DIGNUS nº1

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Diretora Cláudia Guedes da Costa n.º1 · ano 1 9.50€ Portugal

01

2.º trimestre 2019

REPORTAGEM “Fazemos das emoções as ferramentas diárias do nosso trabalho” Centro Comunitário da Gafanha do Carmo

DOSSIER SOBRE ENVELHECIMENTO ATIVO

MENTE ATIVA CORPO ATIVO

Envelhecimento x Longevidade: O que nos faz feliz?

Hidroginástica e os seus benefícios na terceira idade

Entrevista

JOSÉ EDUARDO PINTO DA COSTA “Quando tinha 20 anos corria para apanhar o autocarro, hoje não corro, mas faço exatamente o mesmo percurso”



Sumário | 1

NESTA EDIÇÃO DOSSIER SOBRE ENVELHECIMENTO ATIVO

MENTE ATIVA CORPO ATIVO

Centro Comunitário da Gafanha do Carmo

Envelhecimento x Longevidade: O que nos faz feliz?

Hidroginástica e os seus benefícios na Terceira Idade

P.45

P.23

P.30

REPORTAGEM “Fazemos das emoções as ferramentas diárias do nosso trabalho”

ÍNDICE 02 Editorial Nasceu a DIGNUS

36 Especialidades Médicas 36 Envelhecimento saudável: Fatores

03 Nota do Editor O Esquiço virou Obra!

04 Espaço ERPIS O papel do Centro de Dia na ocupação dos utentes: Boas práticas (1.ª Parte)

38 40 42

07 Espaço Associação Nacional de Cuidadores Informais Cuidar de quem cuida

08 Espaço Associação Coração Amarelo Associação Coração Amarelo inicia uma parceria com a revista Dignus

09 Espaço RUTIS Universidades Seniores: O impacto na vida dos mais velhos

11 A Voz de 11 José Manuel Silva - Caregivers Portugal 12 Carla Ribeirinho - [Trans]formação dos profissionais na área do envelhecimento: Desafios e oportunidades

16 Dossier sobre Envelhecimento Ativo 16 Envelhecimento activo… Envelhecimento saudável 18 Sarcopenia: envelhecimento e exercícios físicos para uma longevidade mais saudável 20 Velhices LGBT: Desafios para o envelhecimento ativo 23 Envelhecimento x Longevidade: O que nos faz feliz?

26 Mente Ativa Corpo Ativo 26 Envelhecimento saudável: Intervenções

29 30 32 34

para prevenção do declínio cognitivo e demência Memória & Animação Terapêutica: Não deixar o cérebro “enferrujar” Hidroginástica e os seus benefícios na Terceira Idade Envelhecer de forma ativa musicando com arte Envelhecimento ativo e a música

44

de risco para o declínio cognitivo e demência O papel do Médico de Família na demência: Prevenir antes de diagnosticar Psicologia e Pós Geronto: A união que deu certo sob o olhar de quem faz Geriatria e Gerontologia: Alguns conhecimentos médicos pessoais no tratamento de idosos Odontogeriatria: O avanço da medicina dentária em resposta ao envelhecimento ativo

45 Reportagem 45 Centro Comunitário da Gafanha do Carmo: “Fazemos das emoções as ferramentas diárias do nosso trabalho” 47 4.º Congresso Nacional “Voz aos Cuidadores”: “O cuidador tem a capacidade de nos tirar da solidão”

50 Entrevista José Eduardo Pinto da Costa: “Quando tinha 20 anos corria para apanhar o autocarro, hoje não corro, mas faço exatamente o mesmo percurso”

54 Case Study 54 Envelhecimento ativo versus Demência 56 A importância de reabilitar em casa 57 “O Cuidador, EU”

58 Turismo Sénior e Lazer Viagens de proximidade e o território da saudade

60 E Depois A vivência da perda do cônjuge na Terceira Idade: Algumas reflexões

62 Notícias 69 Atividades 69 Atividades 70 Importância dos jogos cognitivos aplicados aos Idosos

72 Bibliografia


2 | Editorial

Nasceu a DIGNUS

FICHA TÉCNICA DIGNUS 01

Caríssimo leitor,

2.º trimestre

Queremos dignificar o envelhecimento! Nasceu a DIGNUS.

DIRETORA Cláudia Guedes da Costa · claudia.dignus@gmail.com

CONSELHO EDITORIAL

Cláudia Guedes da Costa Diretora

Esta revista resulta da reflexão que se tem realizado sobre o envelhecimento e as distintas consequências no idoso, no cuidador e sobretudo na ausência de informação específica reunida numa só revista. A amplificação da longevidade desafia um olhar multidisciplinar constituindo um universo heterogéneo, no qual a geriatria e a gerontologia assumem um papel predominante. Discorrer sobre a inveteração é algo que nos remete para uma reflexão profícua sobre nós mesmos onde teremos que dar um novo significado ao envelhecimento. Envelhecemos desde que nascemos. Biologicamente interpretado como envelhecimento celular e aparecimento de transtornos de saúde que, por sua vez, fazem diminuir as probabilidades de sobrevivência à medida que a idade avança. O ritmo de declínio das funções orgânicas varia não só de órgão para órgão, como também entre pessoas da mesma idade. Estamos perante a senescência. A degenerescência social traduz uma mutação no status do idoso e no relacionamento dele com a sociedade. A crise de identidade, a passagem à reforma, a mudança de papéis, a diminuição dos contactos sociais e as diversas perdas levam-nos à reflexão sobre as consequências sociais do envelhecimento. A falta de motivação, a dificuldade em planear o futuro, a necessidade de limar as perdas orgânicas, afetivas e sociais, a adesão a tratamentos de doenças neurodegenerativas, a diminuição da autoestima e da imagem corporal e as doenças mentais são o corolário da degenerescência psicológica. A habilitação para o futuro é imperativa, pois esse futuro também nos pertence. Estaremos perante o desmoronamento de um modelo de proteção social? Como podemos contribuir para a independência biopsicossocial à medida que envelhecemos? De que forma a qualidade de vida pode ser potenciada? Em que medida se pode harmonizar o papel da família e do Estado relativamente à assistência dos idosos? A sageza impera! A desconceitualização de estereótipos associados ao envelhecimento e o conceito de envelhecimento ativo, tema deste primeiro número, assumem empoderamento. Então, caríssimo leitor, bem-vindo à revolução da longevidade. Termino com votos de uma agradável leitura e com uma pirrónica: envelhecer ativamente significa olhar para o passado com os olhos do presente ou vice-versa?

Ana Araújo, Ana Isabel Martins, Ana Monteiro, António Palha, Carlos Wehdorn, Cláudia Moura, Elisa Serôdio, Filipa Menezes, Helena Costa, Horácio Firmino, Ilda Gois, Janinéri Cordeiro, Joana Monteiro, Joana Sousa, José Manuel Silva, José Reis, Luís Jacob, Madalena Pinto, Manuel Viana, Márcio Vara, Margarida G. Resende, Ricardo Pocinho, Sandra Penêda Patrício, Sérgio Ferreira

CORPO EDITORIAL Diretor Executivo: Júlio Almeida T. +351 225 899 626 · julio.almeida@dignus.pt Marketing: André Manuel Mendes T. +351 225 933 964 · redacao@dignus.pt Redação: Helena Paulino T. +351 220 933 964 · redacao@dignus.pt

DESIGN E WEBDESIGN Ana Pereira · a.pereira@cie-comunicacao.pt · T. +351 225 934 633

ASSINATURAS T. +351 220 104 872 · assinaturas@booki.pt · www.booki.pt

COLABORAÇÃO REDATORIAL Cláudia Guedes da Costa, Júlio Almeida, Mónica Teixeira, Ana Soares, Catarina Teixeira, Isabel Marques, Sandra Mourinha, Luís Jacob, José Manuel Silva, Carla Ribeirinho, Joana Rodrigues de Sousa, Ivan de Oliveira, Alfredo Villardi, Diego F. Miguel, Milton R. F. Crenitte, Janinéri Cordeiro, Ana Monteiro, Bruno Trindade, Ricardo Pocinho, Pedro Miguel Neves, Miguel Rivotti, Patrícia Dias, Madalena Pinto, Elisa Serôdio, Francisco F. F. de Oliveira, Glauco de Lorenzi, Filipa Meneses, Catarina Leandro, Sandra Penêda Patrício, António Marques, Patrícia Protásio, Patrícia Valente, Carlos Wehdorn, Rui Ribeiro, Anderson Amaral, Adriana Limeira, Juliana Ohy

PROPRIEDADE, REDAÇÃO E EDIÇÃO CIE - Comunicação e Imprensa Especializada, Lda.® Empresa jornalística Reg. n.º 223992 NIPC: 509 870 104 Grupo Publindústria Praça da Corujeira, 38 Apartado 3825, 4300-144 Porto T. +351 225 899 626/8 geral@cie-comunicacao.pt · www.cie-comunicacao.pt

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Júlio Almeida, António Malheiro e Publindústria – Produção de Comunicação, Lda.

PUBLICAÇÃO PERIÓDICA Registo n.º 127253 Tiragem: 5000 exemplares Periodicidade: Trimestral INPI: Registo n.º 602419

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Estatuto editorial disponível em www.dignus.pt

“(...) caríssimo leitor, bem-vindo à revolução da longevidade.”

Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.


Nota do Editor | 3

O Esquiço virou Obra!

ESTATUTO EDITORIAL TÍTULO “DIGNUS – Revista Técnica de Geriatria e Gerontologia”

OBJETO Informação e tecnologias direcionadas a todos os interlocutores na área da Geriatria e Gerontologia, sejam eles os cuidadores, idosos,

Júlio Almeida Diretor Executivo e Editor

Nota: Texto escrito de acordo com a antiga ortografia

Passado sensivelmente um ano, eis que surge a revista Dignus, a primeira revista técnica na área da Geriatria e Gerontologia. Pretendemos com esta publicação preencher algumas lacunas e mitos que existem em torno do envelhecimento saudável e activo, dando voz aos Cuidadores Formais e Informais, assim como a um conjunto alargado de especialidades médicas, que interagem com esta realidade. A Dignus é um projecto inclusivo, 360º graus, transversal desde os cuidadores até ao idoso e vice-versa. Para nós CIE – COMUNICAÇÃO E IMPRENSA ESPECIALIZADA, Lda., trata-se de um projecto fora da caixa, completamente arrojado, que nos obrigou a alargar os nossos horizontes e capacidade critica. Deixo um desafio às empresas e instituições que diariamente lidam com a questão do envelhecimento, para que participem de forma activa e crítica na Dignus. Não posso deixar de agradecer à minha equipa, que desde o primeiro momento aceitou este desafio, como sendo seu, acrescentando uma experiência, know-how e capacidade crítica que muito engrandeceu a Dignus! Ao conselho editorial e a todos os colaboradores da primeira edição, a minha gratidão eterna, sem eles o projecto não ganhava forma. Last but not the least, um agradecimento sentido à Directora da revista Dignus, Dra. Cláudia Costa Guedes, que desde o primeiro momento me ouviu e abraçou sem restrições o projecto. Certos de que deixamos uma pegada positiva em torno do envelhecimento, espero por todos vós na próxima edição!

pessoal médico, técnicos, psicólogos, instituições e empresas.

OBJETIVO Difundir informação, tecnologias, produtos e serviços para a valorização pessoal e profissional de todos os afetos às áreas em questão.

ENQUADRAMENTO FORMAL A revista “DIGNUS – Revista Técnica de Geriatria e Gerontologia” respeita os princípios deontológicos da imprensa e a ética profissional, de modo a não poder prosseguir apenas fins comerciais, nem abusar da boa-fé dos leitores, encobrindo ou deturpando informação.

CARATERIZAÇÃO Publicação periódica especializada.

ESTRUTURA REDATORIAL Diretor – Profissional com experiência na área da formação. Coordenador Editorial – Formação académica em ramo da geriatria afim ao objeto da revista. Colaboradores - Profissionais e técnicos que exerçam a sua atividade no âmbito do objeto editorial, instituições de formação e organismos profissionais.

SELEÇÃO DE CONTEÚDOS A seleção de conteúdos tecnológicos é da exclusiva responsabilidade do Diretor. O noticiário técnico-informativo é proposto pelo Coordenador Editorial. A revista poderá publicar peças noticiosas com caráter publicitário nas seguintes condições: »

Com o título de Publi-Reportagem;

»

Formato de notícia com a aposição no texto do termo Publicidade.

ORGANIZAÇÃO EDITORIAL Sem prejuízo de novas áreas temáticas que venham a ser consideradas, a estrutura de base da organização editorial da revista compreende: »

Sumário

»

Legislação

»

Editorial

»

Casos de estudo

»

Nutrição

»

Mercado

»

Espaço Opinião

»

Informação

»

Educação Física e Desporto – Ser idoso não significa ser

Técnico-Comercial »

Espaço Dignus – Espaço do leitor

sedentário. »

»

Consultório Técnico

»

Turismo Sénior e Lazer

»

Bem-estar

»

Bibliografia

»

Espaço ERPIS

»

Calendário de eventos

»

Notícias

»

Reportagens

»

Passatempos

»

Entrevistas

»

Publicidade

»

Dossiers temáticos

Figuras e instituições em destaque

e formação

ESPAÇO PUBLICITÁRIO A Publicidade organiza-se por espaços de páginas e frações, encartes e Publi-Reportagens. A Tabela de Publicidade é válida para o espaço económico europeu. A percentagem de Espaço Publicitário não poderá exceder 1/3 da paginação. A direção da revista poderá recusar Publicidade cuja mensagem não se coadune com o seu objeto editorial. Não será aceite Publicidade que não esteja em conformidade com a lei geral do exercício da atividade. PROTOCOLOS Os acordos protocolares com estruturas profissionais, empresariais e sindicais, visam exclusivamente o aprofundamento de conteúdos e © pixeles

MENS SANA IN CORPORE SANO MENTE SÃ EM CORPO SÃO

de divulgação da revista junto dos seus associados.


4 | Espaço ERPIS

O papel do Centro de Dia na ocupação dos utentes Boas práticas » 1.ª Parte 1

Mónica Teixeira, 2Ana Soares e 3Catarina Teixeira

1

Diretora de serviços do Centro de Apoio Social

de Vila Nova de Monsarros 2

Equipa técnica do Centro de Apoio Social

de Vila Nova de Monsarros 3

Gerontóloga

O Centro de Dia em Portugal permite ao indivíduo a permanência no seu contexto comunitário através da disponibilização de serviços diversificados. Destes a ocupação é o tema central em análise, tendo a resposta social um papel primordial na sua realização. Assim, aborda-se a temática da planificação de atividades e monitorização das mesmas nas vertentes: anual, mensal, semanal, diária e individual e coletiva, através de exemplos práticos e experienciados no Centro de Dia em análise.

Introdução O Centro de Dia em Portugal apresenta-se, na atualidade, como uma resposta social, desenvolvida em equipamento, que se fundamenta na prestação de um conjunto de serviços que contribuem para a manutenção do indivíduo no seu meio sociofamiliar. A resposta disponibiliza, aos seus utentes, uma diversidade de serviços tais como refeições, convívio/ocupação, cuidados de higiene, tratamento de roupa e férias organizadas (Bonfim & Saraiva, 1996).

O tema central explorado no presente trabalho é o funcionamento do serviço de ocupação num Centro de Dia. Deste modo, os autores, através da sua experiência empírica, descrevem as suas práticas diárias num Centro de Dia dimensionado para 30 utentes, integrado em meio rural, situado na beira litoral e que se encontra acoplado a outras respostas sociais direcionadas à Terceira Idade e outras direcionadas à infância. O trabalho em causa pretende dar a conhecer, de forma despretensiosa, as boas práticas realizadas ao nível da ocupação dos mais velhos para que possam ser replicadas em Centros de Dia similares. Deste modo, o presente artigo divide-se em duas partes: a primeira delimita de modo concetual o modelo de Centro de Dia existente em Portugal e uma segunda parte na qual são exploradas aprofundadamente experiências empíricas ao nível da ocupação com idosos. Assim, a segunda parte foca-se na planificação e execução de atividades em Centro de Dia. A planificação engloba a metodologia usada para estruturar atividades de ocupação nas amplitudes: anual, mensal, semanal, diária e individual e coletiva assim como a sua monitorização.

No que concerne à execução foram elencados exemplos práticos experimentados no contexto prático em análise, nas mesmas amplitudes da planificação. Por fim, no último ponto, serão realizadas algumas considerações centrais sobre a importância do Centro de Dia na dinamização da ocupação dos utentes/utilizadores da resposta social.

Centro de dia em Portugal uma abordagem concetual Definição e objetivos do Centro de Dia Centro de Dia surge, em Portugal, como estrutura comunitária e implanta-se progressivamente a partir da década de 70 (Serdi, 1975). Apresenta como objetivo inicial a rentabilização dos recursos existentes na comunidade, de modo a satisfazer as necessidades dos indivíduos. Deste modo, o Centro de Dia começa por se definir como um “conjunto de serviços no qual e/ou pelo qual, são organizadas atividades agrupadas que permitem às pessoas conservarem-se no seu meio familiar e social” (Serdi, 1975). Esta primeira definição foca-


Espaço ERPIS | 5

© Pixabay

© Peter Hellebrand

se essencialmente, no nosso entender, numa ideia basilar que os cuidados podem ser prestados aos indivíduos sem os retirar do contexto em que vivem, isto é, da sua comunidade. Nos anos 90 uma nova tentativa de definição de Centro de Dia, mais abrangente que a anterior e na qual o Centro de Dia é entendido como uma resposta social, desenvolvida em equipamento que se fundamenta na prestação de um conjunto de serviços que contribuem para a manutenção do indivíduo no seu meio sociofamiliar (Bonfim & Saraiva, 1996). Para além destas não se evidenciaram na literatura nacional outras tentativas de definição da resposta, no entanto, Quaresma (1996) reforça as definições anteriores, apresentando, de um modo concreto e operacional, os objetivos do Centro de Dia. O aconselhamento individual é um destes e traduz-se no acolhimento e informação necessários ao utente. Salienta-se igualmente a importância da ajuda na readaptação individual, que se baseia em apoiar o idoso a fazer, de forma satisfatória, os reajustamentos necessários à aceitação dos seus próprios condicionalismos. O incentivo e a implementação de ações diversificadas que promovam as relações interpessoais dos idosos entre si e, destes, com outros grupos etários a fim de evitar o isolamento. O favorecimento ao acesso das pessoas mais velhas às diversas formas de ajuda adequadas à sua situação, que não se encontrem acessíveis na comunidade local e se situem no âmbito deste tipo de equipamento. O autor destaca ainda a deteção e análise das necessidades dos idosos, com vista ao planeamento dos serviços. Por fim, acrescenta como objetivo de intervenção, ainda que indiretamente, o apoio aos Cuidadores Informais. Deste modo, no nosso entender, o autor apresenta os objetivos do Centro de Dia em dois prismas diferenciados: um restrito (individual) e um alargado (cuidadores). Estudos internacionais vão de encontro às ideias elencadas anteriormente. Assim sendo destacamos que o estudo de Arrazola et al. (2003) atribui ao Centro de Dia os seguintes propósitos: oferecer aos seus utilizadores um ambiente protetor de modo a prevenir e responder às necessidades básicas; fomentar a manutenção do grau de autonomia através da estimulação e reeducação das atividades de vida diária (AVD´s); atrasar a institucionalização através da coordenação de recursos existentes; controlar e promover a saúde dos utilizadores através de ações que conduzam a esse propósito, e por fim, estimular as pessoas à participação em atividades individuais e coletivas evitando a inatividade e o isolamento. O Centro de Dia revela ser, ainda segundo Rodriguez e Rodriguez (2007), uma alternativa adequada para o aumento da qualidade de vida do núcleo familiar no qual vive uma pessoa dependente, uma vez que o mesmo, ao disponibilizar uma resposta integral e terapêutica, apoia e alivia a família cuidadora. Apresenta-se, deste modo, o Centro de Dia como uma estrutura de referência “formativa e informativa” com o fim de apoiar as famílias nas

© Matthias Zomer

tarefas de cuidado, assim como na prevenção e resolução de conflitos que se poderão originar no núcleo familiar decorrentes da permanência da pessoa com dependência.

Modelos de funcionamento A implantação inicial do Centro de Dia teve subjacentes duas estratégias principais: a criação da resposta integrada num equipamento já existente ou a criação de uma estrutura autónoma, tendo por base o levantamento das necessidades da população de uma determinada área (Serdi, 1975). Deste modo, o Centro de Dia pôde desenvolver a sua intervenção em espaço próprio e de funcionamento independente ou surgir integrado numa estrutura existente quer esta seja lar de idosos, centro comunitário ou outra (Bonfim & Saraiva, 1996). Terá sido, no nosso entender, a partir desta dualidade de organização que poderemos tentar definir dois modelos de funcionamento que se baseiam nos recursos existentes decorrentes da agregação ou não do Centro de Dia a outra estrutura (ou estruturas) já existente e em atividade. Em virtude disso, expomos como modelos de funcionamento de Centro de Dia em Portugal os seguintes: o Centro de Dia “Isolado”, o Centro de Dia “Agrupado” e o mais recente o modelo de Centro de Dia para “Doentes de Alzheimer”. Este último modelo nasce como resultado do trabalho desenvolvido pela Alzheimer Portugal que, em 2003, implementa o primeiro Centro de Dia dirigido unicamente para pessoas com demência (Alzheimer Portugal, 2009). Um estudo efetuado pelo Instituto da Segurança Social, IP (Gil & Mendes, 2005), sobre a situação social dos doentes de Alzheimer em Portugal, revela que a população auscultada considera haver uma total desadequação das estruturas existentes (entre as quais o Centro de Dia) às particularidades da demência, reforçando, deste modo, o movimento associativo responsável pela promoção e desenvolvimento da resposta social direcionada para a demência.

Serviços disponibilizados pelo Centro de Dia aos utentes No desenvolvimento inicial do Centro de Dia, a resposta social disponibiliza uma diversidade de serviços que foram sendo ajustados e readaptados ao longo da sua implantação e desenvolvimento. O manual de instalação (Serdi, 1975) integra como áreas de apoio a prestar pelo centro as seguintes: tempos livres e convívio, alimentação, ocupação, balneário, tratamento de roupa, cuidados de saúde, ajuda doméstica e preparação para a reforma. Os serviços referidos poderão ser desenvolvidos nas instalações da resposta social, no domicílio dos utentes ou em outras estruturas presentes na comunidade em que está integrado. O serviço de alimentação divide-se em três vertentes de apoio das quais fazem parte o fornecimento de refeições confecionadas em local adequado (inclui instalações do centro ou outras existentes na comunidade); fornecimento de refeições confecionadas no domicílio; e a distribuição de géneros alimentares aos utilizadores. O serviço de balneário engloba, para além da higiene corporal, os cuidados de mãos, pés e cabelos, podendo ser


6 | Espaço ERPIS

integrado o seu funcionamento em estruturas da comunidade. O serviço de saúde, prestado por estrutura implantada na comunidade, assenta a sua intervenção nas áreas preventivas, curativas e de reabilitação, podendo a intervenção ser extensível ao domicílio dos utentes. O serviço de auxílio doméstico efetua-se no domicílio dos utentes e inclui as seguintes tarefas: higiene e conforto, trabalhos de limpeza e arrumação, aquisição de géneros alimentícios e/ou outros artigos, preparação de refeições e tratamento de roupa (desenvolvido nas instalações do Centro de Dia, estrutura da comunidade). Salientamos por fim, que o documento de criação e instauração do Centro de Dia pressupõe, ainda, uma flexibilização no desenvolvimento e planeamento da resposta e dos serviços disponibilizados de acordo com as solicitações dos utentes. De acordo com Quaresma (1996) foi realizada em Portugal uma primeira avaliação referente à resposta social que incidiu sobre a relação entre os serviços disponibilizados pelo Centro de Dia e as necessidades sentidas pelos indivíduos que o frequentam. Esta avaliação permitiu verificar o elevado grau de satisfação dos utilizadores, o reconhecimento dos serviços mais importantes e úteis desenvolvidos pela resposta (refeição, lavandaria e apoio ao domicílio). Marcadamente de âmbito social, o Centro de Dia contemporâneo, em Portugal, tende a disponibilizar (Bonfim e Saraiva, 1996) como serviços base: refeições, convívio/ocupação, cuidados de higiene, tratamento de roupa e férias organizadas. No entanto, a oferta tende a depender de fatores externos, como por exemplo, os centros localizados em meios rurais dispõem de um orçamento mais reduzido e, consequentemente, menos pessoal e atividades; por sua vez o Centro de Dia implantado em centro urbano é condicionado pela área em que se insere e pela possibilidade de trabalhar com parceiros (Martin et al., 2007). Neste âmbito, Quaresma (1996) considera que a implantação da resposta social deverá ter em consideração a área de localização e a população a quem se dirige. Deste modo, considera relevante a localização dos centros em áreas onde a densidade da população idosa seja significativa e, tal como defendem os estudos internacionais, salienta a necessária análise das especificidades da população a ser apoiada pela resposta.

Ocupação de idosos em período diurno em Centro de Dia A integração dos indivíduos em contexto institucional conduz inevitavelmente a uma alteração na sua rotina pessoal. As instituições disponibilizam aos seus utentes uma panóplia de serviços diários que permitem aos indivíduos e suas famílias a satisfação das suas necessidades através da prestação dos mesmos. Tal como referenciámos anteriormente o modelo de Centro de Dia português disponibiliza aos seus utentes refeições, cuidados de higiene, tratamento de roupa, férias organizadas e convívio/ocupação (Bonfim e Saraiva, 1996). No que concerne à ocupação em Centro de Dia, a promoção de atividades apre-

© millionairessaying

senta-se como tema central do presente trabalho, uma vez que de acordo com a experiência empírica dos autores, a ocupação oferece aos idosos oportunidades de participação em diversas atividades com diferentes objetivos. Permitindo, deste modo, aos utentes da resposta social que, durante período de utilização da mesma, estejam integrados numa dinâmica individual ou numa coletiva. Esta operacionaliza-se através da realização de atividades diárias prazenteiras e que contribuam para o bem-estar do idoso. Neste âmbito, de acordo com Martins (2010), sobretudo na Terceira Idade há a necessidade de manutenção dos interesses ocupacionais dos indivíduos, assim como, o aumento das atividades recreativas de modo a que se ocupe na totalidade o tempo, tornando esta fase da vida satisfatória e produtiva. Os programas de ocupação promovidos em ambiente institucional vão de encontro a este pressuposto uma vez que, permitem, no nosso entender, o desenvolvimento de ações de cariz recreativo, educativo, cultural e social dirigidas aos utilizadores. Benet (2002) ao analisar as atividades socioculturais desenvolvidas num Centro de Dia verificou que estas se limitavam a oficinas de trabalhos manuais, jogos de mesa e celebrações festivas. Neste sentido, o mesmo autor, destaca na sua investigação a necessidade de mudança nesta área de intervenção, considerando pertinente que a dinamização de atividades pelos utentes, contemple uma avaliação dos interesses dos mesmos, as aspirações e capacidades dos indivíduos.

Referências bibliográficas 1.

2.

Alzheimer Portugal. (2009). Plano Nacional de Intervenção Alzheimer: Trabalho Preparatório para a conferência Doença de Alzheimer: Que Políticas?. Lisboa. Arrazola, F.J., Méndez, A. U. & Lezaun, J. J. (2003). Centros de Día: Atención e Intervención Integral para Personas e Mayores Dependientes e con Deterioro Cognitivo. Departamento de Servicios Sociales: Fundación Natía Gizartekintza.

3.

Benet, A. S. (2002). La dinamización sociocultural en los centros de día para mayores. Nuevas perspectivas en el trabajo socioeducativo con personas mayores. Educación social. Revista d’intervención socioeducativa, (22), 97-110. 4. Bonfim, C. J., Teles, M. A. C., Saraiva, M. E. & Cadete, M. H. (1996). A População Idosa, Análise e Perspectivas - A Problemática dos Cuidados Intra familiares. Lisboa: Direcção Geral da Acção Social - Núcleo de Documentação Técnica e Divulgação. 5. Bonfim, C. J. & Saraiva, M. E. (1996). Centro de Dia (Condições de localização, instalação e funcionamento). Lisboa: Direcção Geral de Acção Social. 6. Equipa Técnica do SERDI, Conselho Técnico criado por despacho do secretário de Estado da Segurança Social de 29/12/75. (1976). Centros de Dia. Serviço de Reabilitação e Protecção aos Diminuídos e Idosos. Lisboa. 7. Gil, A. & Mendes, A. (2005). Situação Social dos Doentes de Alzheimer: um estudo exploratório. Fundação Montepio Geral e Instituto da Segurança Social, I.P. 8. Martín, I., Gonçalves, D., Paúl, C. & Pinto, F. (2007). Políticas Sociais para a Terceira Idade. In A. R. Osório & F. C. Pinto (Eds.), As pessoas idosas - contexto social e intervenção educativa. Lisboa: Instituto Piaget Colecção Horizontes Pedagógicos. 9. Martins, R. (2010). Os Idosos e as Atividades de Lazer. Educação Ciência e Tecnologia, Revista do ISPV, (38), 243-251. Retrieved from www.ipv.pt/millenium 10. Quaresma, M. L. (1996). Cuidados Familiares às Pessoas muito Idosas. Lisboa: Direcção Geral da Acção Social - Núcleo de Documentação Técnica e Divulgação. 11. Rodriguez, M. T. M. & Rodriguez, P. (2007). Centro de Día para Personas Mayores con Dependencias. Gobierno del Principado das Asturias e Consejería de Asuntos Sociales.


Espaço Associação Nacional de Cuidadores Informais | 7

Cuidar de quem cuida

Isabel Marques Representante no Norte da ANCI

“É urgente capacitar o Cuidador e que o descanso do Cuidador seja uma realidade.”

A Associação Nacional de Cuidadores Informais – Panóplia de Heróis (ANCI) registada em 13 de junho de 2018 é fruto da luta de muitos Cuidadores Informais, unidos por uma causa: dar voz e dignificar o Cuidador Informal. Num espaço de pouco mais de dois anos fizeram-se encontros a nível nacional onde se foram dando passos importantes de proximidade com a sociedade civil e política. Por várias vezes viemos para a rua, cuidadores e ex-cuidadores, familiares e amigos de pessoas das mais diversas patologias, alertar para esta realidade. A 12 de outubro de 2016, um grupo de Cuidadores Informais entregou a petição pela criação do Estatuto do Cuidador Informal, com cerca de 14 000 assinaturas online e em papel. Existem em Portugal cerca de 800 000 Cuidadores Informais. Homens e mulheres que se dedicam a tempo inteiro, ou parcialmente, a cuidar de um familiar ou vizinho que por situação de doença crónica, deficiência ou dependência, depende de outro para as suas tarefas diárias. Em Portugal estima-se que esse trabalho não reconhecido possa rondar os 4 mil milhões de euros em cada ano. Diariamente deparamo-nos com situações de alta hospitalar e os Cuidadores ficam sem resposta para uma situação de dependência. Muitos optam por pedir baixa médica e em muitos casos deixam mesmo de trabalhar. A questão que colocamos: será mais barato pagar a baixa médica destes Cuidadores ou dar-lhes condições para que os mesmos possam conciliar o emprego com a prestação de cuidados? Outra dificuldade é a falta de conhecimento técnico (principalmente no caso de idosos) para lidar com as alterações da vida diária da pessoa dependente. Uma situação de dependência pode prolongar-se no tempo o que leva ao desgaste físico, psicológico, social e, o mais preocupante, à pobreza das famílias. Realidade que já constatamos afetar muitas famílias que entram em contacto com a Associação. É urgente capacitar o Cuidador e que o descanso do Cuidador seja uma realidade. No passado dia 8 de março o Estatuto do Cuidador Informal esteve em debate na reunião plenária. Nas iniciativas legislativas sobre o Estatuto do Cuidador Informal a Proposta de Lei 186/XIII (Governo) estabelece medidas de apoio ao Cuidador Informal e regula os direitos e os deveres do Cuidador e da pessoa cuidada. Todas estas medidas não são o que a ANCI pretende. Defendemos a criação de um Estatuto que proteja e dê condições a cada Cuidador Informal que se debate no seu dia a dia com situações de pobreza, limitações ao nível de respostas para melhor cuidar e que o desgaste físico e psicológico não seja o estado normal daqueles que cuidam. Em entrevista à Rádio Renascença no passado dia 16 de março, Sofia Figueiredo, Presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais, defende que “a proposta do Governo está aquém das expectativas e das necessidades, desde logo porque não contempla a criação de um Estatuto do Cuidador Informal porque só um Estatuto poderia prever intervenções nas três áreas em que é preciso atuar: saúde, segurança social e área laboral”. No entanto, diz Sofia Figueiredo, a proposta do executivo de António

Costa “prevê apenas medidas avulsas” que numa primeira fase apenas serão aplicadas em projectos-piloto que vão abranger 15% do território nacional. “Nós não concordamos com os projectos-pilotos”, diz Sofia Figueiredo. A Presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais defende ainda que “o Governo devia começar por criar medidas de protecção laboral dos Cuidadores Informais” e não levar o assunto à concertação social, onde os cuidadores nem sequer estão representados. Há ainda os projetos dos outros partidos em que o BE, o CDS-PP e PSD que preveem a criação de um Estatuto. Na opinião da associação estão em falta medidas que deveriam ser acrescentadas ao conjunto de medidas da proposta de lei: “Para a associação seria importante um Estatuto e não medidas de apoio. Deve constar na proposta do governo o descanso do Cuidador no domicílio. A flexibilidade, redução de horário e recurso ao teletrabalho. A atribuição de licenças de emergência aos cuidadores sem perda de remuneração. Seria importante também que, para utilizar o descanso do Cuidador na Rede Nacional Cuidados Continuados, reformulassem a forma de cálculo. Actualmente são contabilizados os rendimentos do agregado familiar e não são contabilizadas as despesas desse mesmo agregado”, afirma a Presidente da ANCI. Enquanto isso, a ANCI continuará a promover diversas iniciativas sempre com o objectivo de chamar atenção da Sociedade Civil e Política para as carências de vida dos Cuidadores Informais. Temos também Gabinetes de Apoio ao Cuidador Informal (para já na Amora e no Barreiro), para esclarecer, encaminhar e dar o apoio que está nas nossas mãos. Contamos que em breve possamos estar, também, ao dispor noutros espaços, em diferentes zonas do país. A ANCI tem um lema “Cuidar com amor, qualidade e conhecimento”. Para tal queremos divulgar o papel do Cuidador Informal junto das populações, queremos fazer chegar a todo o país, conhecimento e apoio, para que não se sintam tão sós. Queremos um Estatuto do Cuidador Informal!


8 | Espaço Associação Coração Amarelo

Associação Coração Amarelo Inicia uma parceria com a revista Dignus A Associação Coração Amarelo - Delegação de Lisboa inicia no presente ano uma parceria com a revista Dignus. Esperamos que seja frutuosa e contribua para enriquecer e entreter os leitores a quem faremos companhia em todas as edições!

