Foto: INPE
que se tratava de um lobishomem e suspeitavam de um velho chamado Aproniano do Rincão que era metido a adivinhar a sorte das pessoas com o auxílio de cartas de baralho. Como as aparições do fantasma ou lobishomem não cessavam, os moradores da rua Boa Vista fizeram uma queixa ao delegado do Alecrim que designou o Cabo Tico Belém para cuidar do caso. O Cabo Tico era conhecido por fazer corpo mole toda vez que descobria uma irregularidade e precisava tomar uma decisão de punir alguém. Mas cumprindo ordens do seu superior, numa sexta-feira do mês de julho, decidiu tomar providências. Esperou dar meia noite e junto com quatro soldados rumou para Rua Boa Vista. Ficaram de campana atrás de uma moita de pinhão. Não demorou muito e começaram a ouvir uma barulheira vindo das bandas do muro do cemitério em direção ao local que eles estavam. O escritor Raimundo Nonato descreve esse lobishomem da seguinte forma “Tinha bem uns três metros de altura, todo de preto, com uma lista encarnada no espinhaço, e uma caveira na mão”. Os quatro soldados e o cabo avançaram sobre essa macabra figura e começaram uma luta renhida com ela. No início, o lobishomem parecia levar vantagem. Mas aos poucos, os cinco homens foram dominando o bicho a troco muita paulada, até que um dos soldados acertou em cheio uma cacetada nele e o monstro caiu prostrado no chão. Gemia e soltava grunhidos. Aos poucos começou a falar. Pediu por caridade que não o matassem. E quando lhe tiraram a fantasia de lobishomem descobriram surpresos que se tratava do delegado do Alecrim. Ele pediu por tudo que era mais sagrado que não contassem para ninguém o que viram. Como eram todos subordinados, prometeram que não falariam. E a história nas palavras do escritor Raimundo Nonato termina assim: “Mas, no outro dia, boca para que te quero. Não havia ajuntamento em Natal, em que o caso não fosse contado, com todas as minúcias. Com isso, o delegado perdeu o seu rico lugar, e de lado da viúva do maquinista nunca mais se falou na Rua Boa Vista, pois ela, depois do caso, anoiteceu e não amanheceu.”
magazine 60+ #26 - Agosto/2021 - pág.68