Monumento e Acidente | TFG FAUUSP 2021

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1. Diana Agrest e Mario Gandelsonas, “Semiótica e Arquitetura”. In: Nesbitt, K. (org.), Uma Nova Agenda para a Arquitetura (São Paulo: Cosac Naify, 2006), p. 137

Signo

O arquiteto é o titular desse aparelho representacional que ele se acostumou a chamar de “linguagem arquitetônica”: um sistema de elementos, regras e operações simbólicas do qual ele dispõe para a configuração da obra de arquitetura. Mas o que garante a esse arquiteto o direito de dizer que o seu trabalho consiste, de fato, no emprego de uma “linguagem”? E, se pudermos provar que este arquiteto está correto, que ele está de fato comprometido com um trabalho efetivamente “linguístico”, quais são as reais implicações dessa afirmação? É verdade que a associação entre arquitetura e linguagem pode ser bastante problemática. Se, por um lado, podemos dizer que tanto os sistemas verbais (como a língua) quanto os não-verbais (arquitetura, música, pintura, etc.) podem ser compreendidos pelo denominador comum do signo – na teoria saussuriana, a combinação de um significante (imagem) e um significado (conceito) – é também verdade que há certos limites conceituais que não nos permitem decretar, indiscriminadamente, que “a arquitetura é linguagem”. Como observaram Diana Agrest e Mario Gandelsonas no ensaio Semiótica e Arquitetura, de 1973, “os sistemas de regras arquitetônicas não exibem nenhuma das propriedades da langue – não são finitos, não têm uma organização simples nem determinam a manifestação do sistema. Ademais, as regras arquitetônicas estão em constante fluxo e mudam radicalmente”1. A razão é, portanto, aparentemente simples: estruturalmente, a arquitetura e a linguagem verbal são sistemas semióticos distintos, com signos, regras e dinâmicas internas próprios e intransferíveis entre si. Mesmo assim não desejaremos, aqui, abandonar de todo a ideia de uma “linguagem arquitetônica”: por mais imprecisa que ela possa parecer diante de uma perspectiva semiótica ortodoxa, ela revelará ser, ao longo deste trabalho, em diversos sentidos produtiva. O que 19


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