| Maylta Brandão dos Anjos (Org.) | A verdade absolutizada é que pode engessar. [Paradoxalmente] Entendo que a pseudociência se expressa nos mesmos que parecem ter encontrado a “verdade absoluta”, legitimada ou não pela Matemática. No momento que reduz a Ciência a uma forma única de pensar, é que se constrói também a pseudociência. AMB: Essa percepção de que tanto a Filosofia quanto a Cultura influenciam no fazer da Ciência é muito importante... Eu tive um professor que dizia que talvez nossa dificuldade de fazer Filosofia fosse por conta da necessidade de tradução... “República” em latim é exatamente isso “res pública”, a coisa pública. “Polis” é a cidade e pronto para o grego. Ou seja, não estão abstraindo o tempo todo, estão refletindo também a partir de coisas que lhes são concretas. Estão falando de praça, de cidade, de encontro das pessoas, quer dizer, estão pensando e esquematizando a partir de sua própria cultura, de sua própria materialidade. Assim, vamos às questões... Como é o fazer Ciência? Como é fazer Ciência a partir da visão do brasileiro? Nesses espaços tão cosmopolitas que você participou, com tantos colegas de tantas nacionalidades, como era sua contribuição de brasileiro? HN: Verdade, eu sentia que havia também minha maneira de realizar a Física... Observando os colegas dos países da cortina de ferro, Polônia, Hungria, reconhecia neles uma formação matemática muito sólida, assim como uma formação muito abstrata, que a pegada deles na Ciência era pela Matemática. Eles observavam tudo o que eles queriam observar pela Matemática; os chineses que trabalhavam pelos diagramas, consideravam muito as formas geométricas; os indianos faziam uso de muita numerologia, faziam verdadeiras poesias com os números. Enquanto eu, quanto brasileiro... Bem, eu percebo que a pegada do brasileiro é mais literária, que consideramos muito a “palavra”. O brasileiro tem uma tendência a fazer poesia, a mexer com a palavra... Essa, ao menos, era a minha pegada, assim se constitui a base dos meus conceitos. Eu me sentia o mais conceitual entre os meus colegas. Nossa cultura no Brasil traz muito disso, tem uma poesia muito rica, um cancioneiro muito rico, a gente desde criança está sempre ouvindo música, música popular brasileira, encontra poesia na escola, recita muito... É isso, nossa Física está assentada na palavra! AMB: Ou seja, a poesia ajuda na Física... E nossa forma de fazer Ciência é mais poética... HN: É por aí mesmo... O próprio Marcelo Gleiser ministrava uma disciplina intitulada “Física para poetas”. Entendo que é por aí mesmo, que essa é a nossa forma de fazer Ciência, com essa cultura brasileira que leva poesia, música... AMB: Ótimo momento para terminarmos a nossa “Parte I”, para depois voltarmos, sempre nessa possibilidade de “crer que é possível realizar uma Ciência mais filosófica, bonita, engajada, conceitual, enfim uma Ciência poética!”
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