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Sandra Mourinha Presidente da Delegação de Lisboa da Associação Coração Amarelo

Procuraremos trazer temáticas que venham ao encontro das expetativas dos leitores, na esfera de intervenção social em voluntariado junto da população idosa. A missão da Associação Coração Amarelo (ACA) é apoiar e acompanhar pessoas idosas que se encontrem em situação de solidão e/ou isolamento, ou em risco de virem a estar. Sendo uma entidade enquadradora de voluntariado, assegura esta missão através da ação de voluntários, os quais se deslocam ao local de residência das pessoas apoiadas, seja em domicílio ou em estruturas residenciais para pessoas idosas, com os objetivos de fazer companhia, conversar e ouvir. Algo tão difícil nos dias que correm! O objetivo que move a organização de uma resposta social em voluntariado visa potenciar um processo de envelhecimento ativo e participativo da população apoiada, através da ação de voluntários formados, enquadrados, acompanhados e supervisionados por uma equipa de profissionais, nomeadamente:

“Convidamos, por fim, os leitores a visitar o website da instituição (...) e quem sabe, a juntarem-se à nossa causa!”

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Concretizar a finalidade do exercício do voluntariado; Enquadrar, com recurso ao trabalho de profissionais, o voluntariado; Confirmar o voluntariado como resposta social; Contribuir para o bem-estar da população idosa apoiada, procurando satisfazer as suas necessidades em termos emocionais e socio-relacionais; Desenvolver um trabalho de parceria com entidades da área da saúde e da ação social com vista à construção de respostas integradas e diferenciadas; Apostar na formação contínua dos voluntários assim como no enquadramento, acompanhamento e supervisão da sua ação, com vista à diferenciação da resposta, tendo em conta as necessidades específicas de cada pessoa apoiada.

Acreditamos que a intervenção social só pode acontecer quando está devidamente enquadrada e supervisionada por profissionais experimentados e que se dediquem a sua atuação, em exclusivo, ao planeamento desta resposta. No âmbito do trabalho em rede têm vindo a verificar-se o reconhecimento e valorização, de forma crescente, da complementaridade do voluntariado como resposta a outras formas de intervenção social. A intervenção junto da população idosa, num contexto de contínuas mudanças sociais e tecnológicas que, muitas vezes, desencadeiam desajustamentos nas formas de estar e/ou fazer habituais, impõe a definição clara dos limites de atuação do voluntário numa dupla perspetiva: por um lado, a promoção da autonomia da população idosa, compreendendo a necessidade desta manter uma atividade socio-relacional e de assim, se mitigarem os efeitos de desadaptações sociais; por outro, a assunção de que o voluntário da ACA atua numa esfera muito específica mas absolutamente determinante para a definição de uma intervenção que perspetive a satisfação de diferentes níveis de necessidades do ser humano, conforme Maslow definiu há mais de um século através da, por todos conhecida, “Teoria da Hierarquia das Necessidades” (1973). Convidamos, por fim, os leitores a visitar o website da instituição de modo a conhecerem melhor a ação desenvolvida, e quem sabe, a juntarem-se à nossa causa!


Espaço RUTIS | 9

Universidades Seniores O impacto na vida dos mais velhos

Luís Jacob Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Bragança e Presidente da RUTIS

Com o atual e progressivo envelhecimento da população no ocidente (no qual Portugal não é exceção), o aumento da esperança de vida e o crescente interesse dos seniores pela educação ao longo da vida, surgiu a urgência de criar um modelo teórico e educativo específico para os adultos mais velhos, em que a objetivo profissional não é o mais importante. Surgem as ideias da gerontopedagogia ou da gerontologia educativa, conforme os autores. Segundo Osório, “o propósito [da gerontologia educativa] é prevenir o declínio prematuro, facilitar o desenvolvimento de papéis significativos para as pessoas seniores, fomentar o desenvolvimento psicológico, de modo a prolongar a saúde e os anos produtivos e aumentar a qualidade de vida das pessoas seniores” (2005, p. 280). A gerontopedagogia visa a conceção e desenvolvimento de modelos e programas de educação, estimulação, enriquecimento pessoal, formação e instrução dirigidos aos maiores de 55 anos. A educação para idosos tem sido objeto de várias investigações e presentemente são aceites duas teorias complementares: uma que concebe a educação como estratégia de “socioterapia”, promovendo e estimulando a integração social (e nesse caso a educação é um instrumento de promoção e integração social), sendo a segunda perspetiva a que entende um envelhecimento melhor para aqueles que mantêm a mente ativa através de atividades educativas. Nesta visão, a educação é simultaneamente uma espécie de ginástica mental, que evita o deterioramento das capacidades cognitivas e um instrumento para aquisição de novos conhecimentos. Entre a educação para adultos e a educação para idosos, há significativas diferenças, como os objetivos e a motivação (mais profissional e qualificativa nos adultos, mais lúdica e prazenteira nos idosos), a duração das aulas ou cursos e os métodos a utilizar. Neste envolvente surgem as Universidades Seniores (US), que são um exemplo maior de cidadania, formação, inclusão social, voluntariado, conhecimento, aprendizagem e desenvolvimento comunitário. Existiam em dezembro de 2017 em Portugal 326 US registadas na RUTIS (Associação Rede de Universidades da Terceira Idade), segundo o website da CASES, e perto de 50 000 alunos e 5500 professores voluntários. As Universidades Seniores surgiram em 1972 em França como movimento específico de ensino para os seniores na Universidade de Toulouse, com Pierre Vellas (médico e investigador, 1930-2005). O modelo rapidamente cresceu e chegou a outros países que o adaptaram à sua realidade. Atualmente há dois grandes modelos de or-

ganização das US: o modelo francês e o modelo inglês. O modelo francês associa as US às universidades formais, enquanto o modelo britânico desenvolveu-se tendo por base o voluntariado, as associações sem fins lucrativos ou grupos auto-organizados. Além destes dois grandes modelos existem vários modelos mistos e com pequenas variantes. As Universidades da Terceira Idade ou US são as “respostas socioeducativas que visam criar e dinamizar regularmente atividades nas áreas sociais, culturais, do conhecimento, do saber e de convívio, a partir dos 50 anos de idade, prosseguidas por entidades públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos”, segundo a Resolução do Conselho de Ministros 76/2016). Em abril de 2016 no protocolo entre a RUTIS e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social pode-se ler o seguinte texto esclarecedor da importância das US: “Os resultados da ação das Universidades e Academias Sénior são inquestionáveis quanto ao bem-estar que propiciam, quer no reforço das perspetivas de inserção e participação social, quer na melhoria das condições e qualidade de vida das pessoas que as frequentam. Verifica-se igualmente que a frequência destas estruturas tem impacto na alteração dos modos de vida, proporcionando benefícios a vários níveis: aumento dos conhecimentos adquiridos, nomeadamente através do aumento da cultura geral e da perceção da melhoria contínua das capacidades de aprendizagem, assim como da promoção de estilos de vida saudáveis, através da prática de exercício físico e de hábitos de alimentação equilibrada.


10 | Espaço RUTIS

As mais-valias não se situam apenas na manutenção de atividades de índole intelectual e física e na aquisição do conhecimento em si mesma, mas é, igualmente, primordial o seu cariz de sociabilização e de manutenção de contactos sociais. Se, por um lado, os estímulos à capacidade de aprendizagem e de participação podem contribuir para a sociedade se distanciar de alguns estereótipos e imagens negativas atribuídas ao envelhecimento e à velhice, por outro lado, e do ponto de vista individual, ajudam a perspetivar projetos e objetivos futuros, promovendo, assim, o aumento da esperança de vida com qualidade e dignidade”. “As Universidades Seniores proporcionam regularmente aulas, palestras, eventos e roteiros culturais, oficinas temáticas, tertúlias, sessões de divulgação e informação, rastreios, ações de voluntariado e solidariedade, espetáculos, jogos florais, concursos, seminários, jornadas intergeracionais e visitas a museus, teatros e monumentos a todos os seniores interessados, independentemente do seu nível académico, económico ou social” (Luís Jacob, 2017). Vários estudos científicos e académicos demonstram e confirmam que frequentar uma US aumenta a qualidade de vida dos seus frequentadores, melhora o seu estado geral de saúde, diminui os sentimentos de depressão e isolamento, diminui o consumo de medicamentos e aumenta a inserção social (ver Jacob, 2009; Jesus, 2010; Pocinho, 2015 ou Rebelo, 2016). Ou confirmadas num estudo mais recente de Luís Jacob (2019) baseado num inquérito aplicado a 1016 alunos seniores em todo o país, em modo de preenchimento presencial e digital, no qual se utilizou um inquérito de perguntas fechadas e a escala de depressão geriátrica com 15 itens (GDS15). Através deste estudo concluiu-se que as US em Portugal são frequentadas essencialmente por mulheres, entre os 65-75 anos, reformadas ou domésticas, casadas, de todos os extratos socioeconómicos e de graus de habilitações diversos. Frequentam em média quatro disciplinas

semanalmente e vão três dias por semana à US. Ao nível das habilitações académicas e capacidade financeira os alunos são muito heterogéneos. O maior número de alunos tem o 5.º e 7.º ano e entre o 10.º e 12.º ano. No caso dos rendimentos pessoais mensais as maiores percentagens vão para os rendimentos entre os 700 e 900 euros. A influência positiva destas organizações na vida dos seniores é notória. Encontrou-se uma melhoria da perceção do estado de saúde físico e mental dos alunos, o número de contactos sociais aumentou e consequentemente o sentimento de solidão diminuiu; houve uma redução da medicação antidepressiva tomada; os níveis de depressão são substancialmente mais baixos do que a população em geral; aumentou o nível de conhecimentos; a autoestima subiu e os alunos sentem-se mais ativos e inseridos na comunidade. Outro dado, muito importante, retirado do inquérito foi o aumento nos conhecimentos de informática e a diminuição da iliteracia digital.

3.

Quadro 1. Evolução dos conhecimentos de informática

9.

4.

5.

6. 7.

8.

nos alunos seniores em Portugal.

Conhecimentos de informática

Portugal

10.

ANTES de frequentar as US: Nenhuns conhecimentos

19,8%

Poucos conhecimentos

18,8%

Alguns conhecimentos

46,5%

Bons conhecimentos

14,9%

11.

12.

DEPOIS de frequentar as US: Nenhuns conhecimentos

6,3%

Poucos conhecimentos

15,6%

Alguns conhecimentos

52%

Bons conhecimentos

26%

13.

Referências bibliográficas 1. 2.

Almeida, Isabel (2009), Trabalho em Pedagogia da Formação de Adultos, Universidade Aberta. CASES, Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, www.cases.pt.

14.

15. 16.

17. 18.

19.

20. 21. 22.

Florindo, Graça, (2008), Transição para a reforma no concelho de Évora: Assimetrias sócio-educativas entre urbanidade e ruralidade, dissertação de Mestrado em Educação na FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Jacob, Luis (2019), Universidades Seniores: Contributos para uma vida melhor, Programa de doutoramento em Formação na Sociedade do Conhecimento da Universidade de Salamanca. Jacob, Luis (2018), A formação para seniores in Felicidade 100 idade, Edição APPEAS, pp 54-69. Jacob, Luis (2012), Universidades Seniores: Criar novos projectos de Vida, Edição RUTIS Jacob, Luis et all (2012), Perfil dos Professores das Universidades da Terceira Idade, Estudo realizado pela RUTIS. Jesus, A. (2010), A importância da universidade sénior na qualidade de vida e solidão dos seniores em Gondomar, dissertação de Mestrado em Gerontologia Social do Instituto Superior de Serviço Social do Porto. Melo, António; Federighi, Paolo (1999), Glossário de Educação de adultos na Europa, Associação Europeia para a Educação de Adultos. Neto, Arthur, (2010), Da vida laboral à reforma: Expectativas de ocupação, Tese de Doutoramento da Universidade Portucalense Infante D. Henrique. Osório, Agustin (2005). Educação Permanente e educação de adultos. Horizontes pedagógicos. Edições Piaget. Petró, Vanessa (2012), O programa Maiores de 23 na Universidade de Lisboa: Análise do perfil dos candidatos, Universidade de Lisboa. Pires, Ana (2002), Educação e formação ao longo da vida: Análise crítica aos sistemas e dispositivos de reconhecimento e validação de aprendizagens e competências, Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Educação, pela Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia. Pocinho, Ricardo (2015), Seniores em contexto de aprendizagem: caracterização e efeitos psicológicos nos alunos das Universidades Seniores em Portugal, Euedito. Protocolo entre a RUTIS e o MSTSS de Abril de 2016. Rebelo, Bruno (2016), Universidades Seniores, uma visão sobre o envelhecimento activo, Livpsic. RUTIS Gestão, Programa de Gestão de US disponível em www.gestaoutis.eu. Silva, N. (2016), Educação na Terceira Idade: inclusão social e inovação pedagógica na Universidade. Aracaju. Editora Edise. Silvestre, Carlos (2011). Educação e formação de adultos e idosos: Uma nova oportunidade. Horizontes Pedagógicos. Editora Piaget. Simões, António (2006), A nova velhice, Edição Âmbar. UNESCO (2010), Relatório global sobre aprendizagem e formação de adultos, Hamburgo. UNESCO e ONU, documentos diversos.


A Voz de | 11

Caregivers Portugal Fundador e Presidente da Caregivers Portugal

A

Caregivers Portugal, Associação Portuguesa de Cuidadores foi criada com o objetivo principal de representar os cuidadores e cuidadoras, de se bater pela criação de uma carreira profissional que reconheça a especificidade técnica e humanística destes profissionais e lutar por tabelas remuneratórias justas que os retribuam de acordo com as suas elevadas responsabilidades e competências profissionais. Convém clarificar que se entende por cuidador pessoal alguém que ajuda outrem, privado parcial ou totalmente de autonomia nas suas atividades de vida diária. Os cuidadores podem ser familiares que não auferem remuneração, ou profissionais remunerados e, dentre estes, os que possuem qualificações específicas considerados formais, e os que cuidam de alguém sem possuírem qualificações, embora possam ter mais ou menos experiência, designados informais. É sabido que esta caraterização não gera unanimidade e que há autores que utilizam outros critérios para definir categorias de cuidadores. No quadro cada vez mais profissionalizado em que se tem de agir, e tendo em consideração a necessidade de clarificar o exercício desta atividade progressivamente a evoluir para uma verdadeira profissão, é esta a nossa aposta, e é neste sentido definidor de um novo enquadramento do exercício da atividade de cuidador/a pessoal que a Caregivers Portugal orienta a sua ação. À semelhança de muitas outras profissões que há décadas exigiam baixos níveis de formação e cujos profissionais eram muito mal remunerados, e

José Manuel Silva

pagandistas das causas sociais fraturantes que se pode não falar até de família, no singular, mas tanto quanto se alcança, é difícil imaginar sociedades sem famílias como já hoje as conhecemos, em que os meus, os teus e os nossos, configuram modelos diferenciadores, nem melhores nem piores, apenas diferentes de um passado mais padronizador. Acresce que falar em cuidadores familiares diminui o impacto da exigência remuneratória, pois todos aceitam, ou quase todos, para sermos mais rigorosos, que as famílias têm obrigação de cuidar dos seus filhos, dos seus doentes, dos seus idosos, dentro de certos limites, naturalmente, e de acordo com o modelo e condições concretas de desenvolvimento de cada sociedade. Para a economia do processo importa que o debate se clarifique, se desmistifiquem ideias que não têm qualquer suporte na realidade e se afronte o problema, porque de facto existe um gravíssimo problema social em torno da prestação dos cuidados pessoais, sendo urgente conferir aos cuidadores familiares apoios que lhes são devidos por um Estado Social. Nesta matéria este falha em toda a linha, reconhecendo também às famílias que não têm meios ou condições para tratar dos seus entes queridos o direito a beneficiarem de apoios que lhes permitam remunerar cuidadores contratados para o efeito, assim se legislando no sentido da criação de um Estatuto dos Cuidados Pessoais Familiares e não dos Cuidadores Informais. Esta medida teria amplas repercussões sociais e económicas, tanto mais que constituiria um sinal concreto de que à institucionalização rotineira de quem precisa e de quem é forçado, se estaria a optar por formas financeiramente mais flexíveis e de uma humanidade incomparavelmente superior. Relativamente aos cuidadores profissionais só se antevê uma solução justa e digna, a criação de um Estatuto de Carreira que enquadre esta atividade profissional, defina as qualificações que os diversos patamares da mesma exigem e os níveis remuneratórios aplicáveis. Evidentemente que medidas como as que se preconizam, pelos impactos pessoais, sociais e financeiros que determinam, necessitam sempre de períodos de adaptação e de medidas complementares de apoio à adoção de novos padrões organizacionais, mas não se duvida de que o caminho será por aqui e que quanto mais cedo se começar a percorrer, melhor para todos. A Caregivers Portugal quer ser parceira neste processo, contribuindo para um debate aberto e descomprometido relativamente a ideologias e for-

que hoje se impõem a administrações e governos, a profissão de cuidadores pessoais, pela missão que lhes está cometida e pela crescente exigência de quem é objeto de cuidados em ser tratado por profissionais cada vez mais qualificados, tende a transformar-se numa profissão com elevados níveis de qualificações técnicas e humanas, a que terão de corresponder níveis remuneratórios crescentemente elevados. É esta a realidade que se esconde por detrás de uma aparente anomia relativamente a encarar de frente um problema que não tardará a agitar a opinião pública e a provocar um incalculável impacto em muitas organizações e instituições, bastando apenas que a evolução rápida da situação portuguesa em matéria de cuidados pessoais alcance o nível de exigência que outras sociedades mais desenvolvidas já conhecem para esta questão se tornar imparável. Quanto aos chamados informais, registe-se que se foge a falar de cuidadores familiares, que serão a maioria, usando-se aqui o condicional “(...) todos aceitam, ou quase todos, para sermos por ninguém ter números mais rigorosos, que as famílias têm obrigação fiáveis, sendo razão basde cuidar dos seus filhos, dos seus doentes, tante o facto de um setor dos seus idosos, dentro de certos limites (...)” dos que se debruçam sobre esta matéria entender ças de pressão, alinhado com as melhores práticas que se deve desvalorizar o papel da família e reforinternacionais, fomentando a articulação entre o çar o do Estado. Para aqueles, a família parece ser uma abencer- ensino superior, os investigadores e os profissionais ragem do passado, uma tralha a aguardar recicla- e reforçando a massa crítica desta área técnicogem ou mesmo aterro, não ocorrendo a esses pro- -científica em desenvolvimento.


12 | A Voz de

(Trans)formação dos SURùVVLRQDLV QD £UHD do envelhecimento Desafios e oportunidades Professora e consultora na área do Serviço Social e da Gerontologia Social

A

pesar das crescentes transformações sociodemográficas a que assistimos, a intervenção na área do envelhecimento tem vindo a ser negligenciada a vários níveis. A atualidade tem sido marcada pelo aumento e complexidade dos problemas sociais e pela escassez de recursos na resposta às necessidades dos cidadãos. Neste contexto, a intervenção profissional é cada vez mais orientada para uma gestão por objetivos e para o controlo das atividades desenvolvidas sob o lema da eficiência e da eficácia. As organizações tuteladas pelo Estado com utilizadores de serviços cada vez mais exigentes, são, neste contexto, confrontadas com vários dilemas a que têm de responder continuamente, como por exemplo: atender às necessidades emergentes com recursos escassos;

Carla Ribeirinho

promover a melhoria dos processos de trabalho e a qualidade das respostas; a participação dos utilizadores nas decisões e a qualificação dos profissionais. É neste cenário que faz sentido refletir sobre a importância da (trans)formação dos profissionais na área do envelhecimento. Abordar o tema da importância da formação dos profissionais que trabalham com pessoas idosas, implica partir da aceção de que se trata de um território de intervenção com grande exigência ao nível dos conhecimentos, da ética, dos direitos, das metodologias e das técnicas. Prestar cuidados a uma pessoa idosa em situação de doença e/ou dependência representa um grande desafio para os cuidadores quer sejam

informais, quer sejam formais. Ocupamo-nos aqui especialmente dos Cuidadores Formais, embora possam existir aspectos generalizáveis a ambas as situações1. Cuidar envolve esforço mental, físico e psicológico e prestar cuidados a uma pessoa idosa, embora possa envolver emoções positivas, transforma-se, não raras vezes, numa tarefa complexa, podendo gerar sentimentos de angústia, insegurança e desânimo. Além de ter de saber lidar com o processo de envelhecimento e suas especificidades, o cuidador tem de conviver com a subjetividade associada às relações humanas (Ribeiro et al., 2008). A pessoa idosa tem uma determinada personalidade, forma de estar/ver o mundo, história de vida, valores, cultura, expetativas, sendo o processo de prestação de cuidados dinâmico e complexo. São, desta forma, requeridos conhecimentos e capacidades ao profissional, para satisfazer as necessidades que podem ir das mais básicas às instrumentais da vida diária da pessoa idosa. O Cuidador Formal é um profissional a quem se exigem competências, desde as mais elementares, como o conhecer as necessidades da pessoa idosa, saber distingui-las, saber lidar com doenças e seus sintomas cognitivos ou problemas sociais, de personalidade ou de ordem familiar e contextual (Sequeira, 2010). Para além do apoio na realização de actividades diárias básicas, como a higiene e a alimentação, as pessoas idosas podem ainda necessitar de assistência específica ao nível da saúde e requerer recuperação/ reabilitação, encontrarem-se em fases terminais de uma doença, ou então, sofrer de múltiplas condições crónicas, deficiências cognitivas e funcionais, entre outras (Spilsbury, et al., 2011). Neste sentido, a prestação de cuidados requer organização e esforço contínuo do cuidador, determinadas competências e qualidades. Ao assumir a responsabilidade pelos cuidados, o profissional frequentemente depara-se com dificuldades e situações constrangedoras ou de tensão que lhe podem provocar algum desconforto, desgaste e mal-estar. Neste sentido, é essencial uma formação técnica que abranja aspetos teóricos, humanos e éticos, a par de uma sólida e diferenciada formação humana. De fato, a formação é essencial para que os profissionais atualizem os conhecimentos adquiridos por via da sua formação inicial ou experiencial. Com a formação, os profissionais aprendem a desenvolver novos conhecimentos e competências, para fazer face a um contexto cada vez mais complexo e exigente no qual a inovação e criatividade e a necessidade de mudança são uma constante. Todos os profissionais que trabalham neste campo devem, assim, ter uma elevada preocupa-

1

A designação cuidadores formais habitualmente, integra diversos profissionais, desde os devidamente qualificados - enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas diversos, entre outros - aos que não têm necessariamente uma formação específica para o desempenho deste papel.

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PUB

ção de atender às complexas e multidimensionais necessidades das pessoas idosas e/ou em situação de dependência, que variam nos seus requisitos de cuidado, assistência e tratamento. Por outro lado, a coexistência de exigentes condições de trabalho neste campo pode conduzir os profissionais a uma situação de exaustão física e emocional ou mesmo de burnout - síndroma de stress ocupacional que envolve o desenvolvimento de um auto conceito negativo, atitudes negativas em relação ao trabalho e uma diminuição ou perda de preocupação e sentimentos pelos utentes. Tal reside num desequilíbrio persistente entre as exigências e os recursos, ou quando existe um conflito entre o trabalho desenvolvido e os valores organizacionais. O burnout tem sido definido como uma reacção de exaustão, resultado de uma pressão emocional constante ou repetida, associada a um envolvimento intenso com pessoas, ao longo de um determinado período de tempo (Kadushin e Harkness, 2014). É, assim, indispensável, que as instituições prestem suporte emocional e forneçam (in)formação adequada aos profissionais com o objetivo de aumentar o seu desenvolvimento pessoal e profissional, e também aumentar a satisfação e o bem-estar dos utentes/clientes.

“Cuidar envolve esforço mental, físico e psicológico e prestar cuidados a uma pessoa idosa, embora possa envolver emoções positivas, transforma-se, não raras vezes, numa tarefa complexa, podendo gerar sentimentos de angústia, insegurança e desânimo. ”

Aos profissionais com responsabilidades de coordenação/gestão de equipas cuidadoras, sugere-se a implementação de medidas (trans)formativas que as ajudem a desenvolver estratégias de enfrentamento e superação das adversidades subjacentes à sua prática profissional diária. A este nível podemos considerar algumas áreas de especial atenção: I. manter a motivação dos profissionais através de estímulos permanentes ao desenvolvimento de uma boa prática profissional e à melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas; II. estimular a formação permanente dos profissionais; III. criar oportunidades de intercâmbio de experiências e conhecimentos entre profissionais internos e externos, para enriquecer as práticas institucionais (por exemplo comunidades de práticas ou grupos de intervisão/peer group); IV. desenvolver em todo o pessoal o sentimento de pertença e de responsabilidade no fazer profissional, através de técnicas de trabalho em equipa (González, 2003; Ribeirinho, 2013). Uma vez que, como vimos, os cuidadores são fortes candidatos a elevados níveis de stress e insatisfação laboral, devido à dependência e frequentes distúrbios comportamentais que acompanham algumas doenças, para além de muitos outros fatores já referenciados, têm vindo a ser desenvolvidos programas de formação para Cuidadores Formais de natureza diversa. Contudo, estes programas de formação centram-se frequentemente na informação e aquisição de conhecimentos e competências, desvalorizando (ou subvalorizando) os aspectos relacionais dos cuidados, bem como o stress e a sobrecarga emocional a que os profissionais são sujeitos (Barbosa, et al., 2011). A formação enquanto processo de aquisição e renovação de conhecimentos é um elemento fundamental para conseguir que os recursos humanos de uma instituição desenvolvam um trabalho de qualidade junto dos seus utentes. Para os trabalhadores permite melhorar a prestação dos cuidados e serviços, uma maior


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estabilidade, melhores relações interpessoais, diminuição de conflitos, melhorar a relação com os utentes, ou seja, uma maior qualidade global do seu trabalho. Para a instituição as vantagens da formação situam-se numa maior implicação do pessoal, maior coesão, melhor clima organizacional, aumento da responsabilidade pelo trabalho por parte de cada profissional, e, em suma, uma melhoria da qualidade geral na instituição (Ribeirinho, 2013). Neste sentido, postulamos a necessidade do desenvolvimento de programas que visem não só a promoção de conhecimentos e competências específicas no contexto dos cuidados, mas também para o desenvolvimento de estratégias que promovam o autocuidado, a gestão de stress e da sobrecarga emocional. Argumentamos que as pessoas são o mais importante recurso, o princípio e o fim dos serviços e instituições. Neste sentido, o desenvolvimento de competências das equipas de profissionais/cuidadores de pessoas idosas é umfator chave para o seu próprio bem-estar e qualidade de vida, dos destinatários do seu trabalho e para a qualidade global do trabalho da própria instituição. Não obstante, é frequente verificar-se um desajuste entre o que é exigido a estes profissionais e as condições de formação e de trabalho que as instituições lhes proporcionam. Apesar da imposição legal da existência de formação, muitas vezes o investimento na formação dos profissionais é ainda negligenciado. A participação em processos de formação contínua estimulantes e mais “formais” é fundamental, mas consideramos igualmente que os profissionais podem também adquirir saber(es) na experiência da partilha, da construção de críticas fundamentadas em relação com outros profissio-

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É preciso querer e poder traduzi-lo em ação. Defendemos que todos os espaços de formação em exercício se podem constituir como oportunidades de desenvolvimento profissional, o qual desempenha um importante papel para realizar um trabalho com eficiência e qualidade. Para tal, precisamos de nos preocupar em ajudar os profissionais a (re) aprender o que eles precisam de saber para que desempenhem o seu trabalho eficazmente. A “matéria-prima” é precisamente o desempenho do profissional, perspetivado de forma sistemática e crítica. Se educarmos o olhar neste sentido, o contexto de trabalho quotidiano pode constituir-se como um valioso espaço e tempo de produção e de recomposição de saberes, embora muitas vezes isto seja pouco valorizado como recurso pelos próprios profissionais e dirigentes (Ribeirinho, 2019).

“(...) é essencial uma formação técnica que abranja aspetos teóricos, humanos e éticos, a par de uma sólida e diferenciada formação humana.”

nais, proporcionados pela participação em espaços de supervisão, de trabalho em equipa e de trocas e aprendizagens com os outros agentes da intervenção. A supervisão, por exemplo, pode ser considerada um espaço de autoformação, na medida em que permite a reconfiguração dos saberes, a partir da interação dos conhecimentos prévios com os conhecimentos emergentes, resultantes da análise das situações e temas nela discutidos. Pode, igualmente, constituir-se como um espaço de formação, porque ao atualizar os referenciais (éticos, políticos, teóricos, metodológicos e pedagógicos) reformula e transforma os comportamentos e as atitudes pessoais e profissionais (Ribeirinho, 2019). Os profissionais não adquirem um conhecimento profissional apenas nas instituições formais universitárias, mas também no quotidiano, com o seu trabalho (training on the job).Por outro lado, não basta ter conhecimento.

A aposta na formação dos profissionais deve deixar de ser vista como uma atividade extra profissional e como uma perda de tempo e dinheiro, e cada vez mais ser encarada como investimentos com retorno na dignificação do trabalho no campo da Gerontologia. Investir na formação deve ser efetivamente percecionado como veículo de exigência e de excelência na valorização do capital humano e não confinar-se apenas ao cumprimento da legislação do código do trabalho em vigor (e por vezes nem isso). No contexto da intervenção na área da Gerontologia verificam-se, muitas vezes, técnicas de trabalho tomadas como certas e eficazes, mas que rapidamente se foram tornado obsoletas. É neste quadro que assume particular relevância a formação dos profissionais, essencial para que estes possam ter acesso a informação mais atualizada e adaptada às especificidades dos diferentes con-

textos de intervenção, bem como dos diferentes perfis de pessoas. Em suma, num contexto de intervenção tão complexo e multidesafiante, urge a criação de ambientes formativos estimulantes, analíticos, interpretativos, questionadores de mitos e preconceitos, críticos e reflexivos, os quais se consubstanciem como uma mais-valia diferenciadora e assumam um papel determinante no alavancar de uma intervenção com maior qualidade nesta área.

Referências bibliográficas 1. Barbosa, A. et al. (2011). Cuidar de idosos com demência em instituições: competências, dificuldades e necessidades percepcionadas pelos Cuidadores Formais. Psicologia, Saúde & Doenças, 12(1), 119-129. 2. Kadushin, A. e Harkness, D. (2014). Supervision in Social Work (5.ª ed.). New York: Columbia University Press. 3. Ribeirinho, C. (2013). Serviço Social gerontológico: Contextos e práticas profissionais in Carvalho, M., Serviço Social no Envelhecimento, Lisboa: Pactor, pp.177-200. 4. Ribeirinho, C. (2016). Gestão das emoções e afetos no cuidar: a supervisão emocional das equipas de cuidados in Moura, Cláudia (org.), Novas competências para novas exigências no cuidar, Porto, EUedito, pp. 219-234. 5. Ribeirinho, C. (2019). Supervisão Profissional em Serviço Social - Ao encontro de uma prática reflexiva, Lisboa, Pactor. 6. Ribeiro, M. et al. (2008). Profile of caregivers of elderly in long-term care institutions in Belo Horizonte-MG. Ciência & Saúde Coletiva, 13(4), 1285-1292. 7. Sequeira, C. (2010). Cuidar de idosos dependentes. Porto: Quarteto. 8. Spilsbury, K., et al, C. (2011). The relationship between nurse staffing and quality of care in nursing homes: a systematic review. International Journal of Nursing Studies, 48, p.732-750.



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© Florida Presbyterian Homes

Envelhecimento activo… (QYHOKHFLPHQWR VDXG£YHO Joana Rodrigues de Sousa Mestre em Ciências do Desporto – Actividade Física na Terceira Idade

O

s benefícios da actividade física nos idosos são, actualmente, bem conhecidos, ao nível da autonomia funcional, constrangimentos sociais, condição de saúde e qualidade de vida. Poderia citar inúmeros artigos científicos que corroboram o valor da actividade física para o bem-estar geral dos idosos, contudo, são as pequenas alterações no quotidiano desta população que fazem a diferença e aumentam exponencialmente os níveis diários de actividade física. De uma forma resumida, os conceitos de actividade física e exercício físico são distintos. Se por um lado a actividade física se refere a todo o movimento corporal que aumenta significativamente o gasto energético, quando nos referimos ao exercício físico temos de ter em atenção um plano de treino, com foco na intensidade, duração e frequência. Seria perfeito que todos os idosos cumprissem as directrizes e recomendações estipuladas em termos de intensidade, duração e frequência de um programa de exercício físico, mas essa não é a realidade. Pese embora já comecem a existir iniciativas e programas de exercício físico para esta população, ainda nos deparamos com um nível de sedentarismo elevado nesta faixa etária. A heterogeneidade desta população, os hábitos, as barreiras sociais e a condição de saúde, fazem com que apenas uma pequena parte desta

população realize exercício físico de forma eficaz para se alcançarem os objectivos do mesmo. Se pensarmos em idosos com autonomia reduzida, com excepção dos institucionalizados, o objectivo principal é aumentar os níveis de actividade física diária, numa tentativa de aumentar a mobilidade articular e diminuir a perda de massa muscular (sarcopenia). Sabemos que estes idosos passam a maior parte do tempo em casa e por esse motivo existem pequenas alterações que podem ser realizadas no sentido de aumentar os níveis de actividade física.

Figura 1

É tão simples e ao alcance de todos… É muito comum vermos esta disposição em casa dos nossos avós e/ou pais (Figuras 2 e 3). Objectos mais pesados a uma altura superior. Se por um lado é difícil alcançar o objecto pretendido, muitas das vezes os idosos recorrem a ajuda externa (netos, filhos, empregada doméstica, entre outros) para os alcançar. Desta forma, a probabilidade de realizarem movimentos acima da cabeça que promovem a lubrificação e movimento articular fica diminuída. Felizmente ainda temos avós que cozinham para os netos e/ou família. Assim sendo, devemos optar por colocar os objectos mais leves e quase obrigatoriamente utilizados no plano supe-

Figura 2

Nota: Texto escrito de acordo com a antiga ortografia


Dossier sobre Envelhecimento Ativo | 17

Figura 3

Pequenos passos fazem a diferença…

Figura 4

rior. Desta forma, pelo menos duas vezes por dia, terão de realizar movimentos articulares, no plano superior, para alcançar o que efectivamente necessitam e sem ajuda externa. As articulações degeneram com a idade e com o desuso. No idoso pouco movimento repetido ao longo do dia-a-dia apresenta-se de importância extrema para retardar o envelhecimento articular. Pequenas alterações no ambiente doméstico podem ter resultados incríveis no aumento da actividade física diária e consequentemente na autonomia funcional do idoso. A casa do idoso deve ser um ambiente seguro para que se possam deslocar sem receio. O uso de tapetes e as escadas são um perigo em indivíduos com dificuldade na locomoção. Devemos por isso retirar os obstáculos à locomoção do idoso e adaptar o ambiente doméstico à sua capacidade física e funcional. Estamos desta forma a aumentar o tempo em que o idoso está em movimento, de uma forma autónoma, dentro do seu próprio ambiente. Quando observamos um idoso a caminhar, verificamos uma postura curvada com os pés a arrastarem pelo solo. É necessário compreender que esta é a postura mais segura e confortável para esta população. A perda de tónus muscular no tronco faz com que a postura curvada seja a preferencial, dado que diminuindo o centro de

Figura 5

gravidade aumentamos a sensação de estabilidade e confiança. Por outro lado, quando caminhamos há uma fase da passada (ainda que muito rápida) em que apenas temos um apoio do pé no chão. Juntando à perda de massa muscular nos membros inferiores a diminuição do equilíbrio inerentes do processo de envelhecimento, facilmente nos apercebemos que “arrastar os pés” é a forma mais segura do idoso caminhar. É importante por isso eliminar ou alterar as barreiras existentes para evitar quedas e consequentes fraturas que são a principal causa de mortalidade e morbilidade no idoso. Muitos idosos têm um espaço exterior que poderão utilizar como forma de aumentar os níveis de actividade física diários, sair de dentro de casa e beneficiar do que a luz solar lhes pode oferecer de benéfico (por exemplo a vitamina D). Também o espaço exterior deve ser adaptado ao idoso. Actividades como a jardinagem e alimentar os animais são frequentes em idosos e uma forma excelente de aumentar a sua actividade física diária. Algumas estratégias podem ser utilizadas para que os idosos cuidem do jardim. Devemos colocar os vasos ao nível do peito e utilizar regadores que, além de serem mais leves, permitem que o idoso se desloque mais vezes para os ir encher, o que consequentemente aumenta o tempo em movimento.

