Cuidado com o estresse térmico: ele come seu lucro. Nelore não é imune ao calor; pode perder 110 g por dia em ambientes muito quentes. A saída é monitorar os animais por meio de escores e de um indicador de carga calor corporal Animal com alto nivel de estresse térmico, que pode reduzir bastante o ganho de peso no confinamento
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Nelore também sofre bastante com o calor” João Paulo Bastos titular da Infinity Consultoria
Denis Cardoso
uso de ferramentas capazes de monitorar os efeitos do estresse térmico em animais confinados, inclusive da raça Nelore, começa a ganhar força no Brasil. “Muitos acreditam que o gado de origem zebuína é tão resistente ao calor que não apresenta queda de desempenho no cocho, mas isso não é verdade. Exemplos práticos mostram que as perdas podem chegar a 70-110 g/cabeça/dia. Além disso, há que se pensar no bem-estar dos animais, hoje uma demanda clara dos países importadores de carne bovina”, destaca o zootecnista João Paulo Bastos, da consultoria paulista Infinity, que oferece serviços de monitoramento de estresse calórico para confinamentos principalmente de SP, GO e MT, orientando-os. A Infinity, estruturou protocolos para monitoramento e redução do estresse térmico para 178.000 animais em 2019, e 230.000 neste ano, compreendendo machos e fêmeas de diferentes raças, com idade entre 18 e 28 meses. Fortes ondas de calor associadas à alta umidade do ar, radiação solar e velocidade do vento podem levar até a morte por hipertermia (quando a temperatura do corpo passa dos 40 ºC). Em países de clima temperado, onde prevalecem rebanhos com genética taurina, reconhecidamene menos tolerante ao calor, o emprego de técnicas para reduzir o estresse calórico é corriqueiro, conforme explica César Borges, gerente de desenvolvimento e soluções da Phibro Brasil. “Na Austrália, obrigatoriamente, todos os confinamentos operam com um plano de contingência para eventuais registros de temperaturas extremas”, relata o zootecnista, que também relembra casos
84 DBO agosto 2020
recentes de estresse calórico registrados na Argentina, no verão de 2019, quando centenas de animais taurinos morreram depois que a sensação térmica, em alguns pontos do país, ultrapassou os 45 °C. Nos confinamentos do Brasil-Central, os bovinos enfrentam temperaturas acima de 40°C, em tempo integral, muitas vezes sem ter acesso à sombra, como os mantidos a pasto. Além disso, há grande diversidade genética nos piquetes de engorda (Nelore, anelorados, cruzados Angus), o que exige cuidado redobrado, devido à grande diferença de comportamento das raças em relação ao calor. Segundo João Paulo Bastos, a questão da “ambiência” deve ser vista como mais uma variável dos sistemas produtivos. “Na última década, os confinadores brasileiros investiram na melhoria do manejo, na qualidade de insumos, maquinário e uniformidade de misturas, porque impactam diretamente no negócio. Deixaram o estresse calórico de lado, porque não havia tanta pressão para se confinar o ano inteiro e ainda não se conseguia medir a perda de desempenho em função do calor. Agora, sabemos que se perde dinheiro com isso”, diz. Classificações de Panting score Já existem técnicas para avaliar estresse térmico. Recentemente, a Phibro trouxe para o Brasil uma metodologia já usada em países como a Austrália, que acumula experiência nessa área. Uma delas é o gráfico de Panting, cuja escala de referência, que vai de 0 a 4.5, sendo o zero uma condição de conforto e o 4.5, de extremo desconforto. Nas fotos que ilustram esta reportagem é possível observar sinais indicativos de cada nível de estresse. Animais de escore 1, por exemplo, têm apenas ofegância leve. No 2, já se observa sintomas como salivação e espuma com boca fechada. No escore 2.5 já apresenta os mesmos sinais com boca ocasionalmente aberta. No 3, boca aberta, com salivação e espuma; pescoço esticado e língua um pouco para fora. No 3.5, mesmos sinais acentuados e no 4.5. cabeça para baixo, com a respiração forçada e os flancos se agitando com alta frequência. Além do gráfico de escores, a Phibro, em parceria com a startup Labmet, de Jaboticabal, SP, oferece aos seus clientes uma ferramenta estatística de monitoramento chamado Heat Load Index (HLI) ou Índice de Carga