A construção do discurso antijesuítico na Amazônia

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INTRODUÇÃO

Diante dessa suposta ameaça, os membros do órgão de aconselhamento régio acreditavam serem os jesuítas autênticos sugadores da riqueza da Índia, pois extorquiriam as propriedades de seus habitantes. Logo, a atuação dos padres explicaria a grande pobreza daquela colônia e a ausência de lucros gerados por ela para o Estado21. Já na Amazônia portuguesa, a principal tópica foi construída em torno do poder temporal que a Ordem detinha sobre os índios, que constituíam o maior contingente de mão de obra disponível. Esse poder gerava a riqueza da Companhia de Jesus, em contraste com a miséria da região. Para os construtores do discurso antijesuítico, a permanência desse cenário destruiria o próprio reino português. Como podemos notar, a argumentação antijesuítica gestada nessa região do Império português esteve, de certo modo, entrelaçada com as mudanças sociais, culturais e históricas pelas quais passavam Portugal, Espanha e o restante da Europa no Setecentos. Convém assinalar que o movimento antijesuítico do século XVIII demonstrou ser tão amplo e forte, a ponto de ultrapassar as barreiras temporais e chegar aos séculos XIX e XX de maneira arraigada na memória histórica portuguesa e brasileira. Nesses séculos, muitas foram as produções e ações de cunho antijesuítico. A historiografia continuou a reproduzir e a apropriar-se dos elementos discursivos propagados por Pombal, sobretudo, em decorrência da intensa circulação de libelos acusatórios contra a atuação dos jesuítas; assim como, atitudes antijesuíticas das sociedades portuguesa e brasileira continuavam pautadas nas ideias de que a atuação dos jesuítas era perniciosa e independente demais em relação ao clero secular e ao Estado.

O antijesuitismo nos séculos XIX e XX A morte de D. José I e o afastamento de Pombal no momento da ascensão ao trono de dona Maria I, em 1777, mudança conhecida como Viradeira, não alteraram a situação da Companhia de Jesus em Portugal. Todavia, podemos afirmar que o reinado mariano foi marcado por duas correntes distintas. A primeira, representada pelo ministro Sousa Coutinho, interpretava a política pombalina como precursora de novos tempos e de novas formas de governo ligadas aos conceitos de Despotismo Esclarecido, e ficou conhecida como pombalismo. A segunda corrente, representada pelo Visconde de Vila 21

FRANCO. O Mito dos Jesuítas em Portugal, no Brasil e no Oriente (Séculos XVI a XX), vol. I, p. 141.

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Referências bibliográficas

30min
pages 310-330

CONSIDERAÇÕES FINAIS

8min
pages 295-300

para a Amazônia

34min
pages 274-289

libelos antijesuíticos pombalinos

9min
pages 290-294

5.1.3 Maço 5 – sobre a liberdade de índios, o comércio e a relação com o bispo

15min
pages 267-273

5.1.2 Maço 4 – sobre os colégios, “conventos e conservatórios” dos jesuítas

24min
pages 256-266

5.1.1 Maço 3 – sobre as Liberdades, as Repartições e os Resgates

25min
pages 245-255

5.1 As Terribilidades Jesuíticas: uma análise de discurso

5min
pages 242-244

DE POMBAL

1min
page 241

4.3 Denúncia do “despotismo jesuítico”

21min
pages 230-240

4.1 A preocupação com a “ruína do Estado”

51min
pages 195-218

4.2 A revisão do lugar dos índios e das “aldeias”

23min
pages 219-229

NUNES

3min
pages 193-194

3.3 O procurador do Maranhão e sua rede de aliados

33min
pages 176-192

3.2 As (re)ações dos órgãos locais e metropolitanos

24min
pages 165-175

3.1 A causa jesuítica e seus argumentos

58min
pages 138-164

2.3 As políticas pombalinas para a Amazônia

57min
pages 109-134

DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ

5min
pages 135-137

2.1 Pombalismo versus Jesuitismo

19min
pages 86-94

AMAZÔNIA

1min
page 85

2.2 A política colonial no início do reinado de D. José I

29min
pages 95-108

1.3 As políticas coloniais no reinado de D. João V

16min
pages 77-84

1.2 As políticas coloniais no reinado de D. Pedro II

32min
pages 61-76

1.1 As ideias iluministas e o espaço Atlântico

21min
pages 50-60

A Companhia de Jesus e o antijesuitismo

14min
pages 24-30

Contexto, metodologia e fontes

17min
pages 38-46

PREFÁCIO

4min
pages 19-22

INTRODUÇÃO

1min
page 23

SÉCULO XVIII

5min
pages 47-49

Agradecimentos

5min
pages 15-18

OS PROJETOS DO SECRETÁRIO DE ESTADO SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO PARA PORTUGAL E PARA

1min
page 4

O antijesuitismo nos séculos XIX e XX

14min
pages 31-37
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