Figura 6

Figura 7

Figura 8

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Sarcopenia Envelhecimento e exercícios físicos para uma longevidade mais saudável Docente na Universidade Brasil Ivan de Oliveira

O

processo de envelhecimento tornou-se um fenómeno mundial, sendo que nos próximos 40 anos o crescimento da população com mais de 60 anos será três vezes maior do que o atual, representando assim um quarto da população mundial projetada (OMS/2018). Assim sendo, o envelhecimento da população é uma realidade vivenciada em âmbito mundial, sendo um processo natural, irreversível e dinâmico, submergindo alterações físicas, comportamentais e psicológicas (XAVIER et al., 2011) que trazem alusões do ponto de vista social, médico e de políticas públicas, por exigirem uma preparação para o atendimento destes indivíduos acima de 60 anos (Paixão Junior; Rechenheim, 2005; Barros et al., 2010). Diante deste acontecimento, é “(...) nos próximos 40 anos o crescimento da de extrema importância população com mais de 60 anos será três o desenvolvimento de vezes maior do que a atual (...)” políticas públicas e privadas em todos os âmbitos que acolhem a população idosa, proporcionando assim, nesta fase tão importante da vida, um envelhecimento acolhedor e saudável, respeitando as suas caraterísticas psicofisiológicas. A associação das doenças crónicas e a diminuição das suas condições físicas neste período da vida, resulta numa redução e declínio das capacidades funcionais e independência do idoso (Nunciato; Pereira; Borghi-Silva, 2012). A capacidade funcional pode ser definida como habilidade para a realização de atividades que viabilizam o cuidado próprio e a vida independente,

© Rene Asmussen

por isso a perda da capacidade funcional está fortemente ligada à fragilidade e vulnerabilidade do envelhecer, uma vez que funções como cognição, mobilidade e comunicação são progressivamente comprometidas (Lisboa; Chianca, 2012). O envelhecimento e a diminuição da capacidade funcional estão ligados ao grupo de alterações do desenvolvimento que acontecem nos últimos anos de vida e está associado a alterações profundas na composição corporal. Com a idade, há um aumento na massa de gordura corporal, especialmente com o acumular de depósitos de gordura na cavidade abdominal, e uma diminuição da massa corporal magra. Essa diminuição ocorre basicamente como resultado das perdas da massa muscular esquelética. Essa perda, relacionada com a idade, foi denominada como “sarcopenia”. A sarcopenia estabelece os seus sintomas principalmente em indivíduos fisicamente inativos, mas também é vista em sujeitos que permanecem fisicamente ativos ao longo da sua vida. Com isso corroboram fatores pertinentes à saúde pública. Diversos autores verificaram que o exercício físico de força pode minimizar ou retardar o processo de sarcopenia por obter significantes respostas neuromusculares (hipertrofia muscular e força muscular), por meio do aumento da capacidade contrátil dos músculos esqueléticos (Hurley BF, Roth SM, 2010).


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O exercício físico de força mantém a autonomia e independência do idoso, diminuindo o risco de quedas, auferindo maior segurança para realizar as atividades da vida diária e auxiliando na manutenção de uma vida mais ativa do idoso na sociedade (Soccol; Pinto, 2009). Mulheres idosas e obesas foram divididas em quatro grupos: o primeiro participaria numa intervenção com treino de força (TF), o segundo com restrição calórica (RC), o terceiro com ambos (TF+RC) e o quarto foi eleito como grupo controlo (C). Os resultados indicaram que os TF tiveram maiores efeitos sobre as capacidades físicas, do que os demais grupos, quando comparados com o grupo controlo. Pode-se pressupor que o TF, sem restrição calórica, pode ser uma abordagem simples e benéfica para ajudar a prevenir quedas e auxilia na autonomia e independência de mulheres idosas e obesas (Bouchard et al., 2009). Além disso, a sarcopenia pode estar diretamente associada a maiores níveis de pressão arterial, aumentando assim o risco de doenças cardiovasculares. Num estudo desenvolvido no nosso centro de exercícios físicos para idosos, administrado pela prefeitura municipal de Poá, situado no estado de São Paulo, Brasil, verificamos que mulheres idosas sarcopénicas apresentaram maiores níveis de pressão de pulso (PP) e menor função muscular em comparação com indivíduos não-cardiopénicos. Além disso, mulheres idosas sarcopénicas apresentaram um risco 3,1 vezes maior de ter níveis mais elevados de PP em comparação com mulheres não sarcopénicas. Assim concluímos que mulheres idosas sarcopénicas apresentaram uma menor função muscular e maior risco cardiovascular devido ao aumento dos níveis de PP em comparação com indivíduos não sarcopénicos (Coelho Junior, et al, 2015).

Sendo assim podemos perceber que o exercício físico pode ser uma grande ferramenta de cuidado com a população idosa, interferindo positivamente nas variáveis de capacidade funcional, força e fatores cardiovasculares, nesta população que requer muitos cuidados, mas principalmente de acolhimento. Idosas, submetidas a 10 semanas de treino, com 75% da resistência máxima, três vezes por semana, não apresentaram um ganho de força muscular significativo. No entanto, após o programa de treino, houve uma melhoria da potência muscular e do desempenho funcional (Lustosa et al., 2011). Outro estudo constatou que o treino de força, durante 6 meses, promoveu o aumento de força muscular em idosas. Foram utilizados dois métodos de avaliação de força. Ambos os métodos verificam ganho de força, no entanto a magnitude desses ganhos varia significativamente em função do método de avaliação utilizado (Lima, 2012). É comprovado por pesquisas científicas que os exercícios físicos têm um papel fundamental no tratamento da Síndrome da Fragilidade. Essa síndrome é caraterizada pelo surgimento da sarcopenia, disfunção neuroendócrina e imunológica em idosos (Câmara, 2012). Diante destas descobertas científicas, recomendamos a prática de programas de exercícios físicos para idosos de intensidade moderada, que trabalhem equilíbrio, resistência e exercícios de força, realizados em horário regular, no mínimo de duas a três vezes por semana. É de extrema importância que os profissionais de saúdes envolvidos na prescrição de exercícios para idosos conheçam a fundo esta população e as suas mudanças e anseios, desde os seus comportamentos fisiológicos às suas ações psicossociais, proporcionando assim, durante o programa, um ambiente acolhedor, agradável e seguro para esta população.

Treinos de força em idosos Alfredo Villardi VII Fórum da Câmara Técnica de Medicina Desportiva – CREMERJ (Brasil)

Efeitos 1. O condicionamento de força resulta num incremento do tamanho muscular que reflete o aumento do conteúdo de proteína contrátil. 2. Estímulo adequado de treino proporciona ganhos reais de força nas pessoas idosas. 3. A força pode aumentar de duas ou três vezes num período de tempo relativamente curto (3 a 4 meses). 4. Intenso efeito anabólico nos idosos. 5. Melhora a retenção de nitrogénio – retenção dos stocks de proteína corporal. 6. Aumenta a massa e a força muscular, o equilíbrio dinâmico e o stock ósseo. 7. As terapias tradicionais para osteoporose têm a capacidade de manter ou reduzir a perda óssea, mas não melhoram o equilíbrio, força e massa muscular. Maiores benefícios » Melhoria da capacidade funcional; » Recuperação da autonomia; » Redução do risco de quedas; » Redução do risco de fraturas; » Reintegração ao meio; » Melhor qualidade de vida; » Maior longevidade.

“O exercício físico de força mantém a autonomia e independência do idoso, diminuindo o risco de quedas, auferindo maior segurança (...)”

Duração das atividades » Média: 30 a 90 minutos; » Inversamente proporcional a intensidade » Idosos frágeis; » Sessões de curta duração: 5 a 10 minutos; » Forma fracionada – 2 períodos. © Pixabay


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© Alex Kingsley

Velhices LGBT Desafios para o envelhecimento ativo 1

Diego F. Miguel e 2Milton R. F. Crenitte

1

Médico da Unidade de CardioGeriatria do incor e Voluntário da ONG Eternamente SOU 2

Docente em Gerontologia e Saúde Pública. Padrinho da ONG Eternamente SOU

O envelhecimento populacional é uma das evidências do significativo aumento da expetativa de vida nas últimas décadas. A longevidade é uma conquista para a nossa sociedade, mas também o motivo de importantes ressignificações, com a necessidade de proporcionar um melhor acolhimento às necessidades das pessoas idosas nos seus aspetos biopsicossociais, para que vivam a velhice ativamente.

A implantação de programas direcionados ao Envelhecimento Ativo foi um marco importante, e nesse contexto a proposta da Organização Mundial da Saúde para que as pessoas idosas tenham a sua autonomia e independência preservadas teve uma relevante contribuição para a ampliação de políticas públicas, tanto na prevenção e orientação em saúde, quanto no fortalecimento de espaços que promovam a participação social desses indivíduos. Neste cenário de pluralidade do envelhecer, constituído por diferentes contextos e realidades socioculturais, é relevante considerar que a tendência de envelhecimento populacional também será observada entre lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgéneras (LGBT). Dessa forma, os especialistas em geriatria e gerontologia podem deparar-se com situações

desafiadoras nas suas práticas ao cuidarem de uma pessoa idosa LGBT saudável, com demência ou até mesmo na sua fase final de vida. Entretanto, essa população sofre uma “dupla invisibilidade”. Por um lado por serem mais velhas e estarem submetidas aos estereótipos e mitos que cerceiam a velhice, e por outro por terem orientações sexuais e/ou identidades e expressões de género menos comuns à sociedade em geral, trazendo ao longo da vida marcas de preconceitos e violência de origem LGBTfóbicas. Porém, será que o acesso de pessoas idosas LGBT às políticas públicas acontece com as mesmas oportunidades das pessoas idosas que não são LGBT? Nos serviços voltados para pessoas idosas, são consideradas as condições de vulnerabilidade e de violência estrutural como o pre-

conceito e a LGBTfobia a fim de proporcionar um atendimento digno a essas pessoas? O receio de discriminação pode ser uma possível causa para que essas pessoas evitem aceder aos serviços de saúde e demais espaços destinados à sua socialização e participação social, ou frequentarem-nos apenas em último caso. Dessa forma, além de uma forte tendência ao isolamento social e solidão, também expressam piores controlos de algumas doenças crónicas, como diabetes, e também realizam menos exames preventivos como a mamografia ou o papanicolau, no caso das mulheres lésbicas. No fim da vida, inclusive, momento no qual os indivíduos estão mais vulneráveis, as pessoas LGBT relatam, em pesquisas, os medos de ficarem sozinhos, de serem discriminados e de morrerem com dor. Além disso, o receio antecipado de discriminação leva algumas pessoas LGBT à ansiedade, à depressão e ao suicídio. Uma pesquisa recente mostrou que pessoas trans preferiam suicidar-se se tivessem que depender de uma instituição ou de pessoas que não respeitassem as suas identidades. Por essas razões, é fundamental discutir medidas para a formação de ambientes e de profissionais friendly, além de combater a solidão, o isolamento social e a invisibilidade que pessoas idosas LGBT sofrem.

Invisibilidade nos serviços voltados para pessoas idosas A invisibilidade de pessoas LGBT nos serviços de assistência social e de saúde não é diferente do desprezo que sofrem pelas suas especificidades pela sociedade em geral, e a presunção de que todos são heterossexuais e cisgéneros é uma das maneiras de perpetuação dessa questão. Nesse sentido, muitos questionam se seria relevante saber a identidade de género e a orientação sexual de quem é assistido. Baker e colaboradores mostraram que sim, é relevante. Revelaram que pessoas que se abrem para os seus médicos mostram maiores níveis de satisfação, um melhor acesso aos serviços de saúde, um melhor con-


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trolo das doenças crónicas e uma maior adesão às medidas de promoção da saúde. Para além disso, Sharek e colaboradores avaliaram as experiências e os receios de pessoas idosas LGBT ao frequentarem os serviços de saúde. Trata-se de um estudo importante e pioneiro na gerontologia LGBT, principalmente por tentar entender possíveis barreiras no acesso à saúde por essa população. Dos 144 idosos avaliados, 25% não era “assumido” para o seu médico, 26% expressou que nunca iria revelar a sua orientação sexual e 20% apresentava receio da reação do profissional de saúde caso esse descobrisse a sua identidade LGBT. Tais achados poderiam estar associados ao medo antecipado de discriminação e com a falta de confiança no equipamento de saúde, além de explicar o porquê de mulheres idosas lésbicas realizarem menos exames preventivos como mamografia ou papanicolau do que as suas contemporâneas heterossexuais. O Canadá, por exemplo, é conhecido por dispor de um sistema de saúde universal, as pessoas idosas LGBT possuem o dobro das hipóteses de não ter um Médico de Família, em relação aos idosos não LGBT. Com isso, como considerar o envelhecimento ativo pela perspetiva da autonomia e independência das pessoas idosas LGBT, se não existem políticas específicas que garantam o seu acesso e inclusão nos serviços livres de preconceito e vio-

© @robs_mauricio

lência? Existem programas que fomentam a capacitação de profissionais que atuam na geriatria e gerontologia a fim de assegurar um atendimento humanizado e livre de preconceitos contra pessoas idosas LGBT?

Educação e informação para mudar esta situação A aprendizagem ao longo da vida foi apontada e inserida pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC Brasil) como um importante aspeto do envelhecimento ativo, que sustenta os outros três pilares (saúde, participação e segurança), confe-

rindo o poder de decisão e maior assertividade na autonomia das pessoas à medida que envelhecem. Esse conceito dialoga diretamente com a reflexão proposta por Paulo Freire – um dos maiores teóricos em educação do Brasil, que defende a educação como oportunidades de problematização e denúncia de injustiças sociais, como forma de participação ativa do sujeito para a transformação social. A educação tem uma relação direta com a autonomia e independência no envelhecimento e velhice – o envelhecimento ativo, portanto questões de sexualidade e género são aspetos relevantes

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“Existem programas que fomentem a capacitação de profissionais que atuam na geriatria e gerontologia a fim de assegurar um atendimento humanizado e livre de preconceitos contra pessoas idosas LGBT?”

para serem tratados neste momento urgente de mudança de paradigmas, dando visibilidade às questões das pessoas idosas LGBT nas suas especificidades, a fim de fortalecer vínculos afetivos, a sua rede de suporte social e fomentar o seu empoderamento e protagonismo para enfrentarem situações de preconceito. Também é relevante capacitar profissionais para que os serviços sejam humanizados e acessíveis à diversidade, concedendo espaços de diálogo para a construção do conhecimento de forma coletiva, considerando os processos importantes de desconstruções e reconstruções socioculturais, a fim de melhor atender as especificidades e a pluralidade existente na velhice.

com o poder público e legislativo municipal, tais como: Seminário Velhices LGBT, Curso de Introdução às Velhices LGBT e Papo Diversidade. Atuou em ações estratégicas para a visibilidade do tema, para a capacitação de profissionais e para o fomento e fortalecimento de políticas públicas que atendam às especificidades dessa população. A EternamenteSOU realiza também eventos e atividades socioeducativas para favorecer o autoconhecimento, a autonomia, a independência e o empoderamento das pessoas idosas LGBT por meio de linguagens artísticas, tais como Coral, Expressão Corporal, Teatro, encontros temáticos mensais como o Café e Memórias LGBT, entre outras atividades que favorecem também o reforço dos vínculos afetivos e de pertencimento, aspetos relevantes para o fortalecimento da rede de suporte social e de combate à solidão e ao isolamento.

“PAPO DiverIDADE”

A EternamenteSOU Em 2017 formou-se em São Paulo (Brasil) o coletivo EternamenteSOU, que posteriormente assumiu a identidade de organização não-governamental (ONG), com o objetivo de dar visibilidade às questões que norteiam as velhices LGBT. A ONG atua também na capacitação e formação de profissionais que atuam na rede de assistência social e de saúde, favorecendo assim uma cultura gerontológica mais sensível às especificidades dessa população, unindo saberes e experiências. Com esse intuito, a EternamenteSOU foi pioneira no Brasil na realização de eventos específicos com a temática Velhices LGBT em parcerias

Para tentar modificar o cenário de discriminação, de insegurança e de falta de conforto em clínicas, em hospitais e em instituições de longa permanência (ILPI), a ONG EternamenteSOU decidiu criar um curso gratuito para todos que trabalham com pessoas idosas. Os encontros acontecem mensalmente na Câmara dos Vereadores de São Paulo, também conhecida como “a casa do povo”, por ser um espaço que representa a democracia e a diversidade, e como estratégia de acesso ao poder legislativo, promovendo a reflexão sobre essa temática importante, forçando a visibilidade a essa causa. Em cada ação são discutidos assuntos relacionados com as definições LGBT, as particularidades de saúde de cada pessoa idosa LGBT e os preconceitos e discriminações sofridos nos serviços de saúde. Além disso, também são debatidas maneiras de linguagem e de abordagem para ser um profissional amigável (friendly), o que pode auxiliar na criação de espaços, práticas, linguagens e símbolos que indiquem que o equipamento de saúde pode ser inclusivo a todos.

Considerações finais A educação para a diversidade com atividades voltadas para profissionais que atuam com pessoas idosas é fundamental para rompermos com discursos e ações que desconsideram os preconceitos e violência como a LGBTfobia, que desqualificam a voz de pessoas idosas LGBT ou invisibilizam as especificidades da diversidade,

seja ela de origem biológica, de orientação sexual ou de género. A educação, como pilar de aprendizagem ao longo a vida, proposto pelo ILC Brasil, tem um potencial emancipador para as velhices LGBT, por isso, defendemos ações educativas planeadas como estratégia de empoderamento das pessoas idosas, para fomentar a sua participação social na construção e fortalecimento de políticas públicas constituídas por serviços e profissionais friendly, além de cursos estruturados para sensibilizar e capacitar profissionais que atuam em serviços de assistência social e de saúde voltados para a população idosa.

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© Michael Helmer

Envelhecimento x Longevidade O que nos faz feliz? Enfermeira, Profissional & Leader Coach Trainer. Docente na Universidade Braz Cubas Janinéri Cordeiro

Envelhecimento e longevidade diferem num ponto: tempo vital.

O nosso corpo, composto por biliões de células, depara-se minuto a minuto com o envelhecimento. Ele é implacável e resoluto. Trabalha exatamente como o bater dos ponteiros do relógio. Enquanto isso, a mente da maioria do “adulto +” trabalha incansavelmente para corrigir os erros de um passado que já ficou para trás ou anseia desenfreadamente na busca do futuro perfeito. Não vive o agora, não aproveita as oportunidades que ainda tem e foca-se na finitude da vida, na herança e testamento que tem que deixar aos seus descendentes, no seu próprio velório que tem de preparar,

no trabalho que tem de voltar a fazer, para agora, sustentar filhos e netos que ainda vivem às suas custas. O senil considera os “seus últimos dias” como um prazo de validade prestes a expirar. Em contrapartida, a longevidade é leve, pois como a palavra diz, há um longo caminho a ser percorrido ainda, no qual a idade supera estatísticas, limitações físicas e mentais e ultrapassa os julgamentos. Sonhos, prazeres e felicidade são permitidos dentro deste conceito. A longevidade amplia os horizontes para uma vida jamais vivida, onde a experiência ganha força no momento da tomada de decisões mais assertivas e proporciona grandes oportunidades de ainda experimentar mudanças e novidades. O “eu senil” revigora-se a cada dia e não há nada que os impeça de vi-

ver intensamente. O foco é no aqui, no agora, no viver. Richard Restak, no seu livro “O cérebro nunca envelhece”, destaca que existem estudos que revelam que algumas habilidades cognitivas — como a verbal, por exemplo — podem aumentar conforme envelhecemos. Desta forma, e com base no que os investigadores descobriram sobre a forma como o cérebro compensa o “envelhecimento” mental, Richard Restak aconselha que devemos continuar a aprender coisas novas e, assim, rechear a mente com informações que podem ajudar-nos a nivelar parte da perda cognitiva ao longo da vida. Um dos grandes segredos para ter uma vida longa e sã é aprender a vivê-la, e uma em cada quatro pessoas considera que não o está a fazer. É o que aponta um estudo que colocou em confronto a satisfação com a própria vida com o risco de morte, conduzido por investigadores da Universidade de Londres, no Reino Unido. A pesquisa britânica foi realizada com 9365 adultos ingleses com 63 anos de idade, em média. Os participantes responderam a questionários, com intervalos de dois anos, entre 2002 e 2006 e avaliaram o andamento dos seus sentimentos quanto à própria vida. O estudo apontou respostas como: “Eu gosto das coisas que faço”, “Eu gosto de estar na companhia de outras pessoas”, “O meu passado traz-me felicidade”, entre outras informações.


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As respostas negativas a essas afirmações foram reportadas por cerca de 24% dos participantes. Praticamente uma em cada quatro pessoas não está satisfeita com o seu viver. Durante o período de acompanhamento, ou seja, até ao final de 2013, 1310 dos inquiridos morreram. A taxa de mortalidade mais alta foi constatada entre aqueles que disseram estar menos felizes e satisfeitos. As mortes diminuíram progressivamente conforme aumentavam as afirmações positivas sobre a vida. Segundo a pesquisa, as mulheres são mais propensas a sentirem-se felizes, assim como casados, pessoas empregadas e com formação intelectual elevada, os mais ricos e os mais jovens. “Estes resultados revelam uma associação real entre a mortalidade e os níveis de bem-estar”, concluíram os investigadores. Além da felicidade, existem outros segredos para se obter uma vida longa e saudável.

Figura 1 Icária na Grécia tem a maior taxa de pessoas que alcançam os 90 anos no planeta.

“Zonas azuis” Habitamos num belo planeta e, por mais que tenhamos aspetos de vida diferentes, vivemos integrados através de ações fundamentais da vida como dormir, acordar, comer, beber, caminhar, pensar, relacionar-se, entre outros. De facto, determinadas regiões ao redor do mundo apresentam uma população com alto índice de saúde e, por consequência, maior longevidade comparadas com outras regiões mundiais. Estes locais foram chamados de “zonas azuis ou blue zones”. O conceito das zonas azuis desenvolveu-se a partir do trabalho demográfico de Gianni Pes e Michael Poulain, que identificaram a província de Nuoro, Sardenha, como a região com a mais elevada concentração de centenários do sexo masculino do mundo. Dan Buettner e a sua equipa uniram-se à National Geographic para ampliar essa pesquisa e descobrir onde estão as pessoas mais longevas e que fatores contribuem para isso. Identificaram cinco áreas geográficas espalhadas ao redor do planeta, incluindo povoações na Grécia, Costa Rica, Itália, Japão e Califórnia. A partir da pesquisa, o termo blue zone começou a ser utilizado para designar essas regiões do mundo onde as pessoas consistentemente têm uma saúde e qualidade de vida acima da média mundial. Nesses locais, a quantidade de pessoas que atinge os 100 anos é destacadamente maior que a média. As cinco blue zones são: »

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Sardenha, Itália. Maior concentração de centenários do mundo. Numa montanha específica, mais de 50% dos homens chega aos 100 anos de idade. Esta é uma região de planaltos montanhosos do interior da Sardenha com a mais elevada concentração de centenários do sexo masculino. Ilhas de Okinawa, Japão. Lar de mulheres de extraordinária saúde, com a maior expetativa de vida do mundo. Os habitantes morrem cinco vezes menos de cancro do pulmão e do colo, e seis vezes menos de doenças cardiovasculares (em relação aos Estados Unidos).

© Wikipédia

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As mulheres com mais de 60 anos de idade são a população mais longeva do mundo. Loma Linda, Califórnia. Grupo mais longevo dos Estados Unidos, constituído por religiosos Adventistas do Sétimo Dia. Pessoas desse grupo vivem em média 11 anos a mais do que outras pessoas da região. Península de Nicoya, Costa Rica. Ali os habitantes comem muitas frutas e cereais ricos em antioxidantes. É considerada a maior zona azul do mundo. Icária, Grécia. Maior taxa de pessoas que alcançam os 90 anos no planeta — aproximadamente 1 em cada 3. Os investigadores também constataram que os icarianos têm uma taxa 20% menor de incidência de cancro, 50% menor de doenças cardíacas e praticamente 0% de demência.

Estilo de vida O que é que as “zonas azuis” têm de especial? Quais são as caraterísticas comuns no estilo de vida dos habitantes desses lugares pertencentes a países e culturas tão diferentes? Em suma, os resultados da pesquisa podem ser agrupados em três grupos de atitudes que os longevos praticaram desde a sua tenra infância: De acordo com os investigadores das blue zones, a expetativa de vida média de uma pessoa pode aumentar de dez a doze anos ao adotar os hábitos mais importantes presentes nas zonas azuis. Dan Buettner reuniu uma equipa de médicos, antropólogos, demógrafos e epidemiologistas para procurar por denominadores comuns entre estes cinco lugares e descobrir quais os elementos que são decisivos para a longevidade. Esta pesquisa revelou que, apesar das zonas azuis estarem em diferentes partes do mundo, com caraterísticas climáticas, culturais e históricas

© Italo Melo

bem distintas, o estilo de vida dos seus habitantes, de acordo com a pesquisa, possuem nove fatores em comum:

1

Movimente-se

Nestes locais, o movimento faz parte da rotina. Atividades como o cultivo de jardins e hortas, marcenaria, locomoção e um quotidiano sem as comodidades modernas, faz com que seja necessário o uso de trabalho de braços para que as coisas aconteçam.

2

Conheça e cultive o seu propósito

As pessoas nas “zonas azuis” tendem a ter um forte senso do seu propósito de vida, conhecido como “Ikigai” em Okinawa ou “projeto de vida” em Nicoya, o que se pode traduzir como “a razão pela qual se deve levantar pela manhã”. Este propósito, que também está associado à sensação


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© icon0.com

“Um aspeto em comum de todas essas regiões é o baixo consumo de produtos industrializados e refinados.”

de pertença, traz geralmente benefícios para outras pessoas e para a comunidade, é algo que traz ânimo, satisfação e apreciação pela vida. De acordo com Buettner, este senso de propósito pode acrescentar até sete anos a mais na sua vida.

3

Administre o stress

O estado de stress crónico é a principal causa de doenças e de infelicidade no mundo hoje. Ele leva à inflamação sistémica, que está associada às principais doenças relacionadas com a idade. Momentos de stress são parte da vida e até mesmo saudáveis, e certamente os habitantes das “zonas azuis” também os enfrentam, mas o modo como lidam com o stress faz toda a diferença. É comum para os okinawanos que as pessoas parem por alguns momentos todos os dias para relembrar seus ancestrais. Já os adventistas têm a sua pausa ao sábado para se conetarem com o criador, descansarem e estarem unidos em família.

4

Siga a “Regra dos 80%”

A restrição calórica e o jejum intermitente são práticas comuns nas “zonas azuis”. Os okinawanos recitam um mantra de Confúcio com 2500 anos antes das refeições, o “Hara hachi bu”, que significa aproximadamente “coma até que a sua barriga esteja 80% cheia”. Isto faz com que eles parem de comer antes do correrem o risco do excesso, ajudando a prevenir o ganho de peso e o surgimento de doenças. Os icarianos, tipicamente cristãos ortodoxos gregos, praticam o jejum em feriados religiosos, em momentos diferentes durante todo o ano. Pesquisas demonstram que o jejum estimula a renovação das células, fortalece o sistema imunológico e reduz o risco de desenvolver doenças crónicas, como diabetes e hipertensão. Ter um senso de propósito corresponde a até sete anos a mais de expetativa de vida.

© Pixabay

5

Boa alimentação

Um aspeto em comum de todas essas regiões é o baixo consumo de produtos industrializados e refinados. Vegetais frescos, frequentemente cultivados nos quintais, produtos animais de boa qualidade, grãos e leguminosas preparados tradicionalmente constituem a dieta típica.

6

Valores elevados, fé e propósito

A fé e a dedicação a princípios morais e espirituais desempenham um grande papel na vida dos habitantes das “zonas azuis”. Normalmente este conjunto de crenças e princípios fortalece o vínculo entre as pessoas, criando um senso de pertença que provê suporte social e pode ajudar a aliviar a depressão e a solidão. Todos os 263 centenários entrevistados (exceto cinco) pertenciam a alguma comunidade com base na fé. A denominação não é importante.

7

A base familiar

Nas “zonas azuis”, as famílias são mantidas por perto. Isso muitas vezes inclui os pais com mais idade a viverem na mesma casa ou bem próximos dos outros membros da família. Essa proximidade é especialmente importante para o convívio social dos mais velhos, contribuindo muito para a saúde e o equilíbrio mental e emocional.

8

Convívio social

Conviver com aqueles que confiamos e com os quais temos afinidade reforça as nossas qualidades e traz um benéfico senso de segurança e pertença. Estar rodeado de pessoas que promovam comportamentos saudáveis e positivos é ainda mais importante.

© Luiz M. Santos

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Evite toxinas

Todas as regiões pesquisadas são relativamente livres de poluentes pesados, como os encontrados em áreas industriais e urbanas densamente povoadas. Além disso, quando há consumo de álcool, este é baixo, sendo que a principal bebida consumida é o vinho, feito artesanalmente a partir de uvas orgânicas, oferecendo assim polifenóis benéficos. Com o conhecimento correto é possível maximizar a nossa longevidade com felicidade e saúde. Atitudes e escolhas simples podem contribuir muito para garantir uma vida plena. Portanto, não importa a sua idade, limitações de qualquer ordem, use o seu agora com sabedoria e desfrute melhor o dia: o hoje, afinal, a vida é um sopro, isso é facto. Porém, transformá-la em brisa ou tornado depende de si. O que escolhe? Viva um dia de cada vez. Mais que quantidade, o essencial é a qualidade desses dias. Adicione anos à sua vida e à vida aos seus anos. Um brinde à longevidade!


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Envelhecimento VDXG£YHO Intervenções para prevenção do declínio cognitivo e demência Ana Monteiro

Serviço de Neurologia e Grupo de Investigação Cerebrovascular na FMUP © rawpixel.com

U

m envelhecimento saudável pressupõe a manutenção de capacidades funcionais que permitam o bem-estar dos indivíduos na velhice, tal como definido pela Organização Mundial de Saúde[1]. Para isso, é fundamental a manutenção das capacidades cognitivas, de forma a preservar a autonomia necessária para uma vida plena. O defeito cognitivo é muito comum com o avançar da idade e a demência (a sua expressão mais grave) representa a maior causa de incapacidade nos idosos, afetando atualmente cerca de 50 milhões de indivíduos em todo o mundo, um número que tende a aumentar exponencialmente[2]. A Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência no mundo, e é uma doença neurodegenerativa, isto é, há uma perda progressiva dos neurónios ao nível do córtex cerebral. Isto leva a uma perda lenta e inexorável das capacidades mentais da pessoa afetada, atingindo não

“A Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência no mundo (...)”

Figura 1

apenas a memória, mas também a atenção, a capacidade de reconhecer pessoas, de organizar tarefas, de reconhecer espaços antes familiares, podendo levar também a alterações do humor, do sono e até de personalidade[3]. A nível cerebral, observa-se uma acumulação de uma proteína, a amiloide, que vai levando à destruição progressiva dos neurónios. Em Portugal, a par da doença de Alzheimer, a Demência Vascular tem também um enorme impacto, podendo mesmo ultrapassar a primeira em frequência, espelhando a prevalência de fatores de risco vasculares no nosso país, como a hipertensão e a diabetes[4]. Atualmente, não existe tratamento eficaz que permita travar ou reverter o processo degenerativo. Quando os sintomas surgem pela primeira vez, já a doença se encontra em evolução há cerca de 20 anos, a chamada fase pré-sintomática. Depois disso, os sintomas vão surgindo lentamente, passando pelas fases de defeito cognitivo ligeiro, demência ligeira, moderada e grave. Muitos foram já os medicamentos testados para o tratamento da Doença de Alzheimer, mas até agora nenhum demonstrou eficácia em travar o curso da doença. Por este motivo, tem havido um interesse crescente em atuar nos adultos saudáveis em risco de desenvolver a doença. O ideal seria conseguir prevenir o seu aparecimento, isto é, impedir as alterações a nível cerebral que vão levar ao surgimento da doença. Depois dos sintomas


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surgirem, procura-se adotar medidas que permitam atrasar a evolução nas várias fases da doença e manter a capacidade funcional por mais tempo. Existe cada vez mais evidência a ligar os estilos de vida e fatores de risco vasculares ao desenvolvimento de defeito cognitivo e demência. Cerca de um terço dos casos de DA e a maioria dos casos de defeito cognitivo vascular são potencialmente atribuíveis a fatores de risco modificáveis, sublinhando o potencial da redução dos fatores de risco na prevenção da doença[5]. De facto, alguns fatores parecem ser particularmente importantes para esse risco, tal como explicado no artigo da Madalena Pinto: a diabetes mellitus, a hipertensão arterial, a obesidade, a inatividade física, o tabagismo, uma dieta incorreta e uma baixa escolaridade[6, 7]. Adotar estilos de vida saudáveis que permitam evitar o aparecimento ou, pelo menos, manter um controlo apertado dos fatores de risco acima referidos, é fundamental para um envelhecimento cognitivo saudável. O estudo Finlandês FINGER (Finnish Geriatric Intervention Study to Prevent Cognitive Impairment and Disability) foi um dos primeiros a estudar o efeito de uma intervenção simultânea em diversos fatores de risco vasculares e estilos de vida. Durante dois anos, 1260 participantes entre os 60 e 77 anos foram separados em dois grupos: um grupo sem intervenção e um grupo com intervenção, incluindo: 1) orientação dietética, 2) atividade física, 3) treino cognitivo e atividade social e 4) monitorização intensiva dos fatores de risco vasculares. O grupo que recebeu a intervenção obteve benefícios significativos na melhoria e manutenção das capacidades cognitivas, quando comparados com o grupo sem intervenção. Para além dos benefícios cognitivos, houve também melhoria do índice de massa corporal e da qualidade de vida[8]. Existem, assim, diversas intervenções que se podem adotar de forma a potenciar o envelhecimento saudável.

amiloide acima mencionada[2, 9]. Pessoas que praticam exercício físico regular têm metade do risco de desenvolver demência em comparação com pessoas sedentárias. Além disso, participar em programas de exercício físico parece melhorar a função cognitiva de pessoas idosas saudáveis[9]. O recomendado é realizar atividade aeróbica de intensidade moderada pelo menos 150 minutos por semana[10], mas deve-se introduzir o exercício gradualmente na rotina. Moderado significa que acelera a respiração, mas ainda permitindo falar, aumenta o ritmo cardíaco e leva a uma ligeira transpiração. Pode incluir: caminhar depressa, andar de bicicleta, nadar, dançar, fazer hidroginástica, entre outros. Se for uma atividade de grupo, tanto melhor, pelo convívio social que facilita. Evitar estar muitas horas parado no trabalho, ficar muito tempo sentado a ver televisão, preferir usar as escadas ao elevador são outras medidas simples que podem ser adotadas no nosso dia a dia para evitar o sedentarismo.

