A construção do discurso antijesuítico na Amazônia

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PORTUGAL E AMAZÔNIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII

litano tentou, nos últimos decênios do seiscentos, agir de maneira mais efetiva, visando ordenar o Estado. Ao analisarmos as políticas do reinado de D. Pedro II e os acontecimentos decorrentes delas, notamos que a inclinação do rei em favorecer a Companhia de Jesus, enquanto agente-chave dentro de seus planos de (re) organizar a colônia amazônica, acabava acirrando ainda mais a animosidade contra a Ordem. Assim, muitos integrantes da elite local, em vias de formação, principalmente pequenos proprietários de terra e comerciantes, apresentavam um comportamento francamente antijesuítico, afirmando ser a ação dos missionários a causa da sua ruína. Esse discurso, muitas vezes repetido, desejava a expulsão dos religiosos daquela terra – aliás, concretizada por duas vezes no século XVII, em 1661 e 1684. Destacamos que o antijesuitismo daquele período era bastante demarcado por demandas locais, mas, de certo modo, foi importante para os processos e eventos que se produziriam a partir do início do século XVIII. A crítica das leis, favoráveis aos jesuítas e tantas vezes adaptadas por não atenderem às demandas da sociedade colonial, foi retomada, e, dessa vez, como parte de um projeto de governo pensado por Paulo da Silva Nunes e seus aliados, nas décadas de 1720 e 1730, e posto em prática por Pombal, já na segunda metade do mesmo século. Porém, antes de adentrarmos na discussão sobre as ações de Paulo da Silva Nunes e as políticas implantadas por Pombal, refletiremos ainda sobre as políticas do governo de D. João V, pois foi em seu reinado que Silva Nunes planejou e deflagrou uma campanha antijesuítica de fôlego, como parte de seu projeto de governança para a Amazônia.

1.3 As políticas coloniais no reinado de D. João V Após a morte de D. Pedro II, em dezembro de 1706, D. João V, filho mais velho de seu segundo casamento, foi aclamado rei, estabelecendo definitivamente a dinastia dos Bragança. Somente em fins do século XVII e início do XVIII – portanto, na virada dos dois reinados – ocorreu a consolidação do absolutismo em Portugal nos planos jurídicos e institucionais, pois, até então, havia certos impedimentos que limitavam o poder régio, dentre eles, a nobreza e o clero. Assim, parecido a seu pai, D. João V nunca convocou as cortes ou ouviu qualquer parecer dos três Estados nas matérias de interesse público, e,

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Referências bibliográficas

30min
pages 310-330

CONSIDERAÇÕES FINAIS

8min
pages 295-300

para a Amazônia

34min
pages 274-289

libelos antijesuíticos pombalinos

9min
pages 290-294

5.1.3 Maço 5 – sobre a liberdade de índios, o comércio e a relação com o bispo

15min
pages 267-273

5.1.2 Maço 4 – sobre os colégios, “conventos e conservatórios” dos jesuítas

24min
pages 256-266

5.1.1 Maço 3 – sobre as Liberdades, as Repartições e os Resgates

25min
pages 245-255

5.1 As Terribilidades Jesuíticas: uma análise de discurso

5min
pages 242-244

DE POMBAL

1min
page 241

4.3 Denúncia do “despotismo jesuítico”

21min
pages 230-240

4.1 A preocupação com a “ruína do Estado”

51min
pages 195-218

4.2 A revisão do lugar dos índios e das “aldeias”

23min
pages 219-229

NUNES

3min
pages 193-194

3.3 O procurador do Maranhão e sua rede de aliados

33min
pages 176-192

3.2 As (re)ações dos órgãos locais e metropolitanos

24min
pages 165-175

3.1 A causa jesuítica e seus argumentos

58min
pages 138-164

2.3 As políticas pombalinas para a Amazônia

57min
pages 109-134

DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ

5min
pages 135-137

2.1 Pombalismo versus Jesuitismo

19min
pages 86-94

AMAZÔNIA

1min
page 85

2.2 A política colonial no início do reinado de D. José I

29min
pages 95-108

1.3 As políticas coloniais no reinado de D. João V

16min
pages 77-84

1.2 As políticas coloniais no reinado de D. Pedro II

32min
pages 61-76

1.1 As ideias iluministas e o espaço Atlântico

21min
pages 50-60

A Companhia de Jesus e o antijesuitismo

14min
pages 24-30

Contexto, metodologia e fontes

17min
pages 38-46

PREFÁCIO

4min
pages 19-22

INTRODUÇÃO

1min
page 23

SÉCULO XVIII

5min
pages 47-49

Agradecimentos

5min
pages 15-18

OS PROJETOS DO SECRETÁRIO DE ESTADO SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO PARA PORTUGAL E PARA

1min
page 4

O antijesuitismo nos séculos XIX e XX

14min
pages 31-37
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