E S P E C I A L C U LT U R A
INSTITUIÇÕES
Um quarteirão de experiências com o vinho a pretexto DE FRENTE PARA O PORTO, O WOW – WORLD OF WINE ESTÁ A REVOLUCIONAR A ZONA HISTÓRICA DE VILA NOVA DE GAIA, COM UM CONCEITO DE “QUARTEIRÃO CULTURAL” QUE SURPREENDE PELA DIMENSÃO, OUSADIA E DIVERSIDADE DE OPÇÕES. O PROJECTO TEM A VISÃO DE ADRIAN BRIDGE, QUE JÁ TINHA IMAGINADO O YEATMAN, ONDE ANTES SÓ HAVIA CAVES DO VINHO DO PORTO.
Um projecto como o WOW World of Wine era difícil de imaginar para quem visitasse a zona histórica de Gaia há 20 anos. Então, a área coberta de velhos armazéns do Vinho do Porto era um espaço urbano apagado, com escassa agitação turística e muito menos “tendência” do que o vizinho e moderno Cais de Gaia. A história posterior é mais conhecida: o ‘boom’ turístico do Porto, o crescimento exponencial de visitas às caves e a abertura do Yeatman vieram revolucionar a paisagem física e cultural da cidade que olha a Invicta de frente. A curiosidade e a ironia desta transformação é que ela, apesar de potenciar costumes, produtos e património bem portugueses, foi idealizada por um cidadão inglês. Adrian Bridge, CEO do grupo Fladgate Partnership, viu
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NÉLSON SOARES
um potencial turístico na margem do sul do Douro que estava por explorar e arriscou: abriu o Yeatman em 2010, numa altura em que não havia hotelaria de luxo na zona; 10 anos depois, ousou lançar a ideia de um “quarteirão cultural” – o conceito através do qual o WOW se define – reabilitando um conjunto de edifícios mais ou menos devolutos, nas imediações do hotel. “Ele [Adrian Bridge] é a prova de que as coisas acontecem, se formos perseverantes”, considera Ana Maria Loureço, relações-públicas do espaço, recordando o arrojo que representou lançar um hotel ‘premium’ em
Vila Nova de Gaia “quando não se passava nada” do outro lado do Douro. “A verdade, é que depois disso abriram outros hotéis cinco estrelas, a cobrarem os mesmos preços e o turismo no segmento luxo é uma realidade do lado de cá”, reforça. O CEO da Fladgate Partnership, na perspectiva da responsável pela comunicação do WOW, tem a virtude de extrair o potencial das coisas e saber desenvolvê-lo. “Olha e vê histórias que merecem ser contadas, nas quais nós, portugueses, não vemos grande mérito”, sugere, assumindo que essa foi a visão conceptual que conduziu ao ambicioso conteúdo do WOW: produtos com afinidade ao vinho – como a cortiça, o vidro ou o chocolate – e práticas com tradição regional, como a produção têxtil. É este o ‘corpus’ dos museus (ver caixa) que constituem a espinha dorsal deste monumento de experiências.