#43 | out. nov. dez. 2021
REVISTA RUMINANTES
OBSERVATÓRIO DO LEITE
RETROSPETIVAS E DESAFIOS
CHEGADOS AO ÚLTIMO TRIMESTRE DO ANO, É TEMPO DE RESPIRAR FUNDO E PENSAR COM ORGULHO NOS DESAFIOS ULTRAPASSADOS ESTE ANO, MAS, ACIMA DE TUDO, OLHAR PARA A LINHA DO HORIZONTE E PARA O QUE 2022 E OS PRÓXIMOS ANOS NOS TRARÃO. A VACINAÇÃO EM LARGA ESCALA TROUXE COM ELA UM GRADUAL REGRESSO À NOVA NORMALIDADE, SENDO A ABERTURA DAS ESCOLAS, RESTAURANTES, TURISMO E EVENTOS PÚBLICOS UMA VERDADEIRA LUFADA DE AR FRESCO PARA OS SETORES ALIMENTARES. Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes AHDB, BDayry, Depto. Agricultura, Água e Ambiente da Austrália, Einpresswire, Feed Strategy, Rabobank, USDA
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azendo a retrospetiva do ano, entre janeiro e julho de 2021 registou-se um aumento de 2,3% na produção leiteira nos Estados Unidos e um decréscimo de 0,1% a nível europeu. O incentivo para muitos produtores europeus é baixo, relatando-se maiores custos de produção. Na primeira metade do ano, foram enviados mais animais europeus para refugo do que no período comparável de 2020. Na Oceânia, onde se prepara o início de uma nova temporada produtiva, o arranque deverá ser com o pé direito, fruto dos pastos verdes e dos preços apetecíveis. Na Austrália, graças à forte procura, os preços médios pagos ao produtor poderão crescer na casa dos 7% na temporada 2021/2022. Na América do Sul, o crescimento do setor deverá ser limitado pelo clima instável e pelo aumento dos custos de produção. Para o resto do ano, o panorama será modesto em termos de crescimento, e será a procura o principal fator
determinante da evolução dos preços do mercado. São apontados três fatores que poderão estrangular o crescimento do setor nos próximos meses: a redução das importações chinesas, a stockagem em massa devido aos constrangimentos logísticos sentidos a nível global e a possibilidade de futuros confinamentos devido à pandemia. As importações por parte da China, fortemente influenciadoras dos mercados mundiais, poderão começar a registar um abrandamento ainda este ano, fruto da conjugação do aumento da produção leiteira e dos stocks atuais. Beber leite chinês continua a pesar mais na carteira. No primeiro semestre de 2021, a recuperação dos efetivos suínos do surto de Peste Suína Africana levou a uma maior procura de cereais, o que resultou num aumento dos custos alimentares das explorações leiteiras e, consequentemente, do preço interno do leite, na ordem dos 15%.
De acordo com o Rabobank, o fecho do ano registará um aumento global da produção leiteira nas sete regiões-chave — Europa, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Brasil, Argentina e Uruguai — na ordem dos 1,1%, valor inferior aos 1,6% registados em 2020. Apesar da previsão de ligeiro abrandamento do setor neste último trimestre, a transição para 2022 deverá ser em força comparativamente ao mesmo período do ano passado. Em 2022, a produção global de leite deverá crescer, impulsionada maioritariamente pelos Estados Unidos e Nova Zelândia, com aumentos mais modestos na Austrália e Europa. A nível logístico, as disrupções no comércio internacional, nomeadamente a nível do aumento generalizado dos custos de produção e transporte, ainda não parecem ter afetado significativamente a satisfação da procura, algo que, no entanto, poderá vir a acontecer a médio e longo prazo. Para o próximo ano, e no futuro próximo, foram
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já identificadas algumas tendências apontadas para o sucesso do setor, bem como as principais ameaças, as quais detalharemos abaixo. A sustentabilidade da produção leiteira e a redução da sua pegada de carbono, das quais tanto falamos, encabeçam a lista. De acordo com a FAO, a produção pecuária é atualmente responsável por 14,5% das emissões de gases de efeito de estufa, 30% dos quais diretamente atribuídos à produção leiteira. Grandes companhias internacionais, como a Nestlé, estão a implantar estratégias para anularem a sua pegada de carbono até 2050. Tendo em conta a gravidade das alterações climáticas, será de todo natural que sejam exigidas à produção primária medidas concretas e eficazes para uma produção mais sustentável e viável a longo prazo. A volatilidade dos preços do leite continuará a ser uma preocupação, com o caos gerado pela pandemia a expor as fragilidades da cadeia de produção. A contribuir para