OLHOS DA
CIDADE
Detetives particulares de Curitiba contam fatos sobre suas carreiras sigilosas e compartilham os casos investigados mais marcantes Beatriz Tsutsumi Camila Acordi Maria vitória Bruzamolin Sarah Guilhermo
S
er investigador profissional requer uma vida anônima, uma identidade cautelosa e uma visão afiada. É graças a esse sigilo que um universo de investigações e descobertas dos segredos mais obscuros e profundos sobre as pessoas permanece invisível e intocável entre todos. O caso de Adriana*, que precisou de serviço particular para reencontrar um amor do passado, faz parte deste universo secreto. Parte da segunda geração de imigrantes japoneses, Adriana vivia na forte presença de sua cultura quando se apaixonou por Manuel*, um homem espanhol. O que a impediu de se casar com ele foi uma decisão tomada por sua família: sua mão estava prometida a outra pessoa, e seu destino era se dedicar a um casamento arranjado até o fim de sua vida. Mesmo após 28 anos, com filhos universitários e uma vida amorosa infeliz, o misterioso paradeiro de Manuel ainda pairava nos pensamentos de Adriana. Entrou em contato com uma detetive particular e ofereceu um orçamento limita-
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do, com medo de gastar mais e seu marido perceber. A profissional não foi capaz de encontrar o amor de Adriana dentro do tempo do contrato, mas tocada pela história, continuou a investigar sem pagamento extra. Conversando com a irmã de Manuel, descobriu que o homem quase perdeu uma luta contra o câncer, e após esse abalo, ele viajou até resolver voltar para Curitiba, onde agora trabalha em um armazém. “Foi a coisa mais linda que vi na minha vida’’, conta Izabela Alves, de 62 anos, detetive responsável por presenciar o reencontro dos amantes da juventude. “Ele também nunca foi feliz porque amava aquela mulher, e ela estava ali, na frente dele, depois de 28 anos.” Izabela começou a exercer a profissão em 1984, mas sente que a sede por investigação surgiu aos 11 anos, quando invadiram as terras de seu pai cego e paralítico e falsificaram a documentação para que ele perdesse tudo. Ela foi atrás de experiência na área e afirma ser a primeira detetive mulher de Curitiba, acumulando mais de 35 anos de profissão. A investigação foi algo que por muitos anos teve que ser aprendida na marra pelos detetives. Desde 2017, exercer a profissão de investigador particular significa ter uma profissão de acordo com as leis e, desde o mesmo ano, o curso de tecnólogo em Investigação Profissional é ofertado pelo centro