Como falar em isolamento social para quem nem casa tem? Ou para aqueles que vivem em espaços mínimos com avós e netos coabitando na mesma casa? Evidentemente, as taxas de transmissibilidade são espantosamente mais altas do que nas famílias de três ou quatro pessoas dividindo grandes e espaçosos apartamentos nos bairros de classe alta.
Moradia, questões urbanas e saneamento: a segregação dos vulneráveis João Sette Whitaker Ferreira 1
Muito se falou da expectativa de um “novo normal”, no dia em que a pandemia enfim terminasse. A ideia dos mais otimistas era a de que a tragédia, que parecia ter como peculiaridade o fato de atingir a todas e todos sem distinção de renda, iria nos obrigar a repensar nossas formas de viver para construir um ambiente mais seguro e saudável para todos. A impressão de que ricos e pobres, todos devem se precaver coletivamente, deixou no ar a possibilidade de que, daqui para frente, pudéssemos mudar os mecanismos da nossa vida em sociedade para uma forma mais solidária. Isso incluiria, evidentemente, a maneira como usamos o espaço urbano. Mas a sensação durou pouco. Logo se viu que no Brasil, como em tantos países do Sul Global, nem mesmo um vírus é verdadeiramente igual 1
João Sette Whitaker Ferreira é arquiteto-urbanista e economista. É professor livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e pesquisador do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab) da mesma faculdade. Foi Secretário de Habitação do Município de São Paulo.
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