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ensar(es)
Soltam-se as Palavras Prendem-se as nuvens João Rebelo . Professor de Filosofia
A
ntigamente era para mim um suplício ver o mundo lá das nuvens. Tinha pavor a andar de avião. Relembro a minha primeira viagem. Lisboa- Madrid- Cairo. Agora, aos poucos tenho mudado. Cada vez mais aprecio estar acima da nuvem. Sinto uma espécie de apelo divino. A participação com o Criador. E de repente tudo pode acabar. Ver a cidades lá tão em baixo fervilhantes de seres e de espíritos. Serão as nuvens as misturas dos espíritos dos mortos? Todas as lutas, todas as ambições, os anseios os desgostos e as alegrias se desvanecem neste espaço. Estão concentradas lá em baixo nas vidas de todos. Aqui é
o silêncio que imagino fora do avião. Gosto mais das descolagens. O mundo não gira ao meu redor. Eu é que giro com ele. Vou nele com o tempo. Sou uma ínfima parte do planeta, que faz parte de um todo, que faz parte de uma inteligência cheia de amor e profundidade. Isto lembra-me que pertenço a esse todo, apesar das minhas mundividencias me levarem para outros mundos. Sou um minúsculo ser sentado neste avião, agora, e lá fora o mundo e o tempo vivem com outras realidades, com milhões de seres. Sou parte de um todo eterno e infinito, mesmo que me pareça apenas este instante. Lembro-me de um filme que vi recentemente,