REVISTAq — A revista do CNPq

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seção científica

No Brasil, algumas encomendas tecnológicas foram feitas, estimulando a parceria público-privada, através da Rede Vírus do MCTI. Um grupo de pesquisadores da Fiocruz, Microbiológica e Centro de Inovação e Ensaios Pré-clínicos (CIEnP) têm se debruçado para verticalizar o desenvolvimento pré-clínico de um antiviral brasileiro contra covid-19, tendo, em menos de um ano de investigação, solicitado autorização de ensaios clínicos junto a Anvisa. Assim como estes pesquisadores, cientistas da UFRJ, UFMG, USP, Instituto Butantan e diversas outras universidades e centros de pesquisa brasileiros têm perseguido, na mesma intensidade, o desenvolvimento de vacinas. Estas iniciativas podem ser o embrião da instalação da capacidade de respostas a agravos de saúde pública cada vez mais constantes neste século.

Perspectivas Neste pequeno texto listamos alguns exemplos de iniciativas que evidenciam a pujança da resposta da ciência brasileira a ameaças de saúde pública, como a pandemia de covid-19. Por limitação de espaço, muitas iniciativas não foram incluídas, apesar da sua importância. Ainda assim, gostaríamos de finalizar listando alguns gargalos que devem ser evitados, no sentido de dar maior efetividade à resposta brasileira à contínua ameaça imposta pelo SARS-CoV-2 e a futuros desafios. A pandemia de covid-19 escancarou a necessidade de o país investir mais em laboratórios de experimentação in vitro e in vivo nos mais altos níveis de biossegurança. Caso esta infraestrutura já estivesse amplamente disponível nas regiões brasileiras antes do início da pandemia, talvez estivéssemos tratando e vacinando nossa população com tecnologias nacionais. O fomento à pesquisa independente, as encomendas tecnológicas e as redes de pesquisa colaborativas devem ser constantemente estimuladas. A incapacidade de manter perspectivas para pesquisadores jovens, especialmente recém-doutores, pode colocar em risco a sustentabilidade da capacidade científica do país. O que se espera é que esses incentivos venham, em grande parte, de recursos governamentais direcionados para tal, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). O estímulo a parcerias público-priva-

das poderão ajudar a pavimentar o caminho para acesso a venture capital, o que teria potencial para complementar fundos para o enfrentamento dos desafios nacionais, ao mesmo tempo em que ajudaria no incentivo à inovação e formação de recursos humanos especializados na área tecnológica no Brasil. Reconhecemos que há desafios nos processos por trás da transformação de evidências científicas em inovação, sobretudo no escalonamento de novos produtos. Os processos administrativos relacionados às aprovações de patentes e ensaios clínicos precisam ser alvo de debate e aprimoramento constante, de modo a serem cada vez mais céleres em permitir o acesso da população às tecnologias nacionais. As cadeias de insumos precisam ser estimuladas e mais formação de recursos humanos será necessária para permitir a produção de insumos farmacêuticos ativos (IFA) biotecnológicos, por exemplo. Mesmo IFAs utilizados rotineiramente se tornaram escassos ou ausentes durante a pandemia. O mercado globalizado de produção de IFAs é extremamente dependente dos países asiáticos. Portanto, a interrupção das cadeias globais de abastecimento colocou em risco a assistência médico-farmacêutica mais básica no nosso país. Nesta mesma linha de raciocínio, o acesso rápido aos reagentes necessários para realização de uma pesquisa biomédica competitiva é sempre desafiador. Com produção nacional de insumos básicos laboratoriais incipiente, todas as atividades científicas sofrem grande pressão cambial e ficam suscetíveis a taxas de importação e atrasos. É necessário que a ciência no Brasil passe a ser compreendida culturalmente como investimento estratégico de Estado. Diante desta perspectiva de valorização do parque científico-tecnológico brasileiro, o investimento em ciência e tecnologia é essencial, tendo o CNPq, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação/MCTI) e o FNDCT um papel fundamental neste contexto. Assim sendo, a valorização da ciência brasileira e de tudo o que ela tem capacidade de oferecer se mescla à própria valorização das agências de fomento e dos diversos mecanismos que a financiam.


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