Junho no plural
sobre Vozerio, de Vladimir Seixas
Vinícius de Andrade
Um dos poucos entendimentos comuns em torno das Jornadas de Junho de 2013 no Brasil, ao menos até antes do golpe de 2016, é o de que constituem um acontecimento ainda em disputa. Elaborar uma narrativa das manifestações de rua daquele ano trata-se, de saída, de um enorme desafio e uma característica fundamental de Vozerio pode ser descrita como um olhar destituído de pressa em determinar os sentidos ou encerrar a leitura dos fatos. Tal postura, nada irrelevante se olhamos para a irregular produção documental sobre Junho/2013, é notável em procedimentos fílmicos que operam o que nos parece ser uma série de intuitivas recusas. A primeira importante recusa é abdicar do tom didático – seja na forma de narração explicativa, letreiros informativos ou no uso excessivo da entrevista. Isso permite ao filme trabalhar no entrecruzamento dos problemas do Rio de Janeiro, premissa explicitada na abertura: durante imagens turvas de barricadas em chamas, vamos dos gritos em defesa da Aldeia Maracanã e de cobrança em relação ao caso Amarildo até aqueles contra a violência policial e o aumento da tarifa do transporte público. Esta primeira recusa se conecta a de estabelecer uma cronologia rígida dos acontecimentos, fazendo o filme avançar por circularidade: retornam temas, personagens e imagens, como as cenas das disputas em torno da Aldeia Maracanã, tornada símbolo que aproxima as lutas pela terra e associa o direito à cidade às cosmologias indígenas.
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