A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO ANTIJESUÍTICO NA AMAZÔNIA PORTUGUESA (1705-1759)
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Todavia, como já explicitamos, o antijesuitismo é complexo. Por isso, acreditamos ser importante assinalarmos alguns pontos fundamentais para compreendermos sua extensão antes de aprofundarmos o contexto, a metodologia e as fontes usadas neste livro. Esses pontos são: a relação da Companhia de Jesus com o antijesuitismo e o antijesuítico que perdurou até o século XX.
A Companhia de Jesus e o antijesuitismo O antijesuitismo nasceu com a fundação da própria Companhia de Jesus, fortalecendo-se, em seguida, com a expansão da Ordem pelo mundo. Essa assertiva é facilmente comprovada, basta analisarmos as produções documentais e históricas acerca de sua performance em qualquer parte do mundo. A atuação dos jesuítas no campo missionário, educacional, político e econômico, assim como sua teologia moral, a aquisição e administração de seus bens ao longo dos séculos, seu ideal de missionação, suas práticas multiculturalistas, entre outros, sempre foram alvos de duras críticas e intensas perseguições na Europa e nas conquistas asiáticas, africanas e americanas. Ou seja, onde estiveram presentes2. O antijesuitismo foi um fenômeno histórico intricado, e, durante a época Moderna, concentrou-se, especialmente, nos reinos católicos da França, Espanha e Portugal, que – no ápice do antijesuitismo durante a segunda metade do século XVIII – estavam cheios de princípios do Despotismo Esclarecido, no qual a Companhia de Jesus, resistente às novas diretrizes, parecia não se encaixar3. A forma de agir da Companhia de Jesus durante esse período, especialmente o século XVIII, pode parecer “autodestrutiva” ou contraditória, mas estava ligada à própria origem da Ordem dos inacianos, fruto das grandes mudanças que acarretaram na formação do mundo moderno entre os séculos XV e XVIII, um período marcado por intensas mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais, religiosas e geográficas. Lembremos que, no início desse período, o mundo conhecido (da perspectiva europeia) deparava-se com novas formas de pensar a humanidade e sua relação com a cultura e com Deus 2 3
FRANCO, José Eduardo. O Mito dos Jesuítas em Portugal, no Brasil e no Oriente (Séculos XVI a XX): do Marquês de Pombal ao Século XX. Vol. I, Lisboa: Gradiva Publicações, 2006.
GONÇALVES, Nuno da Silva (Coord.). A Companhia de Jesus e a Missionação no Oriente. Brotéria – Revista de Cultura. Fundação Oriente: Lisboa, 2000.