ATUALIDADES
o pote de ouro da publicidade infantil no seculo XXI Por Alan Gonçalves
Donos de canais lucram milhões em contratos com grandes empresas e publicidade velada
O
YouTube é a plataforma de vídeos mais rentável e com o maior público ativo da atualidade na maioria dos países. De acordo com a revista Forbes, no ano de 2018, os dez canais que mais faturaram no mundo lucraram juntos cerca de US$180 milhões. No Brasil, segundo uma análise feita pela Hootsuite (sistema norte-americano especializado em gestão de marcas na mídia social) o YouTube está em primeiro lugar. Por estar a frente de seus concorrentes, o site é palco dos mais diversos cases de marketing de várias empresas conceituadas. Com a crescente disseminação da tecnologia, os meios de comunicação tradicionais, como rádio e TV, estão tendo que dividir espaço com as redes sociais e plataformas de streaming. Diante deste cenário, não demoraria muito para que as empresas voltadas a produtos infantis enxergassem no YouTube uma valiosa fonte de renda e visibilidade. Atualmente, existem na plataforma milhares de canais voltados apenas para esse público e que contam com um número exorbitante de crianças que assistem a cada novo vídeo que sai de seu youtuber favorito. Só na loja Play Store da Google, o YouTube Kids (versão voltada ao público infantil) tem quase um milhão de downloads. Dentre os canais mais assistidos, está o canal do garoto norte americano Ryan, o RyanToysRewiews. Apenas no ano passado, o garoto chegou a faturar, junto com seus pais, a quantia de US$22 milhões, segundo uma matéria da BBC onde constam dados coletados pela Forbes em 2018. Em seu canal, ele posta vídeos em que abre embalagens de brinquedos, faz testes e brinca com os produtos das mais variadas marcas. Essa exposição incentiva seu público a adquirir esses produtos, pois mesmo não tendo as características de um comercial tradicional, ainda assim é uma divulgação das marcas. A prática caracteriza, segundo as regras de ética da publicidade brasileira, a chamada publicidade
velada. Vale ressaltar que além de uma conduta global, em cada país há códigos e legislações próprias no que se diz respeito a publicidade infantil. No Brasil, por exemplo, o Conselho Nacional de Autorregularização Publicitária (CONAR) é o órgão responsável por essa gestão. Portanto, ele é responsável por fiscalizar as peças publicitárias, as quais devem seguir uma série de normas, tais como não ser imperativo as crianças ou conter publicidade velada. No final do ano de 2018, vieram à tona denúncias de publicidade velada, parecidas com o do garoto Ryan, contida em diversos canais brasileiros. Em janeiro de 2019, o Ministério Público de São Paulo (MP - SP) emitiu um comunicado oficial ao YouTube com um pedido para a remoção de vídeos de youtubers mirins que praticassem a irregularidade. Entre os canais solicitados estavam: Julia Silva, Felipe Calixto, Manoela Antelo, Gabriela Saraivah, Marina Bombonato, Duda MH e Vida de Amy. O problema nesse tipo de publicidade é que não fica explicitamente claro que se trata de propaganda. A criança abre a embalagem de um produto para experimentar e brincar o que claro, incentiva milhares de crianças a pedirem os produtos a seus pais. As empresas, donas dos brinquedos, são tão culpadas quanto os produtores dos canais, pois aproveitam-se da situação enviando produtos “gratuitamente” em troca de exposição nos canais. Quando notificadas, as empresas Google e YouTube responderam que são apenas as plataformas e que o conteúdo é responsabilidade de cada usuário. Desde o ano passado, a guerra contra este tipo de publicidade se intensificou e de dezenas de empresas grandes como SBT, McDonald’s e Mattel receberam multas e tiveram vídeos removidos. Fica aqui o questionamento sobre este tipo de conteúdo e sobre a violação de privacidade. 18