Revista Ruminantes 38

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OBSERVATÓRIO DO LEITE

O EFEITO DA PANDEMIA NOS MERCADOS

DA CRISE SANITÁRIA À CRISE ECONÓMICA: O EFEITO DA PANDEMIA NOS MERCADOS. O 1º SEMESTRE DE 2020 FICARÁ ASSINALADO NOS LIVROS DE HISTÓRIA DAS GERAÇÕES ATUAIS E FUTURAS. A PANDEMIA COVID-19 TROUXE PROFUNDAS ALTERAÇÕES ÀS SOCIEDADES A NÍVEL GLOBAL, COM O CONFINAMENTO DOS CIDADÃOS E O ENCERRAMENTO DE ALGUNS SERVIÇOS A AFETAREM SIGNIFICATIVAMENTE A PROCURA DE BENS AGRÍCOLAS. Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fonte Comissão Europeia, IFCN, Rabobank, The Dairy Site

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ambém quase histórica tem sido a intervenção dos governos de muitos países sobre a balança da procura e oferta, ao injetar nas sociedades meios para minimizar as consequências nefastas do confinamento. No passado mês de junho, especialistas do setor leiteiro de setenta países estiveram reunidos na 21ª Conferência da IFCN (International Farm Comparison Network), para discutir a crise no setor pré e pós pandemia. Segundo os peritos, é importante contextualizar a análise tendo em conta o estado do setor no período pré Covid-19. Em 2019, o crescimento da produção leiteira, na ordem dos 1,4%, estava já bastante abaixo da média a longo prazo de 2,3%, tendência decretada principalmente pela Índia, Oceânia, África e Médio Oriente. Em paralelo, a popularidade crescente das alternativas ao

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RUMINANTES | JUL/AGO/SET 2020

leite nos países desenvolvidos e a menor disponibilidade do leite em economias em desenvolvimento, foram fortes travões ao crescimento da procura. Utilizando o preço do leite pago ao produtor como indicador de “crise”, a comparação de preços de setenta e cinco países em maio versus fevereiro deste ano resultou numa média global de decréscimo de 4,6%. No entanto, a análise individual de cada país revela que terão existido dois “epicentros da crise”: os Estados Unidos, com um decréscimo de 29%, e a Índia, com um decréscimo de 19%. Na Europa, a coincidência do pico primaveril da produção leiteira com a expansão do surto de Covid-19, agravou a tendência de decréscimo dos preços do leite, e poderá impulsionar a produção de produtos lácteos de maior durabilidade e menor necessidade de mão-de-obra.

Por outro lado, produtos de valor acrescentado como os queijos certificados, ou produtos tradicionais vendidos em contacto próximo entre os produtores e os consumidores (feiras, mercados, entre outros), têm vindo a ser negativamente afetados pelas medidas de confinamento. Já nos grandes retalhistas, onde se verificaram picos de consumo e stocks domésticos também eles históricos, o leite UHT tem estado entre os tops de vendas. Tendo em conta a produção atual, os constrangimentos logísticos e a diminuição da mão-de-obra disponível devido a doença, e sob condições climatéricas normais, as previsões apontam ainda assim para um crescimento de 0,4% da produção leiteira europeia este ano, com a redução dos efetivos a ser compensada por um maior rendimento leiteiro por cabeça. Por outro lado, caso se venha a verificar uma diminuição

significativa da procura, o leite em natureza poderá ser redirecionado para produtos de maior durabilidade como o leite em pó, cuja produção poderá crescer na ordem dos 2,5% em 2020. Na Nova Zelândia, na reta final da temporada produtiva de 2019/2020, as regiões a norte ressentiram-se bastante das condições de seca entre janeiro e abril, as quais impactaram negativamente o crescimento das pastagens, com alguns produtores a secarem os seus efetivos mais cedo devido à escassez de alimento. Já na região sul as condições têm sido favoráveis à expansão da produção. As previsões do Rabobank para o fecho da temporada apontam para as 21.665 milhões de toneladas, um decréscimo de 0,6% face à temporada anterior, mas com previsão de crescimento para a temporada que aí vem. Na vizinha Austrália, a Covid-19


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