seção institucional
dades recebiam 30 estudantes, no máximo. E existe excelência em todos os lugares do mundo, em áreas específicas. Bem, no que diz respeito à pós-graduação, o programa foi, para nós, uma certa decepção. Tínhamos uma expectativa inicial de colocar pelo menos 40 ou 50 mil alunos de pós-graduação em programas sanduíche, pós-doutorados e outros. Tinha bolsas sobrando, bastava que o aluno estivesse em um bom programa de pós-graduação no Brasil, tivesse um projeto e conseguisse a aceitação em uma instituição no exterior razoavelmente bem qualificada. Mas a demanda foi muito baixa. E esse foi outro diagnóstico importante: os alunos da pós-graduação brasileiros estavam numa zona de conforto, poucos tinham domínio de algum idioma para poder sair do país. E aí foi quando aumentou muito, por outro lado, a demanda da graduação, então o programa ficou com a cara da graduação. A atração de pesquisadores internacionais foi também muito importante, o programa de professor visitante. O convidado tinha que passar três meses por ano no Brasil, por três anos consecutivos, ganhava recursos para a pesquisa realizada aqui e bolsas de pós-doutorado e doutorado-sanduiche. A UFRJ, por exemplo, recebeu um Prêmio Nobel, o suíço Kurt Wüthrich. Enfim, penso que o Programa Ciência sem Fronteiras mudou a cara das universidades brasileiras. Hoje todas têm relação com o exterior, têm seus departamentos de relações internacionais, têm convênios próprios. A partir dali, as universidades aqui passaram a receber gente que vinha do exterior interessada em receber alunos brasileiros. As universidades de fora queriam receber os estudantes brasileiros, porque a educação internacional, na época, era um nicho que envolvia um fluxo anual em torno de 400 bilhões de dólares. Foi um programa que teve um enorme sucesso e foi transformador, inclusive, na reputação brasileira internacional. Minha universidade, a USP, até 2011 não aparecia no ranking de reputação acadêmica do Times Higher Education sobre as 100 melhores universidades do mundo. Em 2012, a USP já foi classificada diretamente na posição 61-70 entre as 100 universidades de melhor reputação acadêmica no mundo.
O problema é que acabaram as bolsas. Esse é o grande drama do Brasil, você cria as coisas e depois elas desaparecem. Precisávamos e precisamos ter programas assim, porque estimulam os jovens. Quando você fala “olha, os melhores vão ganhar bolsa”, os alunos se empenham para ir bem na graduação, para ter boas notas. O Programa Ciência sem Fronteiras vai voltar de alguma maneira, algum dia. Com 100 mil alunos participando? Talvez não.
Ciência e educação são a base do desenvolvimento Precisamos sempre relembrar que todo progresso humano está diretamente relacionado ao avanço do conhecimento pela ciência. Todos os grandes desafios da humanidade em saúde, alimentos, energia, ambientes, sustentabilidade, superação de desigualdades, empregos, só terão respostas pela ciência e educação. E o CNPq tem esse papel estratégico no desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Não há dúvida que a história de sucesso do CNPq foi construída por sucessivas gerações de lideranças e de quadros técnicos altamente qualificados. Quero aqui saudar todos os ex-presidentes, diretores e servidores da casa, em atividade e os aposentados, bem como os assessores e consultores da comunidade científica que, em diferentes momentos, travaram lutas hercúleas para consolidar a ciência e tecnologia brasileira. Infelizmente, tudo isso está em risco pela absoluta falta de recursos. Além do impacto imediato de paralisação das pesquisas nos laboratórios do país, temos um impacto de médio e longo prazo, com o desestímulo aos jovens talentosos, nosso maior patrimônio. Por isso, este é, sim, um momento de celebração pelos 70 anos do CNPq, este ícone da ciência brasileira. Mas é também um momento de luta. Nós, da comunidade científica, temos que nos mobilizar para não deixar a ciência brasileira morrer. Viva a vida, viva o CNPq!