Diplomas suspeitos O expansivo comércio de trabalhos acadêmicos gera consequências legais e profissionais André Festa, Guilherme Kruklis, Laura Luzzi, Rafael Coelho e Romano Zanlorenzi
O
começo do ano letivo traz de volta o tema da comercialização de trabalhos acadêmicos. Esta prática tem sido uma saída entre os estudantes que não conseguem dar conta de tudo. A fim de ter mais tempo livre, não ficar sobrecarregado ou, simplesmente, por preguiça, muitos optam por não realizar suas pesquisas e trabalhos acadêmicos e acabam comprando de outros estudantes. Assim, acreditam ter a garantia de uma boa nota sem muito trabalho e tempo gasto. Porém, além de crime, há a perda do aprendizado que o trabalho levaria o estudante a obter. Apesar de garantir sua nota, o aluno terá lacunas em sua formação, prejudicando sua vida profissional. De acordo com a pós-doutora e coordenadora do curso de Direito na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Vivian Valle, tanto vendedor quanto comprador podem responder judicialmente por crimes como falsidade ideológica e estelionato. Apesar das contraindicações, o comércio de trabalhos acadêmicos não é novidade no meio universitário. Na era digital, as transações ocuparam a
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internet, dando espaço para a criação de projetos como o marketplace “Deixa Que Eu Faço”. A página de Instagram que trabalha conectando estudantes dispostos a pagar por trabalhos e redatores que os fazem está em operação desde 1º de março. O criador e administrador da conta, Enrico Silvestri, observa um crescimento simultâneo dos dois públicos atingidos desde o início do projeto. “A gente enxerga nossa empresa como uma segunda chance, um benefício para o universitário”, argumenta Silvestri, ao citar redatores em busca de renda extra e alunos que estariam sem tempo ou desmotivados com o curso escolhido. O descomprometimento com matérias do currículo de Engenharia de Produção foi o que levou um aluno, que não quis se identificar, a apelar pela compra de trabalhos. “Me aproximei de profissionais, até de um que trabalha em multinacional na área de engenharia, e perguntei sobre (a disciplina) Cálculo: ‘Quantas vezes você usou isso na tua vida?’ - Todos me responderam que nunca usaram em nenhum momento”. O estudante, próximo da formação, conta ter delegado avaliações em ao menos três matérias, incluindo exames para aprovação do semestre. Apesar de ver importância na posse de um diploma, avalia que o título de engenheiro não seja determinante para a vida profissional que almeja.