SÓ QUERIA TE DIZER
Estradas...
Mara Feitosa Perruci
Há algum tempo, eu e minha prima tínhamos 5 anos e nosso projeto de futuro era morarmos na mesma casa e comprarmos dois patinetes. Grandes projetos para quando completássemos 10 anos. Aos onze anos, meu futuro perfeito se realizaria quando aquele menino de sorriso largo e contagiante da sétima série notasse que eu existia e me dissesse: “Oi!” Aos dezessete, fazer uma faculdade, qualquer uma, já seria excelente! Aos vinte e dois, terminar a faculdade e conseguir um emprego de salto alto seria um belo futuro. Expectativas que se renovam, se fundem e se transformam num único fim: ser o que realmente sou, buscar este “sou” que, como num caleidoscópio, se forma a partir de muitos “eus”. E, inundada por este “Eu”, tomo o patinete e continuo buscando-me. Vejo ao longe o largo sorriso do menino e lhe digo: “Oi!”, carrego comigo toda a bagagem da faculdade para a qual me deixei conduzir e que não me levou para o alto, mas me permitiu um salto bastante confortável para um hoje de tênis. Continuo projetando um futuro. Não sonho um futuro – os sonhos se realizam no mágico mundo do “Tudo-Pode”. Não creio em mágica, creio em perseverança. Por isso projeto o meu futuro. Sei onde quero chegar e caminho. Às vezes a estrada é acidentada e meu patinete parece que vai se desmanchar. É neste momento que descubro que não caminho só, há pessoas comigo! Pessoas que, sem saber, me dão ferramentas para consertar o que parecia sem conserto e sigo em frente. E levo cada uma delas comigo, guardo-as carinhosamente em minha caixinha de segredos... E caminho. Um projeto é um querer; o realizar cabe a mim. Guardo o patinete, não vejo mais o menino – seguiu por caminhos muito distantes – nutro-me 83