Debate
Qual a área de pastagens no Brasil? Athenagro Consultoria questiona números da Plataforma MapBiomas, cuja série histórica destoa fortemente dos censos agropecuários do IBGE.
Maurício Nogueira, da Athenagro
46 DBO agosto 2020
Revisões muito drásticas Nogueira insiste, contudo, que a série histórica do MapBiomas não faz sentido, que a metodologia usada para construí-la não é clara e que há muita discrepância entre as revisões. A primeira versão (3.0) indica área de 96 milhões de ha de pastagens em 1985, ante 179 milhões do IBGE, uma diferença 83,44 milhões de ha. Na versão mais recente (4.1), a área muda para 134 milhões de ha e a diferença em relação ao censo cai para 45,16 milhões, Gráfico 1 - Área de pastagens segundo três 180 178 161 188 160 184 182 150 182 162
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diferentes fontes
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área de pastagens do Brasil está estável, aumentando ou diminuindo? Uma verdadeira polêmica se formou em torno dessa questão. Se observados os censos agropecuários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa área teria caído de 179 milhões de ha, em 1985, para 150 milhões, no levantamento de 2017, publicado em 2019. Já a Plataforma MapBiomas, mantida por 26 organizações não-governamentais (ONGs), universidades e empresas, sinaliza forte avanço das pastagens desde 1985 e leve entre 2006 e 2016 (de 183 milhões para 182 milhões de ha). Essa discrepância de dados motivou o consultor Maurício Palma Nogueira, da Athenagro, a escrever três artigos questionando a metodologia de análise computacional com base em imagens de satélite usada pelo MapBiomas, cujos dados, segundo ele, têm sido usados, em diversos estudos, para associar o desmatamento no Brasil à atividade pecuária. A Athenagro considera o censo do IBGE, pesquisas regulares do órgão (pecuária municipal e pecuária trimestral), além de fontes complementares, para elaborar suas estimativas, que também apontam redução na área de pastagens: de 188 milhões de ha, em 1995, para 162 milhões, em 2017 (veja gráfico 1). Segundo Nogueira, o início desse movimento de queda (tanto na série do IBGE quanto da Athenagro) coincide com a década de 90, pois foi justamente nessa época que a pecuária começou seu processo de intensificação, aumentando a produção por hectare, enquanto cedia terras à agricultura. Já a série do MapBiomas indica queda pós-2016, levando à inferência, conforme Nogueira, de que essa inflexão seria
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Se o MapBiomas está certo, é preciso considerar o IBGE errado”
A
Moacir José
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MapBiomas relata 182 milhões de ha de pastagens em 2017, contrariando tendência de queda apontada pela Athenagro
decorrente das medidas de proteção ambiental tomadas a partir de 2008, sem levar em conta a evolução tecnológica da pecuária. Para aceitar os dados do MapBiomas como certos, diz o consultor, é preciso considerar os do IBGE errados, bem como outras informações sobre rebanho, abates, vacinação antiaftosa e área de ILP. Procurado por DBO, Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, rebateu as críticas de Nogueira, repetindo argumentação já apresentada em nota técnica da organização. Segundo essa nota, a metodologia da plataforma é robusta, transparente e tem análise de acurácia. Quanto à comparação direta com os dados do IBGE, não apenas seria equivocada, como induziria a erros, pois as duas bases de dados têm objetivos e universo de análise diferentes. “O censo visa caracterizar a atividade agropecuária, aplicando questionários a produtores rurais, enquanto o Mapbiomas se propõe monitorar as mudanças de uso e cobertura da terra no Brasil, por imagens de satélite. O primeiro abrange 40% do território [apenas fazendas] e o segundo 100%”, diz o documento.
1940 1950 1960 1970 1975 1980 1985 1995 2006 2017 Censo Fonte: Athenagro
MapBiomas (4.1)
Composição Athenagro