Dentro dos conceitos clássicos da Justiça de Transição, em que as vítimas de violação massiva e sistemática de direitos humanos constroem as condições para a sua superação, as vítimas da covid-19 no Brasil precisam se organizar para um esforço profundo de Memória, Verdade e Justiça para si, suas famílias, suas comunidades e o conjunto do povo brasileiro.
O genocídio brasileiro: desafio de uma sociedade para as próximas décadas Renato Simões 1
No momento em que este artigo tem sua versão final, em 28 de agosto de 2021, a imprensa brasileira contabiliza 20.726.800 de casos oficialmente registrados de contaminação pela covid-19 no Brasil desde o início da pandemia, com 578.396 vítimas fatais. Esses dados foram compilados por um consórcio de meios de comunicação constituído para fugir da subnotificação e da manipulação de dados que marcaram a atuação do Ministério da Saúde nos primeiros meses da pandemia. A média de mortes atingiu, pelo terceiro dia seguido, um patamar abaixo de 700 óbitos, com o registro de 677 pela covid-19 em 28 de agosto, a taxa diária mais baixa desde 30 de dezembro de 2020. Nos últimos dias, a desaceleração do número de óbitos, de casos e de internações suscitou um 1
Renato Simões é filósofo e militante das causas dos direitos humanos. Foi deputado estadual e federal pelo PT-SP, com mandatos dedicados às comissões legislativas de Direitos Humanos. É coordenador-geral da Ação dos Cristãos pela Abolição da Tortura (ACAT) e coordenador-executivo da Associação Nacional Vida e Justiça em Apoio e Defesa das Vítimas da Covid.
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