SÓ QUERIA TE DIZER
Aquele Abraço
Antonio Carlos Sarmento
Convidei-o para fazer um passeio na Floresta da Tijuca. Ele aceitou na hora. Completamente apaixonado pela natureza, nunca recusaria um convite destes. Eu havia conhecido ali uma trilha leve, quase toda plana, sombreada, excelente para caminhar, respirar, escutar e usufruir de uma pausa na vida de cidade grande do Rio de Janeiro. Num desfile de moda a beleza está em quem caminha na passarela, mas naquela trilha quem caminha é que desfruta da beleza. Uma alternância de árvores e vegetações menores, pássaros e pequenos animais, riachos murmurantes e um cheiro perfumoso, inigualável, que vai mudando com a paisagem numa deliciosa miscelânea. Ventos e sopros vindos sabe-se lá de onde, provocando um frescor na alma. Desde o dia em que estive lá pela primeira vez, só me ocorria trazê-lo para conhecer este pedacinho de mata, milagrosamente ainda virgem e intocado em meio ao gigantismo e aridez da cidade. Numa manhã de sábado do mês de abril, o mais belo do ano no Rio de Janeiro, ingressamos na trilha. A minha expectativa era muito alta: eu o conhecia há muito tempo e sabia que sua marca mais forte era o amor à natureza. Lembrei-me dele várias vezes olhando a lua cheia, com os braços abertos feito um Cristo, agradecendo a Ele por aquela criação divina. Ou como se desejasse entregar-se àquele brilho prateado e ir até lá para conhecer de perto. Fomos caminhando lado a lado e desde os primeiros passos os olhos dele brilhavam mais que os reflexos do sol no riacho que passava ao lado. – Que maravilha – disse ele. – Respire fundo para limpar seus pulmões com este ar puro, cheio de oxigênio. Inspirava barulhentamente enquanto abria e elevava os braços. Em seguida expirava quase assobiando, como se estivesse eliminando acúmulos indesejáveis. Depois de alguns metros, apontou-me duas árvores: 27