Infância roubada A pressão em amadurecer precocemente, assédio e abusos em menores de idade mostram como crescer em uma sociedade hipersexualizadora está longe de ser um processo seguro Beatriz Tsutsumi Camila Acordi Maria Vitória Bruzamolin Sarah Guilhermo
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erotização precoce em volta das mulheres está enraizada na sociedade, inserida de maneira certamente implícita em crianças no modo de se vestir e de se comportar. Roupas com transparência e sapatos para crianças com salto são alguns exemplos deste padrão. Na maioria das vezes, a família, pais ou responsáveis pela criança não têm noção que muitos elementos presentes no cotidiano, em especial as vestimentas ou apresentação da criança, possuem itens de sensualização do corpo. A estudante Mariah Foggiatto, de 18 anos, concorda com a afirmação. “É doentio o fato de que algumas pessoas veem uma criança diferente do que ela é: uma criança”, comenta a jovem, protagonista de assédios que aterrorizam seu passado. Mariah tinha 15 anos quando um líder religioso, que costumava se comportar
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como uma pessoa carinhosa com ela, fez uso dessa proximidade para se aproveitar da adolescente. “Ele tinha 60 anos e se viu no direito de me apalpar, me tocar e insinuar coisas sexuais no meu ouvido”, conta ela. “Como alguém de confiança, que era como um pai para mim, podia fazer algo do tipo? Como alguém assiste uma criança crescer e se vê no direito de abusar dela?” O abusador a conhecia desde os 4 anos. Aos 16 anos, sofrendo com as inseguranças causadas pelo ocorrido, um amigo da família a apalpou na presença de outros familiares, que não fizeram nada a respeito. “Eu estava bêbada sob supervisão dos primos e um amigo da família, que tinha 50 anos. Era um ambiente que parecia seguro para beber, afinal, achei que estava com pessoas de confiança”, Mariah explica. Assim como no primeiro caso, o abusador agia com carinho, como se fosse apenas um amigo mais velho, mais sábio. Mas foi necessário um momento de distração dos primos para o homem usar a embriaguez da jovem para se aproveitar dela. “No momento que ele começou a colocar a mão debaixo da minha camiseta, de forma sorrateira, eu acordei num lapso de lucidez e empurrei ele, dizendo não.” Ela correu para o quarto onde estava a sua mãe, que não sabia da bebida, e em um choro silencioso, escondeu o acontecimento dela por dois anos, buscando conforto em amigas diante da possibilidade de uma reação indiferente da família. “Os familiares que souberam do acontecimento invalidam e fazem piada até hoje, como se não tivesse problema. Isso traz uma cicatriz enorme, te deixa arisca.” A exposição de menores tem sido cada vez maior com o uso indevido das redes sociais, e consequentemente, o assédio. Fotos, vídeos de danças que em algumas vezes possuem teor sexu-