DIGNUS nº1

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38 | Especialidades Médicas

O papel do Médico de Família na demência Prevenir antes de diagnosticar Elisa Serôdio

A

Medicina Geral e Familiar

demência é o maior desafio global para a saúde no século XXI. É definida como sendo um declínio cognitivo, em vários domínios (memória, comunicação, raciocínio), que dificulta as capacidades funcionais do indivíduo. Em 2015, cerca de 47 milhões de pessoas estavam diagnosticadas com demência e as estimativas apontam para que este número triplique até 2050. A posição do Médico de Família no sistema de saúde e as responsabilidades de prevenção e de promoção de saúde dos doentes implicam uma atividade clínica centrada na pessoa mas que tenha em conta o seu contexto familiar, social, laboral e cultural. O Médico de Família, pela sua proximidade nos cuidados de saúde, tem um papel fundamental no diagnóstico precoce da deterioração do estado cognitivo e fase inicial de uma demência, uma vez que ao acompanhar o seu doente ao longo da vida, está mais atento a pequenas alterações de comportamento e de memória. No diagnóstico da fase inicial de uma demência, é importante estar atento a pequenas mudanças. O alerta surge muitas vezes pela presença de alterações cognitivas, como alterações da memória, dificuldade na comunicação escrita e falada, não reconhecimento de acontecimentos comuns e desorientação ou alterações funcionais como di-

ficuldade na execução de atividades de vida diária pelas demências de causa vascular. As demências (no trabalho, na condução, no uso de dinheiro), podem, ainda, ser secundárias a outras patologias, descuido pessoal/doméstico ou desorientação sendo fundamental um correto e precoce diagnósespacial/temporal. São também frequentes pro- tico, tendo em atenção a possível reversibilidade blemas como delírio, agitação, insónia/inquieta- do quadro. Para tal, é importante considerar os anção noturna ou alterações de personalidade com tecedentes pessoais, como hábitos medicamenmanifestação de afetos inapropriados, embota- tosos e tóxicos, traumatismos e a história familiar. mento ou desinteresse, discursos agressivos/exO Médico de Família perante a suspeita de um plosivos ou sexualidade exagerada. Podem estar quadro demencial exclui as causas tratáveis que associados sintomas psiquiátricos como humor podem justificar estas alterações, como alteradeprimido, ansiedade, insónia, apatia, alucina- ções metabólicas/endócrinas, infeciosas, tóxicas, ções, desconfiança/paranóia e consequente iso- medicamentosas, carências de vitaminas, entre lamento social. A evolução da doença é muitas outros. Para tal, faz um estudo com recurso a vezes lenta. Numa fase inicial ocorrem pequenas análises de sangue e imagem cerebral, como por falhas, como por exemplo, atingimento da memó- exemplo, TAC. Para além da informação obtida ria. Os erros e as dificuldades vão-se agravando na entrevista clínica ao doente, aos familiares e ao começando a ser percetíveis pelos familia- “O Médico de Família, pela sua proximidade nos res. Há, muitas vezes, cuidados de saúde, tem um papel fundamental deterioração da perso- no diagnóstico precoce da deterioração do estado nalidade, dificuldade de cognitivo e fase inicial de uma demência (...)” reconhecer familiares e amigos, desorientação e perturbação do discur- cuidador, o diagnóstico é muitas vezes compleso. Podem também, apresentar hiperatividade/ mentado um exame físico completo e exame neuagressividade ou alucinações. rológico. Há, ainda, espaço para a aplicação de As demências podem ter múltiplas causas. escalas de avaliação funcional e do estado mental As demências primárias ou degenerativas afetam como o Mini Mental State Examination (MMSE) e principalmente as pessoas mais idosas, sendo a de outros exames complementares de diagnóstiDoença de Alzheimer a mais frequente, seguida co, caso sejam necessários.


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