20 | Dossier sobre Envelhecimento Ativo
© Alex Kingsley
Velhices LGBT Desafios para o envelhecimento ativo 1
Diego F. Miguel e 2Milton R. F. Crenitte
1
Médico da Unidade de CardioGeriatria do incor e Voluntário da ONG Eternamente SOU 2
Docente em Gerontologia e Saúde Pública. Padrinho da ONG Eternamente SOU
O envelhecimento populacional é uma das evidências do significativo aumento da expetativa de vida nas últimas décadas. A longevidade é uma conquista para a nossa sociedade, mas também o motivo de importantes ressignificações, com a necessidade de proporcionar um melhor acolhimento às necessidades das pessoas idosas nos seus aspetos biopsicossociais, para que vivam a velhice ativamente.
A implantação de programas direcionados ao Envelhecimento Ativo foi um marco importante, e nesse contexto a proposta da Organização Mundial da Saúde para que as pessoas idosas tenham a sua autonomia e independência preservadas teve uma relevante contribuição para a ampliação de políticas públicas, tanto na prevenção e orientação em saúde, quanto no fortalecimento de espaços que promovam a participação social desses indivíduos. Neste cenário de pluralidade do envelhecer, constituído por diferentes contextos e realidades socioculturais, é relevante considerar que a tendência de envelhecimento populacional também será observada entre lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgéneras (LGBT). Dessa forma, os especialistas em geriatria e gerontologia podem deparar-se com situações
desafiadoras nas suas práticas ao cuidarem de uma pessoa idosa LGBT saudável, com demência ou até mesmo na sua fase final de vida. Entretanto, essa população sofre uma “dupla invisibilidade”. Por um lado por serem mais velhas e estarem submetidas aos estereótipos e mitos que cerceiam a velhice, e por outro por terem orientações sexuais e/ou identidades e expressões de género menos comuns à sociedade em geral, trazendo ao longo da vida marcas de preconceitos e violência de origem LGBTfóbicas. Porém, será que o acesso de pessoas idosas LGBT às políticas públicas acontece com as mesmas oportunidades das pessoas idosas que não são LGBT? Nos serviços voltados para pessoas idosas, são consideradas as condições de vulnerabilidade e de violência estrutural como o pre-
conceito e a LGBTfobia a fim de proporcionar um atendimento digno a essas pessoas? O receio de discriminação pode ser uma possível causa para que essas pessoas evitem aceder aos serviços de saúde e demais espaços destinados à sua socialização e participação social, ou frequentarem-nos apenas em último caso. Dessa forma, além de uma forte tendência ao isolamento social e solidão, também expressam piores controlos de algumas doenças crónicas, como diabetes, e também realizam menos exames preventivos como a mamografia ou o papanicolau, no caso das mulheres lésbicas. No fim da vida, inclusive, momento no qual os indivíduos estão mais vulneráveis, as pessoas LGBT relatam, em pesquisas, os medos de ficarem sozinhos, de serem discriminados e de morrerem com dor. Além disso, o receio antecipado de discriminação leva algumas pessoas LGBT à ansiedade, à depressão e ao suicídio. Uma pesquisa recente mostrou que pessoas trans preferiam suicidar-se se tivessem que depender de uma instituição ou de pessoas que não respeitassem as suas identidades. Por essas razões, é fundamental discutir medidas para a formação de ambientes e de profissionais friendly, além de combater a solidão, o isolamento social e a invisibilidade que pessoas idosas LGBT sofrem.
Invisibilidade nos serviços voltados para pessoas idosas A invisibilidade de pessoas LGBT nos serviços de assistência social e de saúde não é diferente do desprezo que sofrem pelas suas especificidades pela sociedade em geral, e a presunção de que todos são heterossexuais e cisgéneros é uma das maneiras de perpetuação dessa questão. Nesse sentido, muitos questionam se seria relevante saber a identidade de género e a orientação sexual de quem é assistido. Baker e colaboradores mostraram que sim, é relevante. Revelaram que pessoas que se abrem para os seus médicos mostram maiores níveis de satisfação, um melhor acesso aos serviços de saúde, um melhor con-