A construção do discurso antijesuítico na Amazônia

Page 274

272

A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO ANTIJESUÍTICO NA AMAZÔNIA PORTUGUESA (1705-1759)

A análise das Terribilidades mostra que a organização dessa coleção não foi aleatória. Ao contrário, conforme seu objetivo, seus maços parecem retomar, e, assim, sustentar os argumentos nuneanos. Praticamente todos os meios elencados pelo procurador para “remediar” a situação da suposta ruína do Maranhão e Grão-Pará foram apresentados nesse corpus documental. Eles concernem aos descimentos, ao comércio, ao uso da Língua Geral, à visitação episcopal, à cunhagem de moedas, à inadequação do Regimento das Missões à realidade local, à necessidade do trabalho indígena e à reserva em relação ao trabalho escravo africano, ao patrimônio da Companhia de Jesus, à falta de soldados para a defesa do território, às questões acerca de resgates e repartições, e, enfim, à liberdade indígena. Todos esses itens estão alinhavados, de modo a compor um tecido conjuntivo denso para demonstrar o quanto o poder da Companhia de Jesus – espiritual, econômico, e político – seria pernicioso. Além de evidenciar a suposta ineficácia do projeto político, por muito tempo destinado àquela região, para os moradores e seus empreendimentos na colônia. A análise realizada permite afirmar que as Terribilidades tiveram relevância na sustentação das leis e discurso pombalinos, assim como a produção documental de Silva Nunes durante sua campanha antijesuítica na colônia e na Corte, um quarto de século antes. Diante disso, com o objetivo de compreender melhor a extensão da provável influência nuneana nas políticas e discursos pombalinos, no próximo tópico, buscaremos traçar um paralelo entre as duas produções.

5.2 Os argumentos de Paulo da Silva Nunes e a produção pombalina: as leis para a Amazônia Pelo menos desde 1752, Francisco Xavier de Mendonça Furtado e Sebastião José de Carvalho e Melo dispunham de bastantes informações acerca dos requerimentos e queixas enviados por Silva Nunes em sua campanha antijesuítica679. Porém, para melhor compreendermos a relação existente 679 “18ª CARTA a Sebastião José sobre o grande poder dos jesuítas. Nessa carta, os problemas concernentes aos jesuítas do Pará são amplamente tratados. Pará, 25 de outubro de 1752”. MENDONÇA. A Amazônia na Era Pombalina, tom. 1, p. 329-333; “Carta de Sebastião José a F.X.M.F., em que trata longamente de assuntos relativos à conduta dos jesuítas, quando vários deles são mandados sair do Estado; mandando estabelecer côngruas, de conformidade com o disposto na carta de F.X. de 18 de fevereiro de 1754 (carta 59ª); informando que, de acordo com o sugerido na mesma carta, S. Maj. Resolvera reduzir as aldeias e fazendas a vilas e povoações civis; resolvera também conceder liberdade aos índios, de conformidade com a 6ª doutrina de Solórzano, referida em carta de F. X. de 8 de novembro de 1752; além de outras medidas


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

Referências bibliográficas

30min
pages 310-330

CONSIDERAÇÕES FINAIS

8min
pages 295-300

para a Amazônia

34min
pages 274-289

libelos antijesuíticos pombalinos

9min
pages 290-294

5.1.3 Maço 5 – sobre a liberdade de índios, o comércio e a relação com o bispo

15min
pages 267-273

5.1.2 Maço 4 – sobre os colégios, “conventos e conservatórios” dos jesuítas

24min
pages 256-266

5.1.1 Maço 3 – sobre as Liberdades, as Repartições e os Resgates

25min
pages 245-255

5.1 As Terribilidades Jesuíticas: uma análise de discurso

5min
pages 242-244

DE POMBAL

1min
page 241

4.3 Denúncia do “despotismo jesuítico”

21min
pages 230-240

4.1 A preocupação com a “ruína do Estado”

51min
pages 195-218

4.2 A revisão do lugar dos índios e das “aldeias”

23min
pages 219-229

NUNES

3min
pages 193-194

3.3 O procurador do Maranhão e sua rede de aliados

33min
pages 176-192

3.2 As (re)ações dos órgãos locais e metropolitanos

24min
pages 165-175

3.1 A causa jesuítica e seus argumentos

58min
pages 138-164

2.3 As políticas pombalinas para a Amazônia

57min
pages 109-134

DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ

5min
pages 135-137

2.1 Pombalismo versus Jesuitismo

19min
pages 86-94

AMAZÔNIA

1min
page 85

2.2 A política colonial no início do reinado de D. José I

29min
pages 95-108

1.3 As políticas coloniais no reinado de D. João V

16min
pages 77-84

1.2 As políticas coloniais no reinado de D. Pedro II

32min
pages 61-76

1.1 As ideias iluministas e o espaço Atlântico

21min
pages 50-60

A Companhia de Jesus e o antijesuitismo

14min
pages 24-30

Contexto, metodologia e fontes

17min
pages 38-46

PREFÁCIO

4min
pages 19-22

INTRODUÇÃO

1min
page 23

SÉCULO XVIII

5min
pages 47-49

Agradecimentos

5min
pages 15-18

OS PROJETOS DO SECRETÁRIO DE ESTADO SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO PARA PORTUGAL E PARA

1min
page 4

O antijesuitismo nos séculos XIX e XX

14min
pages 31-37
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.