REVISTAq — A revista do CNPq

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seção científica

para que se preocupe com as escolhas eleitorais. Uma outra ação que nos parece essencial, desde agora e permanentemente, em especial por seu impacto a médio e longo prazo, é melhorar muito a educação científica básica nas escolas brasileiras. Este fator pode não ser inteiramente suficiente para se contrapor aos negacionismos, como comparações com outros países mostram, mas é essencial e indispensável. Note-se que falamos aqui de educação científica de qualidade - e não um arremedo dela como tem sido comum - na qual crianças e jovens tenham sua curiosidade estimulada e não reprimida, compartilhem experiências de investigação, adquiram conceitos básicos, aprendam como funciona a ciência e os mecanismos com os quais ela opera. Há aqui um certo paradoxo: o conhecimento científico é decisivo para a sobrevivência e melhoria da qualidade de vida das pessoas, a redução das desigualdades, o desenvolvimento sustentável do país e o futuro da humanidade, mas ele ainda permanece inatingível para a grande maioria das pessoas, mesmo no que se refere a um entendimento básico. Daí o papel crucial da educação de qualidade e da comunicação pública da ciência como instrumentos essenciais de democratização. As agências de fomento nacionais, estaduais e municipais, assim como as instituições de pesquisa, universidades, entidades e organismos ligados à C&T, têm um papel importante de, além de estimular e apoiar as pesquisas científicas, ajudar a promover a melhoria da educação básica e a ampliação e aprimoramento da comunicação pública da ciência. Outra ação relevante é o uso adequado e intenso da internet e das redes sociais para a comunicação da ciência. É responsabilidade das instituições científicas, universidades e organismos da C&T e dos pesquisadores produzir e veicular informação qualificada. E há que usar novas ferramentas que possibilitem uma maior mobilização social pela ciência e pela educação. Uma possibilidade, apontada pelos jovens nas pesquisas de percepção sobre a ciência e as fake news, é expandir e promover a criação de pontos de informação confiáveis, com informações qualificadas e claras, e capazes de influenciar suas vidas. Que se busquem estratégias, sempre mantida a qualidade da informação, para entrar nos fluxos que viralizam, para furar as bolhas tradicionais e para construir novas outras que

atinjam novos públicos. Para isto pode ser útil motivar jovens influenciadores que vão além da comunicação institucional. Não se pode descurar da manutenção da liberdade de pesquisa. Ataques, que ameaçam essa liberdade, têm ocorrido às universidades públicas e a organismos de pesquisa. Um mote negacionista subjacente opera assim: as universidades representam valores liberais, universalistas e globalistas que não devem ser aceitos. Mas, se as universidades e as instituições de pesquisa perderem a liberdade e passarem a não funcionar mais com a sua própria dinâmica, mas sob tacões ideológicos, perderemos a produção do conhecimento científico. É fundamental que seja preservada a dimensão pública, laica e com liberdade acadêmica da universidade. Por outro lado, as universidades e instituições de pesquisa devem ser mais abertas e acessíveis, em particular oferecendo mais oportunidades aos jovens. Esse processo, iniciado poucas décadas atrás, deve ser ampliado, assim como expandida a formação de pesquisadores. Constata-se que há milhões de pessoas no Brasil que estão por fora e de fora do conhecimento científico e dos benefícios que a ciência pode lhes proporcionar. Nosso papel, como professores e pesquisadores, é também mostrar a importância da argumentação, da discussão baseada em evidências – para defender a ciência, sua confiabilidade e seu papel essencial para a democracia. A ciência deve estar mais ligada aos interesses maiores do país e das pessoas que o habitam. Isto não significa levar água para o moinho dos que, estreita e constantemente, defendem que o poder público deve apoiar apenas pesquisas voltadas para finalidades práticas imediatas. A pesquisa básica, em todas as áreas do conhecimento, tem um valor cultural e econômico evidente, como mostra a história dos países avançados. É importante que mais pessoas participem da produção do conhecimento, entendam como ela se dá, e que se valorizem as iniciativas de ciência cidadã. A necessária construção de um projeto nacional, para um país menos desigual e com desenvolvimento sustentável, depende fortemente da ciência, da formação científica geral da população e da apropriação social do conhecimento científico.


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