DIGNUS nº1

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Case Study | 57

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“O Cuidador, EU” Patrícia Valente Assistente Social

A

escolha deste tema teve por base uma natural vocação na área da Terceira Idade e do envelhecimento, bem como pelo facto de em 2005 ter estado a cuidar de dois familiares idosos facto que me alertou para uma realidade cada vez mais premente, a necessidade de respostas de intervenção junto da população sénior. Nos finais do século XX víamos que nas famílias havia uma maior união e solidariedade familiar, existindo um maior comprometimento na “função” de protetores e de cuidadores dos seus entes queridos. Estes cuidados eram geralmente assegurados pelas mulheres no seio familiar, na faixa etária da meia-idade ou até já idosas, que acumulavam a função de cuidadoras de um familiar mais velho com o emprego e ainda com a sua própria família, marido, filhos e/ou netos. Muitos idosos começam a ficar mais dependentes quando se consciencializam da perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, e apercebem-se da necessidade de terem alguém que os apoie com o objetivo de realizar algumas necessidades básicas do dia a dia. Da mesma forma, é importante distinguir que a maior parte dos idosos expõem o desejo de serem cuidados na sua habitação, isto porque a casa é o cenário de relações afetivas, trocas sociais, espelha um passado e é sobretudo um símbolo da dinâmica de vida. A saída do idoso do seu meio familiar

compromete novos modos de adaptação, conduzindo a um maior ou menor sofrimento (Neto, 2004). Por isso é cada vez mais importante a valorização dos Cuidadores Informais pois existem laços afetivos entre prestador de cuidados e o idoso, para que ambos se sintam mais à vontade e exista uma maior atenção, carinho, dignidade, afeto e sobretudo respeito. No entanto, este acompanhamento às pessoas mais idosas tem vindo a diminuir e a tornar-se mais difícil, resultado da evolução da sociedade, da inclusão da mulher no mundo do mercado de trabalho e da própria exiguidade das habitações (Sousa, 2006). As transformações que se têm verificado nos cuidados formais e informais são inseparáveis, ou seja, a diminuição e/ou indisponibilidade de potenciais Cuidadores Informais repercute-se na expansão de serviços formais (Imaginário, 2004). A minha mãe foi Cuidadora Informal dos meus avós maternos, e a dada altura precisou de ajuda dos cuidados formais, nomeadamente do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), tanto para as refeições como para apoiar a higiene da minha avó. No caso deles, ambos possuíam horas certas para comer, hora de higiene pessoal, e não nospodemos esquecer que uma pessoa acamada torna-se, a dada altura, como “um peso morto” muitas vezes difícil de manusear, e nisso o SAD foi impecável pois ensinaram a família a desenvolver

técnicas de posicionamento, manuseamento sem efeitos negativos para ambos, entre outros. Nas zonas mais rurais, os Serviços de Apoio Domiciliários (SAD), não são vistos com bons olhos e como muitos referem, “a família é que deve cuidar dos seus idosos!”. Os Cuidadores Informais precisam de apoio a diferentes níveis, pois é um trabalho de 24 sobre 24 horas, e precisam de desabafar, descansar, precisam também de cuidados, de serem mimados, de serem amparados, terem direito a sair, a verem a luz do dia, a terem os seus direitos reconhecidos e existir quem os substitua por algumas horas. Hoje em dia a nossa sociedade esquece-se que os nossos idosos são um livro cheio de histórias. Foram eles que nos ensinaram a comer, a andar, a falar, a levantar quando caíamos, a mudar as nossas fraldas, carregaram-nos ao colo, seguraram as nossas mãos e abraçavam-nos quando tínhamos medo, contavam-nos histórias, entre tantas coisas, e hoje em dia são postos na maioria das vezes num canto esquecidos.

Referências bibliográficas 1. Neto, F. (2004). Psicologia Social Aplicada. Lisboa: Universidade Aberta. 2. Sousa, L., Figueiredo, D., & Cerqueira, M. (2006). Envelhecer Em Família. Porto. Ambar.


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