Magazine 60+ #33

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com uma cabine estendida que transportava mercadoria e pessoas. Etelvino Caldas concorria com esses chamados mistos colocando ônibus em circulação entre a cidade de Mossoró e a cidade de Lages. Desses pioneiros, donos de mistos, Raimundo Nonato lembra de um que ficou famoso. Chamava-se Raimundo Agostinho. Transcrevo abaixo texto do próprio autor de “À sombra dos tamarindos”, falando desse assunto: Na linha de Fortaleza, Raimundo Agostinho foi o mais popular dos donos de caminhão. Iniciou as viagens, e por um tempão sem sem-fim, foi uma espécie de donatário na exploração do transporte de passageiros entre Mossoró e a Capital Alencarina. Igualmente a Antonio Cirilo, Raimundo Agostinho, além de dono do veículo, era também o seu motorista. Seu nome entrou no giro da literatura. Seu caminhão ficou registrado no livro de viagens da escritora Lola de Oliveira, que nele viajou de Fortaleza para Mossoró. Curiosamente, Raimundo Agostinho nunca teve maior pressa em terminar viagem. Para ele, o que tinha de ser tinha muita força. Nunca teve hora certa para partir ou para chegar. Seu caminhão virou vezes sem conta. As demoras das viagens eram explicadas, pois todo mundo dizia que, ele tinha uma namorada em cada casa, na beira da estrada. E aí, o paleio era grande: doce de leite, ou de caju, água resfriada na moringa, que ficava exposta na janela, conversa animada e café feito na hora. Em outros pontos, era o almoço, como descanso que se seguia, até o sol pender... Assim, quem tivesse pressa ou negócio com dia e hora marcados, que não fosse no seu carro. Agora, com ele a coisa era diferente: Raimundo Agostinho tinha verdadeiro curso de bom tratamento, possuía a ética da amabilidade. Nas suas viagens já ensaiava uma coisa que pareceu descoberta, era ele um interprete de relações públicas no serviço dos seus caminhões. Mas, que dizer: tinha lá sua *quizilia de fazer entrega de cartas, que lhe davam aos montes, tanto para Fortaleza como para Mossoró. Ao chegar a essas cidades, passava no jardim (em Fortaleza, na Praça do Ferreiro, em Mossoró, na Rodolfo Fernandes), pegava uma pedra e botava o pacote de cartas debaixo, dizendo: - Quem quiser que venha receber aqui... divulgação

Peço permissão ao leitor para um esclarecimento desse paragrafo pois, é o ponto alto do texto. O mais engraçado. Raimundo Agostinho tinha muita bronca de levar e trazer cartas, mas para não ser antipático com as pessoas que lhe pediam esse favor, acabava cedendo. Mas não tinha o trabalho de conferir os nomes dos destinatários e entregar as cartas pessoalmente. Convencionou pontos de acesso público em Mossoró e em Fortaleza e chegava nesses lugares deixava as cartas lá cobertas por uma pedra. Quem quisesse que fosse pegar lá.

* aborrecimento

magazine 60+ #33 - Março/2022 - pág.62


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