Alimentação Uma dieta saudável é fundamental para evitar o surgimento de fatores de risco vasculares, mas também para a manutenção da saúde cerebral. A dieta mediterrânica, muito rica em legumes e vegetais, cereais não refinados, azeite e peixe, com consumo moderado de produtos lácteos (de preferência queijo e iogurte) e vinho, e baixo consumo de carne[11], parece proteger contra o declínio cognitivo e surgimento de demência[9, 12]. Comer de forma saudável inclui também limitar o consumo de bebidas açucaradas e com álcool (que é, no fundo, gordura) e ter atenção ao uso de sal, especialmente o “escondido” no pão, pizzas e comidas pré-feitas e enlatadas. Deve-se, ainda, manter uma boa hidratação, bebendo pelo menos 1,5 litros de água por dia. Está neste momento em curso um estudo Europeu, o projeto MIND-AD, que estuda o efeito de um produto que inclui ácidos gordos ómega 3 e vitaminas (B6, B12, C, E e ácido fólico) em pessoas em risco de DA e com fatores de risco vasculares[13]. No entanto, para já, nenhum suplemento

Figura 3

Exercício físico A atividade física tem um efeito benéfico na saúde cerebral, atuando por diversos mecanismos: aumenta a vascularização cerebral (e assim melhora a oxigenação dos neurónios e a remoção de toxinas), reduz a inflamação, estimula a formação de novas ligações entre neurónios, aumenta o volume cerebral e diminui a acumulação da proteína

Figura 4

Figura 2

“Adotar estilos de vida saudáveis que permitam evitar o aparecimento ou, pelo menos, manter um controlo apertado dos fatores de risco (...), é fundamental para um envelhecimento cognitivo saudável.”

© Valeria Boltneva


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alimentar provou reduzir eficazmente o declínio cognitivo[14]. Se está a pensar recorrer a suplementos vitamínicos ou minerais, deve consultar o seu médico para se informar.

Atividade cognitiva e social A escolaridade parece ser importante na redução do risco de vir a desenvolver demência. Quanto maior for a estimulação cerebral ao longo da vida, maior a reserva cognitiva da pessoa, ou seja, maior o número de neurónios e ligações entre neurónios, pelo que mais tempo leva a “esvaziar o armazém”. Estudos demonstram consistentemente que pessoas que mantêm atividades mentalmente estimulantes têm um menor risco de desenvolver demência. De facto, a baixa escolaridade é o fator de risco que mais contribui para o aparecimento da DA[15].

Figura 5

Assim, manter o cérebro ativo e ocupado com atividades de socialização, trabalho e desafios mentais aumenta a resistência do cérebro aos danos causados pela doença, podendo ajudar a atrasar os sintomas de demência por vários anos[9]. Por exemplo, falar, duas línguas ao longo da vida pode atrasar o inicio da doença em cerca de 4,5 anos, o que demonstra o poder da reserva cognitiva[16, 17]. Estudos mostraram que resolver palavras cruzadas melhora a atividade cognitiva, obrigando a aprendizagem de conceitos novos e treinando o raciocínio. No entanto, este treino deve ser feito várias vezes por semana para reduzir eficazmente o risco[18], sendo os benefícios do treino mental apenas modestos. Pode fazer com que nos tornemos melhores numa determinada tarefa específica, como na prática do jogo treinado, mas não foi ainda provado que aumente as nossas capacidades de forma generalizada. No entanto, existe muita investigação em curso sobre este tema para esclarecer melhor o papel destas atividades na prevenção. É recomendável, por isso, fazer atividades diferentes regularmente, aprender novas competências (exemplo: tocar um instrumento ou falar uma língua nova), fazer puzzles ou outras atividades semelhantes (sopa de letras, Sudoku, entre outros), jogar cartas, ter passatempos (exemplo: jardinagem), ler jornais e livros, passear e conhecer outras localidades (de preferência dar passeios a pé, que ajuda também a combater o sedentarismo), entre outras. O ideal é encontrar tarefas das quais se gosta e que estimulem a mente, para ser mais fácil manter as atividades de modo continuado.

No caso de pessoas reformadas, devem manter a estimulação cognitiva e social (mais fácil de perder, dado já não haver a obrigação do trabalho), por exemplo através de inscrição em Universidades Sénior ou Centros de Convívio, que oferecem uma panóplia de atividades lúdicas que permitem manter o cérebro ativo e saudável. Outra forma de o fazer é realizar voluntariado, prestando também um serviço importante à sociedade. São também excelentes formas de combater o isolamento e depressão, que são fatores também muito importantes na evolução para defeito cognitivo e demência. Informe-se na sua Junta de Freguesia, Câmara ou sociedades recreativas na sua zona.

Controlo de fatores de risco É de extrema importância o tratamento de fatores modificáveis que contribuem para a perda de capacidades cognitivas e surgimento de demência. Um bom controlo da hipertensão arterial, do colesterol e da glicemia na diabetes, bem como a cessação tabágica, redução do consumo de álcool e a perda de peso são fundamentais para a saúde em geral e podem prevenir o declínio cognitivo[2, 9]. Muitas das intervenções mencionadas permitem não apenas reduzir o risco de declínio cognitivo, mas também reduzir a prevalência de muitas das doenças que surgem com o avançar da idade, como o acidente vascular cerebral e as doenças cardiovasculares, que causam enorme incapacidade e têm muito impacto na qualidade de vida. Nenhuma destas intervenções consegue, por si só, prevenir totalmente o desenvolvimento de alterações cognitivas. Muitos dos ensaios que estudaram o efeito de uma intervenção isoladamente tiveram resultados modestos ou negativos[2]. Isto porque os vários fatores concorrem e potenciam-se. Por outro lado, os estudos nesta área são financiados por pouco tempo, geralmente alguns meses ou até 2 anos, o que é insuficiente se pensarmos que modificar estilos de vida leva tempo e os seus benefícios são colhidos a longo prazo. Assim, a abordagem tem de ser holística, é necessário atuar o mais cedo possível e em todas as frentes, de forma a conseguir um cérebro saudável e jovem durante mais tempo. Embora a prevenção do declínio cognitivo e da demência ainda seja um campo em desenvolvimento, já se estão a dar passos importantes no sentido de identificar os fatores que estão na base do seu desenvolvimento e que contribuem para a sua progressão. Cabe a todos lutar por uma vida longa e com qualidade, e os estilos de vida saudáveis podem ajudar a alcançar esse objetivo.

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Memória & Animação Terapêutica Não deixar o cérebro “enferrujar” 1

Bruno Trindade, 2Ricardo Pocinho

1

Phd Student Doutoramento, 2Professor Investigador

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A “ferrugem” é má seja qual for a situação, por isso é necessário prevenir e efetuar as devidas manutenções. Com a preponderância que as tecnologias têm ganho, temos acesso a tudo de forma prática e imediata, o que está a diminuir a atividade do nosso cérebro. Da mesma forma que o corpo necessita de ser exercitado para não perder a mobilidade, o cérebro tem de ser estimulado para não corrermos o risco de perder as nossas memórias ou, até mesmo, de virmos a sofrer de doenças degenerativas do cérebro. Com as tecnologias de informação, o cérebro tem ganho estímulos visuais, mas tem perdido estímulos memoriais, já não sabemos números de telefone, matrículas de automóveis, moradas, datas de aniversários. Recorrendo constantemente às aplicações informáticas e às redes socias para fazer contas, visualizar eventos e datas importantes, isto é, para consultar informação necessária, alteramos a forma como o nosso cérebro lembra, recorda e pensa. Deixamos de usar as nossas lembranças, perdemos a capacidade de nos recordarmos de eventos e/ou acontecimentos a longo e curto prazo. A

tecnologia e as aplicações “pensam” por nós, o que vai, certamente, ter consequências no futuro se não for realizado um trabalho de prevenção. Não precisando o ser humano de memorizar, recordar ou pensar, o cérebro torna-se preguiçoso e a criatividade e a imaginação podem estar comprometidas no futuro dos seres humanos. É preciso precaver a saúde mental do ser humano e é neste contexto que a Animação Sociocultural, na sua vertente terapêutica, tem relevância. Promovendo o prazer e o lazer através do lúdico, desenvolve as capacidades do ser humano, estimulando as suas várias vertentes sensoriais e cognitivas. Apesar de estarmos à distância de um “clique”, a tecnologia provoca o isolamento, o que tem consequências na socialização e na maneira de comunicarmos. Dialogar implica uma articulação de pensamento em termos linguísticos e auditivos. Se não socializarmos, não comunicamos e, se não comunicarmos, debilitamos algumas capacidades do cérebro. A promoção da socializa-

ção pela Animação Sociocultural contribui, assim, para a prevenção da nossa saúde mental. Não se pode deixar de exercitar o cérebro. Todas as atividades são essenciais: ler, escrever, falar, observar… tudo é necessário para a prevenção de doenças degenerativas do cérebro, as quais se agravam com o avançar da idade. As instituições de âmbito social e as instituições da vertente da saúde deveriam ter programas adequados de Animação Sociocultural, nos quais seria trabalhada, especificamente, a prevenção de doenças do cérebro, com o objetivo de melhorar a autonomia e a qualidade de vida do ser humano. Ao continuar a não adotar políticas de prevenção, as doenças relacionadas com a demência aumentarão no Serviço Nacional de Saúde. Apostar em profissionais de Animação Sociocultural implementaria uma diversidade de ofertas de atividades lúdicas e terapêuticas de baixo custo, tornando o ser humano mais alegre e feliz, melhorando o seu bem-estar e, consequentemente, a sua saúde mental. Prevenir com a Animação Sociocultural é contribuir para um futuro mais saudável.


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Hidroginastica e os seus benefícios na Terceira Idade Pedro Miguel Neves

Diretor Técnico MatosinhoSport

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Envelhecimento e os seus desafios O envelhecimento é, atualmente, um dos grandes desafios sociais e clínicos deste século. Nos dias que correm, a população mundial está envelhecida e, de acordo com estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde, no ano 2050 prevê-se que os valores aumentem no que diz respeito ao número de pessoas idosas. De acordo com dados das Nações Unidas, a percentagem total de pessoas idosas a partir dos 60 anos de idade era, em 1990, de 9,2%, em 2013 de 11,7% e em 2050 prevê-se que esta faixa etária represente 21,1% da população mundial. Em termos concretos, calcula-se que os 841 milhões de pessoas idosas existentes a nível mundial em 2013 atinjam mais de 2 biliões em 2050. Sobre este tema prevê-se ainda que, pela primeira vez a nível global, o número de pessoas idosas irá ultrapassar o número de crianças no ano de 2047. O processo de envelhecimento no indivíduo está relacionado com incontáveis transformações físicas e psicológicas. A diminuição da força muscular e flexibilidade articular altera a coordenação motora e o equilíbrio, impedindo a manutenção de um estilo de vida saudável e a prática de atividades da vida diária. Essas alterações interferem na área motora e, aliadas a outras como a diminuição da sensibilidade visual e auditiva e da memória, promovem o próprio isolamento, podendo contribuir para situações de depressão e para a inatividade.

A inatividade no idoso poderá favorecer o aparecimento e o agravamento de algumas patologias que são atribuídas ao envelhecimento, como a doença arterial coronariana (cardiovascular), cerebrovascular (AVC), hipertensão arterial, diabetes, osteoartrite, osteoporose, obesidade, entre outras. Além disso, as quedas e suas consequências são também episódios bastante comuns. Devido aos traumas psicológicos que provocam, os indivíduos idosos receiam uma nova queda levando-os a um estado de imobilidade e inatividade. Todo este quadro salienta a necessidade de se criarem condições ajustadas para um envelhecimento positivo e para a sua autonomia, produtividade e inclusão na sociedade, diminuindo as suas limitações próprias da idade. A participação ativa na sociedade das pessoas idosas é um dos pontos fundamentais para o envelhecimento saudável, tendo diversos benefícios comprovados, tais como o aumento da saúde mental e da qualidade de vida relacionada com a saúde. Alguns autores consideram existir três caraterísticas comportamentais comuns ao envelhecimento saudável: prática regular de exercício, manutenção da vida social e do estado de espírito positivo.

Atividade física na Terceira Idade Tal como referido anteriormente, a prática de exercício físico é um fator decisivo e determinante na melhoria da qualidade de vida. Apesar dos be-

nefícios que se atribuem, não podemos desconsiderar os malefícios que o exercício causará se não for adaptado às caraterísticas fisiológicas do idoso. Antes de iniciarem qualquer tipo de atividade física é necessária a realização de um exame médico e um teste de esforço de forma a aferir o grau de risco relacionado ao exercício praticado e estabelecer intensidades e volumes ajustados ao nível de condição física. Devemos, também, evitar as mudanças bruscas de temperatura ou exposição excessiva ao frio ou calor, que pode, devido à maior dificuldade de adaptação, ocasionar hipotermia ou, no caso de temperaturas muito elevadas, hipertermia. Um programa bem planeado deve conter exercícios para aumento da força muscular, flexibilidade articular e aumento da capacidade aeróbia. Além dos benefícios fisiológicos, a atividade física proporciona ao idoso dinâmicas coletivas e sociais onde o indivíduo se sente mais feliz, fica bem consigo mesmo e aumenta a sua autoestima, contribuindo para o seu bem-estar e para uma melhor qualidade de vida. A socialização através da prática de atividade física tem o papel de trazer mais diversão para a vida dos idosos e, com isso, mais sorrisos. Portanto, a escolha da atividade deve ser feita de forma cuidada, respeitando as limitações e vontades individuais e que esteja de acordo com o nível de intensidade e duração e proporcione prazer ao ser realizada. Os exercícios ou atividades mais comuns para os idosos são, preferencialmente, as caminhadas, pilates e hidroginástica. Devido à crescente procura da hidroginástica por parte da população sénior, apresentamos alguns aspectos que fazem dessa atividade uma excelente opção.

Hidroginástica

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A hidroginástica é uma forma de atividade física aeróbia constituída por exercícios aquáticos específicos, baseados no aproveitamento da resistência da água como sobrecarga. Imerso em meio líquido, um corpo sofre uma força de baixo para cima


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igual ao peso deslocado. Devido a essa força, os corpos imersos apresentam um peso inferior ao apresentado no solo podendo flutuar. A flutuação diminui o efeito da ação gravitacional, reduzindo a compressão articular o que suaviza o impacto na realização dos movimentos facilitando a sustentação do próprio peso. Para o iniciante, o envolvimento aquático pode ser desconfortável, sendo portanto necessário orientá-lo quanto à postura adequada, alinhamento do centro de gravidade e centro de flutuação, além de observar o nível da água, que deve estar na altura do peito, para que este exercício seja confortável. A pressão hidrostática é outro princípio físico a ser considerado ao elaborarmos um programa de hidroginástica. Quando um corpo está submerso na posição vertical em repouso, as forças compressivas exercidas pela pressão hidrostática favorecem o retorno venoso, ocorrendo um aumento no volume sanguíneo central. Como a água apresenta maior densidade e viscosidade do que o ar, irá provocar um aumento da resistência direta de forma consequente. Naturalmente, o deslocamento neste meio requer uma quantidade maior de energia despendida. A temperatura da água é outro ponto fundamental a ser observado. Os exercícios realizados a uma temperatura de aproximadamente 26 a 29,5ºC favorecem uma melhor atitude fisiológica, já que em temperaturas muito baixas a circulação periférica é diminuída devido à vasoconstrição, reduzindo a oxigenação muscular, aumentando a rigidez, o risco de lesões e a ocorrência de cãibras. Quando entramos na piscina temos a sensação de que a água está fria, pois está a uma temperatura mais baixa do que o nosso corpo. Mas temos que ter em mente que iremos entrar na piscina para nos exercitar e não para ficar parados. Então, porque é que a temperatura da água da piscina não pode ser mais elevada? Como fazemos exercício físico dentro da água e a água ajuda o sangue a voltar para o coração, se fizermos exercícios em água com temperatura mais alta a pressão arterial poderá baixar. Como o exercício físico causa dilatação dos vasos sanguíneos e com o retorno facilitado do sangue para o coração a pressão arterial pode diminuir e causar sintomas de tontura, visão turva e sensação de desmaio. Outro problema da água muito quente é que será necessária uma maior quantidade de cloro para a desinfecção da piscina. Com temperaturas altas, o produto evapora mais rápido e a proliferação de doenças poderia ser aumentada podendo provocar diarreias, dermatites, micoses, entre outras.

© US Air Force photo by Tommie Horton

da natação, pessoas que apresentam medo costumam adaptar-se bem à hidroginástica. A flexibilidade, o equilíbrio, a coordenação motora e a modificação da composição corporal são igualmente beneficiados pela hidroginástica. A sobrecarga natural que a água oferece pode ser intensificada ou reduzida de acordo com os objetivos que se queiram alcançar através da utilização de incrementos como flutuadores, luvas, step, halteres, entre outros. Este uso de incrementos só deverá ser utilizado após um período de adaptação, quando houver o pleno domínio do meio, não sendo indicado para todos. Desse modo evita-se o risco de sobrecarga excessiva, principalmente em relação à coluna cervical e lombar e à articulação do ombro. Os exercícios aeróbios também devem ser controlados, onde o professor deverá estar atento aos sinais de exaustão do praticante utilizando a escala de BORG, que indicará um conhecimento do cansaço individual, evitando exageros. Os exercícios realizados devem procurar amplitude, coordenação e a atuação dos grandes grupos musculares primando pela simplicidade. Com o aproveitamento das propriedades e benefícios da água, juntamente com as leis físicas acima relacionadas poderemos partir para uma diferenciação entre hidroginástica e a ginástica tradicional. Transferir os exercícios realizados em terra (nomeadamente em ginásios e academias) sem

Hidroginástica na Terceira Idade Embora a hidroginástica não seja uma atividade única e exclusiva para idosos, é nesta faixa etária que encontramos o maior número de praticantes. As vantagens que a hidroginástica oferece em comparação com os exercícios terrestres vão desde a possibilidade de aumento de sobrecarga com menor risco de lesões, passando pelo maior conforto devido à temperatura adequada da água. Em virtude da posição verticalizada, diferentemente

© Flickr by OakleyOriginals

“A prática de exercício físico é um fator decisivo e determinante na melhoria da qualidade de vida.”

respeitar as características desse meio constitui um erro que pode causar danos aos praticantes. Para além dos benefícios fisiológicos do exercício aquático descritos anteriormente, a hidroginástica também promove melhorias ao nível psicológico. Esta atividade oferece um ambiente de relaxamento e um aumento da sensação de bem-estar, independência e diminuição do stress e da depressão. A prática de hidroginástica diminui os sintomas depressivos através do fator social que promove, permitindo a interação e o convívio entre as pessoas idosas. Claramente que esta forma de exercício físico tem conquistado um grande número de “jovens avós”, seja pelos resultados e benefícios físicos ou pelo bem-estar psicológico e social promovido pelo convívio e confraternização entre praticantes.

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Envelhecer de forma ativa musicando com arte Miguel Rivotti Professor e músico

M

uito se tem escrito e discutido sobre a presença e o poder da música na vida humana. Desde a vida intrauterina até ao momento da nossa partida, a música está de algum modo sempre presente na vida das pessoas. Ora utilizada para acalmar, embalar e tranquilizar, ora utilizada para energizar, contagiar e animar momentos de maior euforia, a música tem o poder mágico de despertar, quer nos seres humanos quer nos animais, reações fortes e sensações únicas, despoletando emoções que marcam para sempre a memória de quem as vive. É o poder da música! É a magia dos sons que se aglutinam, vibram e combinam ao jeito do fim a que se destinam, e que pertencem ao universo sensitivo, sem que para tal sejam necessárias palavras ou frases poeticamente construídas. Muitos de nós já ouvimos relatos de grávidas que sentem o seu feto mais calmo ou mais agitado, consoante o tipo de música ou sons aleatórios, aos quais a futura mãe está sujeita no seu dia a dia. Muitos também são os relatos de mães, cujos filhos acalmam o seu choro quando ouvem “aquela música” ou sons que tantas ve-

zes a mãe ouviu enquanto grávida. É o poder da música! São os sons em movimento, são as emoções que eles transportam. E o porquê de vos escrever hoje sobre tudo isto? Já ouviram certamente falar de Musicoterapia. Uma palavra muito usada nos nossos dias, mas nem sempre bem entendida. Música + Terapia. Ora, será a música o “remédio”, a “cura”, a “pílula”, a terapia certa para muitas doenças? De que forma? Em que medida pode a música mediar na doença entre a dor e a cura? E entenda-se que nem sempre a dor é somente física, pois, tal como existe um universo de doenças, existe também um universo de dores cuja cura não assenta nos fármacos que se ingerem. Pois bem! Sem qualquer posição fundamentalista, proponho uma reflexão aos profissionais e auxiliares de saúde, bem como aos cuidadores que acompanham os “nossos” familiares de idade madura que se encontram em contexto de internamento hospitalar, lares ou ambiente domiciliário, sobre qual o lugar que está a ser dado ao cultivo da arte na Terceira Idade, a importância que está a ser dada à presença da música na vida do idoso, tendo como finalidade não só o quebrar de uma possível solidão ou nostalgia, mas sim a cura e o alívio da mente. Mens sana in corpore sano (“mente sã num corpo são”). Esta famosa citação latina derivada da Sátira X do poeta romano Décimo Junio Juvenal, corrobora a ideia que o controlo dos pensamentos e manutenção dos mesmos são essenciais para uma boa ordem do corpo. Ora, a música e as restantes formas de expressão artística, podem “controlar” e ocupar a mente do idoso, curando ou amenizando a dor, contrariando, surpreendentemente, muitos prognósticos.

“Desde a vida intrauterina até ao momento da nossa partida, a música está de algum modo sempre presente na vida das pessoas.”


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“Cuidar bem é uma arte e o musicoterapeuta cultiva-a, fomentando o envelhecimento ativo!”

© Bryan Schneider

Felizmente, nos dias de hoje, já conseguimos encontrar lares, centros de dia e residenciais para idosos, com bastante qualidade, estando estes altamente equipados não só em termos de infraestruturas, como em recursos humanos e dinâmica organizacional, cuja política de cuidados passa pela implementação de um conjunto de estratégias que promovam um envelhecimento ativo com programas estruturados e acompanhados por profissionais, como por exemplo a atividade física, as terapias, as artes, entre outras, existindo a preocupação de manter o idoso ativo e inserido de modo contínuo no meio, ao invés de o retirar ou isolar, como infelizmente ainda acontece em alguns casos que vêm a público. Que lugar, então, deve ocupar a arte, em concreto a música, nestes locais, que cuidados há a ter e como os implementar junto do idoso? Bastará ligar o rádio ou a televisão numa sala de convívio e a missão da música que se fará ouvir está

cumprida? Será a mesma coisa ligar o rádio ou colocar música gravada para o idoso ouvir, ou fará toda a diferença se este estiver em contacto direto com o músico que toca e canta diretamente no espaço onde se encontra com o utente, promovendo-se assim uma maior interação social, apropriando-se técnicas humanizadas? Nesta ação concreta, é mais importante a qualidade humana de quem toca, ou devemos ter mais em atenção as habilidades musicais do músico? O que é mais importante ter em conta? Que músicas devemos tocar ou cantar? Aquelas que são mais do agrado do músico e que revelam maior performance musical por parte do executante ou aquelas com as quais o idoso mais se identifica e que lhe traz à memória boas recordações que os fazem “viver”? Pois bem! Importa ter em conta o contexto onde será exercida a ação. Se a intervenção do musicoterapeuta for dirigida para um grande grupo de idosos independentes, o musicoterapeuta não conseguirá personalizar tanto a sua ação. Poderá, no entanto, tendo conhecimento prévio das tradições do lugar e da origem das pessoas que se encontram no grupo, preparar uma sessão onde queira apresentar uma novidade, fazer uma surpresa, promover novas experiências musicais ao grupo face às anteriormente apresentadas, sempre com o objetivo de surpreender e envolver ativamente os utentes na atividade musical que se pretende lúdica e ao mesmo tempo terapêutica, valorizando sempre uma ação de proximidade mas com respeito pela individualidade, comunicando de algum modo com todos os elementos do grupo através do som do instrumento, da voz cantada, do olhar cativante, do sorriso aconchegante, o toque afagante. Quando num grupo mais reduzido, na presença de pessoas com demência já em estado avançado, o musicoterapeuta poderá valorizar mais a não verbalidade optando por recorrer aos instrumentos e sons que possam despertar no utente uma maior reação positiva e permitir que estes, se possível, sintam per si, com o seu tato, o instrumento que os encanta, as vibrações que os despertam. Nesta altura, será uma mais valia para o musicoterapeuta, elaborar uma ficha com a identidade sonora e musical do utente, por forma a poder registar elementos que permitam uma melhor planificação de estratégias interventivas junto daquele utente, face aos resultados que se

pretendem alcançar. Nestes casos, o mais importante é estar com as pessoas com qualidade, mediados pela música, criando-se deste modo um vínculo com o utente, permitindo deste modo que se abram canais alternativos de comunicação. Importa ter a capacidade de ler as reações no momento da atuação e agir de acordo com estas. Importa que o musicoterapeuta tenha uma grande capacidade de improviso, e que as suas estratégias de ação sejam moldáveis face às várias situações e casos com que se depara, estabelecendo com o utente uma relação de maior empatia possível. Quando a sessão de trabalho do musicoterapeuta se destinar a uma pessoa acamada, a sua intervenção deverá assemelhar-se à do pequeno grupo, mas agora mais personalizada, íntima e empática. Importa não esquecer que aquela pessoa que é alvo da nossa atenção, passa muitas horas sozinha e em silêncio, e que o musicoterapeuta vai levar vida, outra vida, outra energia que é transportada pela sua presença e pelos sons que serão apresentados. É um momento delicado e de certa forma frágil, pelo que deverá ser “manipulado” com cuidado e sabedoria. O musicoterapeuta deverá parar, respirar e colocar-se no lugar do outro. Reduzir o volume, reduzir a intensidade e chegar devagarinho para perceber se o outro nos quer, se necessita de nós e do que necessita. Pretendendo acompanhar e estar com o outro, mostrando o que melhor sabe fazer, o musicoterapeuta usará, certamente, de forma sábia, o poder da música para chegar ao outro, revelando-se esta ação verdadeiramente transformadora e transcendente em muitos casos. O corpo do utente dará sinais vitais e compete ao musicoterapeuta, técnicos geriátricos, profissionais de saúde e cuidadores, saberem interpretar as reações e movimentos e agirem saudavelmente sobre os mesmos, visando o bem-estar daquele que precisa de nós. Em suma, podemos concluir que a ação profissional de um musicoterapeuta em contexto geriátrico é de extrema importância quer para o idoso quer para os restantes profissionais que se ocupam destes utentes, pois para além dos resultados terapêuticos cientificamente comprovados, a atividade do musicoterapeuta ajudará a quebrar a rotina do ambiente de internamento, proporcionará maior animação e alegria ao espaço, e facilitará de forma mais fácil a relação cuidador – utente, utente-utente, e utente-meio envolvente, para além dos benéficos resultados psico-emocionais e psico-somáticos, num ambiente de trabalho que sabemos ser duro, de rotinas exigentes e desgastantes aos profissionais cuidadores. Cuidar bem é uma arte e o musicoterapeuta cultiva-a, fomentando o envelhecimento ativo!


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Envelhecimento ativo e a música Patrícia Dias Enfermeira

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o decorrer das últimas décadas é possível verificar grandes alterações sociodemográficas, caraterizadas por processos de declínio da natalidade, aumento da longevidade e da melhoria das condições de vida, assim como no acesso aos cuidados de saúde. A longevidade da população na Europa tem aumentado ano a ano, Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia, sendo que em 2016, 20,7% da sua população tinha 65 ou mais anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística em 2017. Esta crescente expressão demográfica favorece os fenómenos de senescência e senilidade. O envelhecimento resulta da conjugação entre processos de degradação celular, dos órgãos e dos sistemas, fatores ambientais, fatores físicos, psicológicos e sociais. As principais alterações a nível físico prendem-se com alterações músculo-esqueléticas, a neurológicas e sensoriais. De acordo com Zimerman, a pessoa idosa sofre algumas alterações a nível psicológico, decorrentes do envelhecimento, que podem resultar na dificuldade de adaptação a novos papéis, ausên-

cia de motivação e dificuldade em planear o futuro, na necessidade de ultrapassar as situações de perda e na adaptação difícil a mudanças rápidas. A pessoa idosa é vista sob várias perspetivas na sociedade, assumindo vários estatutos sociais ao longo da sua vida que definem a sua identidade. Com o passar dos anos, o idoso sofre algumas perdas graduais, com as quais necessita de lidar de forma saudável, prevenindo complicações físicas e mentais. O envelhecimento não deve de ser considerado como algo negativo, se o indivíduo adota estilos de vida saudáveis e permanece ativo, pode envelhecer com qualidade de vida, mesmo em idade avançada. O envelhecimento ativo é definido como o processo de otimização das

oportunidades para a saúde, participação e segurança, para a melhoria da qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem, bem como o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, que contribui para o bem-estar das pessoas idosas, sendo a capacidade funcional o resultado da interação das capacidades intrínsecas da pessoa (físicas e mentais) com o meio, segundo a definição da Organização Mundial de Saúde. Assenta no objetivo de ao longo do ciclo vital atingir um potencial de bem-estar (onde as componentes mental, social e física são indissociáveis), acrescentando-lhe outros dois pilares: participação e segurança. O termo Participação está ligado à “atividade” social, económica, cultural, espiritual, e cívica da pessoa idosa e, assim sendo, este conceito vai muito para além da atividade física ou laboral. O termo Segurança está associado à dignidade, proteção e a prestação de cuidados de acordo com as especificidades deste grupo etário. A promoção de um envelhecimento ativo ao longo do ciclo de vital tem sido o trajeto apontado pela Organização Mundial de Saúde como resposta aos desafios relacionados com a longevidade e com o envelhecimento da população. A música traz uma nova forma de cuidar díspar do convencional, proporciona um ambiente saudá-

“A música na população idosa pode prevenir, atenuar ou, ser usada como forma de tratamento das principais problemáticas desta faixa etária.”


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vel, valorizando o idoso e fortalecendo a sua interação com o meio que o rodeia. Por isso a música é uma terapêutica complementar valiosa, que exerce influência sobre os aspetos neurocognitivos, emocionais, psíquicos e sociais do idoso, ou seja, desempenha um importante papel na manutenção e na melhoria da qualidade de vida, além de propiciar maior interação deste com o meio social e familiar.

“A musicoterapia atua na estimulação sensorial, ajudando a prevenir o atraso mental e a deterioração física (...)” A música desperta ainda certas recordações relacionadas com as vivências pessoais, que fazem parte da história musical de cada um. Brincadeiras da infância, envolvendo cantigas, amores do passado, lugares que foram visitados em passeios. A música na população idosa pode prevenir, atenuar, ou ser usada como forma de tratamento das principais problemáticas desta faixa etária. A musicoterapia promove um relaxamento, de forma a diminuir a ansiedade, possibilita uma distração de experiências desagradáveis. A música contribui para a qualidade de vida dos idosos, fornecendo meios para compreenderem e desenvolverem a sua identidade, interagirem com as pessoas e o meio, manterem o seu bem-estar, expressarem a sua espiritualidade e estabelecerem ligações com as suas memórias de vida. Mais especificamente contribui para uma autoestima positiva, promovendo o sentimento de independência, competência e diminuição dos sentimentos de isolamento e abandono, o que, consequentemente, contribui para o aumento da qualidade do envelhecimento. A musicoterapia atua na estimulação sensorial, ajudando a prevenir o atraso mental e a deterioração física, e tem demonstrado benefícios como: aumento da força e da mobilidade dos membros inferiores e superiores; promoção da interação social; estimulação da memória a longo prazo; melhoria da memória a curto prazo e outras competências cognitivas como a redução da confusão mental e melhoria da retenção de informação; melhoria da orientação para a realidade e da autoestima; promoção do relaxamento e da redução do stress; melhoria da linguagem e da comunicação verbal; redução de comportamentos desadequados; redução da agitação motora e aumento da reminiscência, isto é, recuperação de acontecimentos passados da própria pessoa utilizando memórias felizes da infância, adolescência e da fase adulta para melhorar o humor no tempo atual. Pode-se assim concluir que a música é uma ferramenta extraordinária de baixo custo e de simples aplicação, podendo ser usada como uma estratégia para um envelhecimento mais saudável e ativo, produzindo efeito tanto a nível físico como mental.


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© Life Of Pix

Envelhecimento VDXG£YHO Fatores de risco para o declínio cognitivo e demência Madalena Pinto

Médica Neurologista no Centro Hospitalar São João

A

Organização Mundial de Saúde estima que em todo o mundo existam 47,5 milhões de pessoas com demência, número que pode atingir os 75,6 milhões em 2030 e quase triplicar em 2050 para os 135,5 milhões. A Demência de Alzheimer é o tipo mais comum de demência. No presente momento não existe cura, pelo que é fundamental prevenir. Objetivos de conhecimento dos fatores de risco e a sua relação com a demência: » » »

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informar a população geral, melhorando o seu nível de conhecimento sobre a saúde e doença; permitir que os médicos reconheçam quais os doentes em maior risco; ajudar ao desenvolvimento de novos medicamentos que atuem sobre alvos mais específicos; e se possível, prevenir ou, pelo menos, adiar o aparecimento da demência.

O que quer dizer “risco” e “fator de risco” O risco de desenvolver uma doença é a probabilidade que tal aconteça a um indivíduo ao longo de um dado período de tempo. Todos temos algum risco de desenvolver demência, mas alguns de nós têm um risco maior em relação a outros. Por exemplo, é mais provável uma mulher de 80 anos desenvolver demência nos 5 anos seguintes do que uma mulher de 40 anos. Fator de risco é qualquer um que aumente a probabilidade de a pessoa vir a desenvolver a doença. Na demência existirá certamente uma combinação de fatores – alguns que podem ser evitados e outros impossíveis de controlar. Contudo, ter um fator de risco não quer dizer que a pessoa vá obrigatoriamente ter uma demência no futuro. Do mesmo modo, evitar fatores de risco não garante que uma pessoa vá permanecer saudável, mas torna tal mais provável.

Muitos fatores de risco foram descobertos em estudos que envolveram grandes grupos populacionais, procurando analisar o que tinham em comum os doentes que desenvolveram demência. Contudo, fator de risco não significa causa de demência. A relação entre fator de risco e demência até poderá funcionar ao contrário, isto é, a demência aumentar a probabilidade da pessoa ter o “aparente” fator de risco – por exemplo, depressão no idoso. Ou podem ambos, fator de risco e demência, ter uma causa subjacente comum. Para outros fatores, a relação é mais plausível face ao nosso conhecimento atual. Um bom exemplo é o modo claro como a hipertensão arterial (HTA) pode causar acidente vascular cerebral (AVC) e como o AVC pode causar demência vascular, e portanto a HTA é um fator de risco para a demência vascular.

