E S P E C I A L C U LT U R A
GALERIAS
Aquele quarteirão do Campo Grande
ANA VAL ADO
O que antigamente era conhecida como “Aquela esquina do Campo Grande”, como refere Jorge Silva Melo num texto, publicado no Magazine Artes, quando a galeria fez quarenta anos, e que Maria Arlete Alves da Silva, mulher de Manuel de Brito, fundador da Galeria 111, inseriu no livro comemorativo dos 50 Anos da Galeria, é hoje um quarteirão inteiro. Um quarteirão onde se “respira” arte contemporânea portuguesa e também estrangeira nas suas mais diversas linguagens, sejam pinturas, desenhos, esculturas ou instalações. A antiga Galeria 111, que começou como uma livraria de apoio às faculdades que ali existem, foi crescendo e expandindo-se para vários espaços adjacentes no mesmo quarteirão, sem deixar para trás os já existentes, dando-lhes sempre uma finalidade com vista à promoção da cultura e arte contemporâneas. A mudança mais recente deu-se há cerca de dois anos, altura em que a Galeria 111 voltou para o espaço da rua Dr. João Soares, que já tinha funcionado como galeria de 2000 a 2015, com um novo conceito, ocupando uma área de 1000 metros quadrados, composto pelo espaço expositivo e com acesso ao armazém. À frente deste espaço está Rui Brito, filho do fundador e coleccionador Manuel de Brito, que com a ajuda da sua mãe deram continuidade não só ao negócio e à paixão do seu pai, mas também à sua colecção de arte frequentemente vezes por instituições portuguesas e estrangeiras para as mais importantes mostras realizadas em Portugal e no estrangeiro. A PRÉMIO foi fazer uma visita à Galeria 111, guiada por Rui Brito, que nos mostrou este novo espaço, onde fomos surpreendidos por algumas peças insólitas que não estamos habituados a ver num espaço como este, como uma mesa de matraquilhos ou um saco de boxe, e não, não estamos a falar de instalações, são objectos que fazem parte da rotina de Rui Brito e que servem também como o próprio refere para “desconstruir a ideia que as pessoas ainda têm de uma Galeria de Arte”. Com regularidade o perito em História de Arte e amante de aviões, escolhe uma pintura como pano de fundo, veste as luvas de boxe e pratica o seu desporto favorito, Muay Thai (boxe tailandês), outras vezes convida amigos, artistas e clientes para animadas e descontraídas tertúlias. Para além deste espaço, fomos surpreendidos por um arquivo imenso num primeiro andar do Campo Grande, muito visitado por estudantes universitários ou especialistas na área para realização de trabalhos e pesquisas. Aqui, por exemplo, podemos encontrar toda a correspondência trocada ao longo de mais de 50 anos entre a Galeria 111 e os artistas que por ela passaram. O espaço onde se encontrava anteriormente a Galeria está a ser renovado para acolher alguns núcleos da colecção Manuel de Brito. Depois de um percurso pelos vários espaços, o anfitrião Rui Brito recebeu-nos na sua sala de tertúlias ao fundo do armazém para uma conversa intimista.
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