E S P E C I A L C U LT U R A
AS MINHAS COLECÇÕES
FERNANDO FIGUEIREDO RIBEIRO
“O contacto com os artistas enriquece-me” N A PA S S A D A D É C A D A , A Q U I L O Q U E C O M E Ç O U C O M U M E N C A N T O I N E S P E R A D O S A I U D A E S F E R A P R I VA D A PA R A D A R O R I G E M À C O L E C Ç Ã O F I G U E I R E D O R I B E I R O . S Ã O C E R C A D E 2 8 0 0 O B R A S , R E P R E S E N TAT I VA S D O S Ú LT I M O S 5 0 A N O S , Q U E E N C O N T R A R A M O L H A R P Ú B L I C O N O Q U A R T E L D A ARTE CONTEMPORÂNEA DE ABRANTES. FERNANDO FIGUEIREDO RIBEIRO ESTEVE SEMPRE LIGADO À Á R E A F I N A N C E I R A , M A S , PA R A S I , A A R T E N U N C A F O I U M I N V E S T I M E N T O .
ANA VENTURA
Gostava de convidá-lo a recordar um belo dia em que, com 21 anos, desceu à cave da Livraria Barata, em Lisboa, para ver uma exposição. Confesso que não fui lá para ver a exposição: estava na faculdade, fui ver uns livros e vi que havia uma exposição no piso de baixo. Assim que se desciam as escadas, estava o quadro que comprei, iluminado de uma maneira fantástica. Isto foi num período em que a bolsa estava num “boom” fantástico, tinha um grupo de amigos com quem investia e, de facto, ganhámos algum dinheiro. Encantei-me com um quadro e comprei-o – foi um impulso mas a colecção não começou aí. Mas foi nesse dia que teve a certeza que nunca mais viveria sem arte? Não, nesse dia compreendi, talvez, que gostava de arte contemporânea – mas nem isso posso dizer porque não era um visitante assíduo de galerias. Fui fazendo o percurso normal: pouco
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depois, comecei a trabalhar e fiz-me sócio do Centro Português de Serigrafia – pagava uma quota e, de três em três meses, escolhia uma serigrafia de entre um conjunto que tinham. Rapidamente percebi que aquilo não me preenchia porque ter uma coisa que é um múltiplo de 200 é ter fotocópias de qualidade superior, não é ter uma obra. Preferia ter poucos originais a muitas serigrafias: comecei a comprar. Mas só nos tornamos coleccionadores quando começamos a armazenar. Quando já não tem sítio em casa para colocar as obras? E isso só me aconteceu na segunda metade dos anos 1990. Parece-lhe que, por ter vivido em Londres, encara a arte portuguesa de outra forma? Sempre achei que a arte contemporânea portuguesa tinha muita qualidade quando comparada com o que via lá fora. Porque é que fui para a arte