Quais os fatores de risco para a demência A maior parte do conhecimento recai sobre as demências mais comuns: demência de Alzheimer (DA), demência vascular (DV) e demência mista (DA+DV). Para tipos de demência mais raros, como a demência frontotemporal e a demência com corpos de Lewy, os fatores de risco são menos conhecidos. A idade adulta é a melhor altura da vida para adotar estratégias de redução dos fatores de risco, se ainda não estiverem em curso. O principal fator de risco é a idade. Acima dos 65 anos, o risco de desenvolver demência duplica a cada 5 anos. Cerca de 1% das pessoas com mais de 65 anos e mais de 50% das pessoas com mais de 85 anos têm demência. Este fator pode estar relacionado com alterações associa-


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das à idade (nomeadamente nos sistemas auto-reparadores neuronais, cardiovascular, imune e hormonal) e à maior frequência de fatores de risco vascular (HTA, diabetes mellitus, doença cardíaca, hipercolesterolemia). O género feminino é outro fator de risco para a DA, em especial após os 80 anos. Pensa-se que poderão estar implicados fatores hormonais. Fatores genéticos podem igualmente contribuir. Ter um familiar em primeiro grau com DA aumenta ligeiramente o risco, embora o papel dos genes no desenvolvimento da doença ainda não seja bem conhecido. Identificaramse já alguns genes cujas mutações aumentam o risco de desenvolver a doença, mas que não a causam forçosamente. Também é possível herdar genes que causam demência, isto é, os portadores irão seguramente desenvolver a doença ao longo da vida, geralmente relativamente cedo, embora tal seja mais raro. Nessas famílias existe um padrão claro de transmissão de uma geração para outra. Esse padrão, autossómico dominante, que sugere DA familiar, constitui uma forma rara da doença. Embora alguns fatores de risco genéticos tenham sido identificados, a idade permanece como fator de risco principal para o desenvolvimento de DA esporádica (que constitui a maior parte dos casos de DA). Segundo Miia Kivipelto da Universidade Karolinska (Estocolmo), pelo menos um terço de casos de DA está relacionada com fatores de risco que podem ser modificáveis. Mesmo o atraso do início de demência em 5 a 10 anos, com a adoção de um estilo de vida mais saudável, poderá ter um impacto global enorme. Doenças e condições médicas Diabetes mellitus (DM) tipo 2 na idade; HTA na idade adulta;

por sua vez levam à morte e perda de neurónios, e consequente demência. As pessoas que consomem quantidades excessivas de álcool (ou por longos períodos) podem ter falta de vitamina B1 (tiamina) e de B12 (cianocobalamina), o que pode afetar os circuitos da memória, e/ou podem sofrer um efeito tóxico direto do álcool, que causa morte neuronal e consequente atrofia cerebral. »

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Depressão: a depressão poderá ser fator de risco ou sintoma de demência. Não está bem esclarecido se a depressão é uma causa ou consequência da demência, mas ter sintomas de depressão pela primeira vez após os 60 anos pode merecer atenção e seguimento regular. Traumatismo craniano: as pessoas que sofrem traumatismos cranianos graves e repetidos estão em maior risco de desenvolver demência. É possível que os depósitos que se formam no cérebro como resultado das lesões, estejam ligados ao início de demência. Outras condições: a Doença de Parkinson, a Esclerose Múltipla, a Síndrome de Down, e o vírus da imunodeficiência humana constituem fatores de risco para demência.

Outras doenças poderão constituir fatores de risco, mas é necessária maior investigação (perda auditiva, apneia do sono, ansiedade, doença renal crónica). O isolamento social também constitui um fator de risco possível, mas necessita de confirmação em estudos futuros.

Hipercolesterolemia na idade adulta; Obesidade na idade adulta; Tabagismo; Consumo de álcool.

Estes são fatores de risco também para a doença cardiovascular e constituem fatores de risco modificáveis. Aumentam o risco global de demência, assim como de DV e de DA. Os fatores de risco vascular e a demência constituem problemas mais comuns à medida que a idade avança. Os fatores de risco vascular podem ser precipitantes de DA ou atuar de modo sinérgico (DA+DV). Por exemplo, a hipertensão causa alteração na parede das pequenas artérias cerebrais, que podem levar à falta de oxigenação cerebral, e causar AVCs (quer por falta de irrigação quer por hemorragia), que

O que faz a investigação atualmente? A relação entre estes fatores de risco e a DA é complexa, e continua a ser fonte de debate. Estudos populacionais em diferentes países, encontram-se em curso para investigar e tentar descobrir um pouco mais sobre os seus papéis no desenvolvimento das demências.

Referências bibliográficas

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O papel do Médico de Família na demência Prevenir antes de diagnosticar Elisa Serôdio

A

Medicina Geral e Familiar

demência é o maior desafio global para a saúde no século XXI. É definida como sendo um declínio cognitivo, em vários domínios (memória, comunicação, raciocínio), que dificulta as capacidades funcionais do indivíduo. Em 2015, cerca de 47 milhões de pessoas estavam diagnosticadas com demência e as estimativas apontam para que este número triplique até 2050. A posição do Médico de Família no sistema de saúde e as responsabilidades de prevenção e de promoção de saúde dos doentes implicam uma atividade clínica centrada na pessoa mas que tenha em conta o seu contexto familiar, social, laboral e cultural. O Médico de Família, pela sua proximidade nos cuidados de saúde, tem um papel fundamental no diagnóstico precoce da deterioração do estado cognitivo e fase inicial de uma demência, uma vez que ao acompanhar o seu doente ao longo da vida, está mais atento a pequenas alterações de comportamento e de memória. No diagnóstico da fase inicial de uma demência, é importante estar atento a pequenas mudanças. O alerta surge muitas vezes pela presença de alterações cognitivas, como alterações da memória, dificuldade na comunicação escrita e falada, não reconhecimento de acontecimentos comuns e desorientação ou alterações funcionais como di-

ficuldade na execução de atividades de vida diária pelas demências de causa vascular. As demências (no trabalho, na condução, no uso de dinheiro), podem, ainda, ser secundárias a outras patologias, descuido pessoal/doméstico ou desorientação sendo fundamental um correto e precoce diagnósespacial/temporal. São também frequentes pro- tico, tendo em atenção a possível reversibilidade blemas como delírio, agitação, insónia/inquieta- do quadro. Para tal, é importante considerar os anção noturna ou alterações de personalidade com tecedentes pessoais, como hábitos medicamenmanifestação de afetos inapropriados, embota- tosos e tóxicos, traumatismos e a história familiar. mento ou desinteresse, discursos agressivos/exO Médico de Família perante a suspeita de um plosivos ou sexualidade exagerada. Podem estar quadro demencial exclui as causas tratáveis que associados sintomas psiquiátricos como humor podem justificar estas alterações, como alteradeprimido, ansiedade, insónia, apatia, alucina- ções metabólicas/endócrinas, infeciosas, tóxicas, ções, desconfiança/paranóia e consequente iso- medicamentosas, carências de vitaminas, entre lamento social. A evolução da doença é muitas outros. Para tal, faz um estudo com recurso a vezes lenta. Numa fase inicial ocorrem pequenas análises de sangue e imagem cerebral, como por falhas, como por exemplo, atingimento da memó- exemplo, TAC. Para além da informação obtida ria. Os erros e as dificuldades vão-se agravando na entrevista clínica ao doente, aos familiares e ao começando a ser percetíveis pelos familia- “O Médico de Família, pela sua proximidade nos res. Há, muitas vezes, cuidados de saúde, tem um papel fundamental deterioração da perso- no diagnóstico precoce da deterioração do estado nalidade, dificuldade de cognitivo e fase inicial de uma demência (...)” reconhecer familiares e amigos, desorientação e perturbação do discur- cuidador, o diagnóstico é muitas vezes compleso. Podem também, apresentar hiperatividade/ mentado um exame físico completo e exame neuagressividade ou alucinações. rológico. Há, ainda, espaço para a aplicação de As demências podem ter múltiplas causas. escalas de avaliação funcional e do estado mental As demências primárias ou degenerativas afetam como o Mini Mental State Examination (MMSE) e principalmente as pessoas mais idosas, sendo a de outros exames complementares de diagnóstiDoença de Alzheimer a mais frequente, seguida co, caso sejam necessários.


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“A família, a comunidade e a sociedade têm um forte impacto na forma como se envelhece.” © Pixabay

Tabela 1. Fator de risco

Mecanismo de ação Associada ao aumento do risco de desenvolver demência.

Baixa escolaridade

Pode aumentar a vulnerabilidade ao declínio cognitivo, uma vez que reduz a reserva cognitiva, fundamental para a manutenção da função cerebral. Aumenta o risco a longo prazo de declínio cognitivo e demência em indivíduos que

Perda auditiva

estão cognitivamente bem. O mecanismo ainda não é conhecido mas pode estar associado ao isolamento social, depressão e atrofia cerebral acelerada.

Redução no exercício físico Diabetes, obesidade

Relação inversa entre a prática regular de exercício físico e o risco de demência. A atividade física tem um efeito protetor contra o declínio cognitivo e tem outros benefícios como melhorar o equilíbrio, redução de quedas, melhoria do humor. São fatores de risco vasculares que podem condicionar várias alterações cerebrais.

e hipertensão arterial Tabagismo

Depressão

Associação entre o tabagismo e a patologia cardiovascular, mas também o fumo do tabaco contém neurotoxinas, que aumentam o risco. Pode aumentar o risco de demência pelo atingimento das hormonas de stress, fatores de crescimento cerebral e volume de regiões cerebrais. É um fator de risco para demência, aumenta o risco de hipertensão, doença coronária

Isolamento social

e depressão. Leva a uma inatividade cognitiva, que está ligada ao declínio cognitivo e à alteração do humor.

Tabela 2. Fator preventivo

Intervenção Possível proteção cognitiva através de uma alimentação saudável, nomeadamente com

Alimentação saudável

a dieta mediterrânica, com consumo de peixe rico em Ómega 3, frutos secos, fruta, cereais, azeite e pouco consumo de carnes vermelhas, gorduras saturadas e açúcares refinados e consumo moderado de álcool. Tem como objetivo potenciar as capacidades intelectuais de um indivíduo. Atividades que estimulem a atividade cerebral reduzem o risco de declínio cognitivo e de demência. O treino da memória normalmente ensina mnemónicas, estratégias de concen-

Treino cognitivo

tração e de atenção, de relaxamento, de motivação, de resolução de problemas. Atividades de lazer que estimulem o intelecto, como jogos de computador, puzzles e leitura, ler um livro por mês, ler jornais, experimentar uma atividade de lazer nova (pintura, música,…). Os indivíduos que praticaram mais exercício físico ao longo da vida estão menos propensos ao desenvolvimento de declínio cognitivo ou demência.

Exercício físico regular

O exercício aeróbico (corrida, marcha e treino de resistência) parece ser aquele com

Mas tão ou mais importante do que um diagnóstico precoce, é fundamental prevenir ou atrasar o aparecimento do declínio cognitivo e dos quadros demenciais. E neste âmbito, o Médico de Família tem um papel essencial. O declínio cognitivo consiste na perda progressiva das capacidades cognitivas, que habitualmente acompanham o envelhecimento. Tem grande impacto social e está associado ao aumento da esperança média de vida. Fatores relacionados com o estilo de vida podem reduzir ou aumentar o risco individual de desenvolver demência, tais como fatores de risco cardiovasculares, incluindo diabetes, hipertensão e obesidade na meia-idade, inatividade física, tabagismo, depressão e baixa escolaridade. Alguns fatores de risco de demência, incluindo doença cerebrovascular, doença metabólica e fatores psiquiátricos, dieta, estilo de vida e educação são potencialmente modificáveis (Tabela 1). O Médico de Família pode intervir ativamente nestes fatores de risco modificáveis, por um lado, incentivando a adoção de estilos de vida saudáveis e, por outro, controlando doenças de base como a hipertensão, a diabetes, a hipercolesterolemia (Tabela 2). O Médico de Família deve estimular um envelhecimento ativo e saudável ao longo do ciclo de vida dos seus doentes, acompanhando o seu processo de envelhecimento. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o envelhecimento ativo e saudável é um processo de otimização das oportunidades para a saúde, para a melhoria da qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem, bem como o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, que contribui para o bem-estar das pessoas idosas. A capacidade funcional é o resultado da interação da pessoa com o meio, com a participação contínua na vida social, económica, cultural, espiritual e cívica. A família, a comunidade e a sociedade têm um forte impacto na forma como se envelhece. Assim, aumentar a capacidade funcional das pessoas idosas é fundamental. Para tal devese promover um investimento no aumento na educação infantil, em hábitos de vida saudáveis, relações sociais e controlo de fatores de risco cardiovasculares.

maior efeito preventivo, por exemplo, 30 minutos de caminhada, duas vezes por

Escolaridade

semana.

Referências bibliográficas

Altos níveis de educação são preditivos de melhor funcionamento cognitivo.

1. Frankish, H., R. Horton (2017). Prevention and management of dementia: a priority for public health. Lancet 390(10113): 2614-2615. 2. Andreia Silva da Costa, D.G.S. (2016). Estratégia nacional para o envelhecimento ativo e saudável 2017-2025. DGS: 52. 3. W. H. O. (2018). Towards a dementia plan: a WHO guide. 78. 4. Chen, S. T., et al. (2018). Health-Promoting Strategies for the Aging Brain. Am J Geriatr Psychiatry. 5. Rui Pereira Alves, A. I. C. (2010). O papel do Médico de Família no diagnóstico e seguimento dos doentes com declínio cognitivo e demência. Rev Port Clin Geral: 69-74.

A educação funciona então como uma proteção contra demência e, simultaneamente, como um mecanismo compensatório de declínio já existente. Atividade social que exige contacto interpessoal, como idas à igreja, visitas a familiares ou amigos, participação em voluntariado e envolvimento em eventos sociais e

Interação social

atividades mentais como ler, aprender a tocar um instrumento, a jogar cartas ou fazer costura parecem ter um efeito protetor. A exposição repetida e prolongada a ansiedade, depressão e stress pode ser prejudicial

Estado emocional

à saúde neuronal e, portanto, à função e reserva cognitiva. Deve-se promover a toma de medicação prescrita, a prática de exercícios de relaxamento, o convívio com os outros.

Prevenção

O maior número de fatores de risco cardiovasculares na idade adulta (tabagismo, hiper-

cardiovascular

tensão, hipercolesterolémia, diabetes) aumenta o risco de demência.


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Psicologia e Pós Geronto A união que deu certo sob o olhar de quem faz Psicólogo e especialista em envelhecimento e gerontologia

Francisco F. F. de Oliveira

O envelhecimento antes era visto apenas como um processo biológico, pois era analisado somente o declínio do corpo. No início do século XX passou a ser visto também sob um aspeto psicológico e com isso ficou claro que com as transformações ocorridas pelo processo do envelhecimento, as pessoas apresentavam mudanças de comportamento, papéis, valores e crenças.

© ramzi hashisho

E

nvelhecer tornou-se uma pretensão da sociedade e não é mais privilégio de poucos, mas sim uma realidade da população. Entretanto, este evento só pode ser considerado como conquista na medida em que se acrescente qualidade de vida aos anos adicionais. Neste sentido, as políticas públicas destinadas aos idosos necessitam fundamentalmente de incentivar e qualificar a prevenção, assistência, atenção de forma integral e humanizada à saúde desta população, considerando a capacidade funcional, necessidade de autonomia, de participação e de cuidado (Veras, 2009). Embora o envelhecimento populacional seja uma conquista da humanidade, é um fenómeno que tem consequências socioculturais e político-económicas, sendo um desafio elaborar e, principalmente, implantar políticas públicas que promovam a qualidade, equidade e a longevidade da pessoa idosa. Nesta perspetiva, a Política Nacional do Idoso (PNI) por meio da Lei n.º 8842/94 estabeleceu direitos sociais, garantia de autonomia, integração e participação dos idosos na sociedade, que contribuem para a qualidade de vida, autoestima e bem-estar, fatores importantes para que o idoso mantenha uma boa saúde física e mental, hábitos saudáveis e principalmente manutenção da sua capacidade funcional (Brasil, 1994).

Os estudos apontam que o envelhecimento pode variar de indivíduo para indivíduo, sendo gradativo para uns e mais rápido para outros. Essas variações dependem de fatores como estilo de vida, condições socio-económicas e doenças crónicas. Já o conceito “biológico” relaciona-se com aspetos nos planos molecular, celular, tecidular e orgânico do indivíduo, enquanto o conceito “psíquico” é a relação das dimensões cognitivas e psicoafetivas, interferindo na personalidade e afeto. Assim falar de envelhecimento é abrir o leque de interpretações que se entrelaçam ao quotidiano e a perspetivas culturais diferentes. A definição do envelhecimento pode ser compreendida a partir de três subdivisões: envelhecimento primário; envelhecimento secundário; e envelhecimento terciário. O envelhecimento primário, também conhecido como envelhecimento normal ou senescência, atinge todos os humanos pós-reprodutivos, pois esta é uma caraterística genética típica da espécie. Este tipo de envelhecimento atinge de forma gradual e progressiva o organismo, possuindo um efeito cumulativo. O indivíduo nesse estágio está sujeito à concorrente influência de vários fatores determinantes para o envelhecimento como exercícios, dieta, estilo de vida, educação e posição social. O envelhecimento secundário ou patológico refere-se a doenças que não se confundem com o processo normal de envelhecimento. Estas enfermidades variam desde lesões cardiovasculares, cerebrais, até alguns tipos de cancro (este último podendo ser oriundo do estilo de vida do sujeito, dos fatores ambientais que o rodeiam, como também de mecanismos genéticos). Portanto o secundário é referente a sintomas clínicos, onde estão incluídos os efeitos das doenças e do ambiente. Já o envelhecimento terciário ou terminal é o período caraterizado por profundas perdas físicas e cognitivas, ocasionadas pelo acumular dos efeitos do envelhecimento, como também por patologias dependentes da idade. Contudo, não é somente importante acrescentar anos à vida, mas também acrescentar vida aos anos. Há muitos anos, Hans Schaefer, especialista de


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renome em medicina social e Professor da Universidade de Heidelberg, afirmou: “A nossa expetativa de vida depende do nosso estilo de vida. Expetativa de vida não significa somente tempo de vida, mas também qualidade de vida; não leva em consideração somente a idade que um indivíduo terá, mas como ele envelhecerá” (Schaefer, 1975). Dentro deste contexto, a Psicologia é vista como uma prática técnica, isto é, uma prática que contém um saber (métodos, técnicas e teorias) que auxilia o desenvolvimento do homem, a retomada de um “caminho desviado”, a redução do sofrimento, o autoconhecimento necessário para o equilíbrio e a adaptação ao meio social. O psicólogo parece ter nas suas mãos a possibilidade de fazer do outro um homem feliz, colocá-lo em movimento, estimulá-lo, acompanhar o seu destino, converter perceções em consciência, estruturar, transformar, humanizar, enfim, acredita que muito pode ser feito e muitas mudanças podem ser operadas com a ajuda do psicólogo, enquanto portador de um conhecimento e enquanto ser humano dotado de intuição. No entanto, o psicólogo não muda o homem, apenas contribui para que ele próprio se modifique. Essa deve ser a sua meta. Este deve ser um aliado da transformação social, do movimento da sociedade e dos interesses da maioria da população. Ser inquieto, conspirador, que saiba estranhar aquilo que na realidade se torna tão familiar que chega a ser pensado como natural. Estar em permanente metamorfose. Aliado a essa inquietação, muitos profissionais que saíram ou estão ainda a sair das suas graduações e visam entrar no mercado de trabalho, ainda se deparam com qual divisão da Psicologia procurar? Qual o seu potencial naquele momento? Com qual área melhor se identificou, dentre as de psicologia escolar, clínica, jurídica, e outras tantas. Dentre estas que são as mais sugeridas, existe uma ainda no Brasil pouco explorada, a psicologia do envelhecimento, que carece de profissionais direcionados exclusivamente a esta demanda. O público idoso necessita de um atendimento que seja voltado para as suas especificidades e particularidades, o que faz com que o profissional que atua com este grupo se capacite no que respeita à área do envelhecimento. Portanto dentro dessa necessidade, surge a figura do Psicólogo exclusivo de idosos, que alia os seus conhecimentos de Psicologia e os adquiridos através da especialização Gerontológica. A gerontologia é um vasto campo profissional e disciplinar, do qual faz parte a educação que forma profissionais para desempenharem essas funções. No Brasil, a construção da educação gerontológica avança principalmente a partir da atuação de cursos de pós-graduação em gerontologia; é fortalecida pela criação de universidades da Terceira Idade, importante locus de programas para idosos, de pesquisa e de formação de recursos humanos, embora nelas ainda predominem ações pedagógicas não especializadas. A gerontologia ocupa um lugar de destaque entre as várias disciplinas científicas, benefician-

do-se e sendo beneficiada pelo intercâmbio de ideias e dados, num amplo campo de natureza multi e interdisciplinar, ancorado pela biologia e pela medicina, pelas ciências sociais e pela psicologia. Comporta numerosas interfaces com áreas de aplicação e de prestação de serviços, principalmente a geriatria, a fisioterapia, a enfermagem, o serviço social, o direito, a psicologia clínica e a psicologia educacional, o que permite classificá-la também como campo multiprofissional. A pós-graduação de Gerontologia alinha-se com a necessidade de um conhecimento mais profundo do processo do envelhecimento, e capacita o profissional como um gerontologista para atuar na área sem nenhuma restrição, fortalecendo mais ainda a junção profissional e a atuação, unindo a psicologia com a gerontologia e enriquecendo mais ainda de conhecimentos e bases teóricas e práticas para a sua atuação com o público idoso. No início tudo é novo, desde uma simples indisponibilidade do idoso em não colaborar com os procedimentos de trabalho, a uma alta complexidade que o idoso esteja a sentir no momento, exigindo cuidados redobrados na nossa atuação profissional. O suporte que a psicologia nos dá entra em ação quando nos deparamos com idosos fragilizados, em situações de vulnerabilidade, perdas de parentes ou cônjugues. Nesse momento é fundamental usar as ferramentas da psicologia para passar uma segurança ao idoso e acolhé-lo de uma forma profissional (um processo emocional). Portanto a especialização em Gerontologia agrega ao profissional mais ferramentas para essa prática, visando trabalhar o idoso em atividades variadas, estimulando corpo e mente para lhe proporcionar uma melhor qualidade de vida. Podemos citar a especialização em estimu-

© Andrew Peat

lação cognitiva e motora que completa as três fortes teorias para se trabalhar com o público idoso de uma forma lúdica. Temos assim a psicologia a trabalhar as suas emoções, a gerontologia a sua longevidade, e a ECM o seu corpo, memória e as suas limitações. Este é um processo longo que não tem resultados imediatos, porque esses são construídos ao longo das atividades propostas. Trabalhar com idosos torna-se uma atividade gratificante. Profissionais que atuam na área relatam que este contacto preenche aquele espaço afetivo de quem não conheceu os seus avós em vida. Os idosos sentem-se mais acolhidos o que possibilita o profissional a entender as suas queixas, as suas angústias, as suas emoções e as suas limitações, visando proporcionar-lhe resultados positivos de melhoras e bem estar. Podemos encontrar idosos difíceis, resistentes ao processo e desconfiados, e aí a psicologia entra em ação. O que será que o deixa assim? Como foi o seu passado? Como são as relações familiares? O que podemos fazer desde o início é tentar ganhar a confiança dele, afinal pode ser difícil, pois ele já perdeu a confiança em muitos outros profissionais antes da nossa abordagem. Temos que estar preparados para inúmeras coisas, como por exemplo: ciúmes (quando o idoso começa a ter afinidades pelo profissional e não quer dividir com outro idoso); segredos de família (podemos ser guardiões de segredos que o idoso nos confia em contar); mexer com o seu emocional (o idoso usa-o emocionalmente para conseguir algo que no momento ele não pode ter ou fazer); guerra financeira familiar (podemos em algum momento ser plateia de conflitos financeiros entre idosos e os seus familiares); e em algum momento vestir o idoso no leito da morte (a família tem medo do defunto, mesmo que seja o parente). Diante de tamanhas barreiras para uns e desafios para outros, prefiro ficar com os desafios, eles fortalecem-nos de conhecimentos práticos para o nosso dia a dia. Como profissional exclusivo de idosos, atuando nesta área há cerca de 5 anos, relato o quanto é gratificante quando o idoso, que há meses atrás se encontrava com início de depressão, angústias, mágoas, dificuldades de locomoção e de realizar as suas atividades de vida diária (AVD´s), através dos estímulos, motivação e supervisão, conseguiu uma grande melhoria da sua autonomia, tornando-se protagonista da sua própria vida. Contudo, o profissional não é completo numa só capacitação, são vários conhecimentos unidos que preenchem a sua vida profissional. O conhecimento teórico é fundamental no amadurecimento intelectual da nossa profissão. A prática de trabalho no decorrer dos dias alimenta a nossa capacidade fazendo com que os nossos resultados sejam realizados com sucesso. Um trabalho delicado e feito com dignidade, respeito ao próximo, ética e principalmente humanismo com o outro. Portanto os conhecimentos adquiridos na psicologia aliado à prática gerontologica tornamse importantes ferramentas para o profissional especialista, mostrando que esta união deu certo.


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Geriatria e Gerontologia Alguns conhecimentos médicos pessoais no tratamento de idosos Médico

Glauco de Lorenzi

© rawpixel.com

Conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de prática médica em consultório e mais 2 anos na prefeitura de Mogi das Cruzes com idosos consonantes e, por vezes, contraditórios com as atuais guidelines.

Apesar de no Brasil se ser considerado idoso a partir dos 60 anos e na Europa dos 65 anos, isso não faz tanta diferença. Tivemos no Brasil muitas imigrações voluntárias ou não, por isso a mestiçagem é um facto, a saber, com os nossos indígenas, portugueses, africanos, italianos, alemães e desde 1912 com muitos orientais, principalmente japoneses e muitos outros europeus e latino-americanos. Sabidamente algumas raças são mais propensas a determinadas doenças mesmo quando jovens e depois dos 60 anos quase sempre se agravam. Estamos a utilizar somente o critério cronológico de idade por ser mais didático. Deixemos os Telómeros, a Telómerase e os Cromossomas para uma outra vez. Costumo dividir os pacientes ditos geriátricos por décadas, a saber, de 60 a 70 anos, de 70 a 80 anos e de 80 a 90 anos ou mais, porque muita coisa muda nos diferentes decanatos na fisiologia, na pele, nos órgãos © Lotus Head internos, no arcabouço, músculo esquelético e na mente, abrangendo também os aspetos socio-familiares e a viuvez e a solidão consecutiva. Outra divisão de maior importância

é por géneros masculino e feminino. É óbvio que certos problemas caraterísticos do homem como adenoma e cancro da próstata e testículos são apanágios dos homens enquanto problemas de útero, ovários, mama e vagina pertencem ao grupo feminino. É claro que também a psique de cada grupo é diferente.

Grupo A – de 60 a 70 anos de idade Tive oportunidade de acompanhar linearmente pacientes adultos jovens até à senectude pois tenho 53 anos consecutivos de consultório em clínica geral, cirurgia geral e ginecologia, já que a cidade era pequena e tinha poucos médicos, portanto fazíamos quase tudo, sem a enormidade de recursos que existem hoje em termos de exames de laboratórios e de imagem. No segmento de 60 a 70 anos de idade, onde menos de 10% se considera idoso, temos raramente os problemas geriátricos de verdade. Notei que os reformados e/ou aposentados que continuam com atividade na própria profissão ou em outros segmentos laborais, principalmente quando envolve atividade física, tem muito menos problemas do que aqueles que uma vez aposentados pedem imediatamente por um sofá em frente à televisão, e de preferência uma bandeja de petiscos a serem degustados, tornando-se totalmente sedentários.


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Neste grupo, homens e mulheres colhem o que plantaram nos últimos 60 anos, fora doenças profissionais, o uso de tabaco, álcool, noites mal dormidas e nenhuma preocupação com os alimentos ingeridos pesam muito na qualidade de vida posterior. É muito comum que apresentem no mínimo uma a duas patologias crónicas e ingiram 2 ou 3 remédios, nem sempre inocentes. Nesta fase contamos com incontinência urinária nas mulheres que tiveram parto normal e urgência miccional nos homens, problema de incontinência de gases nos dois generos, os problemas de hipertensão arterial, próstatas aumentadas com os problemas urinários inerentes, alguns enfartes com stents ou pontes de safena, algumas senhoras, todas em pós menopausa, algumas apresentando as suas cicatrizes de mastectomia e início de secura vaginal e alguns casos já de craurose vulvar. Porém a maioria lúcida com alguns problemas de hipoacusia, dores lombares, fibromialgia, e alguns casos de depressão. Este grupo, do ponto de vista socio–familiar, apresenta-se ativo e frequentam festas de aniversário de netos e muitos ainda trabalham. A artrose é também frequente, principalmente de joelho e ombros em ambos os sexos. Os pedidos para fazerem check-up são muito frequentes, creio que por lerem revistas de novidades, por medo ou por serem conscientes mesmo. Desvios de coluna vertebral fazem-se sentir, bem como a diminuição da altura por desidratação de discos intervertebrais. Consultas neste grupo raramente precisam de mais de 1 hora. Embora esteja na moda em geriatria a consulta slow, o que me deixou pasmado pois nunca consegui atender pacientes de qualquer idade em tempo menor excetuando-se os casos de escabiose ou pediculose que sempre atendi em menos de 15 minutos.

danças (que já é uma atividade física), ou mesmo como temos aqui em Mogi das Cruzes, locais públicos para exercícios, jogos adaptados, hidroginástica, palestras, ensino de computação básica, biblioteca, bem como algumas formas de artesanatos e passeios em grupos. Conforme o lugar, fazendo juntos as diferentes artes culinárias segundo o costume ou o combinado previamente. Tecnicamente, como são plurimedicados por diferentes especialistas, verificar as interações medicamentosas e aconselhá-los dentro dos preceitos éticos a proceder a mudanças depois de comunicarmos com os seus outros médicos, já que é uma fase em que é necessária uma abordagem multidisciplinar. Evito pedir exames que os façam sofrer ou expô-los a situações de risco físico, a não ser quando absolutamente necessário.

sim deve ser muito bem definido como se devem tomar e deve estar por escrito de forma legível. Converso longamente com este tipo de pacientes que não raro são meus amigos, relembrando factos importantes do passado que são desempenhados sempre com alegria. A memória recente costuma não ser muito boa, mas a memória dos tempos mais recuados vai de boa a ótima. Em suma este campo cada vez maior da medicina que é a Geriatria e Gerontologia exige dos

Grupo C - 80 a 90 anos ou mais Este grupo é extremamente delicado no trato. Dificilmente estão sozinhos na consulta, quase sempre estão acompanhados por filhos, parentes ou cuidadores. Este grupo tem um número de óbitos quase igual ou o dobro da soma do grupo A e do grupo B. Muitas vezes querem apenas falar, então temos que ser bons ouvintes e escutarmos atentamente nem que repitam o mesmo assunto várias vezes, facto que é aliás comum. A maioria

© Miroslav S.

Grupo B – 70 a 80 anos Consideremos então o próximo grupo de 70 a 80 anos. Nesta fase muitos pacientes referem uma enorme satisfação por ainda conduzirem os seus carros, mas esse facto causa ansiedade nos seus familiares, já que há um aumento dos riscos pela diminuição dos seus reflexos e da sua mobilidade, maior probabilidade de apresentarem mal estar súbito, entre outros. Os problemas já enfrentados por perda de familiares e amigos, viuvez e solidão, exigem que nós, médicos, nos dediquemos mais ao estado mental e espiritual destes pacientes com palavras e frases positivas, estimulando algum tipo de atividade física, orientando para as mais variadas dietas e a sua importância, enfatizando mais os aspetos da saúde e não poupar elogios sobre os aspetos positivos de cada paciente, fazendo com que assim percebam a importância de cada um deles. Estimular a frequência a igrejas e templos, porque a fé é um instrumento forte para uma vida plena. Seja qual for a crença é sempre positivo estimular esta atividade. Aconselhar a prevenção em relação a quedas no lar ou nas vias públicas. Se possível estimular que frequentem ambientes próprios para a respetiva faixa etária onde exista música, eventuais

© Andrew C.

falece de problemas cardiovasculares, seguido de neoplasias e depois de problemas respiratórios. É frequente estarem a tomar muita medicação pois passam em vários médicos. Quase sempre têm perda de massa magra e desvios da coluna, diabetes frequentemente. As próteses dentárias por vezes dificultam a mastigação pelo que os alimentos bem cozidos são aconselháveis. Enfatizo uma alimentação saudável rica em nutrientes, andar sempre que possível e exercícios respiratórios. Com este grupo retiro mais medicamentos do que receito, pois por vezes são de pouca valia e não modificam as estatísticas de forma a aumentar a sobrevida. A confusão com a grande variedade de medicamentos e os seus horários é frequente, as-

“(... ) homens e mulheres colhem o que plantaram nos últimos 60 anos, fora doenças profissionais, o uso de tabaco, álcool, noites mal dormidas e nenhuma preocupação com os alimentos ingeridos pesam muito na qualidade de vida posterior.” profissionais que a ela se vão dedicar, uma preparação técnica excelente bem como uma preparação humanística e holística, onde a paciência seja constante, a disposição de ouvir e aconselhar esteja sempre presente, sem se descuidar do carinho e respeito que merecem como seres humanos que são.


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Odontogeriatria O avanço da medicina dentária em resposta ao envelhecimento ativo 1

Médica Dentista, 2Assistente Dentária

1

Filipa Meneses e 2Catarina Leandro

“O médico dentista, como odontogeriatra, deve ter foco na defesa e contributo para o sucesso do envelhecimento ativo do idoso.”

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A odontogeriatria emerge de um avanço fulcral na medicina dentária face ao avanço gradual do envelhecimento populacional que se verifica, em resposta às inúmeras necessidades da população idónea que fruto do avanço da medicina e ao crescimento da qualidade e da esperança média de vida comportam melhores condições de saúde oral e menos perda de peças dentárias. A necessidade de prevenção e terapêutica da saúde oral nos idosos é uma preocupação do médico dentista, assim sendo que o controlo da doença periodontal e a reabilitação protética são dois dos maiores desafios apresentados pelas condições orais dos idosos de hoje, nos quais se pode observar um aumento da manutenção dos dentes permanentes assim como a diminuição de patologias orais devido a variados fatores como o fácil acesso a melhores cuidados de saúde e condições de vida. O edentulismo é cada vez menor e uma preocupação do próprio idoso que procura soluções eficazes para a reposição de ausências dentárias e é proativo e colaborante na sua higiene oral, o

que até então não se verificava, agindo em prevenção de doenças odontológicas e patologias diversas como a cárie, a xerostomia (muito constante nos idosos devido aos fármacos prescritos para doenças sistémicas), gengivite, periodontite, entre outras. O médico dentista, como odontogeriatra, deve ter foco na defesa e contributo para o sucesso do envelhecimento ativo do idoso.

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Reportagem | 45

“Fazemos das emoções as ferramentas diárias do nosso trabalho”

por

André Manuel Mendes

Foi numa tarde primaveril que a equipa da revista Dignus se fez à estrada em direção a Ílhavo, mais precisamente à pequena freguesia da Gafanha do Carmo, e aí encontrou uma casa distinta, onde nela só trabalha quem gosta de pessoas, uma casa que vive intensamente as emoções, que faz de cada dia uma festa e onde é respeitada a individualidade de cada um. Eram 10 da manhã. Mal abrimos a porta ouvimos música e logo nos vieram receber o Ângelo e a Sofia que nos encaminharam para a sala de convívio, local onde tudo acontece. Neste momento percebemos que ali estava gente feliz, a fazer o que gostava, uns a ouvir música, outros a conversar, outros a apanhar um pouco de sol no terraço, outros a descansar. É verdade o que dizia aquele grande sinal no meio da sala: “PERIGO. GENTE FELIZ AQUI”. Aqui o mais importante é promover um envelhecimento feliz, adotando uma postura informal que pretende valorizar muito as emoções, as relações, as sensações. Ângelo Valente e Sofia Nunes são os principais rostos deste projeto. O Ângelo tirou o curso técnico-profissional de animação na Lousã e a Sofia é Gerontóloga e encontra-se atualmente a frequentar o Doutoramento em Informação, Comunicação e Plataformas Digitais. O que têm em comum? Adoram pessoas e fazem o que realmente gostam, apoiar a comunidade sénior na promoção do envelhecimento ativo e com qualidade de vida. “Fazemos das emoções as ferramentas diárias do nosso trabalho”, disse com grande certeza Ângelo Valente.

