A construção do discurso antijesuítico na Amazônia

Page 86

84

A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO ANTIJESUÍTICO NA AMAZÔNIA PORTUGUESA (1705-1759)

Estudar as ações do principal secretário de Estado do Reino de D. José I é, antes de qualquer coisa, tentar não espelhar o binarismo – valorização das ações pombalinas por antijesuítas, ou criminalização de Pombal por filojesuítas –, presente em quase toda produção ligada à temática. Portanto, procuraremos notar a complexidade do século XVIII, uma vez que sua segunda metade foi um período de reafirmação do poder real e do Estado, ou seja, um período, conforme assinalamos no primeiro capítulo, de um protonacionalismo. Segundo Eric Hobsbawm, este tem dois tipos: primeiro, “As formas supralocais de identificação popular” e, segundo, “Os laços e vocabulários políticos de grupos seletos mais diretamente ligados ao Estado e instituições, capazes de uma eventual generalização, extensão e popularização139”. Fica bem evidente que os esforços de Pombal se identificam com o segundo tipo de protonacionalismo. Para compreendermos as rupturas e permanências desse processo, estudaremos, de um lado, as teorias formadoras do jesuitismo, a filosofia de vida e de ação dos padres ligados à Companhia de Jesus, e, de outro, os elementos filosóficos e as medidas políticas que compuseram o chamado pombalismo. Além dessas teorias, analisaremos, especificamente, os projetos e as ações de Sebastião José de Carvalho e Melo na Amazônia, realizadas por meio da atuação de seu irmão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Desse modo, visamos compreender de que forma a campanha empreendida por Paulo da Silva Nunes influenciou a crescente antipatia de Pombal e seu irmão em relação à atuação da Companhia de Jesus na Amazônia colonial.

2.1 Pombalismo versus Jesuitismo Sebastião José de Carvalho e Melo e o grupo de intelectuais iluministas ligados a ele, como Teodoro de Almeida, o ministro D. Rodrigues de Souza Coutinho e vários luso-brasileiros, como o dicionarista Antônio de Morais Silva, o médico Francisco de Mello Franco, o químico José Bonifácio (que viria a se transformar em um grande estadista do Império brasileiro), o médico-químico Manoel Henrique e o químico Vicente Seabra Tolledo140, também estrangeirados como Pombal, tinham como um dos principais motes de sua política 139 HOBSBAWM, Eric John. Nações e Nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 64. 140 VILLALTA. Reformismo Ilustrado, Censura e Práticas de leituras, p. 112.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

Referências bibliográficas

30min
pages 310-330

CONSIDERAÇÕES FINAIS

8min
pages 295-300

para a Amazônia

34min
pages 274-289

libelos antijesuíticos pombalinos

9min
pages 290-294

5.1.3 Maço 5 – sobre a liberdade de índios, o comércio e a relação com o bispo

15min
pages 267-273

5.1.2 Maço 4 – sobre os colégios, “conventos e conservatórios” dos jesuítas

24min
pages 256-266

5.1.1 Maço 3 – sobre as Liberdades, as Repartições e os Resgates

25min
pages 245-255

5.1 As Terribilidades Jesuíticas: uma análise de discurso

5min
pages 242-244

DE POMBAL

1min
page 241

4.3 Denúncia do “despotismo jesuítico”

21min
pages 230-240

4.1 A preocupação com a “ruína do Estado”

51min
pages 195-218

4.2 A revisão do lugar dos índios e das “aldeias”

23min
pages 219-229

NUNES

3min
pages 193-194

3.3 O procurador do Maranhão e sua rede de aliados

33min
pages 176-192

3.2 As (re)ações dos órgãos locais e metropolitanos

24min
pages 165-175

3.1 A causa jesuítica e seus argumentos

58min
pages 138-164

2.3 As políticas pombalinas para a Amazônia

57min
pages 109-134

DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ

5min
pages 135-137

2.1 Pombalismo versus Jesuitismo

19min
pages 86-94

AMAZÔNIA

1min
page 85

2.2 A política colonial no início do reinado de D. José I

29min
pages 95-108

1.3 As políticas coloniais no reinado de D. João V

16min
pages 77-84

1.2 As políticas coloniais no reinado de D. Pedro II

32min
pages 61-76

1.1 As ideias iluministas e o espaço Atlântico

21min
pages 50-60

A Companhia de Jesus e o antijesuitismo

14min
pages 24-30

Contexto, metodologia e fontes

17min
pages 38-46

PREFÁCIO

4min
pages 19-22

INTRODUÇÃO

1min
page 23

SÉCULO XVIII

5min
pages 47-49

Agradecimentos

5min
pages 15-18

OS PROJETOS DO SECRETÁRIO DE ESTADO SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO PARA PORTUGAL E PARA

1min
page 4

O antijesuitismo nos séculos XIX e XX

14min
pages 31-37
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.