades públicas, como uma forma de justificar suas ideias. Como exemplos dessas justificativas, analisaremos, nos próximos tópicos, as denúncias feitas pelo procurador contra os aldeamentos jesuíticos e contra as atitudes “despóticas” dos religiosos.

4.2 A revisão do lugar dos índios e das “aldeias” Neste tópico, analisaremos um requerimento e um memorial enviados por Paulo da Silva Nunes à Coroa, nos quais descreveu as más condições de existência em que se encontravam os índios do sertão, solicitou medidas para melhorar o estado dos índios e missionários, e fez queixas sobre a má 538 Segundo o Dicionário de Política, bem público se distingue do bem comum. “Enquanto o bem público é um bem de todos por estarem unidos, o Bem comum é dos indivíduos por serem membros de um Estado”, e ainda, o bem público “Se alcança através do mercado ou, mais frequentemente, através das finanças públicas. MATTEUCCI, Nicola. Bem comum. In: BOBBIO. Dicionário de Política, p. 106-107. 539 “REQUERIMENTO do procurador do Estado do Maranhão, Paulo da Silva Nunes”. AHU, cx. 16, doc. 1645. 540 BOBBIO. Desobediência Civil. In: BOBBIO. Dicionário de Política, p. 335.

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Referências bibliográficas

30min
pages 310-330

CONSIDERAÇÕES FINAIS

8min
pages 295-300

para a Amazônia

34min
pages 274-289

libelos antijesuíticos pombalinos

9min
pages 290-294

5.1.3 Maço 5 – sobre a liberdade de índios, o comércio e a relação com o bispo

15min
pages 267-273

5.1.2 Maço 4 – sobre os colégios, “conventos e conservatórios” dos jesuítas

24min
pages 256-266

5.1.1 Maço 3 – sobre as Liberdades, as Repartições e os Resgates

25min
pages 245-255

5.1 As Terribilidades Jesuíticas: uma análise de discurso

5min
pages 242-244

DE POMBAL

1min
page 241

4.3 Denúncia do “despotismo jesuítico”

21min
pages 230-240

4.1 A preocupação com a “ruína do Estado”

51min
pages 195-218

4.2 A revisão do lugar dos índios e das “aldeias”

23min
pages 219-229

NUNES

3min
pages 193-194

3.3 O procurador do Maranhão e sua rede de aliados

33min
pages 176-192

3.2 As (re)ações dos órgãos locais e metropolitanos

24min
pages 165-175

3.1 A causa jesuítica e seus argumentos

58min
pages 138-164

2.3 As políticas pombalinas para a Amazônia

57min
pages 109-134

DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ

5min
pages 135-137

2.1 Pombalismo versus Jesuitismo

19min
pages 86-94

AMAZÔNIA

1min
page 85

2.2 A política colonial no início do reinado de D. José I

29min
pages 95-108

1.3 As políticas coloniais no reinado de D. João V

16min
pages 77-84

1.2 As políticas coloniais no reinado de D. Pedro II

32min
pages 61-76

1.1 As ideias iluministas e o espaço Atlântico

21min
pages 50-60

A Companhia de Jesus e o antijesuitismo

14min
pages 24-30

Contexto, metodologia e fontes

17min
pages 38-46

PREFÁCIO

4min
pages 19-22

INTRODUÇÃO

1min
page 23

SÉCULO XVIII

5min
pages 47-49

Agradecimentos

5min
pages 15-18

OS PROJETOS DO SECRETÁRIO DE ESTADO SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO PARA PORTUGAL E PARA

1min
page 4

O antijesuitismo nos séculos XIX e XX

14min
pages 31-37
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