Revista PRÉMIO | Edição Junho 2022

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ACTUALIDADE

CAMILO LOURENÇO, JORNALISTA

O F U T U R O D O PA Í S NÃO É RISONHO

A

o olharmos para trás na nossa vida é frequente encontrarmos momentos de grande crescimento e outros de estagnação. Com os países acontece o mesmo. Quando se olha para o Portugal nos primeiros 22 anos deste século, a grande surpresa é constatar o quão pouco evoluímos. Medido pelo PIB, o crescimento neste período pouco supera (em média) os 0,6%. É muito pouco se compararmos com períodos anteriores. Por exemplo, entre 1986 e 1992 a economia cresceu em média 5,3%. Mas as comparações agridoces não ficam por aqui. De 1986 a 1995 viveu-se um período de profundas reformas. Ora não é arriscado dizer que uma coisa levou à outra. Isto é, foram as reformas que propiciaram o crescimento económico muito acima da média da União Europeia, que tornou os portugueses mais “ricos”. Feita esta comparação histórica, avancemos na análise. O que está na base da estagnação do primeiro quartel deste século? A ausência das tais reformas transformadoras

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(prefiro este termo a “estruturais”). As únicas que tiveram lugar neste período (e foram significativas, por terem produzido resultados magníficos!) ocorreram durante os 4 anos em que Portugal esteve intervencionado pelos credores externos. Parte delas foram revertidas nos últimos 7 anos e as que não foram… foi precisamente pelo facto de a Comissão Europeia não o ter permitido. Pergunta: o que sucedeu para que Portugal tenha abandonado o espírito reformista para se tornar num país conservador (sim, conservador é o termo certo para designar uma sociedade que não quer ouvir falar em reformas…)? A alteração da estrutura demográfica e a prevalência de uma classe política que não quer “aventuras”. Por “aventuras” leia-se a ausência de risco. Olhemos para a estrutura demográfica. A população portuguesa envelheceu. E quem envelhece… receia o risco. Quem quer, aos 50 ou 60 anos, tomar decisões que podem por em risco a sua reforma? Como costumam dizer os analistas Joaquim Aguiar e Jorge Marrão nas suas

intevenções semanais no programa “Think Tank”, do canal “A Cor do Dinheiro”, uma população envelhecida foge das “guerras”; do combate pela mudança. Vejamos: Portugal tem atualmente cerca de 3,8 milhões de reformados. Se a estes somarmos pelo menos meio milhão a beneficiar de outras prestações sociais, temos um quadro aterrador: quem quer arriscar mudanças sabendo que isso pode prejudicar, pelo menos no curto prazo, o seu bem-estar? A alteração demográfica é, por isso, o principal óbice a mudanças de fundo na sociedade portuguesa. É por isso que a classe política dos últimos 7 anos, que percebeu bem este desafio, se tem revelado tão conservadora: alguém está a ver um primeiro-ministro que vendeu o fim da austeridade ter a coragem de dizer aos cidadãos que o país precisa de reformas… e que essas reformas, nos primeiros 3 a 4 anos, vão provocar dor? É este conservadorismo da sociedade que faz temer pelos próximos 10 anos: com o PS no poder, cavalgando a onda da “distribuição” de rendimentos, que incentivo têm os partidos da (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)


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