Genética
Nelore construído com “olho” e números José Humberto Villela Martins não abre mão de aliar fenótipos à avaliação genética. O resultado é a liderança no mercado de leilões, com obtenção de preços recordes. ‒ foi obtido por Calibre FIV Camparino, na mesma condição (cota de 50%), na mostra mineira de 2019. “A concorrência no mercado de touros é muito grande hoje em dia. Você liga a televisão e sempre tem um leilão. Apesar disso, estamos conseguindo boas médias, resultado que atribuo ao fato de conhecer a fundo o que o mercado pecuário quer. Sou produtor de boi de corte e uso essa minha experiência para produzir touros capazes de atender às reais demandas da indústria frigorífica”, sintetiza o selecionador, que oferta, anualmente, 600 touros Nelore, além de contar com 25 animais em centrais de inseminação.
Seu Zé Humberto na porteira da Fazenda Camparino, em Cáceres, MT: 55 anos de dedicação ao Nelore.
J
Larissa Vieira
á é noite em Cáceres, região sudoeste do Mato Grosso, quando o pecuarista José Humberto Villela Martins atende ao telefone, na sede da Fazenda Camparino. A labuta havia sido grande durante o dia, afinal de contas, a propriedade abriga cerca de 10.000 cabeças de gado e negócios diversificados, que incluem pecuária seletiva de Nelore, Sindi e Gir Leiteiro, pecuária de corte comercial, e ainda belos cavalos Quarto de Milha. Esta repórter explica que a Revista DBO gostaria de mostrar o trabalho de seleção de zebu da Camparino e “Seu” Zé Humberto já avisa: “Ih, é muita história para contar numa conversa só...” Mas logo emenda a frase, enumerando o que levou o criatório a se tornar referência nacional na produção de touros melhoradores da raça Nelore. Mineiro de Ituiutaba, Martins está há quase 30 anos no Mato Grosso, mas contabiliza 55 anos de seleção da raça, o que lhe garantiu, nos últimos tempos, espaço previlegiado no mercado de reprodutores, inclusive quando o evento acontece na praça mais concorrida, a ExpoZebu, de Uberaba, MG. Em sua última participação na mostra, no “2° Leilão Terra Brava, Camparino e Genética Aditiva”, realizado no dia 30 de abril deste ano, o touro Don Juan FIV Camparino teve cota de 50% vendida por R$ 723.000. Foi o exemplar mais valorizado da ExpoZebu. Valor maior ainda ‒ R$ 810.000
118 DBO agosto 2020
De mãos dadas José Humberto explica que a seleção do plantel Camparino é trabalhada tanto com ajuda de ferramentas científicas (avaliações genéticas, genômica) quanto empíricas – o velho “olho do dono”. Andam juntas, “de mãos dadas”. Todas as fêmeas Nelore PO são genotipadas, assim como os touros direcionados às vendas em leilão. O trabalho é lastreado nos programas de melhoramento genético da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores) e da ABCZ, através do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ). Mas é o olho do criador, calibrado por 55 anos de seleção, que bate o martelo nos acasalamentos, feitos vaca por vaca, buscando principalmente fertilidade e boa habilidade materna. O plantel de 1.200 fêmeas PO é direcionado à inseminação artificial por tempo fixo (IATF) e cerca de 1.000 receptoras recebem embriões obtidos por Fertilização in Vitro (FIV). Mesmo satisfeito com o desempenho de seu plantel nos programas de melhoramento, o criador conta que não abre mão de uma forte pressão de seleção. As fêmeas que não emprenham ao final da estação de monta são descartadas e menos de 50% são reservadas para a Camparino a cada safra. Segundo ele, quando o assunto é planejamento genético, deve-se acompanhar o que o mercado quer, mas com certa cautela para não acabar produzindo um animal fora do padrão racial. “Para fazer um gado branco com avaliação genética, basta um computador e um bom ar condicionado. Agora, fazer Nelore é outra coisa. A seleção da raça nos últimos tempos focou demais em números, que são importantes, mas precisam ser combinados com o fenótipo”, pontua.