Magazine 60+ #36

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e idosos de mãos dadas - Divulgação

não? Será que o amor acaba com a velhice? Ou a libido desaparece? Por acaso alguém já assistiu um filme onde acontece uma cena sensual entre dois velhos de mais de setenta anos? Faz um ano e meio que eu e meu marido nos mudamos. Estamos agora num condomínio que tem uma área externa muito boa, o que nos possibilita caminhadas gostosas. Durante esse período, sete pessoas falaram conosco, sobre nossa forma de caminhar. Primeiro foram duas adolescentes que falaram que éramos muito fofos; outro casal disse como era gostoso nos observar; outras quatro pessoas, separadamente falaram que era bonito andarmos de mãos dadas. Não conhecíamos nenhuma delas. Nem seus rostos, por causa das máscaras que estávamos todos usando, mas o que chamou a atenção deles, era o fato de estarmos todo tempo de mãos dadas e também, quando sentávamos em algum banco, o fato de rirmos, conversarmos e até trocarmos algum carinho. E aí eu pergunto: em que mundo estamos? Que mundo é esse em que um casal de velhos se abraçar é estranho, ou pelo menos chama a atenção, o que não aconteceria se eles estivessem sentados um do lado do outro, cada um com seu celular, sem trocarem uma palavra sequer. Antes da pandemia, recebemos um convite para participarmos de um programa de televisão que falava sobre diferentes tipos de amor. Estava presente também um psicólogo que ficou logo de início, explicando o significado das duas palavras gregas: ágape e eros: a primeira sendo o amor que representa a amizade e a segunda a sensualidade. Conversando comigo no intervalo do programa, falou que era bonito ver a forma que eu e meu marido nos relacionávamos e terminou seu pensamento dizendo que ele via claramente a manifestação do ágape em nossas vidas. E eu vi que ele era um psicólogo de mais de 40 anos, um estudioso, mas que de velho, ele não entendia nada, ou pelo menos ainda estava preso aos conceitos antigos de que idoso não pode ter libido. Eu então respondi imediatamente, dizendo que nosso relacionamento, tinha ágape e também eros. Que éramos amigos, companheiros, cúmplices, mas também amantes. Por que insistem em fracionar, em dividir a nossa parte afetiva, dizendo o que é próprio ou não para a nossa idade? Nós é que sabemos do que gostamos, o que queremos e do que temos vontade. E, para encerrar, reflito: aos 82 anos não tenho mais idade para me submeter à tabus e quaisquer conceitos retrógrados e preconceituosos. Vivo minha vida fazendo e recebendo carinho e isso é muito bom!

magazine 60+ #36 - Julho/2022 - pág.66


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