O centro comunitário Este é um projeto pensado no ano 2000 por um grupo de pessoas da Gafanha do Carmo sem nenhuma ligação a qualquer instituição, fosse religiosa ou política. “A freguesia da Gafanha do Carmo é a freguesia mais pequena do concelho de Ílhavo, muito marcada pelo envelhecimento e pela emigração, e havia aqui uma necessidade de responder às necessidades da população desta freguesia e do concelho”, explicou Sofia Nunes, sublinhando que o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo abriu as suas portas em outubro de 2010, já com Ângelo Valente na equipa, e que se juntou a esta “família” em março de 2011.

O Centro Comunitário conta com uma equipa composta por 30 profissionais e com um conjunto de três valências, apoio domiciliário, Estrutura Residencial para Idosos (ERPI) e Centro de Dia. Aqui os idosos estão todos juntos, partilham os mesmos espaços, as mesmas atividades, por forma a potenciar as relações interpessoais. “A Segurança Social manda separar os utentes das valências, mas isso é estar a controlar relações que se podem construir porque simplesmente uma pessoa está no Centro de Dia e outra na ERPI”, comenta Ângelo Valente. As salas estão elaboradas de forma a respeitar o ambiente e não propriamente as valências. Existem nesta instituição várias salas, uma onde há mais animação com música, atividades, televisão, mas contam também com outras salas mais calmas para pessoas com maior dependência, por exemplo, tudo isto com o intuito de respeitar a individualidade de cada um. “Proporcionamos quatro ambientes diferentes para possibilitar sempre uma alternativa à individualidade de cada um”, sublinha Ângelo, acrescentando que o envelhecimento ativo como é visto pela sociedade pode ser uma falácia. “O dizer que só somos idosos ativos se estivermos a mexer nem sempre corresponde à realidade, pois existem atividades que proporcionam felicidade e que não envolvem exercício físico”.

Home-like environment “Todos nós queremos envelhecer em casa, ninguém se imagina numa altura da sua vida ter que


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sair de casa para ir viver para outro sítio. Infelizmente envelhecer em casa não é possível devido à forma como a sociedade está organizada, primeiro porque muitas vezes as casas não estão preparadas para as necessidades das pessoas e a proteção social e económica não existe”. Fazer com que os idosos se sintam na instituição como se sentem em casa é o objetivo definido para todos os dias. Para tal os profissionais adotaram e reinventaram desde o início deste projeto um conceito internacional, o Home-Like Environment, este que mostra que uma instituição que tem um ambiente de casa, que valorize as relações interpessoais entre as pessoas que lá vivem, que lá trabalham, os familiares e a comunidade obtém resultados extremamente satisfatórios. No Centro Comunitário da Gafanha do Carmo sempre se acreditou nos benefícios que o relacionamento com os animais traz ao ser humano, pelo que inicialmente adoraram um gato, o Xico. O processo de aceitação de um animal numa instituição não foi fácil, tanto para os familiares como para a sociedade, mas rapidamente houve um reconhecimento das mais-valias e esta dinâmica passou também a ser adotada por outras instituições. O Vadio e a Viana são peças fundamentais neste processo. “Os cães estão aqui por causa da instrumentalização das emoções pois são seres que dão amor incondicional e sempre. Sempre acreditámos no poder dos animais”, sublinhou Sofia Nunes. Eles dão alegria à casa, são companhia, são afeto, são também companheiros no dia a dia e em todas as aventuras.

Um fenómeno nas redes sociais “Isto no início nem era feito com um objetivo concreto, era feito para nos divertirmos à grande. É uma coisa feita quando nos sentimos bem e estamos com as pessoas que gostamos. Não era possível fazermos isto sem ter uma relação muito próxima com as pessoas”, contou Sofia. A página de Facebook do Centro Comunitário foi criada em 2012 quando toda esta dinâmica já existia, e teve como principal intuito chegar aos familiares dos utentes. A Gafanha do Carmo é muito marcada pela imigração e mais do que telefonemas, mais do que uma carta, era muito mais importante ver a pessoa e acompanhar o que fazia. “Depois começamos a partilhar o que cá se vivia, desde a presença do Vadio, as dinâmicas que fazíamos, entre outras coisas”. As sátiras a temas da atualidade como foi o caso dos vídeos de Conan Osiris, Marcelo Rebelo de Sousa, Cristina Ferreira ou aos programas como o Alta Definição ou Ídolos tornaram-se um

Futuridade 2069 – sentir o futuro

fenómeno de visualizações no Youtube e rapidamente ascenderam ao estatuto de “superstars” nas redes sociais. Segundo a Sofia e o Ângelo, a mediatização fez com que aparecessem coisas muito boas que ajudam a missão da instituição. Muito do feedback recolhido “é o maior motivador das pessoas que cá estão”, um reconhecimento que é muito importante para eles. “A mediatização também nos ajuda pelas coisas que nos dão. Nunca pedimos nada à exceção de uma máquina fotográfica para a qual fizemos um crowdfunding. Tivemos muitas pessoas a dar 1 e isso é ainda mais gratificante porque é sinal que várias pessoas se uniram por uma causa”, disse Ângelo Valente.

O convite para o Parlamento Europeu O reconhecimento do trabalho desenvolvido nesta instituição da Gafanha do Carmo levou-os a dar a conhecer o seu projeto além-fronteiras. No passado dia 30 de janeiro de 2019 um grupo de 3 idosos e 3 técnicos da instituição fizeram as malas e voaram até ao Parlamento Europeu em Bruxelas a convite da Eurodeputada Marisa Matias. “Fomos apresentados como um caso de sucesso em Portugal. Fomos falar do envelhecimento no âmbito institucional e fomos explicar o que fazemos nesse contexto. No caso do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo falamos nas questões sobre operacionalização do Home-Like Environment, os benefícios de ter um Vadio e uma Viana, como operacionalizamos a comunicação através dos media digitais, entre outras temáticas”, explicou Ângelo Valente, sublinhando ainda que levaram ao Parlamento Europeu não só o seu trabalho, mas as preocupações do setor, a parte social, a profissão de cuidadores.

Debater como vai ser o processo de envelhecimento daqui a 50 anos é o propósito do Futuridade, uma iniciativa anual do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo que reúne num único dia personalidades de áreas distintas como o jornalismo, o desporto, a música ou a política que irão perspetivar o papel das emoções no seu envelhecimento e no de todos nós. Em 2019 o encontro está marcado para o dia 22 de junho na Casa da Cultura de Ílhavo. “A nossa sociedade não pode continuar a colocar de parte uma pessoa só porque tem uma idade avançada. É necessário continuarmos a valorizá-las pelo valor que realmente têm, integrando-as na nossa sociedade, e é isto que tentamos fazer no Centro Comunitário da Gafanha do Carmo”, confessou Sofia Nunes. No futuro iremos ter mais condições, as pessoas vão viver mais anos e vão viver com mais saúde, e o desafio passa por prever como vai ser o nosso envelhecimento e começar a trabalhar para ele já. “Estamos muito preocupados com o futuro e com o reconhecimento que a sociedade deve ter em relação às IPSS, não podemos estar só preocupados com as IPSS que tratam mal os idosos mas temos que perceber porque os maltratam, as condições em que vivem, porque há tanta negligência e acreditamos que pode ser o resultado de um conhecimento social ser muito baixo, insuficiente”, salientou Ângelo Valente, acrescentando que são as 5000 IPSS do país que substituem o Estado e que o fazem sob o lema da solidariedade, da caridade, caridade esta que faz com que seja cada vez mais difícil sustentar IPSS, contratar trabalhadores para a área social porque esta ainda é uma área pouco reconhecida. “A última geração analfabeta está a morrer agora. Nós vamos ser mais exigentes, vamos precisar de outras respostas que neste momento não estão sequer pensadas. As instituições já se estão a reinventar. As sociedades já estão a olhar para elas, mas as IPSS também têm que se fazer notar junto da sociedade. Sentimos que há muitas instituições que já estão diferentes hoje porque todos somos exemplos de boas práticas”.

Um livro? Sim, um livro. Este é o novo projeto que se encontra em fase de conclusão, um livro que contará a história e as histórias desta instituição, o trabalho desenvolvido no dia a dia, a felicidade, o respeito e o amor que se vive dentro das portas e dentro desta “família”. “O livro vai falar um bocadinho daquilo que é o nosso trabalho no Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, ou seja, desde as histórias das pessoas que aqui estão e passaram, aquilo que achamos que é o mais inspirador, aquilo que nós vamos levar sempre desta experiência, histórias de amor, histórias de vida. Tem uma parte igualmente técnica que explica o método praticado, mas também uma parte mais pessoal e de homenagem a estas pessoas que estão e já estiveram cá a viver”, explicam.


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4.º Congresso Nacional “Voz aos Cuidadores”

“O cuidador tem a capacidade de nos tirar da solidão”

texto e fotos por

André Manuel Mendes

“O cuidador tem a capacidade de nos tirar da solidão”. Esta frase proferida pelo Padre José Barros deu o mote para o início do 4.º Congresso Nacional “Voz aos Cuidadores”, uma iniciativa do Centro Social Paroquial Padre Ângelo Ferreira Pinto que decorreu no Salão Paroquial de Perafita no passado dia 22 de fevereiro de 2019. Durante este dia juntaram-se em Perafita, Porto, aproximadamente 160 pessoas entre participantes, staff e oradores, para partilhar experiências, projetos, iniciativas e testemunhos de uma temática bastante premente da atualidade, os cuidadores, formais e informais, e a forma como deve ser encarada esta atividade do ponto de vista da sociedade e das instituições. “Numa altura em que se debate o estatuto do Cuidador Informal, saindo recentemente um conjunto de medidas governamentais que lançaram o tema para a discussão pública, consideramos que esta iniciativa surge no momento certo, sen-

Padre José Barros.

do o nosso contributo para reflexão, debate e implementação de possíveis medidas de apoio ao cuidador e às famílias. Como instituição ‘Cuidadora’, interessa-nos sobretudo que o tema seja discutido, por várias perspetivas e diferentes opiniões, promovendo e sendo promotores da mudança”, sublinhou Joaquim Pinto, responsável pelos Serviços de Psicologia do Centro Social Paroquial Padre Ângelo Ferreira Pinto.

Ser cuidador, hoje O Presidente da Direção do Centro Social Paroquial Padre Ângelo Ferreira Pinto, o Padre José Barros, deu as boas vindas aos participantes deste evento enaltecendo todo o trabalho dos cuidadores e salientando que todos somos cuidadores. O primeiro painel do dia intitulado “Cuidar Hoje – Respostas e Modelos” teve início com a intervenção de Isabel Marques, Técnica de Gerontologia e representante da Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI). Isabel Marques começou por dar a conhecer a origem da Associação Nacional de Cuidadores Informais, uma organização criada por um grupo de pessoas cuidadoras de idosos com demência. “Essas pessoas começaram a sentir o desgaste e a falta de apoios ao serem cuidadores, não tinham forma de trabalhar e cuidar, não tinham descanso, apoio, conhecimentos, e começaram a fazer encontros nacionais com a temática das demências”, sublinhou, salientando que a sua fundação teve origem em Lisboa em 2016 quando lançada a petição para o estatuto de Cuidador Informal, petição que foi entregue na Assembleia da República em novembro do mesmo ano, e tendo o lan-

Isabel Marques.


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Maria João Quintela (à esquerda) e Carla Ribeirinho (à direira).

çamento oficial da associação sido oficializado no 3.º Encontro Nacional de Cuidadores Informais de Demência com o objetivo de defender a criação de um estatuto para o Cuidador Informal. Segundo a Técnica de Gerontologia, “há mais de 8000 Cuidadores Informais em Portugal sendo que cerca de 6000 destes são Cuidadores Informais 24 horas por dia”, uma tarefa que exige “um grande esforço físico, psíquico, social e económico”. A realidade do que é ser Cuidador Informal em Portugal prende-se com diversas dificuldades, nomeadamente em encontrar apoios para a pessoa dependente, principalmente no que respeita a vagas em unidades de apoio, IPSS, rede nacional de cuidados continuados. “As perguntas que se impõem são: o que vamos fazer com este idoso? Vamos pedir baixa médica para responder à primeira necessidade? Vamos organizar a casa para que possa ser acessível a uma cadeira de rodas e ver com que meios vamos viver?”. Destas questões advém a necessidade da criação do estatuto do Cuidador Informal, pelo facto de atualmente existirem pessoas que não têm rendimento suficiente para suportar uma situação destas e pelo facto de existir uma grande falta de formação na área da saúde para proceder aos cuidados corretos e necessários. “Primeiro deve-se capacitar os familiares, o Cuidador Informal, porque uma família só funciona quando há harmonia”, sublinhou, acrescentando a necessidade de haver capacitação e posteriormente apoios laborais para não se perder a carreira contributiva.

dente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, tomou a palavra para a seguinte intervenção, sublinhando que na maior parte dos casos falamos de cuidadoras, pois são principalmente as mulheres que assumem este tipo de tarefas. “Somos todos cuidadores, não para obter estatuto, mas para fazer justiça às pessoas que são cuidadas”, afirmou Maria João Quintela, mostrando a sua oposição em relação à criação do estatuto do Cuidador Informal porque acredita que “este encerra aquilo que não é encerrável em nenhum estereótipo, a família. Somos todos cuidadores, mas a verdade é que apenas alguns vão obter o estatuto”. Deve-se ter uma visão alargada de quem são os cuidadores pois na maior parte dos cuidados prestados às pessoas com dependência devemos diferenciar os jovens e crianças com dependência dos mais velhos, pois todos os casos devem ser analisados nas circunstâncias de cada um. Maria João Quintela defendeu a criação de políticas concertadas, multidisciplinares e integradas. Sublinhou ainda que os órgãos públicos se preocupam com a idade da reforma, mas não se preocupam com o “day after”, ou seja, nos restantes anos que o cidadão tem de vida e que deve ter condições e dignidade. “Como gostaríamos de ser tratados?”. Esta foi a pergunta que ficou no ar.

Olhos postos no Cuidador Formal

Carla Ribeirinho, Licenciada, Mestre e Doutorada em Serviço Social, docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, con“há mais de 8000 Cuidadores Informais sultora e supervisora em Portugal sendo que cerca de 6000 destes profissional na área do são Cuidadores Informais 24 horas por dia.” serviço social e da gerontologia social, focou inicialmente a sua interMaria João Quintela, consultora da Direçãovenção naqueles que são os negligenciados(as) Geral de Saúde, Vice-Presidente da Sociedade do setor social, os Cuidadores(as) Formais, as Portuguesa de Geriatria e Gerontologia e Presique, segundo a docente, “nem sequer têm nome

concreto pois nuns locais são auxiliares de ação direta, noutros auxiliares de geriatria, auxiliares de serviços gerais, mas na verdade representam o batalhão da linha da frente nos cuidados às pessoas idosas em situação de dependência”. Cuidar de pessoas idosas dependentes é um quadro muito complexo, não apenas pela exigência física, psicológica e emocional associada à prestação de cuidados mas também do ponto de vista da ética, dos conhecimentos que são necessários para essa intervenção, das metodologias, das técnicas, da interceção entre a área social e da saúde que levantam múltiplas exigências do ponto de vista daquilo que são os referenciais das necessidades e das competências necessárias para trabalhar nesta área. “Neste sentido considero que prestar cuidados a pessoas idosas, sobretudo aquelas em maior situação de vulnerabilidade ou dependência, que seja do ponto de vista do Cuidador Formal ou Informal, representa múltiplos desafios”, explicou Carla Ribeirinho, acrescentando que há uma relação direta entre os índices de burnout dos trabalhadores e a violência institucional sobre os idosos dependentes. Os maus tratos institucionais, sejam diretos ou indiretos, a forma como as instituições estão organizadas são um dos potenciais riscos do aumento da prevalência da violência nas instituições Carla Ribeirinho destacou a importância da formação, “não apenas a formal em contexto de sala, mas sim a humana, de vocação, de dom, de compaixão, de gostar do que se faz, de amor, de entrega, são tudo conceitos eventualmente pouco técnicos mas se formos rever os fundamentos da ética, da bioética, os fundamentos pelos quais decidimos trabalhar nesta área”. “O que defendo é que os colaboradores das instituições devem ser uma preocupação de elevada centralidade quando estamos a falar na área de prestação de cuidados em Portugal, porque é importante cuidar das pessoas que cuidam. É imprescindível que as instituições prestem, para além do suporte efetivo, algum suporte afetivo”, sublinhou, defendendo que o papel dos gestores e supervisores passa por transmitir “coragem, saber comunicar de forma eficaz e perceber que cada um dos auxiliares é uma pessoa, uma vida, uma expetativa, um sonho, um projeto, é saber que as pessoas têm que ser geridas de forma diferente, generosidade, inspiração, humildade, paixão, capacidade de infetar os outros com paixão e alegria, autenticidade, responsabilidade, propósito”.


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Catarina Couto Viana (à esquerda) e Carla Ribeirinho (à direita).

Projetos, iniciativas e testemunhos de e para cuidadores Catarina Couto Viana apresentou o projeto “Bolsa de Cuidadores de apoio ao Cuidador Informal” da Câmara Municipal de Matosinhos. A bolsa de cuidadores está inscrita no Plano Municipal de Saúde de Matosinhos, nomeadamente num eixo que prevê a capacitação das pessoas para a melhoria e manutenção da sua saúde. “Nós fundamentamos a conceção deste projeto em três grandes razões: vivemos numa sociedade cada vez mais envelhecida onde o apoio ao cuidado informal numa comunidade é fundamental; os Cuidadores Informais são referidos normalmente como tendo pior qualidade de vida em relação à população em geral, acrescendo que estas pessoas têm mais riscos de isolamento, pobreza e de problemas de saúde físicos e psicológicos; a exaustão e o esgotamento das pessoas que cuidam coloca em risco a prestação dos cuidados e pode conduzir à institucionalização”, explicou Catarina Couto Viana. A bolsa de cuidadores foi criada de modo a permitir que as pessoas Cuidadoras Informais pudessem dedicar-se a outra atividade, através do apoio de Cuidadoras Formais com perfil para o efeito. Destina-se a pessoas que cuidam de dependentes por doença, envelhecimento e deficiência, nesta ordem de prioridade. Este é um projeto-piloto entre os anos de 2018 a 2020 e terá um âmbito territorial no concelho de Matosinhos, Miguel Pereira, enfermeiro e membro da Equipa de Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), trabalha nesta

“Somos todos cuidadores, não para obter estatuto, mas para fazer justiça às pessoas que são cuidadas”

Miguel Pereira.

equipa há 11 anos. Segundo o mesmo, “Cuidados Paliativos são uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos doentes e das suas famílias quando são confrontados com uma situação ameaçadora da sua vida. Através de prevenção e alívio do sofrimento, identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais”. A Equipa de Cuidados Paliativos é uma equipa interdisciplinar que tem como missão prestar cuidados de saúde de modo a melhorar a qualidade de vida de doentes e cuidadores, relacionada com problemas associados a doenças incuráveis, promovendo a continuidade de cuidados de saúde na ULSM. Esta equipa é composta por médicos, enfermeiros, uma assistente social e um psicólogo e assenta em 4 pilares fundamentais: controlo de sintomas; comunicação adequada; trabalho em equipa; apoio à família. “A família para nós funciona como unidade de cuidados através da identificação das necessidades fundamentais para esse doente e para essa família. A Equipa de Cuidados Paliativos atua na supressão das necessidades que determinada família apresenta”, explicou o enfermeiro Miguel Pereira, acrescentando que a Unidade de Cuidados Paliativos tem ainda outra valência que disponibiliza, o apoio ao luto, fazendo seguimento das pessoas em período de luto, uma ferramenta de extrema importância que valoriza o Cuidador Informal. A parte da tarde do 4.º Congresso Nacional “Voz aos Cuidadores” iniciou-se com um conjunto de testemunhos que espelharam as diferentes vertentes do ser cuidador, contando com a participação de Joe Santos, Co-Fundador da Associação Vencer Autismo, Tchisola Félix na perspetiva de Cuidadora Informal de uma criança, Sílvia Moutinho na perspetiva de Cuidador Informal de um adulto e Tânia Costa, Assistente na Universidade Católica Portuguesa e integrante no projeto “Experimentando ser Idoso” da Escola de Enfermagem - Centro Regional do Porto. Para finalizar, o jornalista da RTP Mário Augusto e Luísa Salgueiro, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos fizeram as suas intervenções na última temática do dia intitulada “Cuidar Amanhã – Respostas e modelos”. Para a organização do 4.º Congresso Nacional “Voz aos Cuidadores” o balanço foi globalmente positivo. “Para além da aquisição de conhecimentos e novas competências, foi possível trazer até nós um conjunto de testemunhos enriquecedores. Tivemos o privilégio de reunir um conjunto de oradores excecionais, capazes de transmitir conhecimento de um modo objetivo e ao mesmo tempo de um modo emotivo. Ficamos com um sentimento de satisfação por poder fazer parte de uma instituição que contribui para o debate de temas abertos a discussão pública e da atualidade”, destacou Joaquim Pinto, acrescentando que este eventou possibilitou a partilha de ideias e afetos entre as instituições locais, numa perspetiva de crescimento contínua.


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José Eduardo Pinto da Costa “Quando tinha 20 anos corria para apanhar o autocarro, hoje não corro, mas faço exatamente o mesmo percurso” texto e fotos por André Manuel Mendes

Nascido a 3 de abril de 1934 na cidade do Porto, José Eduardo Pinto da Costa é uma figura incontornável da sociedade portuense, da medicina nacional e internacional e, acima de tudo, um verdadeiro exemplo de como o envelhecimento deve ser encarado, com atitude, motivação e projetos de futuro. Autor de inúmeros livros, estudos e artigos de opinião, publicados em vários órgãos da comunicação social, José Eduardo Pinto da Costa é licenciado em Medicina e Cirurgia com especialidade na Ordem dos Médicos de Medicina Legal, sendo atualmente Professor Catedrático de Medicina Legal na Universidade Portucalense e diretor científico do Instituto CRIAP. A Dignus encontrou José Eduardo Pinto da Costa no Centro Médico Legal do Porto, num escritório adornado com história e com recordações do seu passado e presente, refletindo os projetos e feitos almejados para o futuro. Com ele falamos sobre a sua história, a sua vida, percurso e também sobre como envelhecer de uma forma saudável e ativa.

Dignus: O que o levou à área da Medicina Legal? José Eduardo Pinto da Costa (JEPC): Foi uma coincidência. De acordo com a minha personalidade, interessei-me sempre pelas grandes causas, pelo trivial que hoje se refere como cidadania, do comportamento humano, pela integração da pessoa humana na proximidade, no seu meio ambiente. Fui aluno de medicina, entrei para a faculdade em 1953, terminei o curso em 1959 e de seguida tínhamos um estágio e a entrega de uma tese de licenciatura. Era tradição quando um assistente morria ou deixava as suas funções, o docente da cadeira escolher alguém para o substituir. Como tinha sido bom aluno foi-me feito um convite e eu achei-o muito honroso e fiquei interessado porque correspondia à perspetiva de vida que eu imaginava. Ainda hoje não decido tudo no próprio dia, gosto de me aconselhar com o travesseiro, falei com a minha mãe que apoiou a minha decisão em aceitar a proposta. Naquele tempo a Medicina Legal não era vista da mesma forma e estava muito vinculada ao conceito de morte. A Medicina Legal é muito mais para além dos mortos. Aqui no Porto, quando se fazem 1000 autópsias por ano, números redondos, é normal fazerem-se 10 000 exames de vivos, portanto quando falamos em Medicina Legal ela será privilegiadamente muito mais uma

Medicina Legal de vivos do que propriamente de mortos. A Medicina Legal resulta como aplicação de conhecimentos médico-psico-biológicos ao Direito nas suas mais diversas manifestações seja Direito Criminal, do Trabalho, Desportivo, Civil, entre outros. Em 1959 entrei para fazer o estágio na área da Medicina Legal e elaborei uma tese de licenciatura, “Morte por Ação do Óxido de Carbono”, peguei num assunto que era pouco estudado na ocasião e a minha tese até foi referenciada numa revista internacional da Interpol. A amplitude da Medicina Legal foi o que me levou a despertar o interesse por estas ciências.

“Ainda hoje não decido tudo no próprio dia, gosto de me aconselhar com o travesseiro (...)” Dignus: O que faz o Doutor José Eduardo Pinto da Costa nos seus tempos livres? JEPC: Nos meus tempos livres, que são bastante reduzidos, gosto muito do contacto com a natureza. Tenho uma casa em Arcos de Valdevez onde se ouvem os passarinhos e as abelhas. É aquilo que, como hobbie, sempre que possível, gosto de fazer e gosto de passar lá várias temporadas,

embora poucas devido aos meus compromissos. Gosto de escrever, gosto de ler, não há dia nenhum em que não leia seja o que for como também não há dia nenhum que não escreva. Gosto muito de conviver e acho que a pior coisa que pode haver na natureza é a solidão, ela que é o mal de todos os aspetos negativos da vida… Nós não nascemos para estar sós, nascemos para viver em sociedade, em socialização. Dignus: Então para combater a azáfama do dia a dia aproveita os tempos livres para si, para descansar, para fazer aquilo que gosta? JEPC: O problema é que para descansar tenho que me cansar primeiro, e eu dificilmente me canso. Eu também só faço aquilo que gosto no dia a dia, digo muitas vezes que nunca trabalhei na vida porque tudo o que fiz empenhei-me com gosto, tenho satisfação e dá-me prazer. Dignus: O aumento da longevidade da população portuguesa é um facto apreciável, mas a qualidade dos anos de vida ganhos apresenta ainda um potencial para melhorar. Considerando o conceito de envelhecimento ativo proposto em 2002 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como se pode potenciar essa melhoria? JEPC: A questão não é apenas o durar mais anos, a qualidade com que se vive é muito importante. Isto vem tudo da conceção positiva que a pessoa tiver. Face a qualquer acontecimento que nos aconteça, qualquer perceção que entra no nosso cérebro é logo dividida: quero ou não quero, dá-me prazer ou não me dá prazer. Devemos ter um sistema que seja próprio, resultante da aprendizagem porque do ponto de vista epidemiológico as pessoas que encaram a vida de uma forma positiva, mesmo durante doenças cancerosas ou outras patologias, duram mais 7 anos e meio que as outras pessoas. Porquê? Porque todo o meio ambiente, tudo aquilo que observamos e que nos entra pelos olhos, pelos ouvidos, através do cheiro, vai estimular as células nervosas para


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que elas reajam de modo a que através do ADN elas se multipliquem de uma maneira razoável. Se houver algum aspeto negativo traduz que o desenvolvimento da célula não está a ser o normal e, portanto, começam a surgir defeitos celulares que se vão transmitindo a outras células e assim sucessivamente. O grande segredo é cumprir os mínimos do ponto de vista psicobiológico, pois temos uma dinâmica neuromuscular. Tem que se dar pelo menos 10 000 passos por dia, como também somos fundamentalmente feitos de água tem que se beber oito copos de água por dia em média, mesmo que não tenha sede, também é necessário dormir, o sono é fundamental porque toda a capacidade de funcionamento das células depende do sono. O sono é imprescindível para a nossa capacidade de memória. Lutamos muito contra o cancro mas estamos a construir uma sociedade de cancerosos porque não deixamos a natureza terminar o seu percurso chamado Apoptose, ou seja, as nossas células num sistema cibernético têm o seu fim, mas nós não deixamos, hoje prolongamos artificialmente a vida até a um ponto em que já não existe uma capacidade biológica de as células se dividirem, e como foi ultrapassado esse limite biológico razoável, começam a produzir-se em excesso, anarquicamente, gerando as metástases cancerosas entre outros. O problema do stress também aumenta a probabilidade de um indivíduo ter um cancro. Conhecidos esses elementos deve-se definir se se deve seguir a minha teoria, que é a do “Que se lixe”, ou seja não dar demasiada importância áquilo que na vida não tem importância nenhuma, tentar interiorizar e dar a volta. Porque é que hoje se utiliza tanto o ioga? Exatamente porque está provado estatisticamente que o ioga vem de alguma maneira anular o problema do stress, relaxa os músculos, relaxa a mente e, portanto, diminui a intensidade do metabolismo. Dignus: E qual a sua posição em relação à eutanásia? JEPC: A minha resposta é ambivalente. Do ponto de vista teórico sim, do ponto de vista prático não. Do ponto teórico, olhando de uma perspetiva

“A questão não é apenas o durar mais anos, a qualidade com que se vive é muito importante. Isto vem tudo da conceção positiva que a pessoa tiver.”

filosófica considero que aquilo que temos de mais importante é a liberdade, a liberdade é mais importante que a vida. Do ponto de vista prático eu digo que não porque a legalizar a eutanásia quem é que iria ser penalizado? Os pobres, os dementes, os velhos, aqueles que não têm capacidade de discernir ou de se opor a uma proposta que seja feita. Está em discussão atualmente na Holanda a eutanásia que está a ser praticada sem conhecimento dos interessados. A eutanásia tem 3 versões: a eutanásia voluntária, a eutanásia involuntária, onde existe uma coação para a prática da mesma por terceiros, e a eutanásia não voluntária, sem conhecimento dos interessados. Dignus: Numa entrevista afirmou: “A morte ainda continua a ser um tabu porque não há uma educação para a morte”. Em que consiste esta educação para a morte? Como se pode lidar com a morte? JEPC: A educação para a morte seria que todos nós, desde crianças, tivéssemos conhecimento que nascemos e que havemos de morrer, o que em regra não acontece. Aquele conhecimento a posteriori quando a criança se consciencializa da realidade faz com que criem mecanismos de rejeição, de frustração, de não aceitação porque alguém lhe mentiu e começa a criar-se um tabu. Deve-se, com naturalidade, proporcionar os tais meios de educação no sentido que a pessoa pode ser feliz com o seu próprio corpo. E a primeira coisa é que cada um comece a gostar do seu próprio

corpo desde muito novo. A autoestima hoje é fundamental para a harmonia psicobiológica. Dignus: O facto de as pessoas com idade mais avançada sentirem o aproximar da morte faz com que, psicologicamente, se sintam num percurso descendente? JEPC: Sim, exatamente, um caminho descendente. Do ponto de vista epidemiológico um indivíduo já com uma certa idade que faz projetos para o dia seguinte, para o mês que vem, para o ano que vem, tem uma capacidade de sobrevivência muito maior do que aquele que se senta à espera da morte. Isto é extremamente negativo e vai alterar todo o mecanismo biológico. A nossa funcionalidade depende da troca de informações através de 100 mil milhões de neurónios que temos na cabeça. Se eu me convencer que vou morrer amanhã, morro mesmo amanhã. Dignus: Qual o segredo para manter uma vida ativa e saudável ao longo de tantos anos como é o seu caso? JEPC: É muito simples, é uma questão de humildade. Quando tinha 20 anos corria para apanhar o autocarro e fazia um determinado percurso, hoje não corro, vou muito mais devagar, mas faço exatamente o mesmo percurso que fazia quando tinha 20 anos. É a humildade que temos ao saber calibrar e administrar as energias que temos, aquelas que vamos perdendo e com isso, sem ficarmos frustrado, tendo a realidade do que cada um é capaz.



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Envelhecimento ativo versus Demência Sandra Penêda Patrício Psicóloga © meo

A

o abordarmos o envelhecimento temos que ter em conta que se trata de um tema complexo que preocupa todas as sociedades contemporâneas. Envelhecimento é um processo contínuo ao longo da vida, desde que somos gerados. O seu estudo é como uma teia de aranha em que se cruzam e entrecruzam todas as áreas disciplinares. Se bem que no envelhecimento existam algumas alterações biológicas, cognitivas e sociais com mutações consoante a variabilidade inter e intraindividual, existem também, fatores de risco que podem ser prevenidos para manutenção das capacidades físicas, psíquicas e sociais até o mais tarde possível. Para envelhecermos de forma positiva e satisfatória é de extrema importância que, cada um de nós, tenha um papel ativo no próprio processo de envelhecimento e, para isso, deveremos optar, desde sempre, por estilos de vida e comportamentos saudáveis. “O envelhecimento ativo e saudável é definido como um processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para a melhoria da qualidade de vida, à medida que as pessoas envelhecem, bem como o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, que contribui para o bem-estar das pessoas idosas, sendo a capacidade funcional o resultado da interação das capacidades intrínsecas da pessoa” (World Health

Organization, 2015 in Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável. 2017-2025). A família, a comunidade e a sociedade têm um forte impacto na forma como se envelhece (Cabral, Ferreira, Silva, Jerónimo & Marques, 2013). “Etarismo” (Esteves, 2003) e ”Idadismo” (Barreto, 1984) são conceitos de representações estereotipadas dos mais velhos. Apesar de ainda ser considerado, por muitos, um período não atrativo, hoje em dia, já vão aparecendo imagens positivas estereotipadas para esta fase da vida. Segundo a DGS o envelhecimento não deve ser visto como um problema, mas sim como um processo do ciclo vital que deve ser vivido de uma forma saudável e autónoma, o maior tempo possível, tendo como ponto de partida que existe um processo de mudança progressiva da estrutura biológica, psicológica e social que se inicia antes do nascimento e se desenvolve ao longo da vida. A OMS anunciou que o número de pessoas com demência vai triplicar nos próximos 30 anos, devendo atingir os 152 milhões em 2050, tendo reconhecido a demência como uma prioridade de saúde pública. Ainda, segundo esta organização, “quase 10 milhões de pessoas desenvolvem demências a cada ano que passa, seis milhões das quais em países com baixos e médios rendimentos”. “Os efeitos em termos de sofrimento são enormes. Isto é um alerta: temos de prestar

mais atenção a este crescente desafio e assegurar que as pessoas que vivem com demências, vivam onde viverem, tenham os cuidados de que precisam” (Tedros Adhanom Ghebreyesus).

O que é a demência? Sinais e evolução A demência é uma síndrome que está associada a um declínio das capacidades cognitivas, ou seja, afeta a memória, o pensamento, a orientação, a compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizagem, a linguagem e o julgamento. Para além da deterioração da função cognitiva, assiste-se à deterioração do controlo emocional, do comportamento social e da motivação. É uma doença extremamente incapacitante que afeta não só o doente como também os cuidadores, famílias e a sociedade em geral. As probabilidades de se desenvolver um processo de demência aumentam à medida que envelhecemos, mas não é uma caraterística normal do envelhecimento nem afeta só os mais velhos. Há vários tipos de demência, mas a forma mais prevalecente é a doença de Alzheimer. Existe uma relação inversa entre o desempenho cognitivo e os fatores de risco relacionados com o estilo de vida que adotamos. A inatividade física, a obesidade, dietas pouco saudáveis, o


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tabagismo, o consumo excessivo de álcool, diabetes e hipertensão são alguns desses fatores. Níveis elevados de depressão e de ansiedade, o baixo nível educacional, o isolamento social e a inatividade cognitiva são outros. Numa fase inicial da demência os sinais são muito discretos, sendo de extrema relevância o seu diagnóstico precoce. Apatia, resistência à mudança, discernimento reduzido, comprometimento da vida diária, egocentrismo exacerbado, memória a curto prazo comprometida, repetição de palavras, irritação e desconfiança em relação aos outros, são sinais de alerta. Numa fase posterior, a demência moderada, existem sinais visíveis e incapacitantes: a memória a curto-prazo fica comprometida e há um retorno aos acontecimentos guardados na memória a longo prazo, falam, por exemplo, dos pais como se estivessem vivos e assumem comportamentos que tinham em criança. Há perda de orientação no tempo e no espaço, podem facilmente perder-se. Comportamentos, por vezes, inadequados como, por exemplo, despir roupas em público. A deambulação e frustração são também sinais da instalação desta fase da demência. Na última fase da demência, demência avançada, surge a agressividade, a agitação noturna, a inquietação e perda da memória a curto prazo, não reconhecendo a família nuclear e amigos mais próximos e lugares que lhe eram familiares, incluindo a própria casa. A capacidade de compreensão e/ou linguagem estão comprometidas e apresenta dificuldade na locomoção com movimentos incontrolados e surge a incontinência.

Segundo Simone de Beauvoir,

“Viver é envelhecer, nada mais” © AFP Photo/ Michele Bancilhon

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bral e, consequentemente, um melhor desempenho cognitivo. A nível motor aumenta a força, o equilíbrio, a coordenação, a flexibilidade e a resistência; Estimule a atividade cerebral - Leia livros, jornais e revistas, faça palavras cruzadas e jogos que envolvam cultura geral, aumente o seu vocabulário, escreva sobre qualquer coisa, aprenda uma nova língua, resolva problemas, vá ao teatro e ao cinema, são alguns dos exemplos para manter a sua mente ativa e saudável; Tenha uma vida social ativa - As pessoas que se mantêm ativas socialmente durante o ciclo de vida mantêm até mais tarde as funções cognitivas e correm menor risco de declínio cognitivo; Mantenha o seu sono regular - Os distúrbios do sono como a insónia crónica têm sido associados a um aumento do risco de declínio cognitivo na velhice. É, pois, importante man-

UM CASO DE SUCESSO Que estilo de vida para uma velhice com sucesso? Velhice com sucesso implica vitalidade cognitiva, física e social, nas palavras de Marcus Túlios Cícero “To live is to think”. Essa vitalidade cognitiva parece estar fortemente associada a um compromisso ocupacional e social numa constante aprendizagem ao longo da vida. Indivíduos com interações sociais satisfatórias que promovam a autoeficácia e atividades intelectuais complexas, poderão estar protegidos, em relação à demência, no último ciclo de vida. Assim: » Faça um controlo do seu peso - O excesso de peso e a obesidade aumentam a probabilidade de ter demência no futuro; » Beba álcool com moderação - O seu excesso afeta o Sistema Nervoso Central, provoca diminuição da memória e do desempenho cognitivo; » Não fume - A longo prazo o tabaco é prejudial às funções cognitivas; » Exercite-se e faça-o em grupo pois propicia o convívio social e combate o isolamento e a solidão. A prática regular de exercício físico tem efeitos positivos na saúde cardiovascular e respiratória, favorecendo a oxigenação cere-

“Comecei a trabalhar desde muito novo”, começa o Sr. J. “Aos doze anos já ajudava em casa na venda do que se produzia no campo. Eram outros tempos e toda a ajuda era necessária para o sustento da família. Desde aí nunca mais parei. Fui o homem dos sete ofícios [riu-se]. Tudo o que ajudasse eu fazia [vendi legumes e fruta, agricultor, cantoneiro, jardineiro, trabalhei como ourives e num escritório]. Viajei bastante para vender a obra que fazia aos meus clientes. Parei com 88 anos e estou perto dos 91 [riu-se]. Sempre gostei de participar em tudo. De ajudar. Sinto-me feliz assim. Apesar de ter algumas limitações, [são 90 não é!] continuo a fazer tudo. Gosto muito de passear a pé, quando o tempo o permite, de ver as lojas, cumprimentar as pessoas, de ver como vai a vida. De tarde vou ter com os meus amigos para jogarmos cartas e pôr a conversa em dia. Há sempre histórias novas para ouvir e comentar. Continuo a ir ao médico. Faço questão de ter as consultas em dia porque me preocupo com a minha saúde. Vou fazer as minhas aná-

»

ter padrões de sono regular, dormindo horas suficientes e de qualidade; Não abuse da medicação - Alguns medicamentos como as diazepinas provocam alterações na memória diminuindo o desempenho cognitivo.

Todas as teorias do envelhecimento assentam no pressuposto de que existe alteração na atividade cognitiva com o decorrer dos anos, mas segundo a Teoria do Ciclo de Vida esta alteração não é universal, é multidimensional, multidirecional e com grande diversidade de plasticidade. Estilo de vida saudável, treino e prática em todas as áreas vitais, serão estratégias positivas para se manter uma vida ativa. “Use it or loose it” define que declínio nos mais velhos está mais associado à falta de uso das capacidades do que a perdas irreversíveis. Segundo Simone de Beauvoir, “Viver é envelhecer, nada mais”.

lises de rotina [sou eu que vou ao laboratório levantar] e tenho sempre a medicação em dia. Nunca fumei [desperdício de tempo e de dinheiro] e sempre tomei um copo de vinho ao almoço. A alimentação sempre foi saudável. Comi sempre com moderação. Era o que a terra nos dava e os animais que criávamos. Durante a semana sempre que é necessário vou ao supermercado para fazer as compras para a casa. Aos domingos vou sempre dar a minha voltinha de carro, sempre por perto porque as estradas estão muito diferentes e tenho receio de me perder. Ainda tenho um campo que dá fruta e sempre que é a época de as apanhar sou eu que lá vou para a trazer para casa e distribuir pela família. Gosto muito de ler o jornal, ler todas as revistas que os meus filhos me trazem, ver o telejornal, ver os programas sobre a selva [gosto muito de animais]. Sempre fui muito vaidoso, quase sempre demoro uma hora na casa de banho [riu-se], gosto muito de estar cheiroso e de ter sempre a roupa limpa. Estou mais velho sim, mas não me sinto como tal. Ainda me sinto útil e enquanto me sentir assim não vou parar”.


56 | Case Study

A importância de reabilitar em casa 1

António Marques e 2Patrícia Protásio

1

Terapeuta Ocupacional, 2Gestora de Formação do projeto Eu Consigo

Em pleno século XXI a reabilitação de uma pessoa, seja numa situação aguda - por exemplo no seguimento de uma cirurgia - ou no contexto de uma doença crónica, já não se deve limitar aos tradicionais serviços de internamento e ambulatório. Deve aliás ser complementada com soluções de reabilitação no ambiente de desempenho, cujas vantagens, ainda pouco divulgadas, convidamos o leitor a conhecer.

O Senhor Joaquim sofreu um AVC há cerca de dois meses. No hospital fez fisioterapia, terapia da fala e terapia ocupacional. Teve alta hospitalar mas continua à espera de ser chamado para iniciar a sua reabilitação em ambulatório. Sente-se naturalmente apreensivo, uma vez que lhe foi dito que os melhores resultados da reabilitação se obtêm durante os primeiros meses de intervenção. Tal como o Senhor Joaquim, a Dona Maria do Carmo também esteve hospitalizada devido a uma fratura do colo do fémur, na sequência de uma queda. Após cirurgia, teve alta. Porém, ao chegar a casa, sente que necessita de ajuda para muitas das suas atividades. É importante frisar que, antes de deixarem o hospital, o Senhor Joaquim e a Dona Maria têm o direito de ser informados sobre as opções que existem nas suas áreas de residência para obterem o apoio de que necessitam. No entanto, na realidade por vezes acontece que esta informação não é fornecida, ou é incompleta, ou ainda não é bem entendida. Cabe também aos cuidadores procurarem junto da assistente social encarregue do caso toda a informação necessária. Por se tratar de uma abordagem relativamente recente, e nem sempre disponível, as opções de reabilitação no ambiente de desempenho muitas vezes não são analisadas. É fundamental, por isso, alertar para o facto de que, para além dos serviços de apoio domiciliário, alguns centros sociais disponibilizam serviços de fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia, entre outros, ao domicílio. Da mesma forma, alguns centros de saúde e unidades hospitalares permitem o seguimento em casa por enfermeiros e técnicos de reabilitação. Simultaneamente, é possível recorrer a associações e empresas que disponibilizam serviços de alta qualidade e especializados. Recorrendo a um destes serviços, o Senhor Joaquim pode iniciar em casa as terapias necessárias. Pode inclusive integrar no seu plano de reabilitação intervenções terapêuticas personalizadas que, por serem realizadas no seu ambiente de desempenho, permitirão a sua capacitação para a realização autónoma das suas atividades de vida diária. Imaginemos, por exemplo, que este senhor não consegue movimentar o bra-

ço direito. Poderá, com a ajuda do terapeuta ocupacional, treinar-se para ainda assim realizar a sua higiene, preparar as suas refeições, vestir-se, entre outras atividades, com autonomia. Da mesma forma, a Dona Maria do Carmo pode ser assistida por um serviço de apoio domiciliário que lhe permita ter ajuda na higiene e alimentação, mas pode também realizar em casa as sessões de fisioterapia. Pode ainda pedir a um terapeuta ocupacional que adapte, por exemplo a sua casa de banho para poder usá-la com maior segurança. A reabilitação no contexto de desempenho, seja o domicílio ou outros espaços onde a pessoa passe grande parte do seu tempo, permite realizar todo o tipo de treinos onde e quando as dificuldades surgem, em vez de no ambiente “laboratorial” de uma clínica ou hospital. Por outro lado, permite que os técnicos tenham um contacto direto e mais aprofundado com a família e outros cuidadores, integrando-os no processo de reabilitação, fornecendo-lhes estratégias e ajudando-os a ultrapassar dificuldades, num verdadeiro trabalho de equipa. Assim, aconselha-se que, ao planear a sua reabilitação ou a de alguém que esteja ao seu cuidado, não exclua estas opções menos conhecidas. Opte por se informar quer nos hospitais e centros de saúde, quer nos centros sociais, associações e empresas que podem fornecer serviços na sua área de residência. A Internet pode, aqui, ser uma excelente aliada. Infelizmente nem sempre é fácil encontrar a solução mais indicada mas não se conforme. As soluções existem para o ajudar e servir.

© meo

Boa convalescença!


Case Study | 57

© freepik

“O Cuidador, EU” Patrícia Valente Assistente Social

A

escolha deste tema teve por base uma natural vocação na área da Terceira Idade e do envelhecimento, bem como pelo facto de em 2005 ter estado a cuidar de dois familiares idosos facto que me alertou para uma realidade cada vez mais premente, a necessidade de respostas de intervenção junto da população sénior. Nos finais do século XX víamos que nas famílias havia uma maior união e solidariedade familiar, existindo um maior comprometimento na “função” de protetores e de cuidadores dos seus entes queridos. Estes cuidados eram geralmente assegurados pelas mulheres no seio familiar, na faixa etária da meia-idade ou até já idosas, que acumulavam a função de cuidadoras de um familiar mais velho com o emprego e ainda com a sua própria família, marido, filhos e/ou netos. Muitos idosos começam a ficar mais dependentes quando se consciencializam da perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, e apercebem-se da necessidade de terem alguém que os apoie com o objetivo de realizar algumas necessidades básicas do dia a dia. Da mesma forma, é importante distinguir que a maior parte dos idosos expõem o desejo de serem cuidados na sua habitação, isto porque a casa é o cenário de relações afetivas, trocas sociais, espelha um passado e é sobretudo um símbolo da dinâmica de vida. A saída do idoso do seu meio familiar

compromete novos modos de adaptação, conduzindo a um maior ou menor sofrimento (Neto, 2004). Por isso é cada vez mais importante a valorização dos Cuidadores Informais pois existem laços afetivos entre prestador de cuidados e o idoso, para que ambos se sintam mais à vontade e exista uma maior atenção, carinho, dignidade, afeto e sobretudo respeito. No entanto, este acompanhamento às pessoas mais idosas tem vindo a diminuir e a tornar-se mais difícil, resultado da evolução da sociedade, da inclusão da mulher no mundo do mercado de trabalho e da própria exiguidade das habitações (Sousa, 2006). As transformações que se têm verificado nos cuidados formais e informais são inseparáveis, ou seja, a diminuição e/ou indisponibilidade de potenciais Cuidadores Informais repercute-se na expansão de serviços formais (Imaginário, 2004). A minha mãe foi Cuidadora Informal dos meus avós maternos, e a dada altura precisou de ajuda dos cuidados formais, nomeadamente do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), tanto para as refeições como para apoiar a higiene da minha avó. No caso deles, ambos possuíam horas certas para comer, hora de higiene pessoal, e não nospodemos esquecer que uma pessoa acamada torna-se, a dada altura, como “um peso morto” muitas vezes difícil de manusear, e nisso o SAD foi impecável pois ensinaram a família a desenvolver

técnicas de posicionamento, manuseamento sem efeitos negativos para ambos, entre outros. Nas zonas mais rurais, os Serviços de Apoio Domiciliários (SAD), não são vistos com bons olhos e como muitos referem, “a família é que deve cuidar dos seus idosos!”. Os Cuidadores Informais precisam de apoio a diferentes níveis, pois é um trabalho de 24 sobre 24 horas, e precisam de desabafar, descansar, precisam também de cuidados, de serem mimados, de serem amparados, terem direito a sair, a verem a luz do dia, a terem os seus direitos reconhecidos e existir quem os substitua por algumas horas. Hoje em dia a nossa sociedade esquece-se que os nossos idosos são um livro cheio de histórias. Foram eles que nos ensinaram a comer, a andar, a falar, a levantar quando caíamos, a mudar as nossas fraldas, carregaram-nos ao colo, seguraram as nossas mãos e abraçavam-nos quando tínhamos medo, contavam-nos histórias, entre tantas coisas, e hoje em dia são postos na maioria das vezes num canto esquecidos.

Referências bibliográficas 1. Neto, F. (2004). Psicologia Social Aplicada. Lisboa: Universidade Aberta. 2. Sousa, L., Figueiredo, D., & Cerqueira, M. (2006). Envelhecer Em Família. Porto. Ambar.


58 | Turismo Sénior e Lazer

Viagens de proximidade e o território da saudade Carlos Wehdorn

T

Historic Route Portugal

odos temos um passado gastronómico, uma memória de lugares, cheiros e sabores. Esta viagem começa quando nascemos e aos poucos vamos provando, degustando, um pouco disto, um pedaço daquilo. Vamos acumulando experiências, criando e preenchendo memórias de tudo aquilo que nos agradou ou do que não nos agradou de todo. No entanto, e com o passar dos anos, os sabores e os gostos vão mudando, vão sendo mais refinados, dizem alguns, ou vão voltando ao passado e repescando sentidos quase apagados na nossa memória, reavivando-os e fazendo-nos regressar hoje no tempo, à nossa infância de meninos curiosos. Todos gostamos de viajar, de uma forma ou de outra, sair da rotina e ver lugares, gentes, algo novo que nos capte a atenção, experiências que inevitavelmente iremos arquivar e memorizar. Mesmo quando não vamos para longe da nossa base, do nosso ninho, sentimos curiosidade pelo diferente, ou então confirmámos a semelhança. Podemos ir perto, a outra cidade, região ou país vizinho, ou atravessar oceanos e continentes. A proximidade é agora medida, também, pela disponibilidade para uma escapadinha de fim de semana ou de miniférias. Uns passeios pela sua cidade ou vila, pela sua região, podem revelar-lhe, a si que pensava já tudo conhecer, agradáveis surpresas. Basta por vezes fazer o percurso que pensávamos conhecer de uma outra forma, a pé ou

num transporte como numa bicicleta, com tempo, com espaço para parar e olhar. É nesse tempo de paragem que podemos descobrir aquela paisagem, aquele pormenor que nos havia escapado há anos. Acontece muito isso quando observamos edifícios, a arquitetura dos mesmos, quer sejam simples edifícios de habitação ou monumentos. Mas é nestes últimos que residem por vezes aqueles nichos, aquela escultórica, aquele painel de azulejos que ainda não tínhamos tido tempo de ver ao pormenor. Se pelo meio desse passeio pararmos para almoçar ou lanchar, num restaurante ou “tasco” locais, se conseguirmos ter a sorte de encontrar aquele sítio que ainda preserva o típico, o regional, o bem saber e o bom sabor gastronómico de outros tempos...então, será sem dúvida um dia bem passado. No Natal e na Páscoa muitos regressam a esse passado gastronómico quando retornam, mesmo


Turismo Sénior e Lazer | 59

Lançamento do livro “Entre Ventos e Fumos” com uma recolha sobre o fumeiro português, feita ao longo de 14 anos, pelo chef Nuno Diniz.

O cozido à portuguesa é um dos pratos onde os enchidos pela sua variedade e riqueza mais se destacam.

“O turismo gastronómico é um negócio muito sério...”

que por poucos dias ou horas, ao seu ponto de partida, à sua terra de origem. Nesses dias ou horas revivem a sua juventude, as suas memórias. Uma enorme fatia desses bons momentos é passada à mesa, a degustar e a saborear as memórias de um passado por vezes longínquo. Com ingredientes de hoje, semelhantes ou iguais aos de outros tempos. É um regresso ao passado, sobretudo a um passado dos sabores e cheiros que fizeram a nossa infância e nos fizeram homens e cidadãos deste nosso Portugal gastronómico. De Norte a Sul, as nossas memórias mantêm viva o que é a essência do ser português, com toda a variedade e diversidade típicas da nossa herança local, regional e nacional. Somos um país extrema-

mente rico em produtos regionais, cheio de sabores e cheiros tão nossos. Um dos pratos que mais nos transporta a esse passado, sendo presente, é um bom cozido à portuguesa. De Norte a Sul há variações nos ingredientes, nos vegetais, no fumeiro. Uns levam grão, outros feijões, a maioria batata e arroz a acompanhar. Mas é sobretudo nos enchidos, na sua variedade e riqueza que se destacam ou diferem uns dos outros. No entanto, todos são nossos, todos são Portugal... à portuguesa, pois então! Estive em Montalegre, no passado dia 27 de janeiro de 2019, na 28.ª Feira do Fumeiro. Como eu, milhares de portugueses e muitos turistas em busca desse nosso passado gastronómico. Estiveram presentes cerca de 80 produtores locais e regionais, gente que insiste em manter tradições, em preservar costumes e sabores. No evento assisti ao lançamento de uma obra essencial, um livro (“Entre Ventos e Fumos”) com uma recolha sobre o

fumeiro português, feita ao longo de 14 anos, pelo chef Nuno Diniz. Interessante a quantidade, mais de 120, e a variedade do nosso fumeiro. Somos, no dizer do autor, o país com a maior quantidade de fumeiro do mundo. Somos... Portugal! No rescaldo deste evento em Montalegre, números oficiais apontam para 50 000 visitantes, 5,7 milhões de euros de receita para a região. O turismo gastronómico é um negócio muito sério... e cada vez é levado mais a sério pelos agentes locais, autarquias, regiões de turismo e entidades ligadas ao desenvolvimento local, associações e cooperativas de produtores. Espero ao longo dos próximos números da revista Dignus poder mostrar-vos alguma da realidade do que se faz em Portugal e também na nossa vizinha Espanha, nomeadamente nestas áreas do Turismo e da Gastronomia. É como vos disse...viajar ao passado sentado à mesa. Façam também uma boa viagem!


60 | E Depois

A vivência da perda do cônjuge na Terceira Idade Algumas reflexões Psicólogo Clínico e especialista em luto Rui Ribeiro

“A morte é essencialmente particular a cada pessoa, de maneira que ninguém pode substituir o outro nesse episódio da existência.”

© omar alnahi

O

luto é uma reação vital, inerente à condição humana e representa a resposta à perda-objeto. Perder um companheiro é um processo doloroso, mas no idoso, onde o casal viveu muitos anos juntos, o impacto do luto pode ser destruidor, muitas das vezes leva à depressão grave. São muitos os casos em que, após a morte de um cônjuge, o outro vem a falecer pouco tempo depois. O viúvo perde a motivação para viver e surge um decréscimo da volição, no autocuidado, na interação social. Também a alimentação passa a ser feita de uma forma desequilibrada. Como consequência, as defesas do organismo diminuem, tornando-o suscetível a uma infeção, que aliada à idade pode levar à morte. Para que a viuvez não represente o fim da vida para quem fica, o apoio familiar, uma atividade motivacional e uma rede de amizades são fundamentais para o bem-estar do idoso.

Cinco etapas do trabalho do luto

1 “(...) o homem sente na morte do outro um extraordinário fenómeno que o deixa perplexo.”

Etapa

A primeira etapa é a etapa de reencontro do indivíduo com a realidade da perda. Quando há um falecimento, esta etapa anuncia o falecimento, quando há uma questão de perda e de mudança, faz o anúncio dessa perda, dessa mudança. Esta etapa vai-se caraterizar essencialmente por duas categorias de reações que são defensivas. A primeira forma de reação, é desligar-se da realidade, é uma atitude que visa proteger o psiquismo da realidade que se passou. Uma segunda categoria de atitudes consiste numa série de somatizações. Estas reações que as pessoas podem ter num plano somático, como se o corpo tomasse conta das suas modalidades de proteção, de defesa contra uma informação.

2

Etapa

A segunda etapa é a etapa de integração da perda. Esta fase vai proceder a um trabalho de rememorização, de reminiscência, o defunto ou o objeto da perda vai invadir os pensamentos. Vai aparecer espontaneamente, sem que a pessoa dê conta disso. Esta reminiscência vai levar a um momento extremamente doloroso.

3

Etapa

A terceira etapa é o pacto com o defunto. Em todas as culturas, o defunto é alguém que nós não sabemos no que é que ele se transformou e temos tendência a atribuir-lhe a origem de toda a potência: » Toda a potência benéfica é ele que nos vai ajudar, para avançarmos na vida; » Toda a potência maléfica é ele que se revolta contra nós. Nesta etapa, o acompanhamento é facilitado se a pessoa acompanhou a cerimónia, e a sepultura para favorecer este período; » A raiva - nesta fase a pessoa expressa raiva por aquilo que ocorre; » Negociação - nesta fase o indivíduo começa a pôr a hipótese da perda e perante isso tenta negociar, a maioria das vezes com Deus, para que esta não seja verdade.

4

Etapa

Na quarta etapa, um acontecimento importante vai ser produzido: o indivíduo em luto não se vai interessar mais pelo defunto mas sim nele próprio. Uma etapa em que o indivíduo procura nele próprio, de uma maneira mais ativa ou passiva, modelos de pessoas, que passaram por situação idêntica e que triunfaram.

5

Etapa

A quinta etapa e última é uma etapa de reinvestimento. Uma etapa em que o indivíduo vai fazer uma nova escolha de objetos, uma nova escolha de pessoas. O indivíduo vai eleger um certo número de objetos, de situações, de pessoas que vão ser novos parceiros para continuar a viver e a dar nascimento à sua vida. A morte é essencialmente particular a cada pessoa, de maneira que ninguém pode substituir o outro nesse episódio da existência. Mas o homem sente na morte do outro um extraordinário fenómeno que o deixa perplexo. O temor pela morte, a lembrança daquele que já morreu faz com que o sentimento de morte esteja mais perto do homem, mais atuante, mais parte do seu ser do que a própria vida.



62 | Notícias

19.º Congresso Mundial de Psiquiatria em Lisboa Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental sppsm.secretariado@gmail.com · www.sppsm.org

Entre os dias 21 e 24 de agosto de 2019 realiza-se em Lisboa a 19.ª edição do Congresso Mundial de Psiquiatria, sob o lema “Psychiatry and Mental Health: Gobal Inspirations, Locally Relevant Action”. Neste evento, realizado em parceria com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), serão examinadas e discutidas todas estas questões cruciais nas áreas da psiquiatria e saúde mental, com a intervenção de diversos palestrantes que pretendem abordar a atual revolução científica e tecnológica. João Marques-Teixeira, Presidente da SPPSM, sublinhou que este “é um evento de grande importância para a psiquiatria portuguesa”, e que uma das maiores conquistas da Direção foi conseguir trazer este evento para Portugal.

Cinco anos a espalhar sorrisos em Portugal siosLIFE Tel.: +351 253 676 018 comunicacao@sioslife.com · www.sioslife.com

A siosLIFE é um nome já bem conhecido pelos profissionais das instituições portuguesas. A celebrar cinco anos de existência, a empresa que desenvolve e adapta as novas tecnologias às dificuldades físicas e cognitivas dos idosos está já presente em todos os distritos de Portugal Continental e nas ilhas dos Açores. Com mais de duas centenas de instituições a utilizar o sistema interativo diariamente e mais de três mil utentes registados, a siosLIFE prepara-se, no ano do 5.º aniversário, para lançar mais um produto, desta vez pensado e adaptado às dificuldades da população mais idosa nos seus domicílios. “For Younger Spirits” é o slogan que usam desde o seu início, porque acreditam que independentemente da idade do cartão de cidadão, o espírito com que as pessoas vivem o seu dia a dia é que faz delas novas ou velhas.

Com os objetivos bem definidos, a inclusão social desta faixa etária e a fomentação de um envelhecimento ativo são a prioridade desta empresa bracarense que quer dar a conhecer o seu trabalho a todas as instituições do nosso país. Com uma mão cheia de experiências, sabedoria e com uns quantos objetivos ainda para cumprir, a siosLIFE quer continuar a espalhar sorrisos pelos seniores, profissionais e familiares que vivem de perto esta experiência do uso das novas tecnologias por parte dos seus pais ou avós.

Inspirada por Ole Kassow, fundador do “Cycling Without Age”, Sílvia Freitas juntou os colegas do Rotary Club Porto Portucale para dar início a este projeto que tem também como objetivo tirar os idosos dos lares, levá-los para a rua e mostrar-lhes que ainda pertencem à cidade onde cresceram, trabalharam e viveram.

Mulheres vivem, em média, mais 4,4 anos

De acordo com as cifras do relatório anual OMS, a esperança de vida média global passou de 66,5 anos em 2000 para 74 anos em 2016 (74,2 anos para as mulheres e 69,8 anos para os homens). Este relatório conclui que se deve prestar maior atenção às diferenças de género na elaboração de políticas sanitárias. De acordo com o documento, alguns países já têm políticas especiais de prevenção para o sexo masculino, que em geral vai com menos frequência ao médico ou consome cinco vezes mais tabaco e álcool do que as mulheres, fatores que contribuem todos para uma menor esperança de vida. A importância do planeamento da saúde é fulcral e deve considerar as diferenças entre homens e mulheres em termos de exposição a fatores de risco, acesso a serviços e diferenças de salário e é necessário agir quanto antes, aconselha a OMS. Outro dado que deve ser considerado é o nível de desenvolvimento dos países, visto que o relatório também regista uma diferença de 18,1 anos na expetativa de vida entre os países em desenvolvimento (62,7 anos) e desenvolvidos (80,8 anos).

“Ventoleta”, um passeio pelo Porto sem pressas e sem idade Rotary Club Porto Portucale rtyportoportucale@rtyportoportucale.pt www.rtyportoportucale.pt

O projeto “Pedalar Sem Idade” nasceu pelas mãos de Sílvia Freitas e já proporcionou a 180 idosos e crianças com necessidades educativas especiais um passeio sem pressas numa bicicleta adaptada pelo Parque da Cidade do Porto. Apelidada de “ventoleta”, esta bicicleta adaptada encontra-se diponível desde novembro de 2018.

Em entrevista à Lusa, Sílvia Freitas explicou que “a bicicleta não tem a carga negativa que tem uma cadeira de rodas. Quando vamos passear em bicicleta, as pessoas acreditam que há mais vida além da casa onde estão isoladas ou do lar onde estão institucionalizadas”. A este projeto já se associaram 8 instituições e 12 pilotos voluntários, sendo o mais velho Manuel Jerónimo que, com 78 anos, passeia todas as quintas feiras durante duas horas.

Catálogo digital para envelhecimento ativo da CCDR Centro CCDRC - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro Tel.: +351 239 400 100 · Fax: +351 239 400 115 geral@ccdrc.pt · www.ccdrc.pt

A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) colocou à disposição, em formato digital, um catálogo com 127 de Boas Práticas de Envelhecimento Ativo e Saudável na Região Centro. Este catálogo, disponível em www.ccdrc.pt, pretende dar a conhecer projetos e iniciativas de boas práticas inovadoras, no âmbito da qualidade de vida e do envelhecimento ativo, com potencial para gerar impacto no território da Região Centro. Procura dar visibilidade aos parceiros e às entidades que promovem estas iniciativas, no setor público ou privado, no sentido de os estimular a desenvolver novos projetos e parcerias, valorizar o seu trabalho e estimular o aparecimento de novas formas de promoção. O catálogo é composto por 127 boas práticas, distribuídas por três categorias (Conhecimento+, Saúde+ e Vida+). Este documento é uma compilação das boas práticas em envelhecimento ativo e saudável, pro-


Notícias | 63

movidas por atores da Região Centro, que se candidataram à edição de 2017 do “Prémio de Boas Práticas em Envelhecimento Ativo e Saudável na Região Centro”.

Caixa estanque Enycase da Hensel TEV2 – Distribuição de Material Eléctrico, Lda. Tel.: +351 229 478 170 · Fax: +351 229 485 164 info@tev.pt · www.tev.pt

uma equipa de jovens alunos voluntários que irão dar formação sobre como interagir com o mundo digital. Com mais de dois milhões de portugueses que nunca usaram a Internet e quatro milhões que fazem uma utilização muito básica da mesma, este projeto pretende criar as bases para possibilitar “estar online, conviver online, lazer online, saúde online, poupar online, serviços públicos online, participação e cidadania online e segurança online”, refere a tese.

13.º Congresso Nacional do Idoso em junho no Porto admédic Tel.: +351 218 429 710 · Fax: +351 213 715 614 info@admedic.pt · www.admedic.pt

As caixas Enycase contam com um grau de proteção muito elevada para a instalação exterior desprotegida de acordo com a Norma DIN VDE 0100, Parte 737, um fecho rápido com um quarto de volta (posição de fecho visível), entrada de cabos versátil – inserção e vedação direta com índice de proteção IP66. Os ligadores compatíveis com diferentes tipos de secções e ainda condutores e com diferentes posições e opções de fixação. A entrada de cabos pela base da caixa, abas de fixação laterais fornecidas em todas as referências e um comportamento ao fogo comprovado em teste de fio incandescente a 960º, com uma elevada resistência ao impacto IK09 (10 joule) para as referências indicadas para a instalação no exterior.

anos e com um perfil diversificado, desde pessoas ativas, até utilizadores que necessitam de cuidados de saúde, promovendo-se, assim, uma vida mais longa e mais saudável, em casa. O objetivo da LIFANA é desenvolver e avaliar a app LIFANA Nutrition Solution, que apoia a nutrição saudável em todas as fases do envelhecimento, desde idosos ativos até indivíduos que necessitam de cuidados diários. Ela recomendará as refeições durante uma semana inteira, com base nas preferências do utilizador, como a cultura, o paladar e o orçamento mas, mais importante, tendo como referência os conselhos personalizados de uma equipa de nutricionistas. O objetivo é incluir pratos que sejam nutricionalmente apropriados e que o participante goste. Dependendo das habilidades individuais e do estado do utilizador, a aplicação dará apoio na escolha dos produtos alimentares. No caso de a confeção ser levada a cabo pelos cuidadores, estes recebem, igualmente, orientações para a confeção.

siosLIFE procura os espíritos mais jovens de Portugal siosLIFE

Nos próximos dias 27 e 28 de junho vai decorrer a 13.ª edição do Congresso Nacional do Idoso – 4.º Simpósio Luso-Espanhol, aquela que é considerada como a maior reunião científica de caráter nacional exclusivamente dedicada à Geriatria e à Gerontologia. O evento decorre no Centro de Congressos Sheraton Porto Hotel, sob o lema “Geriatria 2019 – A idade & o conhecimento aliados no futuro”.

Projeto LIFANA Fraunhofer Portugal

Tel.: +351 253 676 018 comunicacao@sioslife.com · www.sioslife.com

Este ano a siosLIFE vai encontrar os seniores que continuam a ser e a ter espíritos jovens apesar da idade, e vai partilhar com todos as histórias mais inspiradoras na rubrica “For Younger Spirits”. Com a ajuda de todos a siosLIFE vai encontrar os idosos que continuam a ter uma vida jovem, dinâmica e ativa. A siosLIFE já partilhou a história do António e do José que voltaram à universidade depois da reforma e estão a terminar a licenciatura junto dos colegas mais novos.

Tel.: +351 220 430 300 · Fax: +351 226 005 029 info@fraunhofer.pt · www.fraunhofer.pt

Incluir os idosos no mundo digital Universidade Nova de Lisboa Tel.: +351 213 715 600 · Fax: +351 213 715 614 reitoria@unl.pt · www.unl.pt

Com origem numa tese de Doutoramento da Universidade Nova de Lisboa, o projeto MUDA na Escola tem como principal intuito ajudar os idosos a perceber e utilizar as mais recentes tecnologias e a fazerem parte de um mundo digital. Este projeto irá ser inicialmente implementado em 18 escolas secundárias do Norte e Centro do país e tem como objetivo apoiar no combate ao isolamento social, à depressão, entre outros problemas frequentes nos idosos. Para tal foi criada

O projeto LIFANA - Lifelong Food and Nutrition Assistance Package resulta de uma parceria entre a Misericórdia do Porto, o Luxembourg Institute of Science and Technology, o Luxembourg Institute of Health, a Fraunhofer AICOS, a Gociety Solutions, a Unie van Katholieke Bonden van Ouderen, a Cereneo Schweiz AG e a Sonae Modelo Continente. Esta rede de entidades reuniu esforços, conhecimento e experiência para desenvolver e testar a Lifana, uma solução de apoio a uma nutrição saudável para indivíduos com mais de 60

Mas querem contar mais, querem mostrar que atividades como desportos radicais ou viagens não tem limite de idade. Conhece alguma história que se enquadre nesta rubrica? Fale com a siosLIFE para a partilharem em conjunto.

Gaia fornece medicamentos a carenciados, idosos e doentes crónicos Foi aprovado no passado dia 1 de abril o protocolo que inclui a Rede Solidária do Medicamento em Vila Nova de Gaia. Este projeto permitirá que


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as pessoas que não têm possibilidades de comprar os seus medicamentos, como por exemplo famílias carenciadas, idosos e doentes crónicos, continuem a ter acesso aos mesmos. Numa primeira fase o projeto-piloto Rede Solidária do Medicamento vai apoiar 250 munícipes.

pressão. Em Sagres, por exemplo, em 57 famílias estudadas, verificou-se o incumprimento do regime medicamentoso por falta de recursos económicos, medicamentos caros e as pensões não chegam para pagar medicamentos.

Seminário “Como Aprender a Envelhecer” ISCIA - Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração Tel.: +351 234 423 045 geral@iscia.edu.pt · www.iscia.edu.pt

Os benefícios ao abrigo desta rede abrangem exclusivamente os medicamentos prescritos com receita médica e comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde. Segundo o protocolo, a Câmara Municipal de Gaia vai pagar até 100 por beneficiário, num valor global não superior a 25 mil euros por ano.

O Departamento de Psicologia e Educação do ISCIA - Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, vai promover, no próximo dia 23 de junho de 2019, no Auditório do ISCIA em Aveiro, um seminário sobre o tema “Como Aprender a Envelhecer”. Este seminário tem como principal objetivo promover a reflexão e a partilha de experiências com os mais idosos, debruçando-se igualmente na qualificação da intervenção em equipas multidisciplinares para cuidados eficientes e humanizados aos idosos.

ciais à Pessoa em Contexto de Fragilidade”, uma iniciativa do Lar D. José do Patrocínio Dias, uma valência do Patronato de S. António, em Beja. A iniciativa teve como objetivo debater e refletir sobre novas respostas que, de forma mais integrada, assegurem cuidados adequados às pessoas em contexto de fragilidade. Nos trabalhos participaram especialistas de diversas instituições nacionais, tais como médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e terapeutas, entre muitos outros profissionais ligados à saúde e às estruturas residenciais para idosos. As jornadas abordaram temas como a “Demência: Diagnóstico e Adequação de Cuidados ao Longo da Vida”, “Direito, Ética e Legislação”, “Abordagem Centrada na Pessoa”, “Principais Desafios, Abordagem e Tomada de Decisão”, “Direitos Humanos, Envelhecimento e Fragilidade”.

TEV2 aposta em jornadas técnicas TEV2 – Distribuição de Material Eléctrico, Lda. Tel.: +351 229 478 170 · Fax: +351 229 485 164 info@tev.pt · www.tev.pt

Muitos idosos não tomam a medicação Instituto Superior de Saúde do Alto Ave Tel.: +351 253 639 800 · Fax: +351 253 639 801 geral@isave.pt · www.isave.pt

A Diretora da Licenciatura de Enfermagem do Instituto Superior de Saúde (ISAVE), Lígia Monterroso, apresentou o livro “Regime terapêutico das pessoas idosas dependentes – avaliação da adesão e da gestão”, onde apresenta os resultados de um estudo que refere que 49% dos idosos acompanhados por profissionais de saúde não adere ao regime medicamentoso que lhes é prescrito. O livro constitui uma súmula da tese de doutoramento de Lígia Monterroso e reflete um levantamento efetuado em várias unidades de saúde no Algarve.

O seminário que contará com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, José Ribau Esteves, será dividido em dois painéis que abordarão temáticas relativas à Terceira Idade bem como à realidade das IPSS e área da gerontologia. A inscrição é gratuita e deve ser efetuada através do website do ISCIA.

I Jornadas ERPI debatem cuidados aos idosos Lar D. José do Patrocinio Dias Tel.: +351 284 312 260 · Fax: +351 284 389 167 patronatostantonio@gmail.com © Jornal O Amarense

Numa primeira fase, Lígia Monterroso verificou que, entre 50 idosos doentes mentais, no Hospital do Barlavento que eram acompanhados semanalmente, 37% não cumpriam o plano medicamentoso. Um segundo estudo envolveu os Centros de Saúde de Lagos, Vila do Bispo e Aljezur, integrados na Unidade de Cuidados Continuados do Infante e os Cuidadores Informais que trabalham 24 sobre 24 horas, sem formação, desapoiados e sem saber o que fazer quando entram em de-

A TEV2 tem vindo a apostar em sessões de divulgação e jornadas técnicas. Estas ações com uma forte componente prática, permitem uma troca de informações e experiências com vantagens mútuas no desenvolvimento de produtos e soluções orientados para os prescritores e utilizadores. Desta forma potencia-se um ambiente que permite criar e reforçar uma relação win-win entre os utilizadores – engenheiros e instaladores com a marca TEV. Esta partilha de conhecimentos permite reforçar o relacionamento nos armazéns de material elétrico, centros de aprendizagem e educação técnica (ATEC, IXUS, entre outros), faculdades e ainda organismos públicos. Estes passam a ter conhecimento sobre as últimas novidades em desenvolvimento e ainda formação sobre as melhores práticas numa instalação convencional ou ITED.

www.patronatosantoantonio.pt

Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento criado em Coimbra Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Tel.: +351 239 859 900 · gabadmin@uc.pt · www.uc.pt

Entre os dias 15 e 16 de março de 2019, no Auditório I do Instituto Politécnico de Beja, realizaram-se as I Jornadas ERPI (Estrutura Residencial para Idosos) sobre “Respostas de Saúde e So-

A Universidade de Coimbra vai receber 15 milhões de euros da Comissão Europeia para criar o Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA). O MIA vai ser o primeiro centro de investigação


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de excelência nesta área no Sul da Europa e vai contar com um investimento total de 50 milhões de euros, estando prevista a construção de um edifício para albergar o instituto no Polo III da universidade.

Este projeto vai ser realizado em parceria com o Instituto Pedro Nunes, incubadora de Coimbra, a Universidade de Newcastle (Reino Unido) e o Centro Médico Universitário de Groningen (Holanda), sendo que a maioria das atividades e investimento será realizado na região. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) foi a entidade responsável por promover a candidatura, que teve a liderança científica da Universidade de Coimbra.

o que pode explicar a prevalência da demência vascular no nosso país. Luís Ruano é o primeiro autor da investigação, publicada na revista “American Journal of Alzheimer’s Disease & Other Dementias®”. O estudo designado Prevalence and Causes of Cognitive Impairment and Dementia in a Population-Based Cohort From Northern Portugal é também assinado por Henrique Barros, Natália Araújo, Mariana Branco, Rui Barreto, Sandra Moreira, Ricardo Pais, Vítor Tedim Cruz e Nuno Lunet. O Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) estão também envolvidos na investigação.

República sempre defendeu e continuará a defender, até que seja uma realidade”, sublinhou a mensagem do Presidente da República, salientando que em Portugal a grande maioria dos cuidados prestados a pessoas dependentes, sejam idosos, pessoas com deficiência, demências ou doenças crónicas é prestado por Cuidadores Informais e não através das redes formais.

IV Encontro Sénior de Boccia promove envelhecimento ativo

“Há milhares de Cuidadores Informais e cada vez haverá mais. Não podem continuar invisíveis e nessa condição ignorados. Sem vencimentos, sem folgas, sem férias, sem reformas, sem direitos sociais, numa missão também ela sem preço. É urgente conjugar o seu estatuto com o estado social”, pode ler-se ainda na mensagem da página oficial da Presidência da República.

Associação Desportiva e Recreativa Recreativa de Água de Pena Tel.: +351 964 771 880 · adrapmadeira@gmail.com

Robots ajudam a distribuir refeições no Hospital de Braga

Portugueses mais afetados por demência vascular do que por Alzheimer Unidade de Investigação em Epidemiologia

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epiunit@ispup.up.pt · http://ispup.up.pt

Um estudo desenvolvido por investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), apurou que a principal causa de demência em Portugal estará relacionada com fatores vasculares (demência vascular) e não com doença de Alzheimer, ao contrário do que acontece na maior parte dos países da Europa Ocidental. O presente estudo avaliou a prevalência de défice cognitivo e de demência numa amostra de 730 indivíduos do EPIPorto (um estudo de base populacional, que avalia, há 18 anos, os determinantes de saúde da população adulta residente no Porto) e tentou identificar as suas causas mais frequentes. Os resultados mostram que cerca de 4,5% dos indivíduos com mais de 55 anos apresentam demência ou défice cognitivo ligeiro. A principal explicação para estas diferenças resulta da elevada incidência de casos de acidente vascular cerebral (AVC) em Portugal, em comparação com outros países,

INESC TEC Tel.: +351 222 094 000 · Fax: +351 222 094 050

da Universidade do Porto

No passado dia 9 de abril a Associação Desportiva e Recreativa de Água de Pena organizou o IV Encontro Sénior de Boccia que decorreu no Pavilhão do Município de Machico, na ilha da Madeira. Este evento consistiu num Torneio de Boccia que envolveu várias instituições do concelho, em que o único critério seria que os participantes tivessem mais de 50 anos de idade. De acordo com a organização, o intuito deste evento passa por promover um estilo de vida ativo na população idosa, para conservar a capacidade funcional e a autonomia física durante o processo de envelhecimento, bem como proporcionar um momento de convívio, sociabilização e competição entre os idosos das várias instituições do concelho. Nesta edição estiveram inscritas 39 equipas a representar 8 instituições das 5 freguesias do concelho de Machico.

Presidente da República defende criação de Estatuto de Cuidador Informal Numa mensagem deixada na página oficial da Presidência da República, o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, como forma de assinalar o Dia do Cuidador que se celebra no dia 5 de novembro, defendeu a criação do estatuto do Cuidador Informal, considerando que esta é “uma causa que é nacional”. “É uma causa que reúne o apoio de todos os partidos. É uma causa que o Presidente da

info@inesctec.pt · www.inesctec.pt

Edgar – é este o nome dado aos dois robots que estão a ser testados no Hospital de Braga para ajudar na distribuição de refeições aos doentes internados. Desenvolvidos pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), os dois protótipos são flexíveis e fáceis de adaptar aos materiais e equipamentos já existentes para a distribuição de refeições em ambiente hospitalar. “Os robots distinguem-se em vários aspetos das soluções que existem atualmente no mercado, nomeadamente pelo sistema de tração que têm que permite que se agarrem aos carrinhos já existentes através de uma adaptação mecânica mínima, pelo sistema de localização que têm e que faz com que saibam a cada instante onde se encontram, aproveitando assim ao máximo as características naturais do edifício que percorrem sem necessidade de utilizar marcadores ou fitas magnéticas, pela autonomia das baterias que apresentam ou, até mesmo, pela ligação contínua à rede wireless que faz com que o seu funcionamento seja constantemente monitorizado”, explica Germano Veiga, investigador sénior do Centro


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de Robótica Industrial e Sistemas Inteligentes do INESC TEC. Os robots incluem ainda um sistema de navegação que possibilita o desvio de pequenos obstáculos, controlo dos elevadores e dispõem também de um sistema de carregamento baseado em tecnologia de carga sem contacto, via wireless. A solução desenvolvida vai permitir uma melhor gestão dos recursos humanos, ao deixarem de ter que efetuar operações de elevada exigência física e de baixo valor acrescentado. Vão igualmente permitir agilizar os processos de distribuição de refeições num hospital e libertar os colaboradores das empresas de catering para outras tarefas a realizar em ambiente hospitalar.

Vai nascer o primeiro Centro de Alzheimer da Madeira

menos de 15% no México e na Turquia, até mais de 35% na Finlândia, Itália, Grécia e Portugal”. Em 2015, nos países da OCDE, havia em média 28 pessoas com 65 anos ou mais para cada 100 com idades compreendidas entre os 20 a 64 anos, um número bastante superior às 18 pessoas registadas em 1970. A organização internacional estima que até 2060 essa percentagem duplique para os 57% e que o rácio de dependência dos idosos atingia quase 80% em nações como a Coreia do Sul e o Japão. Israel, México, Turquia e Estados Unidos da América manter-se-ão abaixo dos 45%, de acordo com as previsões dos especialistas.

Sistema interativo chega aos domicílios siosLIFE

Centro Social e Paroquial de São Bento

Tel.: +351 253 676 018

da Ribeira Brava

comunicacao@sioslife.com · www.sioslife.com

Tel.: +351 291 957 957· Fax: +351 291 957 958 cspsaobento@gmail.com · www.cspsaobento.pt

No passado dia 12 de março o Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, anunciou que o concelho da Ribeira Brava, a oeste da cidade do Funchal, terá o primeiro Centro de Alzheimer do arquipélago. Durante a inauguração de uma unidade de saúde privada, no centro da Ribeira Brava, o Presidente do executivo regional adiantou que o contrato -programa para o primeiro Centro de Alzheimer da Madeira será assinado com o padre Bernardino da Trindade, do Lar de Idosos de São Bento.

Relatório da OCDE indica que dependência dos idosos vai duplicar até 2060

Nos indicadores do relatório “Society at a Glance 2019” da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o envelhecimento da população mundial merece particular destaque, prevendo-se que o rácio de dependência dos idosos duplique nos próximos 45 anos. “As diferenças entre países são grandes, variando de

O Senior Inclusive chega ao mercado já no 2.º semestre deste ano. O mais recente produto da siosLIFE vem revolucionar o dia a dia dos seniores que vivem nas suas casas, que de forma autónoma vão poder usufruir de todas as potencialidades deste novo sistema. À semelhança do que já acontece pelas instituições de todo o país, o sistema interativo siosLIFE vai agora poder chegar a todos de forma adaptada ao ambiente domiciliário, tanto a nível de hardware como de software. Preparado para ser compatível com os vários perfis da pessoa idosa, o Senior Inclusive está a ser testado com utilizadores reais e sempre com o carimbo de aprovação dos profissionais que lidam de perto com os seniores. Esta versão vai focar-se, além de continuar a fornecer as potencialidades já conhecidas como a comunicação e os jogos sérios de estimulação física e cognitiva, na monitorização de sinais vitais e na segurança de cada sénior. Com a utilização de avatares personalizados e comandos de voz, o sénior terá apoio na identificação e apoio na medicação, e os seus cuidadores receberão alertas de emergência, tais como a deteção de quedas. Os serviços de apoio domiciliário (SAD) poderão complementar os seus serviços utilizando o Senior Inclusive nas suas visitas domiciliárias.

Portugal: 11,7% do PIB destinado a proteção social associada à Terceira Idade Portugal encontra-se atualmente entre os países da União Europeia (UE) com maior despesa em

proteção social associada à Terceira Idade, representando 11,7% do PIB do país. Segundo dados do Eurostat divulgados no dia 19 de março de 2019, Portugal ocupa atualmente o sexto lugar no que respeita a gastos em percentagem do PIB associados à Terceira Idade.

De acordo com o organismo de estatística europeu, as despesas com a Terceira Idade representam, em Portugal, 11,7% do PIB no ano de 2017, que compara com os 12,1% em 2016 e os 12,3% em 2015. Deste modo, Portugal situase acima da média europeia, cujos gastos com a Terceira Idade se fixam em 10,7% e da média da UE de 10,1% do PIB. Com os maiores gastos encontram-se a Grécia (13,8%), seguida pela Finlândia (13%) e pela França (13,4%). Com menores gastos em percentagem do PIB neste segmento estão a Islândia (3%), Irlanda (3,4%) e Lituânia (5,7%).

Escolas de Braga ajudam na inclusão digital de idosos Agrupamento de Escolas Carlos Amarante Tel.: +351 253 618 001 · Fax.: +351 253 610 072 info@aecarlosamarante.pt · www.aeca.edu.pt

© Projeto Muda

Várias escolas de Braga encontram-se a desenvolver um projeto de inclusão digital para adultos, o “Muda a Escola”. A Escola Carlos Amarante é uma das que conta com alunos voluntários que, em salas de aulas, recebem todas as semanas gratuitamente adultos para dar formação sobre a interação com o mundo online. O objetivo deste projeto passa por fazer com que os alunos expliquem aos seniores uma série de procedimentos sobre como usar a Internet de forma consciente. Esta formação ensina a simular consultas online, pedidos de receitas, consultar os horários dos transportes, conhecer o Portal do Cidadão para conhecer como renovar o bilhete de identidade ou pedir uma certidão, o Portal das Finanças, passando também pela Bolsa Nacional de Voluntariado. De acordo com os dados nacionais disponibilizados pelo projeto, mais de dois milhões de portugueses nunca usaram a Internet e quatro milhões fazem uma utilização muito básica.



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Linha SOS coloca trabalhadores a ajudar idosos em Viana do Castelo

45 563 idosos vivem sozinhos ou isolados

BMVIV

de de Medicina da Universidade de Coimbra e pelo desenvolvimento de ações de sensibilização contra o ruído hospitalar, com a colaboração do ITeCons – Universidade de Coimbra.

Tel.: +351 258 845 041 bmviv@bmviv.pt · www.bmviv.com

Plataforma TUR4all TUR4all Tel.: +351 211 338 693 info@tur4all.pt · www.tur4all.pt

No início do mês de maio a empresa BMVIV Daniel Rocha colocou à disposição dos idosos que vivem sozinhos em Viana do Castelo, uma linha telefónica com o objetivo de combater o isolamento, um serviço que será prestado pelos funcionários da empresa. A NAO viv SO(s) dará acesso a serviços simples como a compra de alimentos ou medicamentos, pedidos de pequenas reparações nas suas habitações ou mesmo obras de maior relevo. Inserido no quadro do Laboratório de Promoção de Responsabilidade Social Empresarial na Região Norte – RSE-INNOLAB, este serviço da BMVIV Daniel Rocha decorrerá em horário laboral e será prestado pelos 36 colaboradores da empresa. Numa fase inicial a linha estará disponível apenas no concelho de Viana do Castelo e não terá qualquer tipo de custo para os utilizadores.

A GNR sinalizou exatamente 45 563 idosos a viver sozinhos ou isolados ou em situação de vulnerabilidade devido à sua condição física, psicológica ou outra que possa colocar em causa a sua segurança. Este estudo foi feito em outubro de 2018 em todo o país, na Operação Censos Sénior 2018 e Vila Real, Guarda e Viseu foram os distritos com mais idosos nesta situação. Durante a operação, a GNR privilegiou o contacto pessoal e as ações onde sensibilizaram os idosos para que não adotem comportamentos de risco, evitando que se tornem vítimas de crimes como furtos, roubos ou burlas. As situações de maior vulnerabilidade foram reportadas às entidades competentes, sobretudo de apoio social, para fazer o seu acompanhamento futuro.

Projeto H2 – Humanizar o Hospital Projeto H2 – Humanizar o Hospital Tel.: +351 239 400 400

Quadros salientes MINI S da TEV

projetoh2@chuc.min-saude.pt · www.chuc.min-saude.pt

TEV2 – Distribuição de Material Eléctrico, Lda. Tel.: +351 229 478 170 · Fax: +351 229 485 164

A Plataforma TUR4all pretende dar a grupos com necessidades especiais acesso às redes de turismo, a pensar no um milhão de pessoas com necessidades específicas, 2,5 milhões de seniores e 550 mil crianças com menos de 5 anos de idade existentes em Portugal. Esta plataforma encontra-se disponível num website ou numa aplicação móvel em 3 línguas: português, espanhol e inglês. Nesta aplicação poderá ser consultada informação sobre as condições de acessibilidade em hotéis, restaurantes, monumentos, espaços públicos, animação turística ou transportes, e ainda toda a listagem de ementas em braille para cegos, áudio-descrição para surdos, rampas e espaços com instalações sanitárias acessíveis a pessoas com incapacidades motoras. As entidades públicas e privadas que quiserem aderir podem pedir uma auditoria técnica para saber se preenchem as condições ou o que devem fazer para conseguir a certificação de “Turismo Acessível”. Os utilizadores podem, depois de registados, deixar comentários e sugestões.

marketing@tev.pt · www.tev.pt

Preços dos Cuidados Continuados

A marca TEV introduziu no mercado uma gama de quadros salientes, intitulada MINI S, pensada para projetos com custos controlados ou/e com espaço reduzido para instalação. Esta é uma gama de quadros económicos de 2, 4, 8 e 24 módulos, com dimensões mínimas para espaços reduzidos. Os quadros de 2, 4 e 8 módulos são fornecidos com entradas pré-marcadas para a entrada de cabos pelas laterais ou pelo fundo da caixa. E um encaixe rápido da tampa sem utilização de ferramentas nos quadros de 2,4 e 8 módulos, permite uma poupança no tempo de instalação. Têm ainda a opção de ligador T/N fixado em suporte autoextinguível no quadro e possibilidade de selagem nos quadros de 2, 4 e 8 módulos.

O Projeto H2 – Humanizar o Hospital, desenvolvido no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), pretende tornar o hospital mais humano e enquadra-se no conceito “People Centred Care”. Pretende dinamizar o processo de sensibilização orientados para a necessidade de centrar a atenção dos doentes e cuidadores, apelar ao respeito por valores humanos e pelos princípios da dignidade, empatia e cortesia, e apelar ao profissionalismo interpessoal, ao trabalho coordenado e ao espírito de equipa e ainda um compromisso de constante melhoria. Já se encontram a desenvolver as primeiras linhas de atuação que passam pela promoção de uma cultura de humanização, preparação de inquéritos de satisfação com a colaboração do Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, pelo desenvolvimento de um programa de formação em comunicação e empatia com a colaboração do Instituto de Psicologia Médica da Faculda-

O Governo decidiu em Portaria os preços dos cuidados de saúde e o apoio social prestados nas unidades de internamento e de ambulatório da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI). Esta atualização centra-se nos 2,2% face aos preços praticados em 2017 e é feita no âmbito da Adenda 2018 ao Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário. Os preços são definidos conforme o tipo de encargo, apesar de no internamento se definam valores de diárias para a unidade de convalescença, de cuidados paliativos de média duração e reabilitação, e de longa duração e manutenção. No ambulatório são definidas as diárias da unidade de dia e promoção da autonomia.


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SUDOKU

LABIRINTO

Para resolver este Quebra Cabeça Matemático preencha as casas em branco com números de 1 a 9. Observe que nenhum número pode ser igual dentro do quadrado menor 9x9.

Encontre a saída do labirinto abaixo. Este passatempo é ideal para o estímulo do poder de observação e do raciocínio lógico de crianças, jovens e adultos.

SOPA DE LETRAS Observe as palavras da lista e procure-as na sequência de letras disponibilizadas, testando o seu poder de observação.


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Importância dos

JOGYS CLGNITIVES aplicados aos idosos Anderson Amaral1, Adriana Limeira2 e Juliana Ohy3

1,2

Jogos ECM, 3 Synapse

O

processo de envelhecimento é um processo inerente aos seres humanos que pode variar de indivíduo para indivíduo e ser caraterizado como um processo dinâmico, progressivo e irreversível. Para além do nascimento e da morte, uma das certezas da vida é que todas as pessoas envelhecem (Mota et al., 2004). No entanto, a manifestação do fenómeno de envelhecimento ao longo da vida é variável entre os indivíduos da mesma espécie e entre indivíduos de espécies diferentes. Essas variações são dependentes de fatores como estilo de vida, condições socioeconómicas e doenças crónicas. As variáveis biológicas, psicológicas e sociais relacionadas com o processo de envelhecimento são objeto de estudo de diversas áreas da gerontologia.

Segundo a ONU em 2020 teremos pela primeira vez na história o número de pessoas com mais de 60 anos maior que o de crianças até cinco anos de idade. O envelhecimento como maior representação é uma realidade há alguns anos nos países

desenvolvidos, e veem-se tornando uma realidade atual nos países em desenvolvimento. Por isso são necessárias estratégias para melhorar a prevenção e a gestão de condições crónicas, disponibilizando cuidados de excelência acessíveis a todos os idosos, levando em consideração o ambiente físico e social. O envelhecimento, apesar de ser um processo natural, submete o organismo a diversas alterações anatómicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, com repercussões sobre as condições de saúde física e mental dos idosos. O processo normal de envelhecimento, assim como a presença de processos mórbidos diversos pode levar o organismo à incapacidade de responder adequadamente às demandas da vida diária. Além disso, pode ocorrer o declínio das capacidades, tanto físicas como cognitivas, de acordo com fatores genéticos, estilo de vida e características de vida dos idosos (Ferreira et. al., 2011; Paixão Junior, 2018). A capacidade funcional pode ser definida como a manutenção da capacidade em realizar Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD) e Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD). A perda da capacidade funcional apresenta um impacto na qualidade de vida, autonomia e independência dos idosos. Manter a autonomia e independência durante o processo de envelhecimento é uma meta fundamental para indivíduos e governantes. Mas o que é autonomia e independência na velhice? Para entendermos melhor, será importante diferenciar os conceitos de autonomia e indepen-

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dência. A primeira é a capacidade de gerir a própria vida, de tomar decisões e escolhas no dia a dia. A segunda refere-se à capacidade de realizar atividades quotidianas sem auxílio, de viver independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda dos outros, necessitando, para tanto, de condições motoras e cognitivas suficientes para o desempenho dessas tarefas. O comprometimento da capacidade funcional tem implicações não só para os idosos, mas também para a família, a sociedade, para o sistema de saúde público e privado, pois esta ocasiona maior vulnerabilidade e dependência na velhice, contribuindo para maiores gastos nos sistemas de saúde (Amaral; Ohy, 2018).

Com o processo de envelhecimento, sentimos a necessidade de aprimorar os recursos para que este seja um processo ativo e saudável. Em primeiro lugar, devemos escapar das armadilhas de pensamento que a maioria promove todos os dias: “Envelhecer é mau”, “Envelhecer é perder”, “A palavra velho é agressiva”, “A velhice é o fim da vida e por isso não há nada a fazer”, “Ele já é idoso, coitadinho”. Essas frases, atualmente, soam piegas e estão no senso comum de uma sociedade. É preciso acompanhar o avanço da medicina e da sociedade: idosos devem permanecer ativos, com autonomia e independência, e participativos na nossa sociedade, mudando a ideia de que o “local do velho é em casa” ou “idoso precisa de pijama”.


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emocional, o que as atividades em grupo costumam proporcionar. Estudos científicos mostram que é possível a diminuição da taxa de degradação dos aspetos cognitivos por meio de programas de estimulação, uma vez que mesmo com o envelhecimento ainda existe plasticidade cerebral suficiente (Lima Neto et al., 2017). A proposta de estimulação cognitiva de forma lúdica, na qual podem ser incluídos vários tipos de dinâmicas, jogos cognitivos, gincanas, recursos da arte e musicalização, enfim, uma multiplicidade de recursos interativos que melhoram a autoestima, socialização e restauram a função cognitiva dos idosos.

O convívio social é fundamental em qualquer época da vida, mas para os idosos é ainda mais importante, pois muitos já vivem na solidão e são mais suscetíveis à depressão e demais doenças associadas. Os sentimentos de solidão podem surgir em qualquer grupo etário, mas assumem particular relevância não só pela sua prevalência, mas também pelas suas consequências nos idosos (Azeredo; Alonso, 2016). Na perspetiva da melhoria das condições físicas e cognitivas, assim como a melhoria da capacidade funcional e socialização dos idosos, os jogos cognitivos podem manter, reabilitar, desenvolver novas habilidades cerebrais e promover a socialização dos idosos. Por isso, este artigo traz as ferramentas principais para que sejam cada vez mais implementadas técnicas de estimulação e reabilitação cognitiva e motora.

Referências bibliográficas 1.

Função cognitiva e motora A evolução do ser humano é singular quando falamos em termos de motricidade e funções cognitivas, ou seja, cada indivíduo vai desenvolver as suas habilidades de acordo com as suas experiências e forma de estar no mundo. Entramos em contacto com o mundo e com os objetos, expressamos as nossas emoções e os nossos estados de espírito através das nossas funções motoras e cognitivas. Além disso, é nelas que se fundamentam as comunicações verbal e não verbal (Amaral; Ohy, 2018, 72). Ser ativo é fundamental em todas as fases da vida, sendo assim devemos estimular as nossas funções cognitivas e motoras, pois a relação corpo e mente é determinante na realização das nossas atividades diárias. O nosso cérebro, segundo Amaral e Ohy (2018, p. 32), adora a relação da interação cognitiva e motora. Assim como adora criar, estimular, desenvolver, sonhar e fantasiar. É através das experiências e vivências que aprendemos e praticamos a neuroplasticidade. A Neuroplasticidade pode ser definida como a capacidade que o sistema nervoso tem de alterar a sua estrutura e a sua função através das exigências ambientais e experiências que podem dar-se através do processo de aprendizagem ou reabilitação. Traduzindo: é moldar o cérebro através das experiências. As funções cognitivas são responsáveis pelo funcionamento cerebral e pelo bom desempenho nas nossas atividades quotidianas como pensar, perceber, comunicar, julgar, entre outras tantas ações do dia a dia. O processo de aprendizagem ao longo da vida passa por essas funções. Qualquer aprendizagem humana segundo emerge, consequentemente, de múltiplas funções, capacidades, faculdades ou habilidades cognitivas interligadas, quer de receção (componente sensorial - input), quer de integração (componentes percetiva, conativa, mnésica e representacional), quer de planificação (componentes antecipatórios e decisórios), quer finalmente, de execução ou de expressão de informação (componente motora - output) (Fonseca, 2014). As principais funções cognitivas são: memória, atenção, linguagem, perceção, habilidades visuo-

construtivas e funções executivas. O envelhecimento traz diversas consequências para a cognição, que podem ser observadas frequentemente por meio de déficits da memória (esquecer de tomar a medicação, contar mais de uma vez uma mesma história) de atenção (perder o foco enquanto faz outra atividade) e de habilidades visuo-espaciais (desorientar-se em algum local). Apesar da ocorrência de alterações cognitivas com o avanço da idade, estudos sugerem que a plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade de manter ou restaurar habilidades cognitivas pode permanecer e mesmo melhorar no envelhecimento (Sato et al., 2014). Vários são os fatores que podem influenciar na capacidade cognitiva de um idoso, o que certamente vai ter impacto no processo de envelheci© Flickr by OakleyOriginals mento cognitivo. As queixas de perda e preocupações com memória estão presentes na população idosa. A prevalência das queixas tende a aumentar com o avançar da idade, tornando-se recorrentes os relatos de perdas de memória com o passar dos anos, e podem estar atreladas a declínios não só na memória, como em outros inúmeros domínios cognitivos: atenção, orientação, perceção, linguagem e/ou função executiva (Diniz, 2018). Como principais fatores influentes no rebaixamento cognitivo, podemos citar: avanço da idade, deficiência vitamínica, stress, depressão, maus hábitos da saúde, entre outros, que não devam estar necessariamente relacionados com somente com o envelhecimento, mas sim uma rotina sem os cuidados necessários para uma qualidade de vida satisfatória. A proposta de trazer para a vida do idoso uma rotina de estímulos mais ativa, baseia-se na prevenção e no tratamento da saúde do idoso através dos jogos cognitivos. Cada jogo tem como principal objetivo trabalhar uma função cognitiva específica, sempre em combinação com o estímulo motor. Assim, o idoso poderá ter benefícios integrais, incluindo a socialização e o amparo

Amaral, A.; OHY, J. Jogos Cognitivos e o cérebro do idoso. Revista Psique. Edição 151, 2018: 75-79. 2. Amaral, A.; OHY, J. Jogos Cognitivos: um olhar Multidisciplinar. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2018: 72. 3. Amaral, A.; OHY, J. Aprendizagem sob olhar da Psicomotricidade. Revista Escola Particular. Ano 22, No 241, 2018: 32. 4. Azeredo, Z.A.S; Afonso, M.A.N. Solidão na perspectiva do idoso. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2016; 19(2):313-324. 5. Diniz, B.S.O. Envelhecimento Cognitivo. P.15 In; Santos, F.S; Silva, T.B.L.; Almeida, E.B.; Oliveira, E.M. Estimulação Cognitiva para idosos: Ênfase em Memória. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018. 6. Ferreira, P.C.S.; Tavares, D.M.S.; Rodrigues, R.A.P. Características sociodemográficas, capacidade funcional e morbidades entre idosos com e sem declínio cognitivo. Acta Paul Enferm 2011;24(1):29-35. 7. Fonseca, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. psicopedag. vol.31 no.96 São Paulo 2014. 8. Lima Neto, A.V.; Nunes, V.M.A.; Oliveira, K.S.A.; Azevedo, L.M.; Mesquita, G.X.B. Estimulação em idosos institucionalizados: efeitos da prática de atividades cognitivas. J. res.: fundam. care. online 2017. jul./set. 9(3): 753-759. 9. Mota, M.P.; Figueiredo, P.A.; Duarte, J.A. Teorias biológicas do envelhecimento. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, n.º 1 [81–110] 8. 10. Organização das Nações Unidas. https:// nacoesunidas.org/mundo-tera-2-bilhoesde-idosos-em-2050-oms-diz-que-envelhecer-bem-deve-ser-prioridade-global/. Acesso em 11 de Fevereiro de 2019. 11. Paixão Junior, C.M. Série de Rotinas Hospitalares. Hospital Universitário Pedro Ernesto. Volume VI, 2018: 22. 12. Sato, A.T.; Batista, M.P.P.; Almeida, M.H.M. Programas de estimulação da memória e funções cognitivas relacionadas. opiniões e comportamentos dos idosos participantes*. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2014;25(1):51-9.


72 | Bibliografia

SNS, o tempo de um renascimento

15,30 ¼ Autores: Sofia Leal, Adriana Taveira Editora: Medicabook

O presente livro testemunha o desenvolvimento de um trabalho de equipa e de pensamento empreendedor na gestão de serviços de Saúde, assente nas dimensões de acesso aos cuidados de saúde, na ativação de processos de literacia e na requalificação de respostas assistenciais, constituindo-se como o resultado vivo de que muito se pode e deve fazer em prol da excelência e sustentabilidade do SNS. Para a sua concretização, parte-se do projeto piloto entre o Agrupamento de Centros de Saúde do Cávado III Barcelos/Esposende e o Hospital Santa Maria Maior E.P.E. de Barcelos delineando-se intervenções para a criação de “mais valor em saúde”. Na perspetiva da Teoria dos Recursos (Modelo VRIO), é abordada a análise do potencial de competitividade das instituições envolvidas e a necessidade de criação de alianças/parcerias que superem a setorização de cuidados de saúde. Um novo desafio impõe-se: o da mudança de paradigma sobre modelos de gestão de integração de Cuidados de Saúde Primários e Cuidados Hospitalares.

Ano de edição: 2019 ISBN: 9789898927347 Número de páginas: 160

Índice: Ensaio. Planeamento – Projeto SNS + Proximidade. Implementação estratégica. Indicadores. A replicabilidade: instrumentos de apoio aos processos-chave. Reflexão final.

Idioma: Português

Os meus pais estão a envelhecer

15,50 ¼ Autores: Maria José da Silveira Núncio, Carla Rocha Editora: Porto Editora Ano de edição: 2019

Cuidar dos pais não é um fator determinante na equação que a maioria das pessoas cria para o seu futuro. No entanto, e com a naturalidade que parece ser esquecida, o envelhecimento acontece. Por vezes, aparenta surgir de um dia para o outro, com uma doença que se revela grave ou crónica. Porém, na maioria dos casos, os sinais surgem lentamente: as dificuldades de locomoção, as fragilidades na memória, a confusão com as questões burocráticas ou até as misteriosas amolgadelas no carro. Em ambos os casos, acompanhar o envelhecimento é exigente, desde as novas logísticas que devem ser asseguradas, até às decisões complexas que é preciso tomar em relação ao futuro. Tudo isto, sem ignorar as próprias necessidades. Num país em que o envelhecimento da sociedade se acentua drasticamente, Os meus pais estão a envelhecer é um guia essencial para todos quantos se preocupam ou passam por esta situação, incluindo os milhares de Cuidadores Informais – cujo trabalho o Presidente da República coloca em destaque na mensagem que escreveu para esta obra.

ISBN: 9789897400551 Número de páginas: 160 Idioma: Português

Índice: Início de tudo. E agora, o que fazer?. A comunicação é de ouro. Uma família em mudança. Envolver a família. Velhos são os trapos. Mudar a casa ou mudar de casa. E eu como fico?

O perfil no mosaico da intervenção gerontólica

25,00 ¼ Coordenadora da obra: Cláudia Moura Editora: Seda Publicações Ano de edição: 2019 Idioma: Português

É pretendido com este livro não falar apenas dos deveres éticos, quando se esLançamento colhe pensar e compreender o envelhecimento, mas entender que para intervir 30 MAIO na prestação de cuidados à pessoa idosa é essencial ter perfil. Os conhecimentos e as ações no campo da ética são fundamentais, no entanto dada a fragilidade e dependência que por vezes a pessoa idosa se encontra é essencial uma triagem nas equipas intervenientes que permita selecionar o perfil para a intervenção. Selecionar um perfil adequado é a mudança para um paradigma não de excelência, mas mais sério garantidamente no campo dos cuidados. Os elementos que prestam cuidados à pessoa idosa precisam de ter perfil para prestar cuidados. O novo paradigma a que chamo «perfil» é pautado por técnicos com tolerância, bom senso, análise, tempo para dedicar ao outro, observação para os detalhes que são transitados no dia-a-dia na prestação de cuidados. Criar um perfil para a intervenção é analisar e formar “pessoas certas” para as boas práticas gerontológicas.




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