Cadeia em pauta
Friboi suspende bonificações pelo Farol da Qualidade Tabela era usada para comprar 100% dos animais nos Estado de Mato Grosso do Sul e São Paulo. Negociações agora serão feitas caso a caso.
Animais classificados como desejáveis recebiam prêmio de até R$ 11, já incluídos os ágios da Cota Hilton e Sisbov
O
MAristela franco
mercado foi surpreendido, em julho, pela notícia de que a Friboi não mais comprará animais com base no chamado Protocolo Sinal Verde, uma tabela de bonificações e deságios lastreada no sistema de classificação de carcaças da empresa, o Farol da Qualidade. A tabela (única no Brasil), estava em vigor em 100% das unidades da Friboi no Mato Grosso do Sul e São Paulo, e estabelecia ágios de até R$ 6 sobre o valor da arroba. Se o produtor atendesse o mercado europeu e Cota Hilton, esse valor podia chegar a R$ 11. Questionada sobre os motivos da suspensão, a Friboi ìnformou à DBO, por meio de nota, que “desde 2015, tem procurado trabalhar um programa de valorização individual de carcaças atrelado à qualidade, mas o mercado produtor não adotou esse formato de negociação, demonstrando preferência pela remuneração por lote [bica corrida]. Dessa forma, o protocolo Sinal Verde perdeu relevância nas negociações”. A suspensão da tabela frusta um esforço de cinco anos para “mudar a chave” da comercialização de gado na empresa, fazendo-a se estabelecer sobre parâmetros técnicos previamente estabelecidos, sistema adotado há décadas por grandes concorrentes do Brasil na produção mundial de carne bovina, como Estados Unidos e Austrália. A quantidade de animais adquiridos com base na tabela era expressiva (Mato Grosso do Sul e São Paulo são grandes fornecedores de matéria-prima para a Friboi), mas desde o ano passado, segundo Alcides Torres, da Scot Consultoria, a empresa vinha tendo dificuldades
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para praticar a tabela, devido ao mercado extremamente pressionado e à difusão do “preço cheio” (com bônus) por produtores, em grupos de internet, como se fossem de balcão, o que gerava distorções e conflitos. A Friboi continuará classificando 100% dos animais que adquire, por meio do Programa Farol da Qualidade, e enviando as informações de carcaça aos fornecedores. Conforme a empresa, todos os contratos de compra feitos com base na extinta tabela de premiação do Protocolo Sinal Verde estão sendo honrados integralmente. Os programas de carne premium (Angus, Nelore Natural, marca 1953), com suas respectivas tabelas, continuam vigentes. A Friboi diz que continuará sua busca por animais de qualidade, mas as negociações agora estão sendo feitas pela média (sem diferenciação individual como antes), caso a caso, conforme as características do lote. A empresa não descarta a possibilidade de retomar a tabela de bonificação no futuro, “se o mercado demonstrar maturidade para trabalhar com esse tipo de ferramenta”. Pacto pela qualidade O Protocolo Sinal Verde foi criado em 2015, em decorrência de um pacto firmado pela Friboi com o governo de Mato Grosso do Sul, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famasul), a Associação Brasileira das Indústrias de Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associação dos Criadores do MS (Acrissul); a Novilho Precoce e a Embrapa Gado Corte para elevar o padrão de qualidade do gado no Estado. O trabalho conjunto resultou em uma série de ações, incluindo a tabela de bonificação com base na classificação de carcaças pelo Programa Farol da Qualidade, que já completou cinco anos e reúne os animais em três grandes grupos: desejáveis, toleráveis e indesejáveis, conforme o sexo, peso, idade e acabamento. Esse programa tem permitido fazer um raio-X da produção pecuária brasileira e indica avanços no padrão dos animais nos últimos anos. Em reportagem publicada em abril de 2019 sobre o Farol, DBO mostrou que 26,4% das carcaças processadas pela Friboi, em 2015, tinham padrão indesejável (animais velhos, leves, sem acabamento de gordura). Esse percentual caiu para 10,7%, em 2018, uma redução de 15,7 pontos percentuais. Já o grupo classificado como desejável subiu de 15,5% para 19,5% no mesmo período e os toleráveis, de 58,2% para 69,7%. n