ESPAÇO PECUÁRIA
4.0
DBO de olho em novas tecnologias
Um raio-x digital rural
Fábio Meireles
Figueirão, no MS, mapeia suas 605 propriedades rurais, fornecendo informações aos pecuaristas para avaliação fundiária e planejamento.
Imagem da Fazenda La Esperanza, da paulistana Monica Hoop Granieri, que usou o mapeamento da prefeitura para decidir a compra da propriedade.
Ariosto Mesquita
“O zoneamento digital permitiu que eu visualizasse não somente a documentação da propriedade, mas também o que sua vizinhança está produzindo, a infraestrutura disponível e o nome dos produtores nas proximidades. Eu me senti segura”, afirma Monica, que hoje dedica-se à cria/recria, com rebanho de 1.500 cabeças, em média. O mapeamento digital de Figueirão está facilitando não apenas o trâmite cartorário na venda de terras, mas também ações de manutenção em benfeitorias rurais. O sistema é abastecido por fotos, documentos e históricos das propriedades, além de dados georreferenciais. Ao longo dos dois últimos anos, as informações foram sendo gradualmente liberadas para garantir fácil acesso e compreensão. Grande parte passou a ser usada na gestão municipal, mas muitas informações estão hoje liberadas para consultas mediante solicitação.
om uma população de 3.051 habitantes (estimativa IBGE 2019), a pequena Figueirão, no norte do Mato Grosso do Sul, distante 243 km da capital Campo Grande, está comemorando um grande feito: o zoneamento econômico digital de 100% de seu território, que abrange 488.300 ha (4.883 km2). Foram quatro anos de trabalho para mapear cada pedacinho de Figueirão por meio de ferramentas de TI (tecnologias da informação), incluindo 605 propriedades rurais. Um município inteiro entrou na Era 4.0. O mapeamento mostrou que 90% de das propriedades são de pecuária, 70% de gado de corte. A aptidão das terras, as áreas de preservação, o esquema produtivo de cada fazenda, a estrutura viária rural (estradas, pontes, porteiras, mata-burros) – está tudo lá, formando uma verdadeira teia de informações. O que isso tem a ver com a pecuária 4.0? Tudo, pois as tecnologias da informação (TI) usadas pelo município possibilitam diversos usos, fornecendo, inclusive, subsídios para a gestão rural. A empresária paulistana Monica Hoop Granieri, por exemplo, comprou a Fazenda La Esperanza (1.200 ha), em 2019, após ter acesso ao mapeamento da prefeitura. “Procurei terras durante dois anos em Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul. Estava muito insegura, pois as documentações sempre apresentavam pendências. Quando fui a Figueirão, vi a propriedade, conferi suas informações na prefeitura e não tive dúvidas. Conheci as terras em uma sexta-feira e fechei negócio na quarta-feira seguinte”, conta a produtora, que já começou seu projeto de “pecuária sustentável” com uma gama enorme de dados sobre a fazenda.
Tomada de decisões O acesso a dados confiáveis e detalhados foi determinante para que o empresário Luiz Carlos Bezerra da Silva investisse, a partir de 2018, na aquisição da Fazenda Bom Jesus (717 ha), em Figueirão, onde hoje trabalha na atividade de cria com um rebanho inicial de 450 novilhas. “O corretor que me atendia trouxe informações públicas muito detalhadas sobre tamanho da área, topografia, acessos e um mapa completo sobre cursos d’água. Quando fui conferir in loco, tudo batia. Isso me passou credibilidade e foi decisivo no negócio”, conta o produtor, que também atua no ramo da construção civil na capital paulista e toca uma fazenda de pecuária no sul de Minas Gerais. A Fazenda Bom Jesus fica a 57 km da área urbana da cidade (32 km em asfalto e 25 em terra batida) e quando Silva foi conferir a logística de acesso, recebeu informações que lhe deram condições de dimensionar aspectos do escoamento de sua produção, incluindo número de pontes, porteiras, opções de acesso e condições das estradas, tudo com ferramentas de TI, base para a Pecuária 4.0. “A exatidão me impressionou muito”, garante. Hoje, ele já está disposto a ampliar seu negócio: “Minha ideia é comprar algo em torno de 300 ha no município para implantar lavoura, uma área de semiconfinamento a pasto e um confinamento com capacidade estática para 1.000 cabeças. Quero fazer ciclo completo em Figueirão”, projeta. As informações do Sistema de Mapeamento de Propriedades Rurais liberadas ao público em geral (parte é de uso exclusivo do governo municipal) podem ser conferidas no endereço http://mapa.figueirao.ms.gov.br. Assim
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50 DBO agosto 2020