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A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO ANTIJESUÍTICO NA AMAZÔNIA PORTUGUESA (1705-1759)
Estudar as ações do principal secretário de Estado do Reino de D. José I é, antes de qualquer coisa, tentar não espelhar o binarismo – valorização das ações pombalinas por antijesuítas, ou criminalização de Pombal por filojesuítas –, presente em quase toda produção ligada à temática. Portanto, procuraremos notar a complexidade do século XVIII, uma vez que sua segunda metade foi um período de reafirmação do poder real e do Estado, ou seja, um período, conforme assinalamos no primeiro capítulo, de um protonacionalismo. Segundo Eric Hobsbawm, este tem dois tipos: primeiro, “As formas supralocais de identificação popular” e, segundo, “Os laços e vocabulários políticos de grupos seletos mais diretamente ligados ao Estado e instituições, capazes de uma eventual generalização, extensão e popularização139”. Fica bem evidente que os esforços de Pombal se identificam com o segundo tipo de protonacionalismo. Para compreendermos as rupturas e permanências desse processo, estudaremos, de um lado, as teorias formadoras do jesuitismo, a filosofia de vida e de ação dos padres ligados à Companhia de Jesus, e, de outro, os elementos filosóficos e as medidas políticas que compuseram o chamado pombalismo. Além dessas teorias, analisaremos, especificamente, os projetos e as ações de Sebastião José de Carvalho e Melo na Amazônia, realizadas por meio da atuação de seu irmão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Desse modo, visamos compreender de que forma a campanha empreendida por Paulo da Silva Nunes influenciou a crescente antipatia de Pombal e seu irmão em relação à atuação da Companhia de Jesus na Amazônia colonial.
2.1 Pombalismo versus Jesuitismo Sebastião José de Carvalho e Melo e o grupo de intelectuais iluministas ligados a ele, como Teodoro de Almeida, o ministro D. Rodrigues de Souza Coutinho e vários luso-brasileiros, como o dicionarista Antônio de Morais Silva, o médico Francisco de Mello Franco, o químico José Bonifácio (que viria a se transformar em um grande estadista do Império brasileiro), o médico-químico Manoel Henrique e o químico Vicente Seabra Tolledo140, também estrangeirados como Pombal, tinham como um dos principais motes de sua política 139 HOBSBAWM, Eric John. Nações e Nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 64. 140 VILLALTA. Reformismo Ilustrado, Censura e Práticas de leituras, p. 112.