Luís Marrazes
- TECNIMOPLÁS
“Restaurar o crescimento económico e a produtividade global é um objetivo que todos partilhamos e, para o atingir, a tecnologia e inovação desempenham um papel fundamental”. Quem o defende é Luís Marrazes, diretor de Produção da Tecnimoplás. Criada em 1971, a empresa tem hoje mais de 70 colaboradores. A sua história foi pautada por uma evolução constante, muito sustentada no acompanhamento e na adoção de ferramentas tecnológicas, fundamentais para alcançar a inovação de processos e produção. Um percurso que, considera, é semelhante à maioria das empresas do sector. E, por isso, a análise que faz ao tema ‘digitalização’ é transversal a toda a indústria de moldes. Trata-se, no seu entender, de “um desafio que se apresenta ao nosso sector, e que devemos encarar com seriedade e dinamismo, para que não se transforme numa questão penosa de sobrevivência para as nossas empresas”. “Pela sua natureza, a transformação digital engloba ingredientes que passam por um conjunto de novos dispositivos e conetividade, aliado a uma desmaterialização e, fundamentalmente, a uma disponibilidade emocional dos utilizadores deste tipo de modelo de negócio e/ou tecnologias que variará, inevitavelmente, consoante o caso”, defende, advertindo que “a denominada 4ª Revolução Industrial (quer pela sua velocidade, amplitude e profundidade) terá um impacto sistémico muito significativo na sociedade e por um tempo bastante alargado”. Mas trata-se, como até agora, de um processo faseado. Por isso, considera que “estamos ainda nos primeiros anos desta longa viagem”, mostrando-se convicto de que “o seu impacto será determinado pelas escolhas que nós, os seres humanos, decidimos tomar”. Desde logo, afirma, “é fundamental a tomada de consciência e perceção deste novo paradigma e compreender, na sua amplitude e abrangência, as repercussões e consequências a vários níveis num futuro próximo”. Mas, alerta, “uma coisa é a tomada de decisão, outra é a perceção”. 56 | TECH i9
Ou seja, além da consciência e tomada de decisão “é necessário criar uma nova visão para envolver as pessoas”. Será esta, então, na sua ótica, a primeira fase. A seguinte passa por “reconstruir/repensar, em termos estratégicos, o nosso posicionamento e assim incorporar um conjunto de novas tendências e condicionalismos”. E neste ponto, defende ser importante “rever obrigatoriamente o nosso posicionamento, quer de mercados, quer de serviços”. Isto, reforça, “não quer dizer que no passado e agora não façamos bem, mas é necessário fazer de forma mais estruturada. É que se pensarmos no que vai acontecer no curto e médio prazo, temos muita dificuldade em apontar alguns caminhos devido a esta volatilidade que caracteriza o atual momento”. Por isso, numa fase posterior “não bastará delinear uma estratégia que leva em conta as mudanças da revolução industrial ou dos novos modelos de negócio, obrigatoriamente ter-se-á de iniciar a sua implementação dia a dia, de uma forma contínua e sistemática nas várias vertentes (produção, comercial/marketing, recursos humanos, etc.) da organização”, afirma, frisando ser “necessário ter uma direção, ter ações e medidas de curto prazo”.
Indústria revolucionária
Esta implementação, sublinha, “é de cariz diferenciador relativamente à do passado, uma vez que temos um curto espaço temporal de implementação, e uma maior diversificação de tecnologias e interdependentes com diferentes estágios de maturidade, num ambiente de risco e incerteza (volátil) em diferentes áreas tais como político-legais, éticos e tecnológicos, entre outros”. Ora, isto vai obrigar a que as empresas mudem. Vai, desde logo, exigir “um maior esforço de endogeneização e absorção do portefólio de tecnologias e inovações e, consequentemente, a sua rentabilização quase imediata, por forma a permitir superar os constantes e contínuos investimentos”, declara. Admitindo que o sector tem, desde há muitos anos, “acompanhado e adotado as mais recentes tecnologias e práticas inovadoras de uma forma quase natural e sistemática”, chama a atenção, contudo, para o facto de nem sempre ser eficaz na sua rentabilização e reaproveitamento. E isso acontece, principalmente, “por falta de investimentos complementares e de ampliação das competências na utilização dessas tecnologias, de forma a potenciar a intervenção humana para níveis mais condizentes com a sua condição e capacidades”. O que defende como “fundamental” é que esta mudança, para ser eficaz, “seja acompanhada pela integração de pessoas e processos”. No entender de Luís Marrazes esta 4.ª revolução industrial não é apenas uma evolução tecnológica, em que se alarga fortemente a utilização de meios digitais para produzir, tomar decisões e interligar os meios de produção, mas antes “a criação de uma indústria verdadeiramente revolucionária”. E isso, defende, significa mudar a essência.