Revista Ruminantes 43

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#43 | out. nov. dez. 2021

REVISTA RUMINANTES

GENÉTICA

QUESTÕES DE CONSANGUINIDADE

O ESTREITAMENTO DO POOL GENÉTICO NA RAÇA HOLSTEIN E AS CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS DESTA SITUAÇÃO, OU O APURAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS A SELECIONAR PARA OBTER ANIMAIS COM MAIOR LONGEVIDADE SÃO TEMAS QUE AFETAM A RENTABILIDADE DAS EXPLORAÇÕES E E PREOCUPAM OS INVESTIGADORES. Artigos traduzidos e adaptados por Ugenes, Lda.

DE DOIS TOUROS, 9 MILHÕES DE VACAS LEITEIRAS Por Maureen O’Hagan

(https://undark.org/2019/06/19/cowsholstein-diversity)

E

xistem apenas 2 cromossomas Y numa população de 9 milhões de Holstein. Que características se perderam com o tempo? O efetivo de vacas leiteiras nos Estados Unidos é superior a 9 milhões. A grande maioria delas são Holstein, bovinos grandes com manchas distintas em preto e branco (às vezes vermelho e branco). A quantidade de leite que produzem é surpreendente, devido à sua linhagem. Há alguns anos, quando investigadores da Universidade Estadual da Pensilvânia observaram atentamente as linhagens masculinas, descobriram que mais de 99% delas podem ser rastreadas até um de dois touros, ambos nascidos na década de 1960. Isso significa que, entre todos os Holstein machos do país, existem apenas dois cromossomas Y. “O que fizemos foi realmente estreitar a pool genética”, diz Chad Dechow, um dos investigadores. As fêmeas não tiveram melhores resultados. Na verdade, Dechow - um professor associado de genética de gado leiteiro - e outros, dizem que há muita similaridade genética entre elas, sendo o tamanho efetivo da população inferior a 50. Se os Holstein fossem animais selvagens, isso colocá-los-ia na categoria de espécies criticamente ameaçadas de extinção. “É basicamente uma grande família consanguínea”, diz Leslie B. Hansen, especialista em Holstein e professor da Universidade de Minnesota. Qualquer estudante de ciência sabe que

a homogeneidade genética não é favorável a longo prazo. Aumenta o risco de doenças hereditárias, ao mesmo tempo que reduz a capacidade de uma população de evoluir perante um ambiente em mudança. Os produtores de leite que lutam atualmente para pagar as suas contas não estão necessariamente focados nas perspetivas evolutivas dos seus animais. “Se limitarmos a diversidade genética da raça a longo prazo”, diz Dechow, “limitaremos a quantidade de mudança genética que pode ser feita ao longo do tempo”. Por outras palavras, poderemos chegar a um ponto em que não conseguimos sair de onde estamos. Não haverá mais melhorias na produção de leite. A fertilidade não vai melhorar. E se uma nova doença surgir, grandes faixas da população de vacas podem ser suscetíveis, já que muitas delas têm os mesmos genes. A Holstein é atualmente responsável pela grande maioria do leite que bebemos e por muito do nosso queijo e gelado. Pelo menos desde o século passado, estes animais foram valorizados pelas suas elevadas produções. Nos últimos 70 anos ou mais, os humanos introduziram uma série de métodos para aumentar ainda mais a produção. Em 1950, por exemplo, uma única vaca leiteira produzia cerca de 2400 kg de leite por ano. Hoje, uma Holstein produz em média mais de 10400 kg de leite. O “coeficiente de endogamia” para a raça Holstein está atualmente em torno de 8%, o que significa que, em média, um bezerro obtém cópias idênticas de 8% dos seus genes da sua mãe e do seu pai. Esta percentagem usa como linha de base o ano de 1960 e continua a aumentar 0,3 ou 0,4 a cada ano. “A consanguinidade está a acumular-se mais depressa do que nunca”, diz Dechow. Mas 8 por cento é demais? Os

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especialistas em laticínios continuam a debater essa questão. Alguns argumentam que as Holstein estão a cumprir o seu trabalho, produzindo muito leite e que são relativamente saudáveis. Hansen, entretanto, observa que se cruzar um touro com a sua filha, o coeficiente de endogamia é de 25 por cento; sob essa perspetiva, 8 parece muito. Ele e outros dizem que, embora a consanguinidade possa não parecer um problema agora, as consequências podem ser significativas. As taxas de fertilidade são afetadas pela endogamia e a fertilidade da raça Holstein tem vindo a cair significativamente. As taxas de fertilidade na década de 1960 estavam entre os 35 a 40 por cento, mas em 2000 caíram para os 24 por cento. Além disso, quando animais com grau de parentesco próximo são cruzados, é mais provável que as vacas obtenham duas cópias de genes recessivos indesejados que podem estar na origem de futuros problemas graves de saúde. “Algo precisa de mudar”, diz Hansen. Para Dechow, a preocupação está no ritmo do aumento da endogamia e no que isso significa para o futuro da raça. “Imagine que tem uma vaca com 100 genes realmente bons e 10 genes horríveis.

SE AS HOLSTEIN FOSSEM ANIMAIS SELVAGENS, ISSO COLOCÁ-LAS-IA NA CATEGORIA DE ESPÉCIES CRITICAMENTE AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO.


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