REVISTAq — A revista do CNPq

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seção científica

ao afirmar que há espaço para todos, desde que a política de desenvolvimento auxilie o processo, transpondo certas barreiras como as que foi obrigado a enfrentar, como o tempo de liberação de verbas para início da compra de insumos, a burocracia na importação de produtos biológicos não produzidos em território nacional e o tempo de chegada dos mesmos no país. Os pesquisadores são unânimes em afirmar que as iniciativas das agências de fomento no financiamento de imunizantes brasileiros contra a covid-19 foram assertivas, pois com as conquistas nesse campo será possível reduzir a dependência internacional e os gastos com importação. A pandemia evidenciou a dependência tecnológica na área de insumos em saúde. É um risco essa dependência internacional em imunobiológicos. A produção de vacinas nacionais pode ser considerada como uma questão de segurança nacional. Com recursos garantidos pela Rede Vírus do MCTI, criada em março de 2020, e com a participação de diversos especialistas, foi possível estabelecer diretrizes para aquisição de equipamentos, material de consumo e pagamento de bolsistas. A partir dessa iniciativa, os cientistas foram capazes de dar andamento rápido aos projetos e chegar ao atual estágio de desenvolvimento da vacina para covid-19. A Rede Vírus do MCTI acabou se transformando em atividade essencial, estabelecida em decreto presidencial. As ações do CNPq/MCTI para o enfrentamento da covid-19 levaram ainda ao lançamento de editais com recursos da ordem de cerca de R$60 milhões. No entanto, os cientistas ressaltam que há novos desafios em financiamentos: para lotes-piloto e para os ensaios clínicos. “Não podemos parar nessa etapa conhecida como “vale da morte”, ressalta Gazzinelli. Ele e Lima Silva ponderam que o orçamento deveria ser incrementado, inclusive para os testes clínicos. Para Gazzinelli, o aumento deve ser de pelo menos mais 10 vezes. Os projetos de pesquisa devem ser contemplados em faixas maiores, que permitam aos cientistas trabalharem com um planejamento ampliado. Para Santuza, é fundamental ressaltar o importante papel do financiamento contínuo dos diversos grupos de pesquisa nas universidades e institutos de pesquisa no país para respostas rápidas por parte da ciência nacional, como a que vimos no caso da covid-19, possam acontecer novamente. Entre as lições aprendidas durante esse flagelo causado pelo SARS-CoV-2, Santuza pensa que

aprendemos e devemos reconhecer que a solução para os problemas de saúde que afligem a nossa população há muitos anos poderão ser resolvidos somente com o esforço coletivo, reflexões alinhadas às prioridades apontadas por Tanuri. De acordo com ele, é preciso criar um grupo de pesquisadores que possa eleger doenças emergentes e reemergentes que ameaçam eclodir no mundo e no Brasil, para rapidamente definir alvos moleculares e produzir vacinas viáveis com as plataformas de mRNA e ou DNA. Ainda segundo Tanuri, é importante focar nos arenavírus e hantavírus que circulam na América do Sul e possuem potencial para serem protagonistas de novas epidemias. “Precisamos também, urgentemente, criar um laboratório de segurança NB4 no país, para que possamos lidar com vírus emergentes de alta periculosidade”, conclui. E Lima Silva ainda ressalta que, infelizmente, essa não será a última pandemia e o Brasil precisa ter instalações de pesquisa e condições para futuros estudos. Os avanços no campo do financiamento à pesquisa e ao desenvolvimento de imunobiológicos foram possíveis graças aos esforços das agências estaduais e federais como o CNPq/MCTI, que ora comemora suas sete décadas. Segundo Kalil, o CNPq é a casa do cientista brasileiro. Ele destaca que, com sua implantação, a ciência nacional teve o devido respaldo e floresceu. E pondera que, apesar das dificuldades orçamentárias pelas quais passou, devido a diversos governos, o CNPq nunca fugiu da obrigação de apoiar a comunidade científica brasileira. Segundo ele, é nesses momentos de crise que a ciência deixa explícita sua capacidade de trazer soluções. Tanuri soma ao mencionar que o CNPq, nos próximos 70 anos, deve apoiar a criação de novos laboratórios, com a atração de jovens cientistas para desenvolver a ciência nacional. Gazzinelli reforça esse ideal, ao apontar que o mais importante é que a política de financiamento de pesquisa científica no país passe a ser uma política de Estado, e não de Governo. Santuza complementa que muito mais do que uma agência de fomento, o CNPq foi um motor que direcionou os grupos de pesquisa a buscarem a excelência nos resultados e, ao mesmo tempo, estabelecerem as prioridades com relação às grandes questões nacionais e necessidades de soluções esperadas pelo povo brasileiro. Para Lima Silva, o CNPq é um dos maiores patrimônios do nosso país. Ele deseja que a agência tenha recursos proporcionais e garantidos ao seu papel no desenvolvimento social e econômico do nosso país nos próximos 70 anos, ou